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1.4.6 Problemáticas relacionadas aos recursos hídricos em Votuporanga/SP

1.4.6.1 Expansão urbana sobre área de manancial

A ocupação da região Noroeste do Estado de São Paulo, na qual está inserido o local do estudo – município de Votuporanga-SP, tem relação direta com o desenvolvimento agrícola ocorrido no início do Século XX, conforme aponta Sant’Ana (2007):

A dinâmica migratória das frentes pioneiras no interior de São Paulo foi impulsionada pela junção de capitais agrários, comerciais e industriais que criaram a agroindústria – máquinas beneficiadoras de arroz, café e algodão, pequenas fábricas de produção de óleo e fibras – as quais marcarão o desenvolvimento destas regiões Oeste e Noroeste do Estado de São Paulo nas décadas seguintes. (SANT’ANA, 2007, p. 43)

Em meados da década de 1950, a região passou por um processo de esvaziamento demográfico decorrente da impossibilidade dos pequenos agricultores aderirem à modernização agrícola. Também foi influenciado pelo dinamismo da ocupação agrícola do Centro-Oeste e do Norte do Paraná. Essa tendência reverteu-se na década de 1980, com o início do desenvolvimento de atividades industriais e outras capazes de reter a população no espaço urbano (VOTUPORANGA, 2010b). Em 1980, Votuporanga já apresentava taxa de urbanização próxima a 90%, acompanhando tendência observada no Estado de São Paulo (Figura 1.18).

Figura 1.18 – Urbanização em Votuporanga, na sua Região de Governo e no Estado de São Paulo entre 1980 e 2016 (em %).

O processo de urbanização tem como uma de suas consequências o aumento da malha urbana, que se consolida por meio da alteração oficial do uso do solo rural para urbano. Na Figura 1.19, é retratado o aumento da área urbana do município de Votuporanga entre as décadas de 1930 e 2000.

Figura 1.19 – Evolução da área urbana do município de Votuporanga entre 1930 e 2009.

Fonte: Modif. Votuporanga (2010b).

Especialmente entre 2007 e 2016, observou-se uma acelerada expansão urbana. Considerando os limites do perímetro urbano oficial, ocorreu nesse período o aumento da área urbana de 22 km2 para 53 km2, o que equivale a um incremento de cerca de 140% em aproximadamente uma década (VOLPI; LACERDA, 2007; VOTUPORANGA, 2016b). Na Figura 1.20 retrata-se a amplitude dessa expansão.

Figura 1.20 – Evolução da área urbana do município de Votuporanga entre 1930 e 2009 comparada aos limites do perímetro urbano vigentes em agosto de 2016.

Fonte: Modif. Votuporanga (2010b; 2016b)

Entre as consequências do processo, identifica-se o avanço da ocupação sobre microbacias hidrográficas ainda não impactadas pela implantação de infraestrutura urbana.

Tucci (2008), ao tratar das consequências da urbanização para os cursos d’água brasileiros, aponta a preservação dos mananciais urbanos, a perda de água na distribuição e a falta de racionalização de uso da água em nível doméstico e industrial como as principais dificuldades enfrentadas pelas concessionárias de serviços de água e esgoto frente ao processo de expansão da área urbana.

Em Votuporanga, parte da expressiva expansão urbana tem ocorrido sobre a bacia de contribuição da Represa Municipal, como retratado na Figura 1.21 (VOTUPORANGA, 2015b).

Figura 1.21 – Ocupação urbana na bacia do Córrego do Marinheirinho, com destaque para a área de drenagem da Represa Municipal.

Fonte: Modif. Google (2015a), Votuporanga (2016b).

Na década passada, acelerou-se a ocupação urbana nas bacias hidrográficas de dois córregos que contribuem para a Represa Municipal: Marinheirinho e Paineiras. Na Figura 1.22, registra-se em “A” a expansão na margem esquerda da Represa Municipal, no Córrego Marinheirinho e, em “B”, sobre área localizada entre os dois córregos (Córrego do Marinheirinho à Leste e Córrego das Paineiras à Oeste). A urbanização acelerada nessa área tem apresentado consequências importantes como transbordamentos recorrentes ocorridos em 2014 e 2016 no barramento da represa (Figura 1.23). Em 2016, o evento causou interrupção no fornecimento de água durante vários dias, em razão do alagamento do local onde se situam as bombas de adução para a estação de tratamento de água (BAIRROS..., 2016).

Figura 1.22 – Ocupação urbana da área de drenagem da Represa Municipal entre 2002 e 2016.

Fonte: Modif. Google (2015a).

1 km

0,5 km 0,5 km

250 m 250 m

Figura 1.23 – Transbordamento da Represa Municipal ocorrido em 2014.

Fonte: Laudo... (2014).

Tal expansão, além de impactos hidrológicos, agrega riscos de contaminação à água destinada ao abastecimento público, uma vez que promove a implantação de atividades potencialmente poluidoras na área de influência direta da represa. Essa condição é bem representada pela expansão da Zona de Parques Empresariais sobre a área de drenagem da Represa Municipal, aprovada pela Lei Complementar Municipal nº 157/2010 (VOTUPORANGA, 2010a) mediante alteração do Plano Diretor Municipal (VOTUPORANGA, 2007a). A área em questão está representada na Figura 1.24.

