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Elias Marques de Medeiros Neto

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO – PUC/SP

ELIAS MARQUES DE MEDEIROS NETO

Penhora de percentual do faturamento de empresa devedora na execução por quantia

certa contra devedor solvente: uma leitura com base no princípio da efetividade do

processo

DOUTORADO EM DIREITO

ORIENTADOR: PROFESSOR DOUTOR JOÃO BATISTA LOPES

SÃO PAULO

(2)

2

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO – PUC/SP

ELIAS MARQUES DE MEDEIROS NETO

PENHORA DE PERCENTUAL DO FATURAMENTO DE EMPRESA DEVEDORA

NA EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR SOLVENTE: UMA

LEITURA COM BASE NO PRINCÍPIO DA EFETIVIDADE DO PROCESSO

DOUTORADO EM DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo, como exigência

parcial para obtenção do título de Doutor em Direito

Processual Civil e sob a orientação do Professor

Doutor João Batista Lopes.

São Paulo

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3

Banca Examinadora:

_____________________________________

_____________________________________

_____________________________________

_____________________________________

_____________________________________

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4 “Aproveite cada minuto deste momento, pois é um

daqueles momentos de sua vida em que você pode se

dedicar a escrever, com satisfação, exatamente aquilo que

você acredita” (Eliane Correa Miotto, Punta

Cana/República Dominicana, Dezembro de 2013).

Esta tese é dedicada à Eliane Correa Miotto, pela

inspiração acadêmica e profissional, bem como por todo o

(5)

5

AGRADECIMENTOS

Nenhum trabalho acadêmico é fruto do esforço individual e exclusivo do aluno. São

inúmeros os fatores de influência que contribuem para a conclusão de um dos mais

importantes ciclos acadêmicos da vida de um aluno de pós-graduação, qual seja, o

término do programa de Doutorado em Direito, com a apresentação à banca

examinadora da respectiva tese.

Esta tese é fruto dos incentivos dos meus pais, os quais, cada qual ao seu modo, me

deram a certeza de que cada segundo da vida é importante na construção da trajetória

profissional e acadêmica, sendo certo que, sem o árduo e cotidiano suor, o sucesso não

passaria de um mero sonho.

Agradeço à Eliane Correa Miotto por toda compreensão, carinho, amizade e amor, bem

como pela inspiração que sua trajetória acadêmica e profissional naturalmente gera.

Agradeço ao Professor Doutor João Batista Lopes, não só pelos conselhos e orientação

na construção da presente tese, mas também por me conferir sua sincera amizade.

Agradeço à Professora Doutora Maria Elisabeth de Castro Lopes pela amizade e

conselhos durante todo o curso do programa de pós-graduação.

Agradeço ao Professor Doutor Olavo de Oliveira Neto pelas orientações e por ter se

revelado um nobre amigo, uma das grandes conquistas deste período na produção da

tese de Doutorado.

Não poderia deixar de agradecer aos Professores Doutores Teresa Arruda Alvim

(6)

6

Arruda Alvim e Thereza Arruda Alvim, por terem dividido comigo, ao longo do

programa de Doutorado, ensinamentos e orientações.

Seria injusto se não consignasse um agradecimento especial aos diversos amigos

processualistas que tanto me ajudaram com conselhos e/ou com a energia própria do

entusiasmo acadêmico.

Ao amigo Marcelo de Sousa Scarcela Portela fica o especial registro de que sem a sua

amizade, o seu incentivo e a sua compreensão, esta tese não existiria.

Por fim, sou profundamente grato aos diversos amigos e colegas acadêmicos e

profissionais, cujo contato, amizade, conselhos e orientações tornaram esta tese um

trabalho possível.

Um sincero obrigado a todos.

Elias Marques de Medeiros Neto

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7

RESUMO

MEDEIROS NETO, Elias Marques de. Penhora de percentual do faturamento de empresa devedora na execução por quantia certa contra devedor solvente: uma leitura com base no princípio da efetividade do processo. 2014. Tese (Doutorado em Direito) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2014.

Com base no princípio da efetividade do processo, a presente tese propõe uma nova leitura do

instituto da penhora de percentual sobre o faturamento da empresa devedora na execução por

quantia certa contra devedor solvente; de modo a sustentar que, desde que bem regida e

aplicada, esta modalidade de constrição não precisa ser excepcional e pode vir a atender, dentro

do cânone da proporcionalidade, tanto os interesses do credor, como os interesses do devedor. A

tese aborda o conceito de efetividade do processo e sua relação com os princípios da eficiência,

da duração razoável do processo, da celeridade, do devido processo legal, do acesso à justiça e

da proporcionalidade. E, neste contexto de preocupação com a efetividade processual, a tese

traça um panorama das principais reformas legislativas ocorridas após a vigência do Código de

Processo Civil de 1973. Em um segundo momento, a tese trata dos conceitos e dos principais

princípios que regem a execução civil e a execução por quantia certa contra devedor solvente,

apresentando os desafios e preocupações para obter-se uma efetiva tutela executiva. Também é

elaborado, neste passo, um panorama das principais e recentes reformas legislativas ocorridas

no Brasil quanto ao processo de execução. Em um terceiro momento, a tese apresenta uma nova

leitura quanto ao instituto da penhora de percentual sobre o faturamento de empresa devedora na

execução por quantia certa contra devedor solvente, leitura esta baseada no conceito de

efetividade processual; na busca de se obter uma execução equilibrada e efetiva.

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8

ABSTRACT

MEDEIROS NETO, Elias Marques de. Attachmentof the gross revenue of the company in the civil execution proceeding against debtor solvent: analyses according to proceeding effectiveness principle. 2014. Thesis (Doctor in Law) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2014.

Based on the principle of the effectiveness of the process, this thesis proposes a new analysis of

the seizure of the gross revenue of the company in the civil execution proceeding against debtor

solvent; in order to sustain that, provided that this attachment must be carefully applied, this

kind of seizure does not need to be exceptional and may provide good results, based on the

principle of proportionality, to the creditor, as to the debtor. The thesis analyses the concept of

effectiveness of the process and its relation with the principles of efficiency, of reasonable

duration of the process, of the due process of law, of access to justice and of proportionality. In

this context, concern with the procedural effectiveness, the thesis provides an overview of the

main legislative reforms that occurred after the validity of the Civil Procedure Code of 1973. In

a second moment, the thesis analyses the concepts and the main principles of the civil execution

proceeding and civil execution proceeding against debtor solvent, presenting the challenges and

concerns to obtain an effective proceeding. The thesis provides an overview of the last and main

legislative reforms that occurred in Brazil related to civil execution proceeding. In a third time,

the thesis presents a new analysis regarding to the seizure of the gross revenue of the company

in the civil execution proceeding against debtor solvent, based on the concept of procedural

effectiveness.

