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Execução civil e execução por quantia certa contra devedor solvente

No documento Elias Marques de Medeiros Neto (páginas 104-131)

J. Calmon de Passos 116 notou que: “Em um século, as mentalidades coletivas mudaram Ser devedor, em nossos dias, não é mais uma pecha, e deixar de pagar suas

2.1. Execução civil e execução por quantia certa contra devedor solvente

A execução civil é o palco adequado para que o princípio da efetividade possa encontrar o seu verdadeiro desafio – o verdadeiro teste de fogo – para garantir que o processo civil possa dar ao titular do direito material, dentro de um prazo razoável, e seguindo os princípios do devido processo legal, o bem da vida que lhe é devido por lei.

Uma execução ineficiente coloca em xeque mate toda a credibilidade do sistema processual, pois de nada adianta um sentença erudita, baseada nos mais sólidos princípios de direito, se ela não encontrar terreno fértil para sua devida e eficaz aplicação no mundo dos fatos; de modo a fazer valer o seu comando para ser adimplida em favor do credor172.

Daí Eduardo J. Couture173 definir a execução civil como “o conjunto dos atos destinados a assegurar a eficácia prática da sentença”.

172 CASTRO LOPES, Maria Elizabeth de. Reflexões sobre o devido processo legal e a execução civil. In:

FUX, Luiz; NERY JR., Nelson; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Processo e Constituição: Estudos em

Homenagem ao Professor José Carlos Barbosa Moreira. São Paulo: RT, 2006. p. 389.

173 COUTURE, Eduardo J. Fundamentos do Direito Processual Civil. Tradução de Henrique de Carvalho.

105 Na ideia clássica de Giuseppe Chiovenda: "chama-se execução processual a atuação prática, da parte dos órgãos jurisdicionais, de uma vontade da lei que garante a alguém um bem da vida e que resulta de uma verificação; e conhece-se por execução o complexo de atos coordenados a esse objetivo”174.

Candido Rangel Dinamarco175 destaca que a execução civil consiste em uma “cadeia de atos de atuação da vontade sancionatória, ou seja, conjunto de atos estatais através de que, com ou sem o concurso da vontade do devedor (e até contra ela), invade- se seu patrimônio para, à custa dele, realizar-se o resultado prático desejado concretamente pelo direito objetivo material”. 176

A força motriz da execução civil é a busca de satisfação do direito do exequente, “e não a definição, para o caso concreto, do direito de uma das partes. Isto é, não é objetivo da execução forçada determinar quem tem razão. Pode-se dizer, assim, que, visualizada a tutela jurisdicional como resultado, na execução forçada tal ocorrerá, normalmente, com a entrega do bem devido ao exequente”.177

174 CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições de Direito Processual Civil. Tradução de Paolo Capitanio.

Campinas: Bookseller, 1998. p. 346. v. 1.

175 DINAMARCO, Candido Rangel. Execução civil. 8ª. ed. São Paulo: Malheiros, 2002. p. 120.

176 Moacyr Amaral Santos doutrina que a execução é “o processo pelo qual o Estado, por intermédio do

órgão jurisdicional, e tendo por base um título (...), empregando medidas coativas, efetiva e realiza a sanção. Pelo processo de execução, por meio de tais medidas, o Estado visa a alcançar, contra a vontade do executado, a satisfação do direito do credor. A execução, portanto, é a atuação da sanção inerente ao título executivo”. (SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 268).

106 Como preceitua Enrico Tullio Liebman, enquanto no processo de conhecimento se busca determinar qual é a norma jurídica que deve incidir no caso concreto, “a execução civil é aquela que tem por finalidade conseguir por meio do processo, e sem o concurso da vontade do obrigado, o resultado prático a que tendia a regra jurídica que não foi obedecida. Esta atividade se desdobra numa série de atos que formam em conjunto o processo de execução".178

E nas precisas palavras de Humberto Theodoro Júnior179, “em direito processual, a execução forçada destina-se especificamente a realizar, no mundo fático, a sanção. Daí sua definição de ‘atividade desenvolvida pelos órgãos judiciários para dar atuação à sanção’. Mais especificamente, a sanção atuada pelo processo executivo vem a ser a concretização da responsabilidade patrimonial. Como o devedor não cumpriu o débito, seu patrimônio responderá de maneira forçada, substituindo assim a prestação não adimplida voluntariamente”.

