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Interferência da L1 sobre a L2: uma abordagem psicolinguística sobre o parâmetro do sujeito nulo no Pb e no Espanhol

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Academic year: 2021

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CARLA MOTA REGIS DE CARVALHO

INTERFERÊNCIA DA L1 SOBRE A L2: UMA ABORDAGEM PSICOLINGUÍSTICA SOBRE O PARÂMETRO DO SUJEITO NULO NO PB E NO ESPANHOL

Niterói, RJ 2016

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CARLA MOTA REGIS DE CARVALHO

INTERFERÊNCIA DA L1 SOBRE A L2: UMA ABORDAGEM PSICOLINGUÍSTICA SOBRE O PARÂMETRO DO SUJEITO NULO NO PB E NO ESPANHOL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagem da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Linguística.

Linha de Pesquisa 1: Teoria e análise linguística

ORIENTADOR: Prof. Dr. Eduardo Kenedy Nunes Areas

Niterói, RJ 2016

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INTERFERÊNCIA DA L1 SOBRE A L2: UMA ABORDAGEM PSICOLINGUÍSTICA SOBRE O PARÂMETRO DO SUJEITO NULO NO PB E NO ESPANHOL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagem da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Linguística.

Linha de Pesquisa 1: Teoria e análise linguística.

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________________________ Prof. Dr. Eduardo Kenedy Nunes Areas - UFF

Orientador

___________________________________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Aline Fernanda Alves Dias - INES

___________________________________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Katia Nazareth Moura de Abreu - UERJ

Niterói – RJ 2016

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À minha mãe, Maria de Nazaré Mota da Silva, que sempre me encorajou com seu otimismo, força, fé e amor.

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A realização deste trabalho contou com a presença de pessoas com as quais pude partilhar diferentes momentos do percurso percorrido até a chegada a esta etapa final. Como este trabalho não aconteceria sem o apoio e a compreensão dessas pessoas, expresso com muita alegria meus agradecimentos.

Primeiramente agradeço ao Prof. Dr. Eduardo Kenedy, meu orientador, por tudo o que me ensinou desde a IC com sua didática, brilhantismo e dedicação. Obrigada por todo incentivo, apoio e compreensão durante toda a produção desta dissertação, pelo aprendizado nas reuniões do grupo de pesquisa e por seu exemplo de competência e profissionalismo dedicados à Linguística.

À Prof. Dra. Aline Dias e à Prof. Dra. Kátia Abreu pelas proveitosas contribuições feitas durante a Qualificação.

Aos professores do curso de idiomas Prolem, ao Prof. Dr. Paulo Antonio Pinheiro Correa e ao Prof. Dr. Xoán Lagares por me cederem gentilmente parte de suas aulas para a aplicação dos experimentos.

Ao Prof. Dr. Antonio Ribeiro por contribuir com a sua experiência para este trabalho. Aos colegas do Gepex, Grupo de Estudos em Psicolinguística Experimental da UFF, Joana, Simone, Aline, Adiel, Victor, Helicéa e Juliana por tudo o que aprendemos juntos em congressos, disciplinas, encontros do grupo de pesquisa, conversas que me ajudaram muito no processo de elaboração deste trabalho.

Aos alunos do Prolem, aos alunos da graduação em Letras português/espanhol da Universidade Federal Fluminense e aos espanhóis que participaram dos experimentos.

À minha amiga Franciane Soares que gentilmente me ajudou a aplicar o experimento com os espanhóis.

À CAPES pelo apoio financeiro concedido.

À minha tia Lia e à Noni por todo o incentivo e cuidado ao longo de minha vida escolar.

Às colegas da graduação que se transformaram em amigas e com as quais vivenciei muitos momentos de alegria, estudo e muito aprendizado, Agata, Joci, Aline, Camila Carla e Amanda.

Ao meu marido, amor da minha vida, Wagner Moreira, pela vida partilhada, pelo respeito, pela união, pelo amor e pela paciência nos momentos em que precisei estar ausente mesmo estando em casa. Obrigada por transformar a minha trajetória de vida mais leve.