Key words: attachment of gross revenue of the company - effectiveness - civil execution

(9)

9

SIGLAS E ABREVIATURAS

AC – Apelação Cível

AgR – Agravo Regimental

AG – Agravo de Instrumento

Art. – Artigo

CC – Código Civil

CF – Constituição Federal

CNJ – Conselho Nacional de Justiça

CPC – Código de Processo Civil

Des. – Desembargador

DJe – Diário de Justiça Eletrônico

DJ – Diário de Justiça

DJU – Diário de Justiça da União

EC – Emenda Constitucional

ED – Embargos de Declaração

MC – Medida Cautelar

Min. – Ministro

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10

PL – Projeto de Lei

RE – Recurso Extraordinário

Rel. – Relator

REsp – Recurso Especial

STF – Supremo Tribunal Federal

STJ – Superior Tribunal de Justiça

TRF – Tribunal Regional Federal

TJRJ – Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro

TJSP – Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo

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11

SUMÁRIO

Introdução (p. 13)

I - Princípio da efetividade do processo

1.1. Noção de princípio (p.23);

1.2. O princípio da efetividade do processo (p.29);

1.2.1. Princípio da eficiência (p.33);

1.2.2. Celeridade, duração razoável do processo e devido processo legal

(p.37);

1.2.3. Amplo acesso à justiça (p. 44);

1.3. Justiça em números no Brasil (p. 55);

1.4. Efetividade do processo, reformas legislativas e o projeto de um novo

CPC (p.61);

1.5. Princípio da proporcionalidade (p. 89);

II - A execução por quantia certa contra devedor solvente

2.1. Execução civil e execução por quantia certa contra devedor solvente

(p.104);

2.2. Princípios da execução civil (p.115);

2.3. A penhora na execução por quantia certa contra devedor solvente

(p.131);

2.4. A execução por quantia certa contra devedor solvente e o princípio da

efetividade – necessário convite para uma leitura conjunta dos arts. 612 e

(12)

12

2.5. Principais mudanças no procedimento da execução por quantia certa

contra devedor solvente no Brasil – títulos executivos judiciais e

extrajudiciais – Leis n. 11.232/2005 e n. 11.382/2006 (p.164);

III – Penhora de percentual do faturamento de empresa devedora na execução por

quantia certa contra devedor solvente

3.1. A penhora de percentual do faturamento de empresa devedora na

execução por quantia certa contra devedor solvente – proposta de uma leitura

com base no princípio da efetividade do processo (p. 194);

3.2. Definição de faturamento e aspectos legais e contábeis (p.203);

3.3. Natureza, conceito e previsão legal da penhora de faturamento no direito

brasileiro (p.218);

3.4. Procedimento da penhora de faturamento, seus limites e o administrador

e seus deveres e poderes (p.247);

3.5. Momento da penhora de faturamento: necessária releitura com base no

princípio da efetividade do processo (p. 280);

3.6. Propostas para a aplicação da penhora de faturamento, de acordo com o

princípio da efetividade do processo (p.307);

3.7. Proposta de nova redação para o art. 655-A, parágrafo terceiro, do CPC

(p.311);

Conclusões (p.314);

(13)

13

Introdução

Equal Justice Under Law.

Para quem já esteve em Washington – DC e já teve a oportunidade de observar o

teto da Suprema Corte dos Estados Unidos da América, certo é que a frase acima soa

bem familiar. Ela é o cartão de visitas de uma das Supremas Cortes mais famosas do

mundo, sendo claro que reflete uma preocupação muito cara aos processualistas

modernos, notadamente quando se observa sua intima ligação com a noção de

efetividade processual e com a noção de acesso à justiça.

Garantir uma adequada, tempestiva e oportuna aplicação da norma, seguindo-se

as sérias diretrizes do due process of law, evitando-se inseguras distorções entre

litigantes que se encontram em iguais situações jurídicas, é indubitavelmente uma

preocupação do processualista moderno.

Nesta seara, surge a importância de o processo ser efetivo, efetividade esta que

pode ser estudada com base nas preocupações de Mauro Cappelletti e Bryant Garth,

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14

entre aqueles que litigam: “A efetividade perfeita, no contexto de um dado direito

substantivo, poderia ser expressa como a completa ‘igualdade de armas’”. 1

Uma outra abordagem de efetividade processual está nas linhas de Cândido

Rangel Dinamarco, que inspirado na doutrina de Giuseppe Chiovenda, leciona que

processo efetivo é aquele capaz de garantir ao litigante, na medida do possível,

praticamente aquilo que ele naturalmente teria se não precisasse ir ao Poder Judiciário.2

Trata-se aqui da busca de uma devida, oportuna e equivalente reparação por

parte do réu em favor do autor que foi lesado em seu direito e precisou ir ao Poder

Judiciário para obter uma tutela jurisdicional eficaz; tutela esta bem analisada na obra

de Crisanto Mandrioli3, para quem a reparação específica deve ser a regra,

concedendo-se ao autor praticamente o que ele teria se não precisasse ir ao Poder

Judiciário.

A preocupação com a efetividade do processo é uma tônica constante no

universo processual moderno, sendo um verdadeiro desafio para a ciência processual

auxiliar na eficaz arquitetura de ferramentas para que o Poder Judiciário possa conferir

ao jurisdicionado uma tutela tempestiva, oportuna e adequada, de forma a lhe conceder

o bem da vida devido em conformidade com o direito material vigente.

1 CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à Justiça. Tradução de Ellen Gracie Northfleet. Porto Alegre: Fabris, 1988. p. 15.

(15)

15

E esta preocupação está longe de estar restrita aos corredores forenses e

acadêmicos nacionais, na medida em que processualistas de diferentes formações e

origens dividem suas experiências na linha de se tentar obter uma diretriz uniforme –

um guideline universal – para que os diversos sistemas jurídicos possam contribuir para

a efetividade processual.

Neste sentido, naturalmente surge a lembrança do Projeto Unidroit/American

Law Institute, que resultou nos conhecidos Princípios do Processo Civil Transnacional,

os quais podem ser conferidos em obra publicada em 2006 pela Cambridge University

Press4.

Aquele projeto, liderado pelos professores Geoff Hazard e Michele Taruffo,

teve o desafio de reunir nomes de expressão do processo civil relacionados à common

law e à civil law, tudo com o escopo de identificar os princípios de processo civil que

devem estar uniformemente presentes nos sistemas estatais.

E, dentre os princípios eleitos, houve destacada tônica para a preocupação com

uma justiça efetiva, pronta e célere, com o dever das partes de evitar propositura de

ações temerárias e abuso do processo, com o dever das partes de agirem de forma justa

e de estimularem procedimentos eficientes e rápidos, e com o seu respectivo dever de

cooperação.

(16)

16

A busca de uma tutela jurisdicional justa e efetiva também está presente nos

princípios do moderno processo civil inglês, sendo que esta diretriz já constava da obra

do professor Neil Andrews de 1994 (Principles of Civil Procedure, 1994), sendo depois

reafirmada no livro English Civil Procedure de 2003 (Oxford University Press), além de

estar constante nas atuais CPR de 1998 (“O Código de Processo Civil Inglês”)5.

Mesmo no ambiente da administração de empresas, a efetividade processual é

colocada como um fator para a análise de projetos e para o iter decisório acerca de suas

respectivas negociações; não sendo raro encontrar-se na famosa Harvard University

estudos sobre técnicas de negociação, mecanismos de resolução de conflitos e a

efetividade do processo.

O professor Max H. Bazerman, em uma de suas aulas no programa de

negociação de Harvard, destacou as incertezas de um processo judicial e a falta de um

preciso controle quanto ao tempo para a satisfação do direito do autor da demanda;

sendo que tais elementos precisavam ser pontuados quando se definia a estratégia de

negociação6.