Satisfazer o credor. É esse, em síntese, o grande objetivo da execução civil. E esta satisfação, traduzida como a realização do direito material devido ao credor, e reconhecido previamente como legítimo por um título judicial ou extrajudicial, pode se dar com ou sem a vontade do devedor.180

178 LIEBMAN, Enrico Tulio. Processo de execução. São Paulo: Bestbook, 2001. p. 18.

179 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. 41ª. ed. Rio de Janeiro: Forense,

2007. p. 125. v.II.

180 Luiz Guilherme Marinoni destaca que a execução deve ser vista como “a forma ou o ato que,

praticado sob a luz da jurisdição, é imprescindível para a realização concreta da tutela jurisdicional do direito, e assim para a própria tutela prometida pela constituição e pelo direito material”. (MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução. 5ª. ed. São Paulo: RT, 2013. p. 70).

107 Em geral, a depender da natureza do direito e da pretensão do credor, a execução civil pode consistir no conjunto de atos processuais para implementar: (i) obrigação de entregar coisa (arts. 621 a 631 do CPC), ou (ii) obrigação de fazer e/ou de não fazer (arts. 632 a 643 do CPC), ou (iii) obrigação de pagar quantia certa contra devedor solvente (arts. 475-I a 475-R e 646 a 724 do CPC).

A presente tese foca no instituto da penhora de faturamento na execução por quantia certa contra devedor solvente, execução esta que é definida por Olavo de Oliveira Neto181como sendo “a atividade jurisdicional fundada em um título executivo, que tem por finalidade recompor o equilíbrio quebrado pelo descumprimento de uma obrigação, sujeitando o executado a atos de constrição que recaem sobre os seus bens”.

A execução por quantia certa182 contra devedor solvente tem como objetivo o pagamento ao credor de quantia líquida, certa e exigível, conforme preveem os arts. 580, 586, 475-I a 475-R, 646 a 724, todos do CPC. Nos termos do art. 646 do CPC, esta execução tem por objeto expropriar bens do devedor, a fim de satisfazer o direito do credor183.

181 OLIVEIRA NETO, Olavo. A Defesa do Executado e dos Terceiros na Execução Forçada. São Paulo:

RT, 2000. p. 24.

182 Moacyr Amaral Santos pontua que “tem lugar a execução por quantia certa quando o título executivo

sujeita o devedor ao pagamento de quantia certa em dinheiro. É o que ocorre quando o título executivo, seja judicial ou extrajudicial, contenha obrigação líquida, certa e exigível, e corresponda a uma obrigação do devedor de pagar em dinheiroao credor quantia certa”. (SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas

de Direito Processual Civil. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 317).

183 Ernane Fidélis dos Santos frisa que esta modalidade de execução é a “que se faz para recebimento de

quantia certa, a cuja prestação está obrigado o devedor. O dinheiro é o mais fungível dos bens. Representado pela moeda, tem curso oficial, e seu valor tem equivalência que permite sua troca por bens também avaliáveis patrimonialmente. Se o devedor se obriga a pagar quantia determinada e não o faz, o

108 Como lembra Pontes de Miranda184, “compreende-se que se fale de execução, de acção executiva, quando se tira algo de um patrimônio e se leva para diante, para outro”.

Enrico Tullio Liebman185 arremata doutrinando que “a execução por quantia

certa se realiza quando houver condenação ao pagamento de quantia certa de dinheiro (...). Esta espécie de execução se consuma pela apreensão e entrega de dinheiro, se for encontrado no patrimônio do executado; mais frequentemente pela apreensão de outros bens, sua transformação em dinheiro mediante desapropriação, e entrega ao exequente do dinheiro conseguido, podendo às vezes os próprios bens apreendidos serem dados ao exequente em satisfação do seu crédito”.

A quantia cobrada através do processo de execução, nos termos do art. 580 do CPC, precisa consistir em obrigação inadimplida pelo devedor, e que seja certa, liquida e exigível. Por certeza, deve-se compreender a ausência de dúvida quanto à sua existência jurídica. Por liquidez, deve-se entender que há precisão no que se refere ao quê e ao quanto se deve. Por exigibilidade, se infere que a obrigação deve estar vencida.186

credor adquire o direito de receber forçosamente”. (SANTOS, Ernane Fidélis dos. Execução e Processo

Cautelar. 10ª. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 114).

184 MIRANDA, Pontes. Tratado das ações. São Paulo: RT, 1978. p.4. Tomo VII. 185 LIEBMAN, Enrico Tulio. Processo de Execução. São Paulo: Bestbook, 2001.p. 147.

186 THEODORO JÚNIOR, Humberto. A Reforma da Execução do Título Extrajudicial. Rio de Janeiro:

109 O art. 586 do CPC prescreve de forma enfática, neste norte, que a execução para cobrança de crédito fundar-se-á sempre em título de obrigação certa, líquida e exigível.

