• Nenhum resultado encontrado

4. EXPERIMENTOS

4.3 Experimento continuação de narrativas II

A aplicação deste experimento II surgiu a partir da necessidade de averiguação dos resultados obtidos no experimento I e, por este motivo, teve igualmente ao primeiro experimento a tarefa de continuação de pequenas narrativas visando investigar o padrão de respostas dos aprendizes do espanhol como L2, agora, alunos da graduação. Assim tiveram também como tarefa a possibilidade de utilizar-se de sentenças com sujeito nulo a partir de referentes animados nas 1ª e 3ª pessoas do singular e 1ª e 3ª pessoas do plural. Então, padrões de resposta com sujeitos nulos poderiam indicar que os estudantes da graduação são mais resistentes a possível interferência do parâmetro da L1 sobre a L2 ou do contrário, padrões de respostas com sujeitos preenchidos confirmariam os resultados do primeiro experimento, indicando uma possível interferência do parâmetro da L1 sobre a L2 e a evidência de propriedades da L1 na gramática da interlíngua do aprendiz, de acordo com White (2003) 4.3.1 Design experimental

O experimento II teve o mesmo desenho experimental que o primeiro experimento contendo narrativas distratoras com traço [- animado] e narrativas experimentais escritas em espanhol, tendo seus referentes com traço [+ animado] e manipuladas de acordo com o paradigma número-pessoal de cada uma delas. Para esta tarefa experimental off-line de continuação de narrativas, participaram aprendizes de espanhol, alunos do curso de graduação em Letras português/espanhol da Universidade Federal Fluminense, divididos em três grupos experimentais (básico, intermediário e avançado) segundo uma divisão em níveis de proficiência feita a partir de uma avaliação após terem respondido um formulário de nivelamento15.

4.3.2 Hipóteses e Previsões

Com base nas hipóteses ora mencionadas na descrição do experimento I de que o espanhol como L2 sofre interferência do PSN parcial do PB como L1 e, ainda, que essa interferência diminui com o aumento da proficiência na língua-alvo são feitas as mesmas previsões (a), se existe transferência do parâmetro do sujeito nulo da L1 para a L2, os participantes aprendizes de espanhol, provavelmente produzirão frases com sujeito pleno em maior número do que frases com sujeito nulo de acordo com os mecanismos de satisfação do EPP em PB, e (b), se a interferência diminui com o aumento da proficiência, prevê-se diferenças significativas na produção de frases com sujeito pleno nos três diferentes níveis, ou seja, mais frases com sujeito nulo em níveis de proficiência avançados semelhante ao que se espera para o grupo controle, para este experimento II e, complementarmente, a estas duas, é feita a previsão:

(c) Se a interferência do PSN parcial da L1 diminui apenas no nível avançado, os participantes aprendizes de espanhol em ambiente universitário, produzirão maior número de frases com sujeito pleno nos níveis básico e intermediário comparativamente ao nível avançado.

4.3.3 Variáveis e condições

As variáveis independentes do experimento II compreendem as mesmas do experimento I: níveis de proficiência (básico, intermediário e avançado) e o tipo de narrativa a ser produzida em 1ª ou 3ª pessoas do singular ou plural. Desta maneira, o desenho experimental também é 3x4 apresentado em quatro condições: 1ª e 3ª pessoas do singular e 1ª e 3ª pessoas do plural. O número de frases produzidas em cada uma destas condições e em cada um dos níveis de proficiência constituem as variáveis dependentes.

4.3.4 Participantes

Este experimento contou com a participação de 60 brasileiros estudantes da graduação em Letras da Universidade Federal Fluminense com habilitação em português e espanhol (como L2). Os participantes estavam cursando os 1º, 5º e 9º períodos que compreendem ao início, meio e fim da graduação e após terem respondido o formulário de nivelamento, foram distribuídos em três níveis de proficiência: 20 no nível básico, 20 no nível intermediário e 20 no nível avançado. Como é possível verificar na Tabela 5 abaixo.

BÁSICO INTERMEDIÁRIO AVANÇADO

1º PERÍODO 17 8 0

5º PERÍODO 0 9 1

9º PERÍODO 0 3 19

TOTAL 17 20 20

Tabela 5: Distribuição dos alunos de graduação em níveis de proficiência.

