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uma maior contenção da despesa. No que se refere aos países com posições orçamentais sólidas, os estabilizadores automáticos poderão actuar sem restrições, mas deve ser evitado um ressurgimento de desequilíbrios.

Planos orçamentais para 2003 devem reflectir um compromisso com o Pacto de Estabilidade e Crescimento

Os países da área do euro estão actualmente a preparar os seus planos orçamentais para 2003. No Conselho Europeu de Sevilha, todos os países reafirmaram o seu compromisso para com o Pacto de Estabilidade e Crescimento e

concordaram que actual quadro do Pacto é totalmente apropriado. De facto, assegura a existência de finanças públicas estáveis e sustentáveis que, por sua vez, suportam o crescimento, o emprego e a estabilidade macroeconómica na área do euro. Tal significa que os países devem continuar a manter ou devem alcançar posições orçamentais próximas do equilíbrio ou excedentárias no médio prazo e devem evitar défices excessivos.

Mais especificamente, em países com posições orçamentais sólidas, a revisão dos objectivos para 2003 face aos programas de estabilidade anteriores poderá reflectir variações na conjuntura macroeconómica e, assim, a

O efeito das variações dos preços das acções nos saldos orçamentais

A natureza acentuada das descidas recentes dos preços das acções motivou investigações acerca dos efeitos dos preços dos activos financeiros sobre as finanças públicas. Em princípio, as variações dos preços das acções afectam as finanças públicas através de canais directos e indirectos. Os efeitos directos resultam sobretudo da tributação das mais-valias ou da dedução fiscal das menos-valias, que afectam quer os rendimentos fiscais das mais-valias, quer as receitas dos impostos sobre o rendimento das pessoas singulares e colectivas. A maioria dos Estados-membros da área do euro tributam de alguma forma as mais-valias, enquanto permitem igualmente a dedução das menos-valias. Além disso, alguns países tributam a compra e venda de acções e/ou a riqueza com base em acções. Os efeitos indirectos podem surgir quando os aumentos (ou descidas) dos preços das acções alteram a riqueza líquida das famílias e os indivíduos ajustam os seus padrões de consumo, o que afecta então as receitas fiscais.

A magnitude dos efeitos orçamentais depende em primeiro lugar do sistema fiscal. É provável que um país com uma tributação significativa das mais-valias e uma dedução generosa das perdas registe efeitos mais fortes a nível orçamental do que um país onde estas regras não existem. Além disso, a valorização do mercado bolsista e a dispersão das detenções influenciam o efeito orçamental das variações dos preços das acções através de canais directos e indirectos. Por exemplo, se a valorização do mercado accionista é elevada relativamente à dimensão da economia e se a detenção de acções é generalizada, é provável que os efeitos das mais-valias sobre as receitas sejam mais relevantes. Mais, a magnitude e a duração observada das variações dos preços das acções podem influenciar os efeitos orçamentais. O momento de ocorrência dos efeitos orçamentais pode também diferir: variações induzidas pelo efeito riqueza no consumo têm um impacto muito rápido nas receitas, enquanto as menos-valias podem apenas afectar as receitas do ano seguinte, depois de se efectuarem as declarações dos impostos das pessoas singulares e colectivas.

De uma perspectiva de política, a avaliação da execução e da orientação orçamentais beneficiaria de uma distinção adequada entre os efeitos dos preços dos activos, reacções orçamentais automáticas a flutuações macroeconómicas e influências de políticas discricionárias. Contudo, as observações feitas sugerem que os efeitos a nível orçamental das variações dos preços das acções diferem de forma significativa entre países e ao longo do tempo. Além disso, é frequente a classificação das receitas fiscais nas estatísticas oficiais não permitir que se faça uma distinção entre as fontes de receita (por exemplo, mais-valias ou riqueza face a lucros ou rendimentos enquanto fontes de impostos directos). Isto torna uma avaliação empírica bastante difícil, sendo que são poucos os estudos quantitativos que foram efectuados a este respeito.

Não obstante, existe evidência de que as variações dos preços das acções podem afectar de forma significativa as posições orçamentais e aumentar a variabilidade dos saldos orçamentais em alguns países. O desenvolvimento decepcionante das receitas das mais-valias e dos impostos sobre o rendimento das pessoas colectivas em 2001 e 2002 em diversos países da área do euro deve-se, em parte, a menos-valias incorridas nos sectores financeiro e empresarial na recente recessão do mercado bolsista. Os efeitos da riqueza no consumo e impostos relacionados são, no entanto, difíceis de quantificar com um grau de precisão suficiente.

actuação dos estabilizadores automáticos. Porém, a redução da dívida deve continuar a ser uma prioridade nos países com uma dívida elevada, devendo ser evitado o activismo orçamental.

Nos países que ainda registam desequilíbrios orçamentais, a evolução no presente ano colocou em risco a realização de posições orçamentais próximas do equilíbrio ou excedentárias até 2003-04. De modo a fazer progressos no sen- tido dessa posição, os países devem implementar políticas de consolidação em 2003. Devem ser evitados défices superiores a 3% do PIB e devem ser reduzidos os défices orçamentais corrigidos do ciclo, o que constitui uma condição necessária para que os estabilizadores automáticos possam actuar no futuro.

A evolução em 2001 e no presente ano salienta a importância de os objectivos orçamentais serem baseados em pressupostos macroeconó- micos realistas e de serem identificadas e implementadas as medidas de correcção necessárias de modo oportuno. Além disso, a actual incerteza sobre a conjuntura macroeconómica, os efeitos orçamentais das

reformas e a evolução dos mercados de activos torna aconselhável uma margem adicional de prudência nos planos orçamentais.

Por último, a necessidade de prosseguir uma reforma orçamental estrutural para promover o crescimento económico não deve ser utilizada como uma desculpa para adiar a consolidação. Reformas abrangentes, incluindo cortes fiscais bem como reformas da despesa e benefícios favoráveis ao emprego e ao crescimento poderão não afectar o orçamento. Deste modo contribuiriam mais para a realização dos objectivos dos governos para diminuir o desemprego e impulsionar o crescimento do que apenas as reformas fiscais. A importância da contenção e da reforma da despesa nunca pode ser enfatizada em demasia, devido ao fraco desempenho de muitos países da área do euro nos últimos anos. Além disso, uma contenção insuficiente da despesa aumenta o risco de os objectivos orçamentais não serem realizados. Tal, por sua vez, pode conduzir à necessidade de aumentar os impostos e, deste modo, a uma percepção de que as reformas estão a ser invertidas, o que poderia prejudicar a confiança numa orientação do governo para a reforma.

5 Enquadramento macroeconómico mundial, taxas de câmbio e