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O espanhol caracteriza-se por ser uma língua de sujeito nulo, isto é, uma língua pro

drop prototípica por apresentar a marcação positiva típica destas línguas, visto que manifesta

a obrigatoriedade em deixar a posição de sujeito nula em orações finitas não marcadas, sobretudo com relação à categoria pronominal. Aponta-se que tal característica seja resultado da existência de uma riqueza flexional nesta língua, como apresenta Fernández Soriano (1999 apud SOARES DA SILVA, 2006, p. 42):

El español permite omitir los pronombres de sujeto, esto es, junto a una oración como Ella ha venido existe la posibilidad de la paralela sin pronombre, Ha venido (...) Así, nuestra lengua difiere de otras, como el inglés, que sólo permiten, con verbos conjugados, construcciones en que el sujeto aparece expresado (He saw her). Esta posibilidad, que se da también en italiano y en otras lenguas no emparentadas, se ha puesto en relación con la riqueza que presenta el paradigma verbal, es decir, con el hecho de que la desinencia flexiva del verbo permita, por sí sola, distinguir entre las distintas personas gramaticales. (FERNANDEZ SORIANO, 1999, p.1224)

Ao contrário do PB, o espanhol possui, nos termos de Duarte (1995), um paradigma flexional rico que permitiria a categoria vazia recuperar os traços gramaticais de licenciamento e identificação, isto, segundo Soares da Silva (2006), permite a possibilidade de apagamento do pronome em todas as seis pessoas gramaticais. Assim, de acordo com Rizzi (1986 apud VIEGAS, 2014, p.37), “o módulo formal licenciador visa especificar as condições de ocorrência da categoria vazia e o módulo semântico licenciador especifica como o conteúdo da categoria vazia será recuperado pelo contexto linguístico”.

Neste sentido, a flexão do verbo tem traços pronominais que permitem o preenchimento de sujeitos referenciais ou expletivos por uma categoria vazia, sem realização fonética, que pode recuperar os traços gramaticais de gênero, número, pessoa e caso. Veja a Tabela 2 abaixo com o quadro pronominal e flexional do espanhol peninsular.

Pess./N.º Pronome

1ª pess. sing. Yo canto

2ª pess. sing. Tú cantas

3ª pess. sing. Él/ Ella/ Ello Usted

canta canta 1ª pess. plural Nosotros/ Nosotras cantamos 2ª pess. plural Vosotros/ Vosotras cantáis 3ª pess. plural Ellos/ Ellas

Ustedes

cantan cantan

Tabela 2: Quadro pronominal e flexional do espanhol adaptado de Soares da Silva (2006)

Para Duarte (1995) o espanhol, como LSN prototípica, apresenta a obrigatoriedade em deixar a categoria de sujeito referencial vazia, ocorrendo a realização fonética do sujeito pronominal apenas em situação marcada, para desfazer ambiguidades, marcar ênfase ou em situações de contraste. Isto se deve ao fato de o espanhol possuir um paradigma pronominal nominativo com traços de número e pessoa e, ainda, marca de gênero, como é possível observar na tabela 5. Segundo Fernández Soriano (1999 apud SOARES DA SILVA, 2006), os pronomes de primeira e segunda pessoa do plural em espanhol também se flexionam em gênero, devido à união do adjetivo otro(a) às formas primitivas nos e vos (nosotros, vosotros), que se deu no final do século XV. Para Rizzi (1989) e Jaeggli & Safir (1989 apud SOARES DA SILVA, 2006), o espanhol encaixa-se no grupo de LSN, visto que, possui a categoria

Agr10 caracterizada como [+ pronominal] porque não projeta o especificador de ST, já línguas de sujeito pleno, como o inglês são [- pronominal] porque projetam o especificador de ST representado por um pronome fraco e quando o sujeito é expresso por um pronome numa LSN, este pronome é forte. Assim, o sujeito pronominal pleno numa língua de marcação positiva em relação ao PSN tem a característica de ser forte e ocupar a mesma posição alta que ocupa nas línguas de sujeito pleno e nestas línguas marcadas negativamente em relação ao PSN, o pronome fraco aparece à esquerda e pode ser duplicado por um pronome forte (KATO, 1999 apud SOARES DA SILVA, 2006).