A crítica quanto ao puro aspecto adversarial das lides e às negociações

tradicionais, com o convite para um diálogo mais efetivo e colaborativo entre as partes,

de modo a obter-se um melhor e mais tempestivo resultado, também pode ser lida nas

5 ANDREWS, Neil. O Moderno Processo Civil. Tradução de Teresa Arruda Alvim Wambier. 2ª. ed. São Paulo: RT, 2012.

(17)

17

clássicas lições de James K. Sebenius7em sua famosa doutrina de negociação em três

dimensões; outro conhecido professor da escola de negociação de Harvard.

E no Brasil não é diferente, sendo que a busca de um processo efetivo consta não

só da atual Constituição Federal (art. 5º, LXXVIII, da CF de 1988), mas também nos

artigos projetados de um novo CPC.

Nos seguintes artigos do projeto de um novo CPC, conforme redação que tramita

perante a Câmara dos Deputados, busca-se positivar a importância de um processo

efetivo8:

Art. 4. As partes têm direito de obter em prazo razoável a solução

integral do mérito, incluída a atividade satisfativa.

Art. 5. Aquele que de qualquer forma participa do processo deve

comportar-se de acordo com a boa-fé.

Art. 6. Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que

se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva.

Art. 7. É assegurada às partes paridade de tratamento no curso do

processo, competindo ao juiz velar pelo efetivo contraditório.

Art. 8. Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins

sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade

da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a

legalidade, a publicidade e a eficiência.

(18)

18

O princípio da efetividade é bem presente na exposição de motivos do projeto de

um novo CPC, assinada em 08.06.2010 pela comissão de juristas (Luiz Fux, Teresa

Arruda Alvim Wambier, Adroaldo Furtado Fabrício, Benedito Cerezzo Pereira Filho,

Bruno Dantas, Elpídio Donizetti Nunes, Humberto Theodoro Jr., Jansen Fialho de

Almeida, José Miguel Garcia Medina, José Roberto dos Santos Bedaque, Marcus

Vinicius Furtado Coelho, Paulo Cezar Pinheiro Carneiro), lastreada no ato do Presidente

do Senado Federal n. 379 de 2009: “Um sistema processual civil que não proporcione à

sociedade o reconhecimento e a realização dos direitos, ameaçados ou violados, que têm

cada um dos jurisdicionados, não se harmoniza com as garantias constitucionais de um

Estado Democrático de Direito”.

Os principais objetivos da reforma, na importante visão da comissão de juristas,

foram: “...poder-se-ia dizer que os trabalhos da comissão se orientaram precipuamente

por cinco objetivos: 1) estabelecer expressa e implicitamente verdadeira sintonia fina

com a Constituição Federal; 2) criar condições para que o juiz possa proferir decisão de

forma mais rente à realidade fática subjacente à causa; 3) simplificar, resolvendo

problemas e reduzindo a complexidade de subsistemas, como, por exemplo, o recursal;

4) dar todo o rendimento possível a cada processo em si mesmo considerado; e 5)

finalmente, sendo talvez este último objetivo parcialmente alcançado pela realização

daqueles mencionados antes, imprimir maior grau de organicidade ao sistema,

dando-lhe, assim, mais coesão”.

E, sempre na busca da efetividade da tutela, os juristas reconhecem que: “Foram

criados institutos inspirados no direito estrangeiro, como se mencionou ao longo desta

(19)

19

civilizações. O Novo CPC é fruto de reflexões da Comissão que o elaborou, que

culminaram em escolhas racionais de caminhos considerados adequados, à luz dos cinco

critérios acima referidos, à obtenção de uma sentença que resolva o conflito, com

respeito aos direitos fundamentais e no menor tempo possível, realizando o interesse

público da atuação da lei material”.

Neste contexto, com inspiração na busca de um processo efetivo, a presente tese

concentra suas preocupações no processo de execução, focando o seu estudo no instituto

da penhora de faturamento, na linha de propor alternativas para que este instituto possa

colaborar de forma mais eficiente para a satisfação do legítimo direito do credor.

A efetividade processual encontra sua prova de fogo justamente no processo de

execução, o qual existe para garantir a satisfação – ou melhor, a verdadeira realização –

do direito a ser tutelado9.

Um processo de execução moroso e pouco eficiente é a certeza de que o Poder

Judiciário fracassou no seu escopo de pacificar adequadamente os conflitos referentes às

lides que lhe são apresentadas10.

9 BUENO, Cassio Scarpinella. Curso Sistematizado de Direito Processual Civil. 5ª. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 42. v. 3.

10 ARAÚJO CINTRA, Antônio Carlos de; GRINOVER, Ada Pelegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel.

(20)

20

A execução, por excelência, deve funcionar de forma exemplar, garantindo ao

titular do direito os mecanismos necessários para que ele – de forma tempestiva e

oportuna – possa obter o bem da vida que lhe pertence. No Brasil, essa tarefa não é das

mais fáceis.

A falta de estrutura do Poder Judiciário, somada com uma cultura adversarial e

pouco colaborativa entre os sujeitos processuais, tornam a obtenção da almejada

efetividade processual na ação de execução uma tarefa difícil de ser cumprida.

É verdade que mudanças legislativas, como as que ocorreram nos anos de 2005 e

2006 no sistema processual brasileiro, demonstram a iniciativa do legislador de

promover uma execução mais adequada ao escopo da efetividade processual.

Mas as dificuldades ainda persistem e mudanças ainda se fazem necessárias para

que a execução, no Brasil, possa realmente garantir à parte exequente os mecanismos

necessários para que, de forma tempestiva e oportuna, o bem da vida que lhe pertence

lhe seja entregue.

A presente tese almeja colaborar com este norte, e apresentar uma proposta de

mudança de leitura do instituto da penhora de faturamento na execução por quantia

certa contra devedor solvente, mudança esta que pode vir a atender aos interesses do

(21)

21

Para tanto, além de um estudo mais aprofundado do princípio da efetividade

processual e de sua relação com a execução, a tese propõe uma abordagem das possíveis

causas da hoje ineficaz penhora de faturamento.

Indispensável, ainda, dentro do contexto da efetividade do processo, é a análise

do princípio da proporcionalidade e sua relação com a execução, pois apenas através do

adequado cotejo dos valores envolvidos no processo de execução, é que se torna

possível a compreensão da proposta de mudanças – e seus possíveis efeitos positivos –

na aplicação da penhora de faturamento.

Na linha de compreendermos o princípio da proporcionalidade como o adequado

sopesamento dos valores em jogo, fundamental é a lição de João Batista Lopes: “Em

sentido amplo, refere-se a doutrina ao princípio da proporcionalidade como

compreensivo de subprincípios (adequação, necessidade e princípio da

proporcionalidade em sentido estrito). Para o fim destas reflexões, interessa-nos,

particularmente, o princípio da proporcionalidade em sentido estrito, isto é, o

sopesamento dos valores e interesses em jogo a que procede o juiz para chegar à

solução do conflito. Considerando que cada princípio tem o seu peso, deve o juiz, ao

julgar a causa, comparar os pesos dos princípios em tensão conflitiva para chegar à

solução que atenda aos valores da ordem jurídica”.11

(22)

22

A tese também objetiva diminuir as dúvidas ainda presentes na jurisprudência e

na doutrina sobre a natureza e os limites da penhora de faturamento, sendo que a leitura

deste instituto com base no princípio da efetividade pode ajudar na sua melhor

interpretação e aplicação.