O art. 586 já revela a importância de a execução civil estar embasada em um título executivo, que deverá, prima facie, revelar a titularidade do credor quanto ao direito material por ele pleiteado, bem como expressar a obrigação líquida, certa e exigível a ser cumprida pelo devedor.

Pasquale Castoro187, neste passo, doutrina que: “All’ esecuzione forzata è strettamente legato il titolo executivo, in mancanza del quale vale il principio nulla executio sine titulo (...). Il titolo consiste in um documento (scritto) dell’atto (accertamento o negozio giuridico) da cui diritto (o concreta volontà di legge) risulta. Il documento lo riguarda nella sola forma, l’atto, formalmente e sostanzialmente. Il diritto è certo quando ne è indubbia la esistenza. (...). Il diritto è liquido quando è determinato nel quantum; (...). Il diritto è esigible quando non è soggetto a termine o a condizione o ad altro limite”.

Italo Augusto Andolina188 ensina que: “La prima regola pone nel titulo il presupposto necessario e sufficiente dell’esecuzione forzata: globalmente intesa quale percorso procedimentale preordinato alla realizzazione coattiva – attuantesi, cioé, attraverso la mediazione dell’ufficio esecutivo – del diritto del creditore. E postula

187 CASTORO, Pasquale. Il Processo di Esecuzione. Milano: Giufree, 1994. p. 7.

188 ANDOLINA, Italo Augusto. Il titolo esecutivo dopo le recenti riforme del proceso civile italiano. In:

FUX, Luiz; NERY JR., Nelson; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Processo e Constituição: Estudos em

110 pertanto che il diritto del creditore di conseguire quanto gli è dovuto sia consacrato (e sai, quindi, immediatamente percepibile) in una rappresentazione documentale típica, qual è appunto quella oferta dal titolo”.

Nas lições de Teori Albino Zavascki, “o título executivo é a base da execução. Base é tudo quanto serve de fundamento ou apoio. É o alicerce das edificações. Não se pode construir uma execução forçada senão sobre o alicerce delimitado pelo título executivo”189. E, ainda, define o título executivo como sendo “a representação

documental de norma jurídica individualizada, contendo obrigação líquida, certa e exigível, (...), de pagar quantia em dinheiro, entre sujeitos determinados, e que tem a eficácia específica de viabilizar a tutela jurisdicional executiva”190.

O título executivo traz a necessária presunção da legitimidade do direito pleiteado pelo credor, de tal sorte a movimentar-se o Poder Judiciário, através da execução civil, com a principal finalidade de satisfação e realização de um direito material já formal e previamente reconhecido em favor do credor.

Como bem lembra Cássio Scarpinella Bueno191, “toda execução pressupõe título executivo. Ele é, de acordo com doutrina amplamente vencedora, pressuposto necessário e suficiente para autorizar a prática de atos executivos. Necessário porque,

189 ZAVASCKI, Teori Albino. Processo de execução. 3ª. ed. São Paulo: RT, 2004. p. 264. 190 ZAVASCKI, Teori Albino. Processo de execução. 3ª. ed. São Paulo: RT, 2004. p. 270.

191 BUENO, Cassio Scarpinella. Curso Sistematizado de Direito Processual Civil. 5ª. ed. São Paulo:

111 sem título executivo, não há execução, aplicação do princípio da nulla executio sine titulo... Suficiente porque, consoante o entendimento predominante, basta a apresentação do título para o início dos atos executivos pelo Estado juiz (...)”.

Sem o título executivo, a execução não se mostra viável, “erigindo em norma o brocardo nulla executio sine titulo”, conforme bem ensina Olavo de Oliveira Neto192.

Para este professor, o título executivo consiste em “documento representativo de um ato jurídico, ao qual a lei atribui eficácia executiva, que é necessário e suficiente para a propositura da ação executiva”193.

Para Enrico Tullio Liebman194, o título executivo é “fonte imediata, direta e autônoma da regra sancionadora e dos efeitos jurídicos dela decorrentes. A eficácia abstrata reconhecida ao título é que explica seu comportamento na execução; aí está o segredo que o torna o instrumento ágil e expedito capaz de permitir a realização da execução sem depender de qualquer nova demonstração da existência do crédito”. 195

192 OLIVEIRA NETO, Olavo. A defesa do executado e dos terceiros na execução forçada. São Paulo:

RT, 2000. p. 25.