De acordo com Raposo (1992) “o sistema gramatical formal das línguas naturais especifica de modo discreto a sua categoria Agr como ‘forte’ ou ‘fraca’. Em línguas de Agr forte, como é o caso do espanhol peninsular, pro é licenciado e em línguas de Agr fraco, como o inglês, pro não é licenciado”. Neste sentido, é possível perceber que o traço EPP é satisfeito

em espanhol através do preenchimento da categoria de sujeitos, tanto referenciais como expletivos, por pro.

1.3.1 Sujeito pronominal no espanhol

O espanhol peninsular permite que o sujeito não realizado foneticamente ocorra em todas as pessoas gramaticais e, segundo Fernández Soriano (1999 apud SOARES DA SILVA, 2006) em todos os tempos verbais, exceto nas formas impessoais, isto é, as que não selecionam argumento, como exemplificado em (39) abaixo.

(39) Hace calor hoy. (Faz calor hoje.)

Tal fato vem sendo atribuído ao paradigma de flexão verbal rico nesta língua já que sujeitos referenciais e expletivos são nulos. Veja em (40) e (41), respectivamente.

(40) ____ comimos mucho./ ____ llaman al teléfono.

(Comemos muito.)/ (Chamam ao telefone./Alguém está ligando.) (41) ____ Es necesario comer más./ ____ Llueve.

(É necessário comer mais.)/ (Chove.)

Dentre as possibilidades de ocorrência de sujeito foneticamente realizado em espanhol, é importante destacar que este somente se refere a pessoas, ou seja, não existe a possibilidade de um sujeito pleno retomar um referente inanimado, porque neste caso existe a obrigatoriedade de manter o sujeito nulo, como no exemplo (42) abaixo.

(42) He visto el móvil de María. _____ Tiene una interfaz sencilla.

Ao contrário do que se observa em PB. Veja o exemplo acima utilizado em (43) abaixo no PB.

(43) Vi o celular de Maria. Ele tem uma interface simples.

Desta maneira, é possível observar que o espanhol peninsular é uma língua pro drop prototípica, que preenche obrigatoriamente os sujeitos referenciais apenas em situações de foco contrastivo, quando o pronome se associa a um elemento adjetival ou apositivo, como ora exemplificado, respectivamente em (44), (45) e (46) abaixo (Rizzi, 1998).

(44) ¿Quién fue? (Quem foi?) Fuimos nosotros. (Fomos nós.)

(45) Ella, que está hambrienta, puede comer ahora. (Ela, que está faminta, pode comer agora).

(46) Él mismo lo resolvió. (Ele mesmo resolveu.)

Contudo, de acordo com Luján (1999 apud SANTOS, 2012), sempre que houver uma sentença com sujeito pleno em espanhol, este será distintivo ou contrastivo e denotará ênfase. Em (47) é possível observar um exemplo de (foco) contrastivo.

(47) Él trabaja demasiado. (No otro) (Ele trabalha muito. (Não outra pessoa))

Para a autora, quando o sujeito pleno aparece anteposto ao verbo possui função distintiva, mas se aparecerem após verbo expressa contraste, como nos exemplos (48) e (49), respectivamente.

(48) Ella no puede comer pan. (Pero yo puedo comerlo). (Ela não pode comer pão. (Mas eu posso))

(49) Ha visto la película usted11. [No ella, no María] (O senhor viu o filme. (Não ela, não Maria))

O espanhol peninsular preserva todas as características de uma língua pro drop prototípica, semelhante ao PE, ao contrário do PB que vem sendo considerado uma LSN parcial. Dias (2008) utiliza um corpus de língua escrita para comparar quatro línguas, espanhol (de Buenos Aires), italiano, PE e PB, a fim de verificar as taxas de sujeito nulo nestas línguas e o PB se distancia das demais com um número bem menor de ocorrência do sujeito nulo, enquanto o espanhol se aproxima do italiano e do PE na utilização do sujeito pronominal nulo.12

11

O pronome de cortesia de segunda pessoa, usted apresenta propriedades diferentes dos outros pronomes pessoais. Ele não é associado a uma marca flexional distintiva, uma vez que se combina com a desinência verbal Ø. Isso, entretanto, não impede que o pronome seja omitido: seu preenchimento só ocorre quando há necessidade de o falante reforçar a sua atitude de respeito ou para desfazer uma interpretação ambígua, já que não há desinência distintiva (FERNÁNDEZ SORIANO, 1999, 1235).

2. AQUISIÇÃO DE SEGUNDA LÍNGUA

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