Propõe-se um olhar diferente, com franca inspiração nas lições de W. Chan

Kim e Renée Mauborgne e o seu conhecido livro “A estratégia do oceano azul”12, pelo

qual se convida os empreendedores a inovar em suas estratégias, de tal sorte a

garantir-se uma atuação eficiente, agregando-garantir-se inédito e perene valor ao business.

Com uma grande analogia, trabalhar a estratégia do oceano azul com o instituto

da penhora de faturamento é promover um olhar diferente daquele que vem sendo

perpetrado pela doutrina e jurisprudência nacionais. A proposta é a análise da penhora

de faturamento à luz do importante princípio da efetividade do processo, de modo que

sua aplicação possa atender tanto aos interesses do credor, como os do próprio devedor;

mitigando-se as tradicionais incertezas e receios que povoam a sua ineficiente aplicação

na execução por quantia certa contra devedor solvente.

Um olhar diferente para um instituto tradicionalmente interpretado como sendo

de excepcional aplicação, nocivo ao devedor e, paradoxalmente, de pouca eficiência

para o credor.

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23

Um olhar que convida o credor e o devedor, assim como os demais sujeitos

processuais, a entenderem a penhora de faturamento como um eficaz mecanismo –

desde que bem regido e aplicado – para garantir a satisfação do devido crédito exigido

na execução por quantia certa contra devedor solvente, dentro dos parâmetros da

efetividade do processo e da proporcionalidade, atendendo-se as circunstâncias

específicas do caso concreto, e sempre com observância do due process of law.

Dentro desta ótica, a penhora de faturamento, desde que melhor regida e

aplicada, não deve ser excepcional, e pode vir a preservar tanto os interesses do credor

como os do próprio devedor, tudo de modo a contribuir-se para a efetividade da

execução. Esta é a franca proposta desta tese.

I - Princípio da efetividade do processo

1.1. Noção de princípio

Previamente à análise mais específica do princípio da efetividade, é importante

trabalharmos com a noção de princípio.

Definir princípio não é uma tarefa tão simples, sendo certo que grandes

(24)

24

para o significativo e polêmico rol dos debates acerca da natureza dos princípios

jurídicos.

Paulo Bonavides13enumera asseguintes características dos princípios jurídicos:

(i) normas genéricas; (ii) normas indeterminadas que dependem de interpretação para

serem aplicadas; (iii) normas programáticas; (iv) normas hierarquicamente superiores; e

(v) normas que guiam a interpretação e a formação de outras normas jurídicas.

Genaro Carrió14 tenta caracterizar princípio jurídico de acordo com um

levantamento de algumas acepções em que normalmente o conceito é empregado em

obras jurídicas consagradas: (i) princípios traduzem a finalidade da norma a ser

aplicada; (ii) princípios denotam um aspecto ou detalhe importante de um certo sistema

jurídico; (iii) princípios apresentam os requisitos formais que a ordem jurídica deve

observar; (iv) princípios generalizam determinados valores; (v) princípios positivam

valores que levam à noção do justo; (vi) princípios traduzem comandos programáticos

direcionados ao legislador; (vii) princípios fazem referência a juízos de valor que

centralizam os anseios básicos da moral positiva; e (viii) princípios sintetizam noções

consagradas oriundas da tradição jurídica.

13 BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 25ª. ed. São Paulo: Malheiros, 2010.

(25)

25

Conforme bem lembra Gisele Santos Fernandes Góes15, os princípios possuem

como característica comum a generalidade e o papel de guia para a intepretação e

aplicação das normas jurídicas, com o foco de garantir coerência ao sistema jurídico

como um todo16.

Karl Larenz17 apresenta a visão de que os princípios concentram as fórmulas

mestras do sistema jurídico, estabelecendo os fundamentos para a hermenêutica do

direito e servindo de origem para as normas de conduta18.

No direito brasileiro, os princípios possuem importante função de integração do

sistema jurídico, de tal sorte que o art. 4º da Lei de Introdução às Normas do Direito

15 GÓES, Gisele Santos Fernandes. Princípio da Proporcionalidade no Processo Civil. São Paulo: Saraiva, 2004.

16 Interessante definição surge da leitura da obra de José Cretella Neto, para quem os princípios são “vigas mestras que sustentam a estrutura organizacional e operativa do sistema jurídico, atuando também como elo de ligação entre a lei, a doutrina e a jurisprudência, possibilitando a regulamentação harmônica e equânime da sociedade. Seu emprego permite, por um lado, a elaboração de leis que reflitam a ideia daquilo que, em determinado momento histórico, a sociedade considere como ‘socialmente justo’; e por outro, permite-se a aplicação dessas leis aos conflitos de interesse, de forma a efetivar o direito, mediante a adequada interpretação da mens legis. Na ausência de leis em que se tivessem positivado, ou com o surgimento de novos institutos – o que ocorre, por exemplo, quando inovações tecnológicas passam a ser patenteadas e comercializadas – entram novamente em cena os princípios, agora como orientadores dos operadores do direito”. (CRETELLA NETO, José. Fundamentos Principiológicos do Processo Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p. 26).

17 LARENZ, Karl. Derecho justo fundamentos de la ética jurídica. Tradução de Luiz Diéz- Picazo. Madrid: Civitas, 1985. p. 14.

(26)

26

Brasileiro, antiga Lei de Introdução ao CC, expressamente prevê a possibilidade de o

magistrado se valer dos princípios gerais do direito em caso de lacuna19.

Grande polêmica existe na doutrina acerca da natureza dos princípios. Ilustres

nomes, como José Afonso da Silva20, sustentam que os princípios são a base jurídica

das normas, e que podem vir a ser positivados, também se transformando em normas

princípios. Mas sua essência não necessariamente é normativa, sendo, na realidade,

fontes diretivas e interpretativas para as normas jurídicas.

Esta também parece ser a doutrina de Tércio Sampaio Ferraz Júnior21, que

transfere aos princípios o papel estrutural de garantir coesão ao sistema normativo,

sendo fonte de formação e inspiração hermenêutica para as regras imperativas.

19 Acerca da importância dos princípios para o preenchimento das lacunas do direito, Carlos

Maximiliano, em obra referência sobre a hermenêutica jurídica, leciona que: “todo o conjunto harmônico de regras positivas é apenas o resumo, a síntese, o substratum de um complexo de altos ditames, o índice materializado de um sistema orgânico, a concretização de uma doutrina, série de postulados que enfeixam princípios superiores. Constituem estes as diretivas ideias do hermeneuta, os pressupostos científicos da ordem jurídica. Se é deficiente o repositório de normas, se não oferece, explícita ou implicitamente, e nem sequer por analogia, o meio de regular ou resolver um caso concreto, o estudioso, o magistrado, ou funcionário administrativo como que renova, em sentido inverso, o trabalho do legislador: este procede de cima para baixo, do geral ao particular; sobe aquele gradativamente, por indução, da ideia em foco para outra mais elevada, prossegue em generalizações sucessivas, e cada vez mais amplas, até encontrar a solução colimada”. (MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e Aplicação do Direito. 15ª. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1995. p. 295).

20 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 14ª. ed. São Paulo: Malheiros, 1997. p. 93.

(27)

27

Jean-Louis Bergel22 já assinala para a importância dos princípios perante os

magistrados e o legislador, sendo eles verdadeiras inspirações para as normas, além de

guias diretivos e corretivos para a aplicação das regras jurídicas.

