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Foto 3  Pesquisadores produzindo artigos

2 O PERCURSO METODOLÓGICO: QUANDO CHEGAR E PARTIR SÃO

2.4 Da relevância e contribuição do estudo

Existe atualmente uma demanda generalizada da sociedade civil em torno do acesso de crianças e jovens à escolarização, para que sejam incluídos na nova sociedade que se desenha. A própria história da Educação brasileira mostra, desde as primeiras formas de instrução, a existência de projetos sociais que tornam a escolarização mais um elemento de consolidação do modelo econômico de interesses estrangeiros e de acirramento das desigualdades sociais (ALMEIDA,1988).

Sendo assim, a introdução das tecnologias digitais no ensino é garantia e suporte à indústria da informática nacional. Considerando a educação como formadora das mentes e das necessidades dos usuários das próximas décadas, novas necessidades escolares são expressas como fundamentais, por exemplo, a introdução da linguagem da informática nas escolas, atrelando-se com isso necessariamente ao uso das tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC).

A inserção dessas tecnologias é mostrada como tentativa de melhorar o ensino, de forma que os alunos possam se familiarizar com as ferramentas da Informática, esperando despertar no professor a curiosidade, a vontade de saber o que está ao seu alcance para que ele possa selecionar os melhores meios (PERRENOUD, 2000). Contrariando essa concepção, percebe-se que os professores estão em movimento aproximativo ao uso das tecnologias. O que se observa comumente, nas instituições de ensino, é certa dicotomia, pois, enquanto há alguns professores se dispõem a conhecer e utilizar as tecnologias digitais, há outro grupo apático, desinteressado. Existem também situações em que muitos professores têm o primeiro contato com um computador diretamente em sala de aula, sem, contudo, conhecer quase nada sobre seu procedimento.

Além dos professores, a instituição escolar é composta por futuros profissionais que em breve ocuparão os postos de trabalho. Pensando nisso, as unidades particulares de ensino estruturam os laboratórios de Informática visando ao treinamento de mão de obra adequada ao mercado de trabalho atual. Para que os pais e/ou responsáveis sejam influenciados a matricular os filhos nos diversos cursos de Informática disponíveis, as escolas contam com poderoso marketing informativo. A alegação é de que a escola informatizada

possibilita os alunos compartilharem de um mundo tecnológico, composto por poucos privilegiados.

Outra alegação diz respeito à relação entre conhecimento/domínio dessas tecnologias e sua relação com a empregabilidade. Assim, disputarão uma colocação no mercado de trabalho, com melhores chances, as pessoas que dominarem os conhecimentos relativos à Microinformática. Aqueles que não tiveram acesso e conhecimento especifico dessas ferramentas arcarão com o ônus de não dominarem essas “novas tecnologias”.

Desse modo, a instalação das TDIC nas escolas está associada à ideologia da modernização e revolução no ensino. Esta mística faz com que vários educadores apostem na possibilidade desses artefatos propiciarem, aos alunos, um sentimento de imersão no mundo tecnológico. A comunidade escolar celebra o poder de raciocínio, poder e armazenamento das informações por intermédio dessas máquinas. Nisso, os educandos também se vislumbram por esse culto, até porque, fora dos muros da escola, convivem rotineiramente com variadas tecnologias.

A utilização dessas tecnologias, porém, provoca mudanças no conhecimento, no saber, imprimindo novo tipo de sociedade, nova forma de a humanidade apreender a informação, elaborar os conhecimentos, trazendo várias questões para a escola, inclusive questionando a centralidade do professor como detentor único do conhecimento, fonte unitária de informação, tornando-o dispensável dentro de uma sociedade tecnológica, ao lado dessas tecnologias com a qual o educando adquire certa autonomia de aprendizagem.

Infelizmente, acontece que a maioria das justificativas de introdução de TDIC está articulada à desqualificação e à desvalorização das práticas dos professores, apresentando-as como arcaicas e obsoletas. Em contraposição à discussão, essas tecnologias podem ser utilizadas como recursos, auxílio ao trabalho do professor e não em substituição, principalmente porque este profissional é responsável pela seleção e exploração dessas tecnologias, de acordo com o contexto específico, dando-lhe a devida dimensão educacional. Compreendendo como, quando e por que devem ser utilizadas essas tecnologias, continua tentando facilitar o ensino, a aprendizagem dos educandos (STAHL, 1997).

A maioria dos profissionais que estão desenvolvendo este ofício nas escolas, entretanto, não têm ou não tiveram formação que lhes possibilitassem utilizar esses artefatos. Os professores necessitam atualizar-se para não perder o fio da história, pois seus conhecimentos podem parecer ultrapassados em relação aos conhecimentos dos alunos, com a convivência com um mundo cada vez mais tecnológico. É necessário que o professor atualize sua formação, obviamente com todas as condições de trabalho oferecidas pelo setor a que

estão vinculados, uma vez que as decisões pedagógicas passam pela capacidade de o professor selecionar os recursos, bem como as melhores estratégias, de serem aplicados no contexto da sala de aula.