193 OLIVEIRA NETO, Olavo. A defesa do executado e dos terceiros na execução forçada. São Paulo:

RT, 2000. p. 30.

194 LIEBMAN, Enrico Tulio. Processo de Execução. São Paulo: Bestbook, 2001.p.39.

195 Moacyr Amaral Santos leciona que o título executivo “consiste no documento que, ao mesmo tempo

em que qualifica a pessoa do credor, o legitima a promover a execução. Nele está a representação de um ato jurídico, em que figuram credor e devedor, bem como a eficácia, que a lei lhe confere, de atribuir àquele o direito de promover a execução contra este. No título estão compreendidos o objeto, os limites e a extensão da execução (...). O título deve necessariamente expressar certeza, liquidez e exigibilidade da obrigação a que visa executar: certeza diz respeito à existência da obrigação; liquidez corresponde à determinação do valor ou da individuação do objeto da obrigação, conforme se trate de obrigação de pagar em dinheiro, de entrega de coisa, de fazer ou não fazer; exigibilidade tem o sentido de que a obrigação, que se executa, não depende de termo ou condição, nem está sujeita a outras limitações”. (SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 276 e 278).

112 Araken de Assis196, com propriedade, destaca que o “o título executivo constitui a prova pré-constituída da causa de pedir da ação executória. Esta consiste na alegação, realizada pelo credor na inicial, de que o devedor não cumpriu, espontaneamente, o direito reconhecido na sentença ou a obrigação. Deverá acompanhar a petição inicial (art. 283) ou o requerimento (art. 475-J, caput). Efeitos deste documento se espraiam em tríplice direção. O título outorga ao credor a grave possibilidade de propor a ação executória irrompendo na esfera jurídica do executado (...). À pretensão de executar se relaciona, correlatamente, o dever de o Estado prestar a tutela executiva. Tocará ao Estado, a instância do credor, aplicar ao executado os meios executórios. Em geral, sub- rogará a vontade do obrigado, produzindo certas transformações na realidade; às vezes, administrará intensa pressão psicológica sobre o executado, compelindo-o ao cumprimento (...). Confrontado pela ação executória, em primeiro lugar o executado se sujeita, à semelhança do que sucede em qualquer processo, tout court, às consequências da propositura da demanda. Em face da função executiva preponderante na ação executória, porém, os incômodos aumentam de grau, superando os ônus comuns e inerentes à própria defesa respondendo eventual demanda caprichosa e infundada. Na melhor das hipóteses, desde o ângulo do devedor, seu legítimo patrimônio se submeterá à agressão dos meios executórios”.

O título executivo, desta forma, é pressuposto para o ajuizamento da execução civil, e demonstra, em seu teor, que o credor tem em seu favor a legítima presunção de que o devedor deve lhe satisfazer obrigação líquida, certa e exigível; tudo de modo a autorizar que o credor exija, perante o Poder Judiciário, que o devedor, mesmo contra a

113 sua vontade, satisfaça a obrigação inadimplida. Nesta linha, pode o credor se valer, caso não haja cooperação por parte do devedor, de constrições e alienações do patrimônio do devedor, através de medidas coercitivas a serem perpetradas pelo Estado-juiz, de tal sorte a gerar-se o produto necessário para o devido pagamento ao credor.

Esta presunção do direito do autor é fundamental para legitimar a sequência dos atos executivos que serão praticados na busca de tutelar a satisfação do crédito requerido, conforme bem preceitua Elio Fazzalari197: “Di piìr. Mentre nei processo di cognizione gli atti delle parti e dell'ufficio hanno per presupposto un diritto alio stato di affermazione, e soltanto la sentenza di accoglimento presuppone la esistenza dei diritto (rectius: l'accertamento della fattispecie da cui il diritto discende), nell'esecuzione forzata l'esistenza dei diritto è presupposto non soltanto dell'atto satisfattivo ma di tutta la serie procedurale che vi conduce, dal pignoramento in avanti (1")”.

Nos termos dos arts. 475-J, 475-R, 580, 586, 614 e 618 do CPC, o título executivo deve estar juntado aos autos e é pressuposto básico da execução por quantia certa contra devedor solvente, sendo certo que sua inexistência, nos autos, decreta a nulidade da execução198.

No CPC brasileiro podem-se identificar duas grandes espécies do gênero título executivo: os judiciais, disciplinados no art. 475-N do CPC, e os extrajudiciais, elencados no art. 585 do CPC.