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processo seletivo do mestrado, todo o percurso de produção deste trabalho até a alegria de concluí-lo. Obrigada por estar sempre presente em todos os momentos da minha vida.

Aos amigos Ieda, Joaquim, Paula, Jurandyr pelo incentivo e pelos momentos de boas conversas e aprendizados.

Às minhas cunhadas Érida e Jaqueline pelas palavras de carinho e reconhecimento. Finalmente, à minha mãe, ao meu pai, aos meus irmãos Claudia e Claudio, aos meus sobrinhos João Paulo, Sophya e Heitor, todos que são parte de mim e dos quais sempre recebi muito amor, incentivo, carinho e muita compreensão em todos os momentos da minha trajetória acadêmica até aqui.

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Uma das razões para estudar a linguagem (exatamente a razão gerativista) – e para mim, pessoalmente, a mais premente delas – é a possibilidade instigante de ver a linguagem como um “espelho do espírito”, como diz a expressão tradicional.

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A discussão sobre como acontece a aquisição de uma segunda língua (L2) e em que medida a língua materna (L1) pode interferir neste processo tem se mostrado bastante produtiva e complexa na literatura. O PB tem sido considerado uma língua parcialmente pro drop, segundo Duarte (1995) por apresentar a preferência pelo preenchimento de sujeitos referenciais. Já o espanhol, segundo Pinheiro-Correa (2010), caracteriza-se como uma língua

pro drop prototípica por preencher o sujeito em situações específicas, como as de foco contrastivo ou quando aparecem complementos apositivos ou adjetivais. Estas diferenças

relacionadas ao preenchimento do sujeito sintático entre o PB e o espanhol permitiram uma comparação, à luz da teoria de Princípios e Parâmetros (P&P) (CHOMSKY, 1981, 1995, 2011), por meio de uma abordagem metodológica da psicolinguística experimental, com o intuito de investigar o processamento das estruturas de sujeito nulo e pleno em falantes nativos do PB e do espanhol e verificar se há transferência do PB na aquisição de espanhol como L2 com relação ao preenchimento do sujeito pronominal e, ainda, se tal transferência é anulada e substituída pelo parâmetro da língua alvo durante o curso do aprendizado da L2. Para isso, foram realizados dois experimentos off-line de produção induzida que consistiam na continuação de pequenas narrativas incompletas em espanhol divididas em quatro condições experimentais (1ª e 3ª pessoas do singular e 1ª e 3ª pessoas do plural), ambos foram realizados com aprendizes de espanhol como L2. O experimento I contou com alunos do curso de idiomas Prolem e o experimento II contou com alunos da graduação da Universidade Federal Fluminense, além disso, os dados de um grupo de nativos (controle) foram utilizados nos dois experimentos. Coube aos participantes experimentais divididos em três níveis de proficiência (básico, intermediário e avançado) continuar as 12 pequenas narrativas experimentais com duas ou três palavras apenas. A hipótese que orientou este trabalho é a de que o parâmetro do sujeito nulo da L1 seja transferido para a L2, tendo sua interferência diminuída em função do aumento da proficiência na língua-alvo. Todos os resultados foram submetidos ao teste estatístico qui-quadrado e indicaram que o valor do parâmetro do sujeito nulo do PB, como L1, parece ser transferido para o espanhol como L2 mais visivelmente em aprendizes do curso de idiomas, mas que o mesmo acontece em menor escala com os aprendizes de espanhol, como L2, alunos da graduação e, ainda, que a interferência entre estas línguas parece diminuir em função do aumento da proficiência na língua-alvo de acordo com os resultados dos dois experimentos.

