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2 METODOLOGIA

3.1.2 Subsídios à compreensão dos problemas

Essa etapa compreendeu os Encontros 02 a 05, conforme descrito na Tabela 3.3.

Tabela 3.3 – Conteúdo programático dos Encontros 02 a 05.

Encontros Conteúdo

02 (05/03)

Problemáticas envolvendo recursos hídricos. Recursos hídricos na Constituição Federal. Política Nacional de Recursos Hídricos e instrumentos de gestão de recursos hídricos. Organização institucional da gestão de recursos hídricos. Política Nacional de Saneamento Básico e interfaces com recursos hídricos.

03 (09/03)

Situação dos recursos hídricos nas Bacias Turvo-Grande (UGRHI 15) e São José dos Dourados (UGRHI 18).

04 (16/03)

Estatuto da Cidade e instrumentos de política urbana relacionados à gestão de recursos hídricos. Histórico da ocupação e do planejamento territorial em Votuporanga. Recursos hídricos nos Planos Diretores Municipais (1970, 1995 e 2007).

05 (23/03)

Espaços de participação para a gestão das águas. Metodologias participativas.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Os temas foram articulados com o objetivo de fornecer aos participantes os elementos básicos necessários à compreensão das problemáticas relacionadas aos recursos hídricos em nível local. Partiu-se do pressuposto de que essa compreensão passa necessariamente pela contextualização das diversas dimensões que condicionam a situação das águas no município. Buscou-se explicitar que a situação dos corpos hídricos é o resultado da interação entre: (i) as condições naturais que permitem a sua ocorrência; (ii) o modo como se ocupa o território onde ocorrem; (iii) a efetividade das políticas públicas capazes de disciplinar essa ocupação e evitar os consequentes impactos em sua quantidade e qualidade; (iv) a atuação da sociedade na fiscalização e no aperfeiçoamento da aplicação das políticas públicas.

A dinâmica dos Encontros 02 a 05 contemplou aulas expositivas, permeadas por muitos comentários individuais e discussões entre os participantes acerca dos assuntos em estudo. Segue abaixo uma breve descrição desses Encontros.

No Encontro 02, realizado em sala cedida pelo IFSP, foram utilizadas como ponto de partida informações gerais sobre a relação do homem com a água, com destaque para as condições mundiais de saneamento básico e as projeções de demanda de água estimadas pela Organização das Nações Unidas (UNESCO, 2015). Participaram desse Encontro 19 inscritos.

Partindo da realidade global, buscou-se explicitar as razões pelas quais se faz necessário o estabelecimento de normas para a utilização da água e, consequentemente, de uma estrutura institucional para gerenciar os recursos hídricos. Foram apresentados os principais órgãos reguladores nas esferas nacional e estadual, bem como a legislação relacionada ao tema e os instrumentos de gestão legalmente instituídos. Apresentou-se brevemente o marco legal do setor de saneamento no Brasil, com foco na estrutura dos planos municipais de saneamento básico.

Quanto às intervenções e discussões envolvendo os participantes, ressaltam-se duas situações principais percebidas pelo pesquisador. Uma delas refere-se à explicitação do desejo de compartilhamento com o grupo de experiências pessoais ou profissionais relacionadas ao assunto em pauta. Alguns dos participantes trabalham em áreas afins à de regulação do uso da água e puderam compartilhar experiências relacionadas a instrumentos de gestão como a outorga de recursos hídricos, por exemplo. Apontaram também situações problemáticas vivenciadas nas quais os instrumentos não são aplicados, e outras em que constataram a insuficiência desses instrumentos em efetivamente evitar impactos nos recursos hídricos em nível local.

A outra situação compreendeu a externalização de um posicionamento crítico sobre a legislação por participantes que não atuam diretamente na área, apontando potenciais dificuldades à aplicação das normas e sugerindo alterações que consideravam mais coerentes. Um dos principais produtos do Encontro para o grupo foi a percepção da complexidade inerente ao gerenciamento e a dificuldade que essa própria complexidade incute na conservação dos recursos hídricos.

O Encontro 03, realizado no anfiteatro do IFSP, foi voltado a contextualizar a realidade regional em que está inserido o município de Votuporanga. Foram apresentadas e discutidas informações dos Relatórios de Situação dos Recursos Hídricos das Unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos 15 e 18, elaborados em 2015 (ano base 2014) pelos

Comitês de Bacia Hidrográfica Turvo-Grande e São José dos Dourados, respectivamente (SÃO PAULO, 2015a; 2015b). Estiveram presentes 18 participantes.

A realidade regional e também o modo por meio do qual são geradas as informações inseridas nos Relatórios de Situação eram desconhecidos da maioria dos participantes. Informações sobre os municípios da região relacionadas aos elevados índices de perdas hídricas nos sistemas de distribuição de água tratada, à fragmentação da cobertura vegetal remanescente e à alta susceptibilidade à erosão dos solos, os impressionou, gerando intervenções repletas de preocupação. Mesmo os bons índices de tratamento de esgoto dos municípios da região eram praticamente desconhecidos dos que não atuavam diretamente na área de saneamento e regulação.