Todavia, há também a escola filosófica que entende que os princípios são sim

normas, as quais, em um grande gênero, se subdividem em princípios e regras.

Robert Alexy23, provavelmente, é um dos grandes nomes desta escola,

doutrinando que princípios e regras se reúnem no gênero das normas, porque ambos

expressam o “dever ser”, apesar de as regras serem menos genéricas que os princípios,

os quais guardam consigo um alto grau de generalidade.

Ronald Dworkin24também defende a natureza normativa dos princípios, mas os

diferencia das regras em razão de natureza lógica. Para Dworkin, uma regra traz

consigo um comando específico e concreto que deve ser considerado válido e aplicável,

ou não válido e não aplicável. Não há meio do caminho. Os princípios, por sua vez,

encerram comandos mais genéricos e que podem servir de guias para interpretação e

aplicação das regras, tendo os seus comandos sopesados de acordo com o caso concreto.

22 BERGEL, Jean-Louis. Teoria Geral do Direito. Tradução Maria Ermantina Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 2001. p. 118.

23 ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. Tradução de Virgilio Afonso da Silva. 2ª. ed. São Paulo: Malheiros, 2012. p. 87.

(28)

28

O caráter normativo dos princípios está presente na obra de Maria Helena

Diniz25, a qual, com sua costumeira didática, sintetiza que: “os princípios gerais do

direito, entendemos, não são preceitos de ordem ética, política, sociológica ou técnica,

mas elementos componentes do direito. São normas de valor genérico que orientam a

compreensão do sistema jurídico, em sua aplicação e integração, sendo que algumas são

de tamanha importância que estão expressamente contidas em leis, como já

enunciamos”.

As lições de Norberto Bobbio26 também direcionam para a natureza normativa

dos princípios: “os princípios são apenas, a meu ver, normas fundamentais ou

generalíssimas do sistema, as normas mais gerais. A palavra princípios leva a engano,

tanto que é velha questão entre os juristas se os princípios gerais são normas. Para mim

não há dúvida: os princípios gerais são normas como todas as outras. E esta é também a

tese sustentada por Crisafulli. Para sustentar que os princípios gerais são normas, os

argumentos são dois, e ambos válidos: antes de mais nada, se são normas aquelas das

quais os princípios gerais são extraídos, através de um procedimento de generalização

sucessiva, não se vê por que não devam ser normas também eles: se abstraio da espécie

animal obtenho sempre animais, e não flores ou estrelas. Em segundo lugar, a função

para a qual são extraídos e empregados é a mesma cumprida por todas as normas, isto é,

a função de regular um caso. E com que finalidade são extraídos em caso de lacuna?

Para regular um comportamento não-regulamentado: mas então servem ao mesmo

escopo a que servem as normas expressas. E por que não deveriam ser normas?” .

25 DINIZ, Maria Helena de. As Lacunas no Direito. 9ª. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 236.

(29)

29

E como o presente tema tem significativa relação com o universo da filosofia do

direito, citar Miguel Reale27 é mais do que um dever, sendo certo que sua lição define

princípios como: “enunciações normativas de valor genérico, que condicionam e

orientam a compreensão do ordenamento jurídico, quer para sua aplicação e integração,

quer para a elaboração de novas normas. Cobrem, deste modo, tanto o campo da

pesquisa pura do Direito, quanto o de sua atualização prática. Alguns deles se revestem

de tamanha importância que o legislador lhes confere força de lei, com a estrutura de

modelos jurídicos, inclusive no plano constitucional, consoante dispõe a nossa

constituição sobre os princípios da isonomia (igualdade de todos perante a lei), da

irretroatividade da lei para a proteção dos direitos adquiridos, etc...”.

No universo normativo do direito brasileiro, muitos princípios estão positivados,

merecendo destaque, para os fins da presente tese, as previsões dos arts. 5º, 37 e 93 da

CF de 1988, as quais reúnem profunda relação com o princípio da efetividade do

processo.

1.2. O princípio da efetividade do processo

É missão do Estado, através do Poder Judiciário, possibilitar aos demandantes

uma adequada, tempestiva e eficiente solução de controvérsias; de tal sorte que a correta

aplicação da regra de direito material deve ser assegurada pelas vias processuais

existentes e tuteladas pelo Estado.

(30)

30

A visão meramente formal da ciência processual, a qual deveria ser autônoma e

apenas reger com precisão técnica o fluxo dos atos praticados em um determinado

processo, não é mais pauta do dia. Não é o outro o entendimento de Pedro J. Bertolino:

“... concebido el proceso ante todo como instrumento, vemos que resultará irrazonable

hacer de um mero medio – el proceso civil –un fin en si mismo”28.

Atualmente, o estudioso do processo deve se preocupar em como os atos

processuais podem auxiliar na concreta tutela do direito material, de modo a garantir

que este não seja apenas uma hipótese de direito prevista em um determinado código de

normas.

O Estado, através do Poder Judiciário, não pode deixar de ser visto como uma

“força empregada exclusivamente como um meio de realização do direito e segundo

normas jurídicas”, conforme a lição de Dalmo de Abreu Dallari29.

Léon Duguit30 também já assinalava que pela função jurisdicional, o Estado

intervém nos casos de violação do direito objetivo ou nas contestações relativas à

existência ou extensão de uma situação jurídica subjetiva; ordena a reparação, repressão

ou anulação, segundo o caso, quando foi violado o direito objetivo; ordena as medidas

28 BERTOLINO, Pedro J. El exceso de rito de cara a la efectividad del proceso civil. In: FUX, Luiz; NERY JR., Nelson; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Processo e Constituição: Estudos em Homenagem ao Professor José Carlos Barbosa Moreira. São Paulo: RT, 2006. p. 176.

29 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado. 19ª. ed. São Paulo: Saraiva, 1995. p. 97.

(31)

31

necessárias, para assegurar a realização das situações jurídicas subjetivas de que

reconhece a existência e a extensão”.

A necessária e fluente relação entre o direito processual e o direito material foi

observada na obra de José Roberto dos Santos Bedaque31, da qual se extrai a

necessidade de uma visão instrumental do processo civil, voltada ao processo de

resultados, na busca de servir adequadamente ao direito material.

Cássio Scarpinella Bueno destaca que existe uma ligação umbilical entre o

direito processual e o direito material, sendo aquele instrumento para tutelar de forma

eficaz este último, não se podendo olvidar que é missão essencial do Estado garantir um

eficaz exercício da jurisdição: entendendo-se por isso não só uma adequada e eficiente

formal resposta do Poder Judiciário quanto à solução da lide, mas também se

compreendendo a garantia de própria realização do direito material tutelado32.

Como a jurisdição tem como fim a resolução de conflitos33, almejando à

obtenção da paz social34, é certo que o princípio da efetividade do processo torna-se

31 BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Direito e Processo. 4ª. ed. São Paulo: Malheiros, 2006. p. 19. 32 BUENO, Cassio Scarpinella. Curso Sistematizado de Direito Processual Civil. 6ª. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 91. v. 1.

33 “A pacificação é o escopo magno da jurisdição e, por conseqüência, de todo o sistema processual (uma vez que todo ele pode ser definido como a disciplina jurídica da jurisdição e seu exercício). É um escopo social, uma vez que se relaciona com o resultado do exercício da jurisdição perante a sociedade ...”. (ARAÚJO CINTRA, Antônio Carlos de; GRINOVER, Ada Pelegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel.