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The discussion on how the acquisition of a second language (L2) happens and the extent that the mother language (L1) can interfere in this process is being very productive and complex in literature. BP (Brazilian Portuguese) is being considered a partially pro drop language, according to Duarte (1995) because it presents the preference for filling reference subjects. Spanish, according to Pinheiro-Correa (2010), is characterized as a prototypical pro drop language because it fills the subject in specific situations, such as contrastive focus or when appositive or adjectival complements appear. These differences related to the fulfillment of the syntactical subject between BP and Spanish allowed a comparison, in according to the theory of Principles and Parameters (P&P) (CHOMSKY, 1981, 1995, 2011), through the methodological approach of the experimental psycholinguistics, in order to investigate the processing of structures of null and full subject in native speakers of BP and Spanish and check for transfer from BP in the acquisition of Spanish as L2 in relation to the completion of the subject pronoun, and even if such transfer is canceled and replaced by the target language parameter during the L2 learning course. For this, we performed two off-line experiments of induced production that consisted of the continuation of short narratives incomplete in Spanish divided into four experimental conditions (1st and 3rd person of singular and 1st and 3rd person of plural), both were conducted with apprentices of Spanish as L2. The experiment I had students of the language course Prolem and experiment II had undergraduate students of Universidade Federal Fluminense, in addition, data from a group of native speakers (control) were used in both experiments. It was up to the experimental participants divided into three proficiency levels (basic, intermediate and advanced) to continue 12 small experimental narratives with two or three words only. The hypothesis that guided this work is that the L1 null subject parameter is transferred to L2, and its interference is decreased due to the increased proficiency in the target language. All results were submitted to the statistical test

chi-square test and they indicated that the parameter value of the null subject of BP, as L1,

seems to be transferred to the Spanish as L2 most visibly in the learners language course, but it is also true in smaller scale with learners of Spanish as L2, graduate students, and also the interference between these languages seems to decrease due to increased proficiency in the target language according to the results of two experiments.

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1 O PARÂMETRO DO SUJEITO NULO ... 17

1.1 A Gramática Universal ... 17

1.1.2 Princípios e Parâmetros ... 17

1.1.3 O Princípio EPP ... 21

1.1.4 O (Parâmetro do) Sujeito Nulo ... 24

1.2.1 Sujeito nulo no PB ... 28

1.2.2 Sujeitos referenciais ... 30

1.2.3 Sujeitos referenciais de 3ª pessoa... 32

1.3 Sujeito nulo no espanhol ... 34

1.3.1 Sujeito pronominal no espanhol ... 36

2. AQUISIÇÃO DE SEGUNDA LÍNGUA ... 38

2.1 A aquisição de L2 ... 38

2.1.2 Hipótese da Transferência e Acesso total (Full Transfer and Full Acess) ... 39

2.1.3 Hipótese de Árvores Mínimas (Minimal Trees) ... 40

2.1.4 Hipótese dos Traços Valorados (Valueless Features) ... 41

2.1.5 Hipótese do Acesso Total (sem Transferência) (Full Acess (without tranfer)) ... 41

2.2 Teoria do Bilinguismo Universal ... 42

3 PSICOLINGUÍSTICA EXPERIMENTAL ... 43

3.1 A Psicolinguística e a linguística gerativa ... 43

3.2 Principais métodos e técnicas da psicolinguística ... 45

3.3 Revisitando Viegas ... 48

4. EXPERIMENTOS ... 52

4.1 Experimento continuação de narrativas I ... 52

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4.1.4 Participantes (grupos experimentais) ... 54

4.1.4.1 Controle ... 55

4.1.5 Materiais ... 55

4.1.6 Procedimentos ... 57

4.2 Resultados ... 57

4.3 Experimento continuação de narrativas II ... 63

4.3.1 Design experimental ... 63 4.3.2 Hipóteses e Previsões ... 64 4.3.3 Variáveis e condições ... 64 4.3.4 Participantes ... 64 4.3.5 Materiais ... 65 4.3.6 Procedimentos ... 66 4.4 Resultados ... 66 4.5 Discussão ... 71 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 75 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 79 ANEXOS ... 84

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Tabela 2: Quadro pronominal e flexional do espanhol adaptado de Soares da Silva (2006) ... 35

Tabela 3: Desenho experimental ... 53

Tabela 4: Condições experimentais do experimento I ... 54

Tabela 5: Distribuição dos alunos de graduação em níveis de proficiência. ... 65

Figura 1: Sistema Computacional, Spell-Out e Níveis de Interface e Desempenho ... 19