No Encontro 04, novamente realizado no anfiteatro do IFSP, foram introduzidas com mais ênfase as questões de caráter local. Participaram 25 cursistas.

Foram apresentados os princípios e diretrizes do Estatuto da Cidade, bem como os instrumentos de política urbana passíveis de inserção nos Planos Diretores Municipais, cuja aplicação tem influência direta nas condições de quantidade e qualidade das águas. Seguiram- se a apresentação e discussão sobre aspectos históricos da criação do município de Votuporanga, da ocupação do seu território e da elaboração dos planos diretores de 1971, 1996 e 2007. Uma contribuição importante para o debate sobre os planos diretores foi a participação do Sr. Gustavo Fava, arquiteto que atuou na elaboração do Plano Diretor elaborado aprovado em 1996 (VOTUPORANGA, 1996) e que ocupou posteriormente o cargo de Secretário Municipal de Planejamento. Durante o Encontro, foram apresentados mapas e outras informações relativas ao atual zoneamento urbano e a problemas envolvendo os recursos hídricos, diagnosticados em documentos técnicos oficiais elaborados pela Prefeitura Municipal (VOTUPORANGA, 2007a; 2012d; 2014c).

Nesse Encontro, a maior parte das intervenções e discussões ocorreu principalmente durante a exposição sobre o histórico de ocupação do município, em razão da familiarização dos participantes com fatos históricos que eles mesmos ou seus familiares vivenciaram. A apresentação de imagens antigas da cidade foi especialmente importante para esse resultado. Os mapas contendo referências espaciais a problemas de alagamento, erosão e outros foram também objeto de muitas intervenções e discussão. Participantes ligados ao serviço público com atuação nessas áreas fizeram apontamentos sobre situações específicas, como por exemplo, a falta de investimentos em drenagem urbana verificada nos últimos anos.

A discussão sobre os problemas locais, tendo por pano de fundo os instrumentos de planejamento urbano e o papel do Poder Público, incitou manifestações sobre a necessidade de se buscar soluções e também acerca de problemas não tratados na apresentação. Propostas de solução foram apresentadas por alguns participantes. Foi sugerida por um participante, em meio à discussão, a necessidade de sistematizar as discussões que estavam surgindo nos Encontros. A sugestão foi apoiada por diversos outros. Frente às manifestações, a coordenação propôs que os participantes refletissem, para discussão nos próximos Encontros, sobre maneiras por meio das quais tal sistematização poderia ser realizada.

As temáticas inicialmente programadas para o Encontro 05 foram “Fontes potenciais de poluição dos recursos hídricos” e “Águas subterrâneas”, alterações idealizadas com o objetivo de inserir temas de interesse levantados no questionário. No entanto, fazia-se necessário também discutir assuntos relacionados à sistematização requerida pelos participantes no Encontro 04. Optou-se, assim, no Encontro 05, trabalhar os temas “Espaços de participação para a gestão das águas” e “Metodologias participativas”, visando subsidiar o atendimento à última demanda. O Encontro, realizado na sede da SEARVO, foi iniciado com uma retrospectiva dos assuntos já estudados e das discussões e posicionamentos realizados pelos participantes. Participaram 13 inscritos.

Como pano de fundo para as discussões desse Encontro, foi proposta pelo pesquisador a reflexão sobre como seria possível contribuir para articular as políticas públicas de recursos hídricos, saneamento e gestão do território, com vistas à conservação dos recursos hídricos locais.

Foram apresentadas informações sobre a natureza e o funcionamento de dois conselhos deliberativos com competências relacionadas a essas políticas: o Comitê da Bacia Hidrográfica Turvo-Grande – CBH-TG, e o Conselho Municipal de Meio Ambiente e Saneamento de Votuporanga – COMDEMA. Em relação às metodologias participativas, foram apresentadas as seguintes técnicas: construção de agendas socioambientais locais, pesquisa-ação, jogos de papeis, “world café” ou café mundial, monitoramento participativo de riachos e mapeamento socioambiental participativo. Na apresentação, deu-se ênfase ao mapeamento socioambiental participativo (ou apenas mapeamento participativo), técnica para a qual foram apresentadas experiências de sua utilização em municípios paulistas, muitos dos quais situados na Bacia Hidrográfica dos rios Turvo e Grande (UGRHI 15) (CARPI-JUNIOR et al.., 2014).

O aprofundamento sobre o mapeamento participativo foi intencionalmente realizado com o objetivo de avaliar a receptividade dos participantes a essa metodologia, cuja utilização na sistematização das discussões estava sendo avaliada pela equipe de coordenação da pesquisa. A técnica foi bem avaliada pelos presentes. Alguns manifestaram o desejo de que fossem realizadas atividades práticas, o que foi rapidamente socializado entre os demais. Acordou-se, assim, que seria apresentada pela equipe de coordenação uma proposta de metodologia para sistematizar as discussões.