(32)

32

verdadeira essência da jurisdição; principalmente porque um processo tardio, ineficaz e

sem real impacto no mundo dos fatos, fracassando na tutela e na realização do direito

material, não terá proporcionado nem a paz social, e nem o almejado adequado desfecho

da resolução de conflitos35.

Neste passo, significativo é o desafio de se atingir a efetividade processual, a

qual consiste em se garantir ao litigante, na medida do possível, praticamente aquilo que

ele naturalmente teria se não precisasse ir ao Poder Judiciário.36

Moldar todo o arcabouço legislativo processual e a atuação da jurisdição para, de

forma eficaz, tempestiva, oportuna e adequada, garantir e realizar o direito material a ser

tutelado, é a missão hoje presente nos foros acadêmicos e profissionais que

constantemente debatem processo civil no Brasil.

34 A necessidade de a jurisdição resolver de forma eficiente a lide está na doutrina de Cândido Rangel

Dinamarco: “A força das tendências metodológicas do direito processual civil na atualidade dirige-se com grande intensidade para a efetividade do processo, a qual constitui expressão resumida da ideia de que o processo deve ser apto a cumprir integralmente toda a sua função sócio político jurídica, atingindo em toda a plenitude todos os seus escopos institucionais”. (DINAMARCO, Cândido Rangel. A Instrumentalidade do Processo. São Paulo: Malheiros, 2008. p. 277).

35 DINAMARCO, Cândido Rangel. A Instrumentalidade do Processo. São Paulo: Malheiros, 2008. p. 319.

(33)

33

1.2.1. Princípio da eficiência

Na linha de dar fôlego a este debate, deve-se lembrar que o art. 37 da CF de

1988 já positiva a necessidade de o Estado – e, portanto, o Poder Judiciário – atuar de

forma eficiente em seus atos. Trata-se da consagração do princípio da eficiência, o qual

guarda intima relação com a noção de efetividade processual.

O princípio da eficiência foi positivado na magna carta através da EC n. 19 de

1998, e traz consigo a imposição ao agente público de atuar de forma a permitir que o

Estado atinja os seus fins perante a sociedade, buscando-se sempre, neste sentido,

resultados favoráveis ao todo social37.

A Lei n. 9.784/99, em seu art. 2º, caput, igualmente faz referência ao princípio

da eficiência como sendo um dos que regem o processo administrativo, sendo que

Maria Sylvia Zanella Di Pietro, acerca de sua natureza, bem disserta que este

princípio: “pode ser considerado em relação ao modo de atuação do agente público, do

qual se espera o melhor desempenho possível de suas atribuições, para lograr os

melhores resultados; e em relação ao modo de organizar, estruturar, disciplinar a

administração pública, também com o mesmo objetivo de alcançar os melhores

resultados na prestação do serviço público”38.

37 BONAVIDES, Paulo; MIRANDA, Jorge; AGRA, Walber de Moura. Comentários à Constituição

Federal de 1988. Rio de Janeiro: Forense, 2009. p. 728.

(34)

34

E especificamente sobre a necessidade de o processo ser regido com a máxima

eficiência e dentro dos parâmetros da economia e da instrumentalidade, de modo a ser

efetivo e atender ao seu escopo social, interessante é a seguinte passagem da

administrativista da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo: “há que se ter

sempre presente a ideia de que o processo é instrumento para aplicação da lei, de modo

que as exigências a ele pertinentes devem ser adequadas e proporcionais ao fim que se

pretende atingir. Por isso mesmo, devem ser evitados os formalismos excessivos, não

essenciais à legalidade do procedimento que só possam onerar inutilmente a

administração pública, emperrando a máquina administrativa”39.

Alexandre de Moraes, também analisando o princípio da eficiência, proclama

que este é: “aquele que impõe à administração pública direta e indireta e a seus agentes

a persecução do bem comum, por meio do exercício de suas competências de forma

imparcial, neutra, transparente, participativa, eficaz, sem burocracia e sempre em busca

da qualidade, primando pela adoção dos critérios legais e morais necessários para a

melhor utilização possível dos recursos públicos, de maneira a evitar-se desperdícios e

garantir-se uma maior rentabilidade social”40.

Alexandre Santos de Aragão, acerca do princípio da eficiência, emlição sobre

a necessidade de o direito atender seu escopo de efetivamente resolver os conflitos

concretos, enfatiza que: “O Direito Público do Estado Contemporâneo visa satisfazer

determinadas necessidades sociais, sendo vinculado ao atendimento eficiente dos fins

(35)

35

sociais e fáticos aos quais se destina. A eficiência não pode ser entendida apenas como

maximização do lucro, mas sim como um melhor exercício das missões de interesse

coletivo que incumbe ao Estado, que deve obter a maior realização prática possível das

finalidades do ordenamento jurídico, com os menores ônus possíveis, tanto para o

próprio Estado, especialmente de índole financeira, como para a liberdade dos cidadãos.

Os resultados práticos da aplicação das normas jurídicas não constituem preocupação

apenas sociológica, mas, muito pelo contrário, são elementos essenciais para determinar

como, a partir desses dados empíricos, devam ser interpretadas (ou reinterpretadas),

legitimando a sua aplicação. O Direito deixa de ser aquela ciência preocupada apenas

com a realização lógica dos seus preceitos; desce do seu pedestal para aferir se esta

realização lógica está sendo apta a realizar os seus desígnios na realidade da vida em

sociedade. Uma interpretação / aplicação de lei que não esteja sendo capaz de atingir

concreta e materialmente os seus objetivos não pode ser considerada como a

interpretação mais correta”.41

A doutrina acima, focada na eficiência da administração pública, e na

necessidade de o direito ser interpretado e aplicado de forma a realmente atender aos

seus fins, tem flagrante inspiração na escola de Norberto Bobbio42; que já na década de

1970 frisava a importância de uma teoria realista do direito, focada mais na efetividade

da norma jurídica, do que na sua validade formal.

41 ARAGÃO, Alexandre Santos de. Eficiência (princípio da). In: TORRES, Ricardo Lobo; KATAOKA, Eduardo Takemi; GALDINO, Flávio (org). Dicionário de Princípios Jurídicos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. p. 393.

(36)

36

Indubitavelmente, o princípio da eficiência43, que rege a atuação da

administração pública, apresenta estreita e íntima ligação com o princípio da efetividade

processual; pois o Poder Judiciário (art. 93 da CF de 1988), como ente do Estado que

concentra o exercício da jurisdição, deve pautar seus atos com observância das

diretrizes que estão consagradas no art. 37 da CF de 1988.

Fredie Didier Jr.44, neste contexto, pontua que: “o processo, para ser devido, há

de ser eficiente. O princípio da eficiência, aplicado ao processo, é um dos corolários da

cláusula geral do devido processo legal. Realmente, é difícil conceber um devido

processo legal ineficiente. Mas não é só. Ele resulta, ainda, da incidência do art. 37,

caput, da CF/88. Esse dispositivo também se dirige ao Poder Judiciário...”.

A noção de efetividade processual está presente nos referidos conceitos ligados

ao princípio da eficiência, podendo-se dizer que cabe ao Poder Judiciário se organizar

da forma mais adequada para garantir que a tutela jurisdicional possa ser conferida ao

titular do direito material de maneira oportuna, econômica e tempestiva; tudo de modo a

se garantir que a resolução de conflitos não se limite apenas à prolação de uma sentença

judicial, mas sim que possa efetivamente realizar o direito devido ao seu titular e

formalmente reconhecido em decisão proferida no processo.