Figura 2: Conjunto e subconjunto de Raposo. ... 21

Figura 3: Movimento de um SN para o especificador de ST, licenciando-o com o caso nominativo. ... 22

Figura 4: Hierarquia da Referencialidade de Cyrino, Duarte e Kato.(2000) ... 31

Figura 5: Modelo Full Transfer and Full Access (White, 2003, p.61) ... 39

Figura 6: Modelo Full Acess (without Transfer) (White, 2003, p.90) ... 41

Gráfico 1: Produção de frases com sujeito nulo e pleno nas 1ª e 3ª pessoas nos três diferentes níveis de proficiência. ... 58

Gráfico 2: Produção de frases com sujeito nulo e pleno nas 1ª e 3ª pessoas do grupo controle ... 59

Gráfico 3: Produção de frases com sujeito nulo e pleno em singular e plural, nos três diferentes níveis de proficiência. ... 59

Gráfico 4: Produção de frases com sujeito nulo e pleno em singular e plural no grupo controle ... 60

Gráfico 5: Produção de frases com sujeito nulo e pleno nos três diferentes níveis de proficiência ... 61

Gráfico 6: Padrões de produção de frases dos níveis de proficiência e grupo controle ... 62

Gráfico 7: Padrões de produção de frases dos níveis de proficiência e grupo controle (valores de sujeito nulo) ... 62

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Gráfico 10: Produção de frases com sujeito nulo e pleno em singular e plural, nos três

diferentes níveis de proficiência. (Graduação) ... 68 Gráfico 11: Produção de frases com sujeito nulo e pleno nos três diferentes níveis de

proficiência (Graduação). ... 69 Gráfico 12: Produção de frases com sujeito pleno nos três níveis de proficiência (Graduação) e grupo controle. ... 69 Gráfico 13: Padrões de produção de frases dos níveis de proficiência (Graduação) e grupo controle. ... 70 Gráfico 14: Padrões de produção de frases dos níveis de proficiência (Graduação) e grupo controle (valores de sujeito nulo) ... 71

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INTRODUÇÃO

Pesquisadores como Duarte (1993, 1995, dentre outros), Soares da Silva (2006), Pinheiro-Correa (2010), entre outros, têm se dedicado à investigação sobre o possível distanciamento do português brasileiro (PB) das outras línguas românicas, incluindo o português europeu (PE), no que diz respeito ao parâmetro do sujeito nulo. Estas investigações indicam uma mudança em curso ocorrendo com o PB, fato que estaria afastando esta língua das línguas de sujeito nulo ou pro drop. Tais pesquisas se relacionam com as ideias de Chomsky (1981 e posteriores), que assume a existência de um módulo cognitivo específico da linguagem constituído por um sistema computacional mental que funciona a partir de traços do léxico adquiridos pela língua do ambiente à qual um indivíduo é exposto. Esses traços seriam codificados segundo uma marcação binária positiva ou negativa e, a partir da fixação de uma destas opções, as diferenças entre as línguas são estabelecidas e, dentre elas, seriam fixadas as diferenças entre línguas de sujeito pronominal nulo e de sujeito obrigatoriamente preenchido.

A teoria de Princípios e Parâmetros (P&P) (CHOMSKY, 1981, 1995, 2011) aponta como princípios da Gramática Universal (GU) todas as propriedades gramaticais comuns às diferentes línguas naturais existentes. Já os parâmetros, segundo essa teoria, consistem nas diferenças sintáticas também universais, segundo uma marcação positiva ou negativa de cada parâmetro específico. De acordo com a P&P, a existência de sujeitos gramaticais nas línguas naturais constitui-se como um princípio (nomeado como EPP – Extended Projection

Principle), mas permitir que uma categoria vazia ocupe a posição de sujeito em orações

finitas representa uma das propriedades do parâmetro do sujeito nulo. Em suma, o parâmetro

do sujeito nulo caracteriza-se por permitir que algumas línguas admitam o apagamento do

sujeito em orações, estas são as línguas de sujeito nulo [+pro drop], ao passo que outras, optam majoritariamente pelo apagamento, são as línguas [-pro drop].