Contudo, vale ressaltar que, neste experimento houve a necessidade de descartar os dados de produção de frases de três participantes do nível básico que escreveram a maioria das frases em português, sendo assim, este nível de proficiência passou a ter apenas 17 participantes. Veja abaixo no Gráfico como ficou a distribuição dos estudantes de graduação nos níveis de proficiência.

Gráfico 8: Distribuição dos estudantes de graduação em níveis de proficiência.

Todos os participantes deste experimento residem no RJ e possuem a idade média de 25 anos e para o grupo controle foram utilizados os mesmos resultados já obtidos no experimento I.

4.3.5 Materiais

As mesmas 12 narrativas experimentais incompletas, permitindo 3 exposições para condição experimental juntamente com as 24 distratoras também incompletas foram utilizadas no experimento II. E, de igual maneira, para a aplicação deste experimento foi utilizada a distribuição whitin subjects na qual todos os participantes de todos os grupos são expostos a todas as condições experimentais.

4.3.6 Procedimentos

Para a realização da tarefa experimental, os professores cederam, ora os trinta e cinco minutos finais da aula, ora os trinta e cinco minutos iniciais, assim, o experimento foi realizado na própria sala de aula da Universidade. Antes de começar a aula ou após o seu término, os alunos recebiam o formulário de nivelamento a ser preenchido, logo depois ouviam uma breve explicação sobre como produzir as frases experimentais – continuando as narrativas com as primeiras duas ou três palavras surgidas na mente – e somente depois recebiam as folhas contendo as narrativas experimentais e distratoras. A média de duração de cada participante para cumprir a tarefa foi de, aproximadamente, 25 minutos e após o término do experimento os alunos entregavam a folha junto ao formulário e aguardavam o início da aula em silêncio ou, quando a aula já tinha terminado, entregavam as folhas e iam embora. As poucas dúvidas surgidas com relação ao vocabulário foram sanadas no decorrer da aplicação do experimento.

4.4 Resultados

Este segundo experimento teve os dados obtidos submetidos ao teste estatístico qui-

quadrado e de acordo com este teste é possível observar que, referente à variável tipo de

narrativa em primeira e terceira pessoas, os resultados parecem indicar que houve efeito significativo em relação ao tipo de sujeito produzido nas frases dos três níveis de proficiência. Assim de acordo com o teste qui-quadrado (X²= 100,8254158, p<0,05), observa-se no Gráfico 9 abaixo, que a primeira pessoa apresenta maior índice de produção de frases com sujeito nulo comparativamente a terceira pessoa nos três níveis de proficiência.

Gráfico 9: Produção de frases com sujeito nulo e pleno nas 1ª e 3ª pessoas nos três diferentes níveis de proficiência. (Graduação)

A mesma variável tipo de narrativa relacionada agora ao número, singular ou plural, apresenta novamente efeito significativo nos três níveis de proficiência (X²=98,07942388, p<0,05), já que o plural apresentou maiores índices de produção de frases com sujeito nulo do que o singular, como verifica-se no Gráfico 10 abaixo.

BA_1ªP. BA_3ªP. IN_1ªP. IN_3ªP. AV_1ªP. AV_3ªP.

Gráfico da T abela Cruzada

P ropor ção 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4 Nulo Pleno

Gráfico 10: Produção de frases com sujeito nulo e pleno em singular e plural, nos três diferentes níveis de proficiência. (Graduação)

Os resultados relativos ao nível de proficiência apresentaram de acordo com os dados estatísticos (X²=67,13253088, p<0,05) efeito principal desta variável nos três níveis de proficiência. Os participantes do nível básico apresentaram 66,66% de produção de frases com sujeito nulo, os do nível intermediário 83,33% e do nível avançado 94,16% e estes resultados parecem comprovar a previsão (b), a interferência da L1 sobre a L2 diminui com o aumento da proficiência na língua alvo, mas não parece comprovar a previsão (c), a interferência do PSN da L1 diminui apenas no nível avançado, visto que, em todos os três níveis o percentual de produção de frases com sujeito nulo é maior que o de sujeito pleno. Tais resultados, talvez, se justifiquem a partir do perfil do aprendiz de L2, estudante de graduação, que desde o início de seu aprendizado, em ambiente universitário, tem atenção a este parâmetro e, além disso, possui um tempo maior de exposição à segunda língua. Veja abaixo no Gráfico 11 no qual é possível verificar tais resultados.

BA_sg. BA_pl. IN_sg. IN_pl. AV_sg. AV_pl.

