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Foto 3  Pesquisadores produzindo artigos

3 A TRAJETÓRIA DO LABORATÓRIO DE PESQUISA MULTIMEIOS

3.2 A expansão do Laboratório

A experiência do PROIN agregou professores e alunos da pós-graduação interessados em investigar as questões relacionadas ao uso do computador na Educação. Dessa forma, no ano de 1999, a direção da Faculdade de Educação concedeu uma sala com estrutura física mais ampla para alocação destes ambientes. A conquista desse novo espaço significou um marco na consolidação do Laboratório dentro da UFC, haja vista a dificuldade que era, nessa época, no Brasil, estruturar laboratórios de Informática fora das grandes universidades dos EUA e europeias (BORGES NETO; CAPELO; MATTOS, 2012).

O desenho inicial do Multimeios ficou sob a responsabilidade da Superintendência de Planejamento Físico e Operações (PLANOP-UFC). No tocante à estruturação do espaço, “Leibniz” esclarece:

Aí foi realmente assim...não tinha as normas do PROINFO e tudo, mas foi o Hermínio mesmo, foi ele pensando! Uma sugestão, aqui outra ali, pra poder subir tanto, pra poder

colocar terra ali né... como que ia funcionar a estrutura, sendo que a sala enchia de água vez ou outra, então... é mais ou menos assim que as coisas surgem.

Com objetivo de visualizar a primeira estruturação do Multimeios, veja-se a figura 02. Esse desenho ocorreu como modo de ampliar a proposta disponível no acervo Multimeios, uma vez que esta não continha os detalhes apresentados pelos sujeitos. Desse modo, as faculdades do olhar os documentos, ouvir sujeitos, como diria Oliveira (1994), foram fundamentais na aventura de elaboração do “desenho”, procurando ser fiel aos ditos/descritos pelos sujeitos. Nesta, é possível verificar a expansão do Laboratório, dividindo-se em: 1 pequeno corredor com porta principal de acesso, sala da secretária, gabinete do Coordenador (com a ilha de edição), 1 salão com computadores de mesa, 1 quadro branco, mesa para reuniões dos grupos de estudos.

Figura 3 – Planta Laboratório Multimeios

Fonte: Elaboração própria.

Este momento de estruturação, que ocorreu em meados de 1999, contou com a participação dos professores e pesquisadores que se empenharam na organização das instalações físicas e dispondo com uma equipe inicialmente composta por um professor da FACED/UFC (coordenador), quatro alunos bolsistas do programa de pós-graduação da FACED e três bolsistas de graduação, o que vai ao encontro da fala de “Einstein”:

Onde eram as bancadas que hoje estão na SAMIA, bancadas brancas, grandes, né? Tinham os computadores da IBM, que foi fruto de um projeto. A tela ficava acima, monitor grandão, não tinha estabilizador porque ligava direto na fonte de linha e era àquela coisa, aquele cuidado muito grande com os cabos. Então hoje, tenho uma bolsa cheia de cabo enroladinho feito com linha de telefone, porquê? Por que foram resquícios, foram coisas que eu aprendi no Multimeios. Na entrada da sala tinha um armário, uma geladeira e tinha o momento do café. Aí, depois do lado direito tinha a porta que da secretaria. A sala do Coordenador era menor, cheia de livro, de estante, umas estantes de ferro cheias de livros. Então, era bem apertadinho!

Em sua estrutura inicial, o Laboratório funcionava como sala de aula, tendo inclusive um formato semelhante à Sala Multimídia (SAMIA), quer seja, computadores distribuídos em duplas, com mesas organizadas em formatos sequenciais, com um quadro branco ao final da sala. Normalmente, o Coordenador se utilizava do espaço para desenvolver suas atividades vinculadas tanto na graduação, bem como ao desenvolvimento das pesquisas experimentais voltadas para o campo da Educação Matemática. É o que podemos observar nos relatos “Galois” e “Tales” ao afirmarem:

As aulas da graduação eram dentro do Laboratório Multimeios e eu continuei fazendo esses trabalhos da matemática com ele. Outros pesquisadores desenvolviam sessões e a gente aplicava com alunos da graduação. Era uma pesquisa bem pontual, de intervenções, a gente fazia as sessões e via como é que isso funcionava, só que estava muito assim, nesse campo de bolsista mesmo. O que é que quero dizer com isso? Qual a minha diferença para um pesquisador já graduado em Matemática? Ele também bolsista, era da graduação junto comigo, só que ele tinha outra posição porque ele se envolveu mais e ele já tinha uma graduação na Matemática e eu sempre deteeeestei Matemática! Tinha hora que eu dizia? O que eu estou fazendo aqui? Porque eu tinha horror! E eu ter horror eu até fiquei na parte do dicionário, porque ia sair um livro, ia sair todo um trabalho, iam fazer um dicionário com os principais conceitos, os verbetes, eu lembro tinha um professor do ensino de matemática da FACED que também trabalhava com a gente, e professores da UECE também participava das reuniões e dos estudos.