O espanhol peninsular e o PE são exemplos de línguas de marcação positiva, ou, dizendo de outra forma, são línguas pro drop prototípicas. Por outro lado, estudos vêm demostrando uma crescente diferença no parâmetro do sujeito nulo no PB, em relação ao PE. O PB tem sido considerado uma língua parcialmente pro drop por apresentar uma tendência ao sujeito pleno, fato que, segundo Duarte (1995), foi precipitado pela redução nas formas desinenciais do paradigma flexional dos verbos. Os exemplos (1) e (2) abaixo ilustram, respectivamente, uma sentença com sujeito nulo e outra com sujeito pleno.

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(2) Eu comprei o anel.

Em contextos discursivos neutros nos quais não ocorrem demandas discursivas como contraste ou pressuposição, o exemplo (1), com a categoria vazia ocupando o lugar de sujeito, é típico do PE, ao passo que (2), cuja posição de sujeito está preenchida com o pronome eu, é típico do PB ainda que a realização (1) também seja possível nesta língua.

O espanhol, por outro lado, caracteriza-se, segundo Pinheiro-Correa (2010), por ser uma típica língua de sujeito nulo - como pode ser observado no exemplo (3)-, isto é, além de permitir que uma categoria vazia ocupe o lugar de sujeito, o espanhol só preenche o sujeito em situações de demandas discursivas específicas, tais como as de foco contrastivo – quando o sujeito é o foco numa sentença e tem valor de contraste, exemplificado em (4) - e nas situações em que aparecem complementos apositivos ou adjetivais- respectivamente, exemplificadas em (5) e (6)-, ou seja, o espanhol peninsular opta pela omissão do sujeito como estratégia default, preenchendo-o apenas em alguns contextos discursivos ora exemplificados.

(3) __ comí la tarta de banana. (4) ¿Quién lo hizo?

No haría yo tamaña crueldad.

(5) Él, que está enfermo, puede volver a su casa. (6) Tú mismo lo resolviste.

Em (3), o sujeito é representado por uma categoria vazia sendo identificado através da flexão verbal. Em sentenças como (4), (5) e (6) o sujeito pleno é um componente obrigatório, do contrário, estas sentenças seriam agramaticais na língua.

A possível mudança em curso na parametrização do PB, que o transfere do grupo das línguas pro drop para o grupo das línguas de sujeito preenchido, - mesmo que o preenchimento do sujeito no PB não se dê ainda em todas as categorias sintáticas, como, por exemplo, o preenchimento de um sujeito expletivo -, pode ser confrontada no aprendizado de línguas que possuem sujeito nulo, por parte dos nativos do PB, pois se há um preenchimento robusto do sujeito é evidência de que o PB está transformando-se numa língua de sujeito pleno.

Pesquisas sobre aquisição de línguas estrangeiras, como segunda língua (L2), buscam estabelecer qual seria o papel de uma língua materna (L1) no aprendizado de uma L2, isto é, como se dá o aprendizado de uma L2. Uma das questões que norteiam esses tipos de pesquisa

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é indagar se haveria o acesso à GU durante o processo de aquisição/aprendizagem de uma língua estrangeira e em que medida a gramática da L1 poderia influenciar a aquisição de uma L2. Existe, na literatura especializada, a hipótese de que a gramática da interlíngua seja guiada pela GU em todos os estágios. Neste caso, a competência de uma L2 na mente de um indivíduo poderia ser equiparada a de um falante nativo (WHITE, 2003a apud VIEGAS, 2014). Por outro lado, há a hipótese de que o acesso aos parâmetros estabelecidos para a L1 aconteça apenas na fase inicial de aquisição de L2, isto significa que em algum momento há acesso direto à GU (cf. WHITE, 2000, 2003).