Além do macrozoneamento apresentado na Figura 1.24, o microzoneamento pode também resultar em potenciais riscos de contaminação dos corpos d’água da área de drenagem da Represa Municipal. Na Figura 1.25, destacam-se áreas classificadas como zonas de “Comércio e Serviços Pesados”, as quais drenam para cursos d’água que contribuem para a represa. Na Figura 1.26, tais áreas são destacadas sobre a os limites da área de drenagem da represa. A fiscalização e o controle sobre a geração e destinação adequada de efluentes líquidos e outros resíduos por esses empreendimentos e atividades é essencial para diminuir os potenciais riscos de contaminação.

de “Comércio e Serviços Pesados”.

Figura 1.26 – Áreas inseridas ou próximas à área de drenagem da Represa Municipal nas quais são realizadas ou é possível implantar atividades de “Comércio e Serviços Pesados”.

Fonte: Modif. Google (2015a), Votuporanga (2015c; 2016b).

Outra potencial fonte de contaminação do manancial origina-se da ausência de rede coletora de esgotos em algumas casas do Bairro São Cosme, localizadas próximas à margem esquerda da represa, cujas fossas situam-se muito próximas do espelho d’água.

Em 2009, foi aprovada a Lei Municipal nº 4.677/2009 (VOTUPORANGA, 2009d), que instituiu a Zona de Proteção de Mananciais de Votuporanga – ZPMV, cuja extensão abrange toda a microbacia hidrográfica do Córrego do Marinheirinho:

Art. 1º. Fica instituída a Zona de Proteção de Mananciais do Município de Votuporanga definida como de relevante interesse ambiental municipal, destinada ao cumprimento da função social e ambiental de proteção, preservação e conservação do abastecimento de água com qualidade. (VOTUPORANGA, 2009d)

A lei estabelece uma lista das atividades que poderão ser realizadas na ZPMV: monoculturas de eucalipto e pinus; implantação de atividades industriais químicas, petroquímicas e nucleares; extração mineral; suinicultura; agricultura tradicional com o uso de agrotóxicos e sem técnicas de conservação do solo; implantação de aterro sanitário ou outras formas de disposição final, transbordo ou tratamento de resíduos sólidos.

Instituiu também “Áreas de Conservação de Mananciais”, constituídas por faixas de 300 metros no entorno de nascentes e das margens dos corpos d’água inseridos na ZPMV. Nessas áreas, segundo o referido diploma legal, empreendimentos, atividades e usos deverão ser autorizados pelo órgão ambiental municipal. Além disso, estão sujeitas a algumas medidas de proteção específicas, tais como: proibição ou limitação da construção civil, exceto quando da existência de um plano especial e restritivo de urbanização em que sejam observados os quesitos com máxima densidade equivalente a 70 habitantes por hectare; proibição da disposição e aterramento de resíduos sólidos de qualquer natureza; proibição da prospecção de poços; proibição da instalação de indústrias, hospitais e postos e saúde; autorizadas atividades de jardinagem e agricultura orgânica e pecuária, mediante orientação e monitoramento dos órgãos competentes.

Tais medidas protetivas complementam as já delineadas na redação original do Plano Diretor Municipal (VOTUPORANGA, 2007a), como a Zona de Proteção Ambiental da Represa e o Parque da Represa (Figuras 1.27 e 1.28, respectivamente). Em relação ao parque, ressalta-se que a Lei Complementar Municipal nº 150/2009 (VOTUPORANGA, 2009b) diminuiu a área de proteção proposta na redação original. Na margem esquerda, previa-se 100 metros a partir da cota máxima de inundação, extensão alterada para um trecho de 30 metros e outros três trechos contíguos de 60 metros. Na margem direita, a proteção que era de 300 metros a partir da cota máxima de inundação foi diminuída para dois trechos contíguos de 60 metros e outro de 100 metros.

Figura 1.27 – Localização da Zona de Proteção Ambiental da Represa Municipal.

Fonte: Modif. Votuporanga (2007c).

Figura 1.28 – Localização e abrangência do Parque da Represa em mapa que mostra a delimitação do perímetro urbano e zoneamento aprovados na redação original do Plano Diretor.

Na Figura 1.28, destacam-se, além da área original do Parque da Represa, o Macrozoneamento e o contorno do perímetro urbano originalmente definidos no Plano Diretor (VOTUPORANGA, 2007d). Conforme mencionado, algumas das ampliações de perímetro urbano supervenientes à delimitação aprovada em 2007 possibilitaram a ocupação urbana em áreas localizadas na Zona de Proteção Ambiental da Represa e no Parque da Represa. Tais sobreposições são destacadas na Figura 1.29, onde é possível observar o contorno atual do perímetro urbano no município. Indica-se também nessa figura, área incluída pela Lei Complementar Municipal nº 157/2010 (VOTUPORANGA, 2010a) referente à Zona de Parques Empresariais destacada na Figura 1.24.

O processo de ampliação do perímetro urbano tem sido orientado também para a margem direita da Represa Municipal. A ocupação dessa área, com a consequente perda da vegetação remanescente e impermeabilização do solo, poderá gerar efeitos ainda mais deletérios decorrentes de picos de escoamento superficial, ocasionando transbordamentos mais frequentes junto ao barramento da Represa Municipal, com potencial comprometimento do aterro.

Figura 1.29 – Áreas incluídas no perímetro urbano sobre a Zona de Proteção Ambiental da Represa Municipal após a aprovação da redação original do Plano Diretor.