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3 PSICOLINGUÍSTICA EXPERIMENTAL

3.2 Principais métodos e técnicas da psicolinguística

Na tentativa de compreender como funcionam os processos mentais envolvidos nos modelos de representação e processamento linguístico, a psicolinguística utiliza-se de métodos experimentais - a depender das variáveis dependentes usadas - conhecidos como métodos não-cronométricos (ou off-line) e cronométricos (ou on-line), (cf. DERWING e DE ALMEIDA, 2005). Os experimentos off-line produzem dados sobre o momento de reflexão das frases ou enunciados, já que capturam reações a estímulos após ter havido uma integração entre todos os níveis linguísticos: fonológico, morfológico, lexical, sintático e semântico. Os experimentos on-line, por sua vez, utilizam majoritariamente o tempo e reação ou resposta como variável dependente produzindo dados a respeito de processos mentais que acontecem antes que essa integração esteja completa, durante o momento reflexo. (cf. LEITÃO, 2008)

Métodos off-line possuem uma abordagem simples e objetiva, isto é, dispensam o uso de equipamentos para coletar as respostas relacionadas ao tempo de processamento como ocorre com os métodos on-line (cf. DERWING E DE ALMEIDA, 2005). Além disso, os experimentos off-line podem ser aplicados simultaneamente a um grande número de participantes, gerando grande quantidade de novos dados. Dentre as técnicas off-line mais utilizadas, destacam-se:

• Preenchimento de questionário;

Os participantes recebem um questionário com frases relacionadas ao objeto que se presente investigar, leem as frases e respondem a perguntas sobre as frases lidas.

• Decisão lexical

Os participantes devem decidir se uma sequência de letras constitui uma palavra ou não. Espera-se que o participante demore menos tempo para acessar uma palavra precedida por outra palavra que tenha características semânticas, fonológicas ou morfológicas parecidas, como por exemplo, enfermeira/médico.

• Julgamento de aceitabilidade/gramaticalidade

Os participantes leem frases e devem julgar se estas são aceitáveis (gramaticais) ou não e este julgamento sempre ocorre de forma binária, ou seja, os participantes precisam escolher uma das duas possibilidades como aceitáveis.

• Ranqueamento de aceitabilidade;

Os participantes leem frases ou estruturas de acordo relacionadas ao objeto de investigação e devem escolher numa escala de cinco pontos (0 a 4), por exemplo, uma nota para as frases como mais ou menos aceitáveis.

• Produção induzida

Os participantes recebem pequenos estímulos que permitem uma continuação, então estes devem completá-los construindo novas sentenças. Esta é uma técnica muito utilizada na psicolinguística e visa acessar a produção de enunciados linguísticos de forma controlada de acordo com os objetivos que se deseja investigar.

Para a realização de experimentos psicolinguísticos é necessário controlar o material de testagem e isolar os fatores que se pretende investigar, elencando variáveis independentes que serão testadas, observando-se sua influência nas suas variáveis dependentes. Contudo, antes de elaborar o experimento, faz-se necessária a escolha do método mais adequado a ser utilizado, on-line ou off-line. Nos experimentos off-line, a variável dependente é medida após o processamento da informação, ou seja, os processos mentais dos participantes não são observados ao longo do processamento e sim após a conclusão do processamento, contrariamente ao que acontece nos experimentos on-line, nos quais essa mesma variável é medida durante o processamento da informação linguística, inferindo os processos cognitivos inconscientes, isto é, obtêm-se dados durante o processamento.

De acordo com Mitchell (2004), o método on-line utiliza ferramentas capazes de capturar efeitos bem próximos ao momento em que ocorre o processamento reflexo, de outro modo, o método off-line, como anteriormente citado, utiliza questionários ou outras ferramentas que não captam com precisão o momento reflexo do processamento, por este motivo, tal método não é capaz de medir o processamento mais automático, sem influência da integração do conteúdo semântico-pragmático. Neste sentido, os métodos on-line tendem a capturar o tempo de reação (Reaction Time - RT) medido em milésimos de segundo, quanto mais complexo o processamento, maior será o RT, isto é, acontecem mais computações mentais. Veja abaixo as principais técnicas experimentais on-line utilizadas pela psicolinguística:

• Rastreamento ocular (Eyetracking);

O participante utiliza o computador para ler frases/ textos ou observar imagens e tem os movimentos dos seus olhos rastreados por um aparelho chamado Eyetracker. Este aparelho acompanha o movimento da pupila do participante enquanto uma câmera captura todos os movimentos oculares realizados pelo participante ao ler ou observar o que está na tela do computador.

Existem alguns tipos de Eyetracker: móveis com formato de óculos e com base fixa e apoio para o queixo, que captam com mais precisão os movimentos, por exemplo, ambos percebem tanto as sacadas quanto o padrão de fixações. As sacadas são os saltos que o

olho faz de uma palavra/imagem para outra e as fixações são as paradas que o olho faz em uma determinada palavra ou determinados pontos da leitura/ imagem.

• Leitura automonitorada (Self-Paced Reading)

O participante ao apertar um botão lê as frases segmentadas mostradas uma a uma na tela de um computador, à medida que aperta o botão um novo segmento aparece na tela. O computador, então mede em milissegundos o RT, ou seja, o tempo que o participante utilizou para ler cada segmento. Para um experimento on-line, usando esta técnica é necessário que o pesquisador utilize alguns softwares, tais como o Psyscope (compatível com Mac), o Linger (PC e Mac), (DMDX), dentre outros.

• Efeito de reativação

O participante é apresentado ao objeto linguístico relevante à pesquisa, como por exemplo, uma palavra. Depois, uma pista reduzida ou estímulo associado, como uma palavra semântica ou fonologicamente relacionada à primeira palavra também é apresentada. O efeito de reativação está relacionado à propriedade que as unidades cognitivas têm na memória de apresentar variação no nível de ativação ou excitação. Partindo de um nível de ativação zero, uma unidade cognitiva pode ser ativada por causa do processamento perceptual ou linguístico. O conceito de “copo”, por exemplo, é ativado quando alguém vê um copo ou ouve a palavra copo. (TULVIN & SCHACTER, 1990 apud VIEGAS, 2014).

Este capítulo abordou algumas características da psicolinguística, que possui caráter estritamente experimental, e da linguística gerativa (CHOMSKY, 1957), responsável por estabelecer um modelo formal que busca dar conta da estrutura e funcionamento da linguagem humana. Neste sentido, a escolha pela utilização da metodologia experimental para a investigação de fenômenos inerentes à linguagem humana se deu pela escassez de trabalhos experimentais relacionados à aquisição e transferência de aspectos do PB como L1 para o espanhol como L2, sendo assim, utilizaremos nesta pesquisa a técnica off-line de produção induzida. Espera-se, portanto, que os resultados obtidos neste trabalho contribuam para as futuras pesquisas experimentais que tenham como foco o mesmo objeto de pesquisa, bem como, para as teorias sobre aquisição de L2.

Além disso, na seção que se segue revisitaremos o trabalho de Viegas (2014) no qual a pesquisadora utiliza a técnica off-line de julgamento de gramaticalidade a fim de investigar a interferência do PSN parcial do PB na aquisição de inglês como L2.

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