A partir desta diferença entre o parâmetro do sujeito nulo no PB e no espanhol, o objetivo desta pesquisa é verificar em que medida se dá a transferência do parâmetro da L1 sobre a L2 e, consequentemente, confirmá-la à luz da teoria de Princípios e Parâmetros. E, ainda, contribuir para a discussão sobre as hipóteses de acesso à GU durante o processo de aquisição/aprendizado de uma L2 (cf. WHITE, 2000, 2003). Além disso, espera-se que esta pesquisa possa oferecer contribuições aos estudos sobre transferência e acesso dos parâmetros da L1 para a L2 por meio de uma abordagem experimental. Tal pesquisa visa investigar o processamento das estruturas de sujeito nulo e pleno em falantes nativos do PB e do espanhol, verificando se há transferência do parâmetro pro-drop parcial do PB ao espanhol entre aprendizes dessa língua como L2 e se, ao longo do aprendizado da língua estrangeira, tal transferência é anulada e substituída pelo parâmetro da língua alvo. Isto é, será verificado se ocorre interferência do status do parâmetro pro drop do PB no aprendizado do espanhol por brasileiros, pressupondo-se que são línguas com marcações diferentes neste parâmetro. Esta comparação pretende averiguar se brasileiros, aprendizes de espanhol como língua estrangeira, em diversos níveis de proficiência (básico, intermediário e avançado), aprenderiam a inibir a produção de sujeitos plenos durante a produção de frases em espanhol no curso do aprendizado da L2.

À luz da Teoria de Princípios e Parâmetros e sob a abordagem da Psicolinguística Experimental, foi elaborado, durante a pesquisa, um experimento off-line de produção induzida ou eliciada. Tal experimento foi aplicado a um grupo controle – nativos falantes do espanhol peninsular - e a três grupos experimentais - brasileiros aprendizes de espanhol como língua estrangeira nos três níveis de proficiência básico, intermediário e avançado.

Esta dissertação está organizada em cinco capítulos. No primeiro, encontram-se os pressupostos teóricos que fundamentam a pesquisa. Desta maneira, abordaremos algumas propriedades da teoria de Princípios e Parâmetros (CHOMSKY, 1981, 1995, 2011) que serviram para a realização deste trabalho, bem como as principais características sobre o

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Parâmetro do Sujeito Nulo e uma revisão da literatura acerca das características do sujeito nulo no PB e no espanhol.

O segundo capítulo, apresenta as principais hipóteses que norteiam o processo de aquisição/aprendizagem de uma L2 e em que medida ocorre o acesso à GU durante as fases de aquisição de L2 (White, 2000, 2003), além de abordar a teoria do Bilinguismo Universal (Roeper, 1999).

O terceiro traz as relações entre a Psicolinguística e a linguística Gerativa (Chomsky, 1981), a descrição dos principais métodos e técnicas da Psicolinguística e, ainda, revisita o trabalho de Viegas (2014) no qual a autora utiliza a metodologia experimental para apresentar as possíveis interferências do parâmetro do sujeito nulo do PB sobre o aprendizado de inglês como L2, por brasileiros.

No quarto capítulo são apresentados detalhadamente os dois experimentos realizados ao longo desta pesquisa com seus objetivos, hipóteses, previsões, variáveis, condições, procedimentos, resultados e uma análise teórica dos mesmos.

Por fim, o quinto capítulo traz as considerações finais, bem como alguns dos aspectos abordados ao longo do trabalho e, ainda as contribuições a serem feitas ao estudo da interferência da L1 sobre a L2 relacionadas ao Parâmetro do Sujeito Nulo.

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1 O PARÂMETRO DO SUJEITO NULO 1.1 A Gramática Universal

A Teoria Gerativa estabelece o pressuposto de que apenas a espécie humana seja capaz de adquirir uma língua, processo que acontece de maneira natural, com relativa rapidez e, além disso, apresenta grande regularidade a despeito das particularidades idiossincráticas de cada língua. Neste sentido, a aquisição de uma língua assumiria perspectivas inatas e levaria à criação do conceito de Gramática Universal (GU). A GU compreende o ponto de partida para a aquisição de uma língua e caracteriza-se como o estágio inicial da faculdade da linguagem, um mecanismo inato que permite o acesso aos Princípios Universais e a ativação dos parâmetros segundo os estímulos recebidos por uma determinada língua ambiente para a construção da competência linguística, isto é, a língua-I. Neste sentido, o processo de aquisição da linguagem acontece a partir do momento em que um indivíduo recebe um input de uma língua-E qualquer, iniciando o processo de parametrização desta língua e, então, quando esta está totalmente parametrizada por sua GU, esse indivíduo constrói sua competência linguística.