43 Fábio Soares de Melo enfatiza que “o princípio da eficiência tem por finalidade principal a obrigatoriedade de que a atuação da administração pública obtenha resultados de forma satisfatória e eficiente”. (MELO, Fábio Soares de. Processo administrativo tributário: princípios, vícios e efeitos jurídicos. São Paulo: Dialética, 2012. p. 54).

(37)

37

Bem oportuno, aliás, é o disposto no art. 22 do Código de Defesa do

Consumidor, que prevê a necessidade de os órgãos públicos, aí se incluindo o Poder

Judiciário, fornecerem serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais,

contínuos.

1.2.2. Celeridade, duração razoável do processo e devido processo legal

Além do princípio da eficiência, pode-se dizer que o principio da efetividade

processual também encontra relação com o texto constante do art. 5º, inciso LXXVIII,

da CF de 198845.

Como já disse Rui Barbosa, "a justiça atrasada não é justiça, senão injustiça

qualificada”.46

A celeridade processual ganha fundamental realce nos tempos modernos,

principalmente em razão das significativas transformações da vida social e seus reflexos

nos litígios, conforme bem observa Kazuo Watanabe: “Vários são os fatores que

45“a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”.

(38)

38

contribuem para que o fator celeridade tenha relevância no estudo das relações sociais,

destacando-se o encurtamento das distâncias, em razão da evolução dos sistemas de

comunicação e sofisticação dos meios de transporte, e os instrumentais tecnológicos que

aceleram ou mesmo substituem o agir humano nos diferentes atos da vida cotidiana”47.

J. J. Gomes Canotilho, nesta seara, já teve a oportunidade de observar que: “...

a existência de processos céleres, expeditos e eficazes (...) é condição indispensável de

uma protecção jurídica adequada" 48.

A duração razoável do processo e a celeridade certamente são importantes

componentes do conceito de efetividade processual. Mas não são expressões sinônimas,

sendo a celeridade um dos elementos para que o processo possa ser considerado efetivo,

mas nunca o único elemento. Um processo célere, mas que agrida o devido processo

legal, não pode ser considerado efetivo, como bem alertam Maria Elizabeth de Castro

Lopes e João Batista Lopes49, em artigo referência sobre o tema: “Tem-se observado,

em trabalhos acadêmicos, certa confusão entre celeridade e efetividade. Talvez em

razão da constante preocupação com a morosidade da justiça, a efetividade muitas vezes

é identificada com celeridade ou com presteza da atividade jurisdicional. Nada, porém,

menos exato, já que a celeridade é apenas um aspecto da efetividade. Com maior rigor

(39)

39

técnico e à luz da Emenda n. 45, aos jurisdicionados se deve garantir a razoável duração

do processo que, entre outros aspectos, terá de levar em consideração a complexidade

da causa. Por exemplo, se o desate da lide exigir prova pericial, e o juiz a dispensar, em

nome da celeridade processual, a efetividade do processo estará irremediavelmente

comprometida: o julgamento não será antecipado, mas precipitado... Tem-se, pois, que a

celeridade processual não pode vulnerar as garantias constitucionais entre as quais se

colocam a ampla defesa e a produção da prova”.

José Roberto dos Santos Bedaque50, na mesma direção, doutrina que:

“Processo efetivo é aquele que, observado o equilíbrio entre os valores segurança e

celeridade, proporciona às partes o resultado desejado pelo direito material. Pretende-se

aprimorar o instrumento estatal destinado a fornecer a tutela jurisdicional. Mas constitui

perigosa ilusão pensar que simplesmente conferir-lhe celeridade é suficiente para

alcançar a tão almejada efetividade. Não se nega a necessidade de reduzir a demora,

mas não se pode fazê-lo em detrimento do mínimo de segurança, valor também

essencial ao processo justo. Em princípio, não há efetividade sem contraditório e ampla

defesa. A celeridade é apenas mais uma das garantias que compõem a ideia do devido

processo legal, não a única. A morosidade excessiva não pode servir de desculpa para o

sacrifício de valores também fundamentais, pois ligados à segurança do processo”. 51

50 BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Efetividade do Processo e Técnica Processual. São Paulo: Malheiros, 2007. p. 49.

51 Não são diferentes os magistérios de João Batista Lopes e Cássio Scarpinella Bueno:

(40)

40

E como já tivemos a oportunidade de defender, “o processo efetivo é aquele que

busca resolver de forma eficaz a lide, dentro de uma ótica de economia processual,

atendendo o equilíbrio entre a celeridade e o respeito aos princípios que compõem o

devido processo legal; respeitando-se a adequada segurança aos valores fundamentais

que devem ser preservados em favor dos sujeitos do processo”.52

Portanto, a duração razoável do processo e a celeridade são fundamentais para

que a efetividade processual possa ser garantida no caso concreto, mas tais qualidades

não devem mitigar os importantes princípios inerentes ao due process of law, sendo este

outro fundamental elemento para a conquista da efetividade processual: “a celeridade

não pode atropelar ou comprometer o processo giusto de que nos fala Comoglio, ou

seja, o reconhecimento e a garantia dos direitos, a fundamental exigência de efetividade

técnica e qualitativa, o contraditório, o juiz natural, etc. Sobre preocupar-se com a

celeridade, deverá o magistrado indagar, em cada caso, qual deva ser a duração razoável

processual. Se é certo que a celeridade constitui um valor a ser perseguido, especialmente ante o quadro atual de morosidade da justiça, também é exato que a idéia de efetividade não se exaure na de celeridade”. (LOPES, João Batista. Princípio da Proporcionalidade e Efetividade do Processo Civil. In: MARINONI, Luiz Guilherme (Coord.). Estudos de Direito Processual Civil. Homenagem ao Professor Egas Dirceu Moniz de Aragão. São Paulo: RT, 2006. p. 135); e “O grande norte a ser seguido pelo legislador e, consequentemente, pela técnica processual é o do princípio da efetividade da jurisdição, ou do acesso à justiça ou à ordem jurídica justa, constante do artigo 5, XXXV, da Constituição Federal, sempre equilibrado e dosado, como bom princípio que é, pelos princípios do devido processo legal e do contraditório e da ampla defesa (artigo 5, LIV e LV, da Constituição Federal)”. (BUENO, Cássio Scarpinella. Curso Sistematizado de Direito Processual Civil. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 148. v. 1). No mesmo sentido: DINAMARCO, Cândido Rangel. A Instrumentalidade do Processo. São Paulo: Malheiros, 2008. p. 360.

(41)

41

do processo. Em outras palavras, o processo deve durar o tempo necessário e suficiente

para cumprir seus escopos, nem mais, nem menos”.53

O devido processo legal está previsto na CF de 1988, em seu art. 5º, LIV:

“ninguém será privado da liberdadeou de seus bens sem o devido processo legal”.