Vários questionamentos ocorrem quando se discute a utilização das TDIC na Educação. Um deles diz respeito ao currículo, que, para alguns críticos, não acompanha o contexto da sociedade tecnológica. Outro questionamento que se faz trata da formação deficiente do professor. Segundo Stahl (1997), essa formação inicial refere-se à articulação recebida com as condições que o professor encontra na realidade escolar.

Entende-se que a efetividade das TDIC na Educação passa necessariamente pela formação dos professores, pois eles é que exploram junto aos alunos os novos recursos, elaborando, criando, recriando, contribuindo na aprendizagem, acompanhando os discentes durante o período de sua vida escolar e desenvolvendo as melhores estratégias de aprendizagem. Em vista disso, é importante que os professores tenham habilidades para o uso efetivo dos recursos tecnológicos.

Dessa forma, há uma pressão da sociedade para que os professores utilizem esses artefatos e estabeleçam outro tipo de aprendizagem, buscando, na multiplicidade de informações, os meios necessários ao aprendizado do aluno, de forma que ele se faça autônomo de seu processo. A discussão levanta a tese de que os professores se tornaram os principais responsáveis pelo uso das tecnologias na escola. Portanto, “É preciso que os professores estabeleçam o quê, como, onde, porquê, para quê, a quem e para quem serve as novas tecnologias, e só então fazer uso delas, um uso consciente e responsável.” (STAHL, 1997, p. 302). Para que isso ocorra, necessitam de uma formação que os habilite ao uso dessas tecnologias.

Sabemos que a temática formação de professores se encontra em publicações focadas sob as mais distintas abordagens. Em se tratando de estudos que abordam a relação entre tecnologias da informação e comunicação e formação de professores, o levantamento realizado por Barreto et al. (2005) aponta uma produção científica ascendente nesta área, especialmente ao final da década de 1990 e continuamente nos anos seguintes.

Observa-se, todavia, que grande parte dessas investigações aborda as novas tecnologias da informação e comunicação e suas relações com o processo de ensino (ALMEIDA, 1988; DAVID; AIRES FILHO, 2008), apontando preocupações com as novas formas de conhecimento e aprendizagem (KENSKI, 2007; PAPERT, 2008), provocadas pela inserção da Informática na Educação, desconsiderando, na maioria das vezes, as implicações

da incorporação das TDIC para/na formação docente. Ademais, na compreensão de Alonso (2008, p. 2):

As discussões sobre a incorporação das TIC pelas escolas, consequentemente sobre a formação de professores, é tema candente não só pelas políticas públicas que se impõem em ambos os contextos, mas pela maneira apaixonada que defensores, e não defensores, tratam seus argumentos. Isso embota, muitas vezes, a compreensão sobre os sentidos e fundamentos que dão base a uma ou outra maneira de pensar essa questão. Há questões de fundo que implicam pensar TIC, escolas e formação de profissionais que atuem em contexto mutante e avizinhado por lógicas que não são as trabalhadas por instituições como a escola.

Em uma análise à Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD) da Universidade Federal do Ceará, verifiquei ainda que são poucos os estudos25 que envolvem uma preocupação com a formação docente e o uso das tecnologias digitais, nem muito menos o que significa para o professor ter que aprender e dominar a linguagem da cultura digital e incorporá-la na prática docente.

Autores como Mercado (1999), Libâneo (2000) e Perrenoud (2000) expressam características desejáveis ao novo perfil docente, destacando as competências necessárias na sociedade, marcadas pelas constantes transformações científicas e tecnológicas. Não sinalizam, entretanto, elementos que ajudem a definir e estabelecer situações concretas ao tipo de formação necessária, tampouco discutem que condições de trabalho docente são necessárias para o uso de tais tecnologias digitais na prática docente. Além disso, poucas são as iniciativas capazes de apontar saídas reais que contribuam de forma eficiente no tocante à formação de professores e às questões trazidas pelo mundo digital e pela cibercultura.

Nesse sentido, o problema desta pesquisa está em demonstrar em que medida o projeto formador do Multimeios corrobora para incorporação da cultura de uso das tecnologias digitais na educação. Dessa forma, entendi que a relevância deste trabalho se dará em razão da possibilidade de realizar uma investigação que tenha foco no lugar central que o Laboratório de Pesquisa Multimeios (FACED/UFC) ocupa, na política de formação, para o uso efetivo das tecnologias digitais na Educação.

O esforço é, pois, contribuir para ampliar a discussão acerca da utilização das tecnologias digitais para e na formação docente. Assim sendo, constata a necessidade de uma constante reflexão teórica que deve ser efetivada pelo profissional da Educação em sua prática pedagógica de atuação com as tecnologias digitais. Sem dúvida, ao passo que isso se constitui

25

No banco de Dissertações e Teses da UFC, encontrei 21 estudos que buscam articular o uso do computador ao ensino. No entanto, verifiquei que, destes, somente a dissertação desenvolvida por Carolino (2007) aborda a questão da formação do professor no âmbito no Centro de Formação de Professores (CRP), em Fortaleza/CE.

um desafio para a profissão, também abre possibilidade para constituir outros espaços profissionais e outros dilemas, tensionados na dinâmica do trabalho cotidiano, lugar primordial onde se dá o fazer profissional docente.