Sim, mas a gente desenhava. Eu fazia... eu pesquisava, por exemplo, as histórias de como surgiram os cálculos, pra você fazer, por exemplo, o tamanho das pirâmides, que você fazia com triângulos, né? Aí então a gente montava a história e depois explicava como surgia matematicamente, como é que eles faziam os cálculos, então a gente montava uma historinha e montava os triângulos e as atividades de cálculo no Cabri.

No que se refere à Informática Educativa, ressalto que, nessa época, houve todo um esforço no sentido da organização de grupos de pesquisa nesta área que foram se articulando de modo a firmarem a discussão aqui no Ceará.

Eu me lembro que tava aquela discussão em 1997 do PROINFO. Havia também uma discussão sobre Informática Educativa, e na época Tânia Batista, Hermínio, a gente já fazia parte da Sociedade Brasileira de Informática Educativa. Então, tinha os contatos com o pessoal do Pici, Professor Mauro na época... tinha o contato do Hermínio, tinha o Aires que estava voltando do doutorado dele. Então começa ter uma certa comunidade pra discutir Informática Educativa e se discutir Educação Matemática. (LEIBNIZ).

No comentário de Leibniz, é possível inferir que a estruturação do Laboratório Multimeios esteve na pauta de um conjunto de ações pensadas coletivamente por um movimento de professores ligados às áreas de Computação, Pedagogia, Matemática e Psicologia da UFC. Estes estavam interessados nas questões que envolvia Informática, Educação e Tecnologias Digitais, e pensavam no modo de inserir a Universidade no debate

acerca do processo da informatização da sociedade brasileira, passando também pela formação de professores, tendo em vista a demanda presente das políticas públicas da época. Na Faculdade de Educação (FACED/UFC), no entanto, essa relação das tecnologias digitais sempre foi alvo de muitos questionamentos e tensões geradas por alguns movimentos dentro da própria Faculdade. A relação Multimeios/FACED será tratada no item 6.2 deste trabalho.

Observei também que, desde o início de sua criação, o Multimeios procurou trabalhar em parceria com outras instituições, articulando-se, aos poucos, tanto no âmbito do Município de Fortaleza, Estado do Ceará e iniciativa privada, a exemplo do Projeto Teleambiente, conforme ressaltou “Leibniz”:

[...]no final de 98 nós ganhamos o projeto, porque o Coordenador criou uma coisa chamada Segunda Multimeios. Que era trazer palestrantes de fora e fazer uma conferência aberta para quem quisesse assistir! Nessa conferência, inclusive falei sobre Pierre Lévy, acho que foi uma das primeiras aqui na Educação sobre Pierre Lévy, na época era novidade, tá? Eu me lembro que veio o pessoal da Unifor: e aí se estabeleceu o primeiro contato e ali vai sair um projeto entre Unifor e UFC... veja que isso era muito raro na época, hoje em dia se incentiva!

[...]dentro do Projeto TeleAmbiente então se começou a fazer um contato com outras instituições e ali começou a fazer realmente dos projetos tanto com o PROINFO, que envolveu a SEDUC, envolveu o município de Fortaleza e também teve um peso muito grande na criação do Centro de Referência do Professor foram todas essas ações quase no mesmo período! Então foi um momento de muita

intensidade, aí em 98 é que começa a ter uma quantidade de pessoas que inclusive

hoje é referência na área. Então muita gente ali passou pelo Multimeios nesse período de 98 e 99. A rotatividade era intensa, o Laboratório havia crescido muito, as bolsas se renovavam, os projetos eles acabavam se renovando, então foi dessa forma que o Laboratório Multimeios ele surge!

“Leibniz” relembrava essa história com muita veemência e saudosismo por fazer parte dessa construção, como se dissesse: “Eu conheço cada palmo desse chão, é só me mostrar qual é a direção, quantas idas e vindas [...]” (TEIXEIRA, 1979, p. 1). Sem dúvida, um personagem que não poderia faltar nesta história participou desde o “embrião” PROIN, acompanhou bem de pertinho o crescimento, expansão e consolidação do Laboratório na FACED.

A conversa sobre a história do Laboratório me conduziu a vasculhar ainda mais o acervo bibliográfico do Multimeios, na busca de encontrar alguma referência ao Laboratório, como esse espaço que tem se dedicado a investigar essa relação: tecnologias digitais e educação dentro da UFC. Para minha surpresa, mesmo após 15 anos de existência, poucos pesquisadores fazem referência ao próprio espaço, como locus que contribuiu para sua formação profissional, em sua compreensão acerca das tecnologias digitais.