Gráfico da T abela Cruzada

P ropor ção 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4 Nulo Pleno

BÁSICO INTERMEDIÁRIO AVANÇADO

Gráfico da Tabela Cruzada

P ropor ção 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4 Nulo Pleno

Gráfico 11: Produção de frases com sujeito nulo e pleno nos três diferentes níveis de proficiência (Graduação).

Ainda que os índices de produção de frases com sujeito nulo tenham sido maiores em todos os três níveis de proficiência, fato que vai de encontro à previsão (a), como observado no Gráfico 11 acima, é possível verificar, no entanto, isolando apenas os resultados referentes à produção de frases com sujeito pleno, que o nível básico produziu gradativamente mais frases deste tipo do que os outros níveis. Veja no Gráfico 12 abaixo.

Gráfico 12: Produção de frases com sujeito pleno nos três níveis de proficiência (Graduação) e grupo controle.

66,66%

83,33%

Tal resultado talvez possa ser atribuído, como dito anteriormente, ao fato de que os aprendizes de espanhol como L2 alunos da graduação são expostos por mais tempo a essa L2 do que os aprendizes de um curso de idiomas.

Observando o Gráfico 13 abaixo, no qual se encontram os resultados referentes aos três níveis de proficiência junto ao resultado do grupo controle, é possível perceber novamente que o nível de proficiência não apresenta efeito significativo, de acordo com os dados estatísticos (X²=83,53709904, p<0,05), e grande influência na transferência do PSN parcial do PB como L1 sobre o espanhol como L2.

BÁSICO INTERMEDIÁRIO AVANÇADO CONTROLE

Gráfico da Tabela Cruzada

P ropor ção 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4 Nulo Pleno

Gráfico 13: Padrões de produção de frases dos níveis de proficiência (Graduação) e grupo controle.

Os resultados referentes a produção de frases com sujeito nulo relacionados ao tipo de narrativa em singular e plural e ao tipo de narrativa em primeira e terceira pessoas revelam que não houve, entre estas variáveis, um efeito significativo de interação (X²= 6,056675793, p>0,05) em todos os níveis de proficiência. Observe no Gráfico 14 abaixo.

BA_1ª BA_3ª IN_1ª IN_3ª AV_1ª AV_3ª CO_1ª CO_3ª

Gráfico da Tabela Cruzada

P ropor ção 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 SINGULAR PLURAL

Gráfico 14: Padrões de produção de frases dos níveis de proficiência (Graduação) e grupo controle (valores de sujeito nulo)

Embora as previsões (a) e (c) não pareçam ter sido confirmadas inicialmente de acordo com as análises, é possível supor que existe transferência de aspectos da L1 para a L2 durante o curso de aquisição da segunda língua, por outro lado, verificou-se ainda que a previsão (b) se confirmou através dos resultados, pois a interferência parece diminuir gradativamente em função do aumento da proficiência.

4.5 Discussão

Nos dois experimentos de produção induzida que constituíram este trabalho foram utilizadas três narrativas de cada uma das condições (1ª P.Sg., 1ª P.Pl., 3ª P.Sg., 3ª P.Pl.) que permitiram a produção de frases com sujeito nulo ou pleno e todos os dados foram submetidos ao teste estatístico qui-quadrado. Entretanto, participaram do experimento I brasileiros aprendizes de espanhol como L2 alunos do curso de idiomas Prolem e do experimento II participaram brasileiros aprendizes de espanhol como L2 alunos da graduação em Letras português/espanhol, ambos localizados na Universidade Federal Fluminense.

Os experimentos I e II mostram em seus resultados efeitos significativos da variável tipo de narrativa em relação à pessoa gramatical – experimento I (X²= 158, 7978836, p<0,05), experimento II (X²= 100,8254158, p<0,05) – e em relação ao número – experimento I (X²= 132,5206349, p<0,05), experimento II (X²=98,07942388, p<0,05) - em todos os níveis de