Os termos língua-I e língua-E foram criados por Chomsky (1986) para fazer uma distinção entre língua como representação interna, cognitiva, que representa o conhecimento linguístico - gramática interna – e língua como representação externa, coletiva que simboliza a língua usada por uma população em seu ambiente linguístico. Esta concepção externalista de língua corresponde ao que Chomsky chamou de língua-E, uma língua externa interpretada como idioma no senso comum (cf. KENEDY, 2013, p.29) e concepção internalista de língua representa a competência linguística de um falante, sua gramática interna, sua língua-I construída a partir de informações retiradas da língua de seu ambiente e o conhecimento tácito de sua GU. Assim, um falante exposto a uma língua-E extrai informações desta língua e, a partir destas informações, constrói na sua mente uma língua-I.

1.1.2 Princípios e Parâmetros

Na tentativa de descrever os mecanismos de funcionamento da GU, Chomsky (1981) formulou a teoria que estabeleceu a existência de princípios universais invariáveis e de parâmetros limitados variáveis segundo uma marcação binária (positiva ou negativa), tal teoria ficou conhecida como a Teoria de Princípios e Parâmetros. Esta teoria sofreu (e sofre) reformulações no âmbito do Programa Minimalista, assim, os parâmetros relacionados, primeiramente, aos princípios da gramática passaram a ter relação com as propriedades do

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léxico – categorias funcionais – responsáveis pelas especificidades das línguas. (AUGUSTO, 2005 apud VIEGAS, 2014).

No Programa Minimalista, Chomsky (1995 e posteriores), com o objetivo de determinar as propriedades da faculdade da linguagem e como esta faculdade é desenvolvida, apresenta a estruturação de um novo modelo de gramática (cf. MAIA, 2001). A faculdade da linguagem seria constituída por um léxico, um sistema computacional e os sistemas de interface. Neste sentido, o novo modelo de gramática apresentaria níveis de representação linguística especificados pela GU funcionando como sistemas simbólicos, estes são: o nível Forma Fonética (FF) que faz interface com o sistema articulatório- perceptual e o nível Forma Lógica (FL) que faz interface com o sistema conceptual- intencional.

O léxico, que é formado por um conjunto de itens com traços semânticos, fonológicos e formais passa a ser o responsável por especificar os itens que irão entrar no sistema computacional, por meio de uma Numeração, gerando a derivação de uma expressão linguística específica.

Os itens do léxico são decomponíveis em traços: fonológicos, semânticos e formais. Os traços formais desempenham um papel na sintaxe, já que o sistema computacional opera sobre traços formais. São traços formais os traços categoriais (N e V, por exemplo), os traços phi (gênero, número e pessoa) e os traços estritamente formais (o traço de Caso e o traço EPP do inglês Extended Projection Principle). Este último pressupõe uma informação parametrizada relativa à disponibilidade de uma posição de especificador, para a qual um dado sintagma pode se mover; como, por exemplo, o DP sujeito. Os traços formais são de dois tipos, os com motivação semântica - traços-phi e categoriais, e os estritamente formais – Caso e EPP. (MARTINS, 2007, p.26)

Consequentemente, este novo modelo de gramática estabelece que as representações linguísticas sejam resultado de derivações geradas no sistema computacional - a partir de certos traços lexicais e por meio de um conjunto de operações sintáticas (Select, Merge,

Agree/Move) – acessíveis, ao final, aos sistemas de desempenho. Assim, o sistema

computacional seleciona um conjunto de itens do léxico – conhecido como Numeração – para o espaço derivacional, estes itens serão submetidos à operação Merge que os organizará criando representações linguísticas complexas e, logo após, a operação Movimento deslocará parte desta representação linguística complexa segundo as exigências paramétricas de uma determinada língua, isto é, uma subparte será deslocada de sua posição sintática para outra mais distante deixando uma cópia na posição original respeitando as propriedades paramétricas da língua cujas marcações podem ser positiva ou negativa. Então, em algum

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momento da derivação acontece uma divisão por meio da operação Spell- Out. (cf.YRINO, 1997, MAIA, 2001 e KENEDY, 2013, dentre outros).

