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TERRENOS COM ALVARÁS DE LICENÇA NA ZONA DO DOMÍNIO PUBLICO MARÍTIMO

5. A ARQUITETURA, CONTEXTOS E PRÁTICAS

5.5. EXEMPLOS DA ARQUITETURA EFÊMERA

Neste âmbito, identificam-se projetos emblemáticos de arquitetos de referência, assim como polos de concentração de arquitetura efémera, como por exemplo as grandes feiras internacionais de arte e de arquitetura. Um dos pontos fortes da arquitetura efêmera é justamente o impacto mínimo que causa na paisagem, e analisando a evolução das estruturas tencionadas, com o desenvolvimento de novos materiais, acabamos por chegar às estruturas pneumáticas, cujo fator de impacto sobre o ambiente é quase nulo.

Casa de Té en Art Tababe, Japão

A Casa de Té Art Tababe respeita a um projeto desenhado por estudantes da Universidade de Tokyo representado na edição de Living Art de Ohyama. A instalação está construída com blocos de madeira de pinho, cuja geometria permitiu montá-los uns sobre os outros, como se peças de um dominó se tratassem. Os buracos que ficavam entre as peças tinham como função a passagem da luz para o interior do espaço fechado com se fossem frestas, Figura 41.

Figura 41 - Casa Té em Art Tababe, Japão

Fonte: Hirotani (2014) O Palácio de Cristal, Londres, Inglaterra

Na era da Revolução Industrial, o uso de maquinaria fez com que surgissem elementos pré-fabricados, que trouxeram a montagem e rapidez de execução nos processos construtivos. Como um dos exemplos mais carismáticos, temos o Palácio de Cristal, projetado por Joseph Paxton e construído na década de 1850 para a exposição universal que se realizou na cidade de Londres (Rosso, 1976), surgindo como ícone da construção industrial. A incorporação da rede modular com a utilização de placas de vidro, construídas à escala industrial, veio facilitar não só a construção como a posterior desmontagem. Joseph Paxton foi o seu criador e através desta obra conseguiu a aprovação dos novos materiais e sistemas construtivos, que até então não eram totalmente aceites, Figura 42.

Figura 42 - Edifício do Palácio de Cristal, Londres - Inglaterra

Fonte: Paxton (1851)

No processo de construção do Palácio de Cristal sobressaiu o método construtivo, onde todas as peças foram pré-fabricadas e montadas no local da obra. Atualmente parece- nos normal esse tipo de processo construtivo, contudo à época apenas era utilizado na construção de ferrovias. A beleza das suas linhas conceptuais, a simplicidade, a grandeza de escala, a luminosidade proporcionada pelos espaços interiores, contribuíram para uma alteração no pensamento de olhar os espaços interiores e de toda a arte de construir. A partir dessa altura, começaram a projetar e a planificar os usos a grande escala dos materiais. O ferro e o vidro começaram o seu “mandato”, que se mantém até aos dias de hoje em muitos projetos contemporâneos.

O Pavilhão Alemão, Exposição Internacional de Barcelona, Espanha

Em 1929, o arquiteto Mies Van der Rohe projetou o Pavilhão da Alemanha para a Exposição Internacional de Barcelona. O pavilhão foi concebido para acomodar a receção oficial presidida pelo rei Afonso XIII com as autoridades alemãs. Considerado um expoente da arquitetura moderna, influenciou várias gerações de arquitetos. Tendo ficado conhecido pela sua geometria depurada, e pelo uso inovador de materiais vernaculares, como o mármore, ou novos materiais industrializados, como o aço e o vidro.

No final da exposição, o pavilhão foi desmontado, mas ao longo do tempo este acabou por se tornar numa referência fundamental na história da arquitetura do século XX. Em 1980, começou a moldar a ideia de reconstruir o edifício no seu local original, o trabalho começou em 1983 e a reconstrução foi inaugurado em 1986, Figura 43.

Figura 43 - Edifício do Pavilhão Alemão, Barcelona - Espanha

Fonte: Van Der Rohe (1929)

No que respeita ao conceito, este importante edifício da história da arquitetura moderna engloba todas as ideias nascentes do modernismo com mais liberdade do que em outras obras, uma vez que este prédio não teve nenhum papel de disseminar essas novas ideias, bem como a utilização de novos materiais e técnicas de construção. A impressão geral é a de um espaço criado por planos perpendiculares de fantasia em três dimensões. Eles completaram o trabalho de uma escultura de Georg Kolbe, um pequeno mobiliário composto por cadeiras, com um desenho do próprio arquiteto chamado Barcelona cadeira (que são um marco importante na história do design de mobiliário do séc. XX) e uma cortina vermelha e tapete preto, que combina com a parede de mármore bege, formando as cores da bandeira alemã.

Em relação aos materiais utilizados na reconstrução, destaca-se a utilização do vidro, aço e quatro tipos diferentes de mármore travertino (Roman, verde alpine mármore, antigo mármore verde da Grécia e ônix doré Atlas). Todas características se mantiveram de acordo com o original de 1929, com a estrutura composta por oito pilares de aço em cruz que sustentava o telhado plano. No interior destacaram-se as paredes livres de elementos estruturais.

Atualmente, um dos usos mais interessantes para o tipo de arquitetura efêmera são as construções de refúgios temporais para vítimas de emergências humanitárias em situações de guerra ou catástrofes naturais. Devido ao terramoto de 7.9 na escala de Richter, na China, data de 2008, e que deixou milhares de pessoas desalojadas (Hurtado & Luelmo, 2012), foi feito um investimento de construção de um milhão e meio de habitações de emergência com uma duração média prevista de dois a três anos. Para resolver arquitetonicamente esta solução, o governo da China, em colaboração com o arquiteto Ming Tang propôs a construção em bambu e paper house, de um refúgio inspirado nas varetas de um chapéu-de-chuva e na

arte origami. A combinação dos materiais naturais existentes e próprios das zonas afetadas tornou os projetos variáveis em função das necessidades e ao mesmo tempo sustentáveis, num momento tão drástico como foram as catástrofes naturais.

Outro grande exemplo de aplicabilidade da arquitetura efêmera em situações de emergência humanitária aconteceu no ano de 2010, aquando do terramoto de 7,0 na escala de Richter, na capital haitiana de Port au Prince, onde 1,2 milhões de pessoas perderam a sua habitação. Shigeru Ban colaborou com professores e estudantes da Universidade Ibero- americana e da Universidade Pontifícia Católica Madre e Maestra da República Dominicana construindo 50 refúgios de emergência, feitos de tubos de papel e materiais locais para um grupo minoritário de vítimas (Shigeru Ban Architects, 2013).

Existem outros modelos diferenciadores e que não são necessariamente de apoio a desastres humanitários, e com técnicas construtivas simples, sendo bons paradigmas estéticos e utilizam materiais tradicionais, como por exemplo a já referida casa de Té em Art

Tababe. De um modo geral, o apelo a uma construção temporária dá-se quando se pretende

melhorar a performance de um lugar para um fim igualmente temporário, ou quando existem condicionantes ambientais e ou legislativas que não nos permitem construir algo não temporário ou permanente.