197 FAZZALARI, Elio. Note in tema di diritto e processo. Milano: Giuffré, 1957. p. 142.

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A espécie do título executivo, se judicial ou extrajudicial, indica qual é o procedimento a ser seguido pelo credor na execução por quantia certa contra devedor solvente: se judicial for o título, ele deverá adotar o procedimento do cumprimento de sentença, com observância dos arts. 475-I e seguintes do CPC, cumulados, no que couber, com os arts. 646 e seguintes do CPC (art. 475-R do CPC); ou se extrajudicial for o título, o procedimento será o disciplinado nos arts. 646 e seguintes do CPC.

Os principais aspectos dos procedimentos da execução por quantia certa contra devedor solvente serão mais detalhados abaixo, inclusive em cotejo com os desafios da implantação do princípio da efetividade na execução civil.

Mas antes se deve tratar dos princípios que norteiam a execução civil, da responsabilidade patrimonial e do conceito e natureza da penhora; com uma abordagem – ainda que breve – sobre o histórico da execução civil, para que se possa compreender o atual contexto da disciplina da execução por quantia certa contra devedor solvente.

115 2.2. Princípios da execução civil

Para Araken de Assis199, os princípios fundamentais da execução civil seriam os seguintes: (i) do título; (ii) da autonomia da execução; (iii) da adequação; (iv) da disponibilidade; (v) do resultado; e (vi) da responsabilidade patrimonial do devedor.

Cássio Scarpinella Bueno200 fala ainda nos princípios da tipicidade dos meios

executivos, da lealdade e da responsabilidade do credor.

No que tange ao primeiro princípio, como já assinalado acima, a execução tem como pressuposto necessário a existência de título executivo judicial ou extrajudicial, sendo certo que a ausência do título executivo fulmina com nulidade o processo, conforme dispõe o art. 618 do CPC. Trata-se de um verdadeiro pressuposto para o regular desenvolvimento de um processo válido, conforme a lição de Enrico Tullio Liebman201.

O princípio da autonomia da execução decreta a divisão funcional, existente dentro do processo civil, entre os atos judiciais que proclamam o reconhecimento do direito do credor, e os atos voltados à realização forçada deste direito, sendo estes últimos típicos do processo de execução.

199 ASSIS, Araken. Manual da Execução. 11ª. ed. São Paulo: RT, 2007.

200 BUENO, Cassio Scarpinella. Curso Sistematizado de Direito Processual Civil. 5ª. ed. São Paulo:

Saraiva, 2012. p. 60. v. 3.

116 Esta divisão funcional não seria abalada, no ver de Araken de Assis, pelo fato de o título a ser executado ser judicial ou extrajudicial; na medida em que a natureza da atividade de reconhecimento do direito não se confunde com a natureza do ato voltado à realização do direito202. Defende-se aqui a forte autonomia entre os atos direcionados à realização do direito e àqueles ligados ao reconhecimento do direito subjetivo203.

Esta não é a visão de Cássio Scarpinella Bueno204, para quem este princípio vem sendo mitigado em razão de uma visão mais sincrética do processo civil, onde as atividades direcionadas ao reconhecimento do direito cada vez mais se relacionam e se confundem com as atividades voltadas à realização do direito. O aludido professor usa a atual estrutura do cumprimento de sentença, com as reformas oriundas da Lei n. 11.232/2005, para exemplificar a mitigação do princípio da autonomia da execução.

O princípio da adequação estabelece a necessidade de a técnica processual executiva eleita estar adstrita ao escopo pretendido pelo credor, de forma a garantir que o meio selecionado pelo exequente possa conferir o bem da vida por ele almejado.

202 ASSIS, Araken. Manual da Execução. 11ª. ed. São Paulo: RT, 2007. p. 98. 203 LIEBMAN, Enrico Tulio. Processo de Execução. São Paulo: Bestbook, 2001.p. 46.

204 BUENO, Cassio Scarpinella. Curso Sistematizado de Direito Processual Civil. 5ª. ed. São Paulo:

117 Cândido Rangel Dinamarco205 esclarece que o título executivo direciona o procedimento adequado a ser eleito pelo exequente. E Teori Albino Zavascki206 enfatiza que este princípio remete naturalmente o estudioso do processo civil à noção de efetividade da execução, que consiste na aptidão do processo para entregar ao credor o bem da vida por ele almejado. Para que isso seja possível, o magistrado se vale dos meios executivos, que podem consistir em: (i) meios de coação, pelos quais busca-se o adimplemento com a participação do devedor. Os principais exemplos seriam a multa pecuniária e a prisão civil por dívida, sendo esta última hoje admitida apenas nos casos de inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia (inciso LXVII do

No documento Elias Marques de Medeiros Neto (páginas 104-131)