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3 O TERCEIRO SETOR

O RGANIZAÇÕES R ELIGIOSAS 29,473 13.4%

3.4 FUNDAÇÕES EMPRESARIAIS ABERTAS

A visão, hoje, é de que as empresas devem ser socialmente responsáveis por suas ações e pelo desenvolvimento social. José Eduardo Sabo Paes (2000: 129)

Paes (2000:128) informa que vem crescendo o número de empresas que optaram por instituir fundações de direito privado.

Para exemplificar, os três maiores bancos nacionais, por patrimônio70 – Itaú,

Bradesco e Banco do Brasil – possuem fundações empresariais. O caso mais recente é o do Itaú que lançou a Fundação Itaú Social71 em dezembro de 2000, com patrimônio de

R$ 170 milhões e previsão de investimento anual entre 12 a 15 milhões.

A importância das fundações empresariais para o terceiro setor, em termos de aporte de recursos à área social realizado diretamente ou disponibilizado a organizações sem fins lucrativos, pode ser verificada ao se analisar os dados do ranking72 das 400

maiores entidades beneficentes do Brasil no ano de 199973. Das 50 maiores entidades

beneficentes (aquelas cujos dispêndios anuais se encontram na faixa entre R$ 240 milhões a R$ 4,8 milhões), 8% são fundações empresarias. Apesar da pequena quantidade de organizações da espécie, essas organizações respondem por 20% do total de dispêndios previstos para as 50 maiores entidades beneficentes do País em 199974.

No entanto, cabe-se ressaltar que caso uma empresa decida constituir uma fundação, deve haver a consciência dos instituidores de “que se trata, obviamente, de dois entes jurídicos distintos. Um é a empresa (sociedade comercial), outro é a fundação

70 Fonte: Revista Exame. Disponível em: <http://www2.uol.com.br/exame/mm2000/50_bancos.htm>.

Acesso em 25 jan. 2001.

71 Anteriormente à constituição de sua fundação, o Banco Itaú atuava na área social mediante iniciativas

do programa "Itaú Social" e do seu Instituto Itaú Cultural.

72 Fonte: Filantropia.org. Disponível em <http://www.filantropia.org/maiores_indice1.htm>. Acesso em

20 jan. 2001.

73 Segundo o site, as 400 maiores entidades representam 90% das atividades no terceiro setor no Brasil. 74 Extrapolando-se os números de 1999 para 2001 e considerando a criação da Fundação Itaú Social, as

fundações empresariais passariam a responder por 21% do total de dispêndios investidos pelas 50 maiores instituições beneficentes do País.

(com personalidade jurídica de direito privado), e, portanto, independentes e autônomos” (Paes, 2000:128).

Paes (2000:130) afirma que, em sua prática enquanto procurador, tem verificado a ocorrência de anomalias na gestão e atuação das fundações instituídas por empresas que acabam por descaracterizar sua natureza fundacional.

O autor cita desde os casos em que as empresas instituidoras interferem diretamente na gestão das fundações que instituíram, direcionando suas finalidades, até aqueles em que a fundação atua comercialmente revertendo o resultado econômico obtido em prol do próprio instituidor.

Também alerta que muitas vezes, a atuação social da empresa se dá como mera extensão de sua atividade mercantil, ou seja, a utilização de uma racionalidade própria de mercado para a configuração de sua intervenção social.

Fischer (1999), por sua vez, coordenou no País pesquisa qualitativa promovida pelo Institute of Development Research - IDR a respeito do estabelecimento e operacionalização de alianças intersetoriais entre mercado e o terceiro setor.

Essas parcerias, segundo a autora, são capazes de atenuar as fraquezas relacionadas a cada setor ao nivelar as características positivas das organizações que se encontram em interação.

No entanto, não só de aspectos positivos se dá o relacionamento entre os setores. Ao abordar o estudo de caso da Fundação ACESITA a pesquisadora evidenciou que a racionalidade de mercado, própria das iniciativas empresariais, pode influenciar negativamente o modus-operandi das organizações do terceiro setor, comprometendo suas finalidades:

“Neste caso, pode ser observado que certas competências administrativas são aplicáveis no relacionamento com organizações do terceiro setor, tanto para assegurar a realização dos objetivos da parceria, quanto para prover as organizações da sociedade civil de práticas e habilidades que podem melhorar seu desempenho. Porém, também é observado que a predominância do estilo e da cultura organizacional da empresa pode exercer pressão sobre as relações com as

organizações da sociedade civil, prejudicando o equilíbrio entre a rede de parceiros, criando conflitos explícitos ou ocultos que ameaçam os resultados desejados” (Fischer, 1999:8, trad. livre).

Para finalizar esta abordagem introdutória sobre fundações, convém ressaltar que os argumentos apresentados neste estudo recaem sobre as fundações classificadas como abertas por Rafael (1997). As fundações empresariais “fechadas” têm seu universo de atuação restrito aos interesses particulares da própria empresa que a instituiu. Há pesquisadores como Josadac Figueira de Matos (2000) que não consideram aquelas fundações como componentes do terceiro setor:

“[...] é preciso distinguir entre as fundações empresariais. Há aquelas com atividades e recursos destinados exclusivamente ao seu público interno: promoção do bem-estar dos empregados e colaboradores, complementação de aposentadorias, creches, assistência à saúde, auxílio-educação, treinamento, e assim por diante. Estas investem em seus recursos humanos, visando maior comprometimento, lealdade, ‘vestir a camisa’, (uma forma de culto corporativo) e espera, como retorno, aplicação do conhecimento dos empregados em inovação, criatividade e, em conseqüência, maior competitividade para a empresa mantenedora da fundação. Isto é investimento com fins lucrativos” (Matos, 2000).

Salamon (1998b), considera como terceiro setor tanto as fundações fechadas como demais organizações que servem aos seus próprios membros, como os clubes, associações empresariais, sindicatos, organizações de benefícios mútuos e os partidos políticos, desde que atendam aos cinco requisitos apresentados na seção 3.1.

No entanto, o pesquisador considera fundamental distingui-las das demais organizações do terceiro setor que servem à sociedade em geral, pois é nestas organizações que as pessoas pensam quando se fala em “setor sem fins lucrativos”. Ademais, também é a essas organizações voltadas para o bem geral que devem ser destinados os benefícios fiscais e doações dedutíveis do imposto de indivíduos e empresas.