Spell-Out é o momento computacional em que a derivação em curso é retirada do Sistema Computacional e enviada para a FF e FL. Essa ‘operação’ é, na verdade, um ponto de bifurcação da derivação, uma espécie de fronteira divisória cuja função é identificar quando uma derivação já se encontra ao ponto de ser enviada para os sistemas que mais diretamente lidam com as interfaces. (KENEDY, 2013: p. 133)

A Figura 1 abaixo visa demonstrar os elementos que constituem a estrutura da faculdade da linguagem e o momento no qual a operação Spell-Out acontece.

De acordo com o que foi dito e observado na figura 1 acima, a operação Spell-Out é responsável por retirar o resultado da derivação do sistema computacional e levá-lo para FF e FL para que os traços fonológicos e semânticos sejam recuperados. (cf. CYRINO, 1997; MAIA, 2001; KENEDY, 2013, dentre outros)

Como visto anteriormente, a GU contém princípios universais, rígidos, e parâmetros flexíveis, associados a propriedades do léxico. Um dos princípios invariáveis da GU é conhecido como o Princípio de Projeção Estendido (Extended Projection Principle - EPP),

(21)

este princípio determina que toda sentença deva obrigatoriamente apresentar uma posição sintática para o sujeito gramatical, podendo este ser ou não foneticamente realizado, de acordo com a propriedade paramétrica de cada língua. Ou seja, todas as línguas possuem uma posição estrutural para o sujeito, mas permitir que este sujeito esteja ou não realizado foneticamente constitui-se como uma particularidade de acordo com a parametrização de cada língua. Se uma língua caracteriza-se por apresentar o sujeito pronominal referencial realizado foneticamente de maneira obrigatória em uma sentença finita, tem-se uma língua de sujeito preenchido, mas se outra língua apresenta sentenças com o sujeito não realizado foneticamente como configuração básica em sentenças finitas, tem-se uma língua de sujeito nulo. O inglês e o francês são exemplos de línguas que preferencialmente preenchem o sujeito foneticamente, já o espanhol e o PE são exemplos de línguas de sujeito nulo prototípicas.

As línguas românicas de sujeito nulo, como é o caso, por exemplo, do espanhol e do PE, são caracterizadas assim por apresentar uma marcação paramétrica positiva em relação ao parâmetro [+ pro drop], ou seja, estas línguas licenciam o apagamento do sujeito admitindo uma categoria vazia na sua posição, preenchendo foneticamente tal categoria basicamente em situações de focalização ou de contraste. Já as línguas que preenchem majoritariamente sujeito, como o inglês1, por exemplo, apresentam uma marcação paramétrica negativa [- pro drop], sendo conhecidas por línguas de sujeito pleno. Raposo (1992 apud SOARES DA SILVA, 2006) estabelece o Princípio do Subconjunto, segundo o qual o valor positivo de um parâmetro possui um subconjunto com valor negativo, sendo assim, uma língua marcada positivamente em relação ao parâmetro do sujeito nulo como [+pro drop] admite sentenças com sujeito nulo (língua maior) – uma categoria vazia pro sem realização fonética – e sentenças com sujeito pleno – preenchido foneticamente - em situações de contraste e focalização, por exemplo. Por sua vez, as línguas marcadas negativamente em relação ao parâmetro do sujeito nulo, marcado como [-pro drop], possuem tipicamente sentenças com sujeito pleno (língua menor), conferindo o status de agramaticalidade na maioria das sentenças cuja posição de sujeito seja preenchida por uma categoria vazia. Observe a Figura 2