proficiência, isto é, houve um percentual maior de frases produzidas com sujeito nulo em primeira pessoa comparativamente a terceira e, ainda, um percentual maior de frases com sujeito nulo no plural em comparação ao singular. Contudo, observando-se os percentuais de produção de frases com sujeito pleno no experimento I é possível perceber que, exceto o nível avançado e a primeira pessoa do nível básico, todas as produções de frases foram feitas, em sua maioria, com a presença de sujeito pleno, o que, de acordo com Duarte (1993,1995) se justifica se considerarmos a transferência da L1, que é de sujeito pleno para a L2 que é de sujeito nulo. Todavia, ao observar os percentuais de produção de sujeito pleno no experimento II verifica-se que apenas o nível básico apresenta um índice mais elevado, ainda que este índice não ultrapasse o de sujeito nulo, o que possivelmente pode se dever ao fato de os graduandos terem mais tempo de exposição à L2 mesmo estando nos períodos iniciais do curso. Como esperado, não houve efeito significativo da variável tipo de narrativa relacionada à pessoa gramatical (X²= 1,578947368, p>0,05), tampouco para a mesma variável relacionada ao número (X²= 0,175438596, p>0,05) nos resultados do grupo controle, ou seja, o tipo de narrativa de acordo com o paradigma número-pessoal não é um fator relevante para a utilização do sujeito nulo em espanhol.

Sobre a produção de frases com sujeito nulo relacionada ao nível de proficiência, os resultados do experimento I (X²= 129,3206349, p<0,05) e do experimento II (X²=67,13253088, p<0,05) apontam na mesma direção indicando que há interferência da L1 sobre a L2, principalmente nos níveis iniciais de proficiência durante a aquisição da segunda língua. No entanto, contrariamente ao esperado, os resultados do experimento I apresentaram maior incidência de sujeito pleno na produção de frases do nível intermediário, comparativamente ao nível básico e os resultados do experimento II apresentam maior índice de produção de frases com sujeito nulo nos três níveis de proficiência. O resultado do experimento I sugere que brasileiros aprendizes de espanhol como L2 produzem frases com sujeito pleno tal qual acontece no PB até um determinado momento em que o parâmetro da língua-alvo é ativado na mente destes aprendizes quando atingem o nível avançado de proficiência na língua. Sendo assim, tal resultado contribui para os estudos sobre aquisição de L2, pois permitem confirmar a Hipótese de Transferência e Acesso Total (SCHWARTZ E SPROUSE, 1994, 1996 apud XAVIER, 2006), para a qual o estado inicial da L2 é a gramática da L1 com suas propriedades abstratas que serão utilizadas para a construção da gramática da IL, ou seja, ocorre a transferência do PSN da L1 para a L2 e, ainda esta transferência diminui à medida que o aprendiz reestrutura a sua gramática da IL acessando à GU.

Então, os aprendizes do nível intermediário seriam menos suscetíveis às interferências do valor da L1 para a L2, enquanto os aprendizes dos níveis básico e avançado não perceberiam a diferença paramétrica entre as duas línguas. Isso não se verifica nos resultados obtidos através do experimento II no qual o percentual de produção de frases com sujeito nulo foi maior em todos os níveis de proficiência, porém, se observadas apenas as produções de sujeito pleno isoladamente, percebe-se que estas diminuem gradativamente entre os três níveis. Neste sentido, houve uma diferença considerável relacionada à variável grupal nível de proficiência entre os resultados dos dois experimentos.

Comparando apenas os índices de produção de frases com sujeito nulo do nível avançado do experimento I (85,41%) e do experimento II (94,16%) com o grupo controle (95%), é possível perceber que os resultados são bastante similares e isto pode ser significativo para supor que a interferência da L1 diminui em função do aumento da proficiência em L2, já que, segundo a Hipótese de Transferência e Acesso Total (Schwartz e Sprouse, 1994, 1996 apud XAVIER, 2006), o aprendiz reestrutura sucessivamente a sua gramática da IL fixando novos parâmetros, através do acesso à GU, na medida em que não encontra na L1 estruturas equivalentes a L2 e, ainda, que a gramática de um aprendiz no nível avançado se aproxima a de um nativo.

No que se refere à interação entre o tipo de narrativa relacionada à pessoa e o tipo de narrativa relacionada ao número, é possível observar que não houve efeito significativo para o experimento I (X²= 3,719893232, p>0,05), nem para o experimento II (X²= 6,056675793, p>0,05) em nenhum dos níveis de proficiência, tampouco no grupo controle, ou seja, não houve interação entre essas duas variáveis.