Desconfio de que essa percepção não tenha ocorrido simplesmente pelo fato de que, na maioria das vezes, os pesquisadores do Laboratório estão sempre ocupados em seus

inscritores (LATOUR; WOOLGAR, 1997), tentando garantir a produção acadêmica do Laboratório e não refletem acerca do próprio local no qual estão imersos. Observei, contudo, que reconhecem a importância das experiências vivenciadas neste Laboratório como grande contribuição ao seu processo formativo/profissional.

É oportuno destacar o fato de que a expansão ocorreu não somente no aspecto estrutural, mas, sobretudo, na ampliação de outras temáticas, conforme se constata no depoimento de “Newton”:

[...]não só se expandindo, mas, se diversificando, também né? Porque podia expandir para uma área só, né? Eu poderia ficar só na sala de aula, né? Ou só na escola, poderia ficar também só também nos CRID, com esses centros tecnológicos, né? Com esse aparato que tem no interior, mas, eu acho que ele se expande e se diversifica, acho que poderia se diversificar ainda mais, né? Dependendo dessa... do quanto fosse robusto esse grupo de pesquisa envolvido né? No laboratório, o que eu percebo nos últimos tempos a rotatividade das pessoas...né? Eu vejo pessoas dizendo que ficaram anos e anos, hoje você vê no Multimeios poucas pessoas que tenham passado tantos anos né? É... Num período de tempo maior, de repente essa rotatividade, enfraqueça, esse lado assim mais de poder dar continuidade as coisas, então apenas seja isso! Eu vejo pessoas hoje voltando, pessoas que saíram e voltam a fazer parte do Multimeios.

Verifiquei que essa rotatividade ocorre por dois motivos. Assim como eu, os pesquisadores saem para assumir atividades em instituições federais, estaduais, iniciativa privada e mesmo são chamados por órgãos no plano local, como a Secretaria Municipal de Educação de Fortaleza (SME) ou na Secretaria de Educação do Estado do Ceará (SEDUC) para assumirem atividades ligadas ao fomento da política de informatização da sociedade cearense. Normalmente, essas atividades estão ligadas aos temas que o Laboratório de Pesquisa Multimeios desenvolve ao longo dos anos, como Educação Matemática, Informática Educativa, Educação à Distância, Produção de Software Educativo, Inclusão Digital. O segundo motivo ocorre exatamente por alguns atritos que ocorrem entre os próprios pesquisadores. Esses atritos são marcados por uma disputa pela atenção do Coordenador ou mesmo em virtude da não adaptação ao modus operandi de funcionamento do Laboratório.

No momento dessa conversa, percebi logo que “Newton” se afasta um pouco da questão estrutural, vinculando essa expansão também à diversidade de área de atuação, mesmo porque, pelo histórico aqui descrito, bem como por sua produção acadêmica, vê-se que o Multimeios inicia suas investigações direcionadas para pensar como as tecnologias digitais estariam chegando à Escola, muito na perspectiva da Informática Educativa (BORGES NETO et al., 1998), uso de software direcionado para o ensino e aprendizagem (CAMPOS, 1998), para Educação Matemática (SANTANA, 2001).

No decorrer dos anos e em razão da própria demanda da sociedade em rede (CASTELS, 1999), este Laboratório ampliou sua área de atuação, estabelecendo outros diálogos com a sociedade civil, incorporando temáticas, como inclusão digital, educação do campo e educação online. Porém, apesar de reconhecer essa abertura para a diversidade de áreas de atuação, observei que “Newton” move críticas, ao enfatizar que poderia se diversificar ainda mais, afirmando que isso não ocorre porque os grupos de pesquisa não são, de todo, suficientemente robusto, atribuindo esse problema a questão da rotatividade de pessoas que circulam no Multimeios. Outro espaço considerado como locus de (in)formação é o site do Multimeios, o qual pode ser acessado por meio do seguinte endereço eletrônico: www.multimeios.ufc.br.

Figura 4 – Homepage do Labóratório de Pesquisa Multimeios

Fonte: Universidade Federal do Ceará (2013b).

Ressalto que a proposta desta homepage foi realizada em 1999, por um pesquisador do Laboratório, o professor Daniel Capelo Borges, oriundo da área de Ciências da Computação, o qual dedica suas investigações ao desenvolvimento da ferramenta TELEMEIOS33. Conforme informado pelo Coordenador do Laboratório, o site do Multimeios está entre os cinco mais acessados no mundo. Tal dado poderá ser revelador de como o Laboratório, ao longo de seus 12 anos, se tornou uma referência para seus usuários ou mesmo pesquisadores/professores da área. Nesse contexto de expansão, no próximo tópico, abordo os projetos desenvolvidos pelo Laboratório.

33

A proposta de desenvolvimento desta ferramenta enquadra-se no Projeto de Pesquisa Telemeios, o qual objetiva “ desenvolver uma estrutura de telemática multimeios, incorporando som, imagem, texto, correio e uma interface compartilhada entre professor e aluno de modo a compor um ambiente virtual de aprendizagem ”