O devido processo legal é princípio base para todo o sistema processual54, tendo

em sua essência a orientação de respeito às garantias processuais positivadas em favor

das partes na Constituição Federal e nas demais normas infraconstitucionais. Dentre tais

garantias, se destacam, sem a tanto se limitar, o direito ao contraditório55 e à ampla

defesa56, o respeito ao princípio da legalidade57, o dever de os magistrados motivarem

53 LOPES, João Batista; CASTRO LOPES, Maria Elizabeth. Novo Código de Processo Civil e efetividade

da jurisdição. Revista de Processo 188. São Paulo: RT, 2010. p. 173,174.

54 “Em nosso parecer, bastaria a norma constitucional haver adotado o princípio do due process of law para que daí decorressem todas as conseqüências processuais que garantiam aos litigantes o direito a um processo e a uma sentença justa. É, por assim dizer, o gênero do qual todos os demais princípios constitucionais do processo são espécies. Assim é que a doutrina diz, por exemplo, serem manifestações do “devido processo legal” o princípio da publicidade dos atos processuais, a impossibilidade de utilizar-se em juízo prova obtida por meio ilícito, assim como o postulado do juiz natural, do contraditório e do procedimento regular” (NERY JR., Nelson. Princípios do Processo Civil Na Constituição Federal. 8ª. ed. São Paulo: RT, 2004. p. 60).

55 “O que caracteriza fundamentalmente o processo é a celebração contraditória do procedimento, assegurada a participação dos interessados mediante exercício das faculdades e poderes integrantes da relação jurídica processual. A observância do procedimento em si próprio e dos níveis constitucionalmente satisfatórios de participação efetiva e equilibrada, segundo a generosa cláusula due process of law, é que legitima o ato final do processo, vinculativo dos participantes”. (DINAMARCO, Cândido Rangel. A Instrumentalidade do Processo. São Paulo: Malheiros, 2008. p. 77).

56 NERY JR., Nelson. Princípios do Processo Civil Na Constituição Federal. 8ª. ed. São Paulo: RT, 2004. p. 172.

(42)

42

suas decisões e a publicidade dos atos processuais58 (art. 93, IX, da CF de 1988), o

direito à prova59, a proibição à prova ilícita60, o dever de se conferir tratamento

igualitário às partes61, o direito ao juiz natural e imparcial62.

A imparcialidade do magistrado como elemento essencial do due process of law,

inclusive, é muito bem ressaltada na obra de Marcelo Figueiredo63, sendo já uma

preocupação presente na constituição brasileira de 1824.

Nelson Nery Jr.64, com didática, sintetiza: “E é nesse sentido unicamente

processual que a doutrina brasileira tem empregado, ao longo dos anos, a locução

“devido processo legal”, como se pode verificar, v.g., da enumeração que se fez das

garantias dela oriundas verbis: a) direito à citação e ao conhecimento do teor da

acusação; b) direito a um rápido e público julgamento; c) direito ao arrolamento de

58 OLIVEIRA.NETO, Olavo de. Princípio da Fundamentação das Decisões Judiciais. In: OLIVEIRA NETO, Olavo de; e CASTRO LOPES, Maria Elizabeth de (Coord.). Princípios Processuais Civis na Constituição. São Paulo: Ed. Campos Jurídico, 2008. p. 201.

59 LOPES, João Batista. A Prova no Direito Processual Civil. 3ª. ed. São Paulo: RT, 2006. p. 166 a 168. 60 SHIMURA, Sérgio. Princípio da Proibição da Prova Ilícita. In: OLIVEIRA NETO, Olavo de; e CASTRO LOPES, Maria Elizabeth de (Coord.). Princípios Processuais Civis na Constituição. São Paulo: Ed. Campos Jurídico, 2008. p. 263 e 264.

61 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Direitos humanos fundamentais. 2ª. ed. São Paulo: Saraiva, 1998. p. 118. No mesmo sentido: BUENO, Cássio Scarpinella. Curso Sistematizado de Direito Processual Civil. 6ª. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. v. 1.

62 NERY JR., Nelson. Princípios do Processo Civil Na Constituição Federal. 8ª. ed. São Paulo: RT, 2004.

(43)

43

testemunhas e à notificação das mesmas para comparecimento perante os tribunais; d)

direito ao procedimento contraditório; e) direito de não ser processado, julgado ou

condenado por alegada infração às leis ex post facto; f) direito à plena igualdade entre

acusação e defesa; g) direito contra medidas ilegais de busca e apreensão; h) direito de

não ser acusado nem condenado com base em provas ilegalmente obtidas; i) direito à

assistência judiciária, inclusive gratuita; j) privilégio contra a auto-incriminação.

Especificamente quanto ao processo civil, já se afirmou ser manifestação do due process

of law: a) a igualdade das partes; b) garantia do jus actionis; c) respeito ao direito de

defesa; d) contraditório. Resumindo o que foi dito sobre esse importante princípio,

verifica-se que a cláusula procedural due process of law nada mais é do que a

possibilidade efetiva de a parte ter acesso à justiça, deduzindo a pretensão e

defendendo-se do modo mais amplo possível, isto é, de ter his day in Court, na

denominação genérica da Suprema Corte dos Estados Unidos.”

O devido processo legal denota que ninguém será privado de sua liberdade e/ou

de seus bens sem a observância de procedimento previamente previsto em lei, bem

como sem a garantia da ampla defesa, do contraditório e do tratamento igualitário entre

as partes (inciso LV do art. 5º da CF de 1988) 65.

(44)

44

Um processo que observa o devido processo legal, pautado pelo respeito às

garantias constitucionais, mas que também observa a necessidade de eficiência,

celeridade e duração razoável, demonstra a preocupação com a efetividade na solução

do conflito.

1.2.3. Amplo acesso à Justiça

A efetividade processual também mantém intima relação com a noção de acesso

à justiça, termo este muito presente quando se examina o inciso XXXV do art. 5º da CF

de 1988.

O inciso XXXV do art. 5º da CF de 1988 proclama que a lei não excluirá da

apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito. Esta previsão normativa,

também conhecida como o princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional66,

estabelece o acesso ao Poder Judiciário por parte de todo aquele que se sentir ameaçado

em sua esfera de direitos subjetivos.

É certo que a previsão é extremamente bela, pois prevê como direito

constitucional a possibilidade de o jurisdicionado sempre valer-se do Poder Judiciário

para o exame de suas questões.

(45)

45

Todavia, para que o acesso à justiça – aqui interpretado como decorrência do

princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional – deixe de ser uma mera elogiável

previsão no rol das garantias constitucionais, e passe a se tornar um concreto direito a

ser exercido pelos jurisdicionados, é inevitável a observância das ondas de

transformação de que sabiamente falam Mauro Cappelletti e Bryant Garth67.

Pela lição dos referidos mestres, o pleno acesso à justiça pode ser obtido pela

preocupação em possibilitar aos menos favorecidos economicamente o acesso à

informação e ao uso das ferramentas processuais necessárias para a proteção dos seus

direitos. Essa seria a primeira onda de transformação, garantindo-se o acesso à justiça

para aqueles que tradicionalmente são excluídos, por fatores econômicos, do sistema de

proteção dos direitos.

Neste particular, oportuna é a lição de Sérgio Shimura68, para quem “a

verdadeira efetividade do processo é o problema que mais aflige o jurisdicionado, no

momento de recorrer à tutela jurisdicional. A morosidade do processo estrangula os

canais de acesso à tutela jurisdicional, principalmente aos economicamente mais

fracos”.

67 CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à Justiça. Tradução de Ellen Gracie Northfleet. Porto Alegre: Fabris, 1988.

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