Em síntese, os resultados obtidos nos dois experimentos indicaram diferenças relacionadas à interferência do valor do parâmetro da L1 para a L2 durante os níveis iniciais de proficiência, visto que no experimento I os níveis básico e intermediário tiveram maiores percentuais de produção de frases com sujeito pleno comparativamente aos resultados obtidos no experimento II cujo percentual de produção de frases com sujeito nulo foi mais elevado em todos os níveis. Além disso, esta interferência não pareceu ser gradativa no experimento I, diminuindo consideravelmente apenas no nível avançado, enquanto no experimento II a gradação aparece claramente nos resultados evidenciando que a interferência diminui com o aumento da proficiência na língua-alvo. Os resultados do experimento I mostraram, ainda, a preferência dos aprendizes dos níveis básico e intermediário pela produção de frases com sujeito pleno nas 1ª e 3ª pessoas gramaticais e curiosamente os índices de produção de sujeito desse tipo de sujeito aparecem mais elevados na 3ª pessoa que é considerada a mais resistente

à mudança, segundo Duarte (1995). No experimento II, por sua vez, verifica-se que os aprendizes de todos os níveis produziram sentenças com sujeito nulo, mas se voltarmos a atenção apenas para os índices de produção de sujeito pleno, observa-se que a 3ª pessoa gramatical apresenta um percentual maior de produção deste sujeito em relação a 1ª.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Algumas mudanças relacionadas ao preenchimento do sujeito vêm afetando o PB, ao contrário do que ocorre com o PE (cf. DUARTE, 1995, dentre outros), pois há indícios de que o PB esteja passando por um processo de mudança, distanciando-se das outras línguas românicas no que diz respeito à representação do sujeito pronominal. Assim, o PB tem apresentado o status de LSN parcial (HOLMBERG, 2010; MODESTO, 2000), ao contrário de línguas de sujeito preenchido, como é o caso do inglês, ou mesmo ao contrário de LSN prototípicas, como é o caso do espanhol. Isto indica que esta diferença do PB relacionada ao preenchimento da posição de sujeito pronominal pode ser indício de uma mudança em curso na marcação do PSN nesta língua (DUARTE, 1993,1995). Desse modo, esse novo comportamento do PB frente ao PSN pode refletir-se na aquisição de uma L2 com marcação diferente como, por exemplo, o espanhol, ou seja, pode haver transferência de aspectos do PB como L1 influenciando o processo de aquisição da L2.

Foi feita uma revisão de literatura para fundamentar as deduções feitas anteriormente, no sentido de verificar quais são as particularidades relacionadas ao PSN e, consequentemente, quais as características que permitem classificar as línguas marcadas positiva ou negativamente em relação a este parâmetro. Além disso, verificou-se as particularidades do PB e do espanhol relacionadas ao PSN a fim de comparar estas duas línguas que possuem marcações diferentes e observar em que medida ocorre interferência do PB como L1 sobre o espanhol como L2. Neste sentido, para a realização deste trabalho fez-se uso do modelo formal de língua da linguística gerativa de acordo com o Programa

Minimalista (CHOMSKY, 1995 e posteriores) e dos pressupostos metodológicos da

psicolinguística experimental.

A partir da diferença entre a satisfação do traço EPP – “responsável pelo preenchimento da posição de sujeito sintático nas línguas naturais” (VIEGAS, 2014) - no PB e no espanhol, buscou-se verificar em que medida essa característica pode interferir na aquisição do valor do parâmetro [+ pro drop] no curso do aprendizado do espanhol como L2. O PB tem se aproximado de línguas como o inglês [- pro drop] no que diz respeito ao preenchimento de sujeitos referenciais, no entanto, o espanhol peninsular permanece uma LSN prototípica na qual o traço EPP é satisfeito por uma categoria vazia chamada pro.

Existe uma discussão complexa na literatura acerca de como acontece o processo de aquisição/aprendizagem de L2, pois quando estamos diante de línguas com marcações diferentes relacionadas ao PSN, verificamos diferentes comportamentos de satisfação do traço EPP, fato que além de conferir um status diferente a estas línguas (XAVIER, 2007 apud

Viegas, 2014) pode tornar a aquisição de L2 por um adulto mais custosa e menos natural do que ocorre com uma criança, interferindo na marcação do PSN da língua-alvo, isto é, o estágio final do processo de aquisição pode diferir da gramática de um falante nativo. De acordo com Selinker (1972) o fato de aprendiz de L2 desenvolver uma interlíngua de forma sistemática e, não necessariamente, determinada pela L1 ou L2 ao longo do processo de aquisição da segunda língua, parece demonstrar que a aquisição se dá a partir de um sistema complexo tal qual acontece com a aquisição de L1 por um nativo. Por outro lado, se durante o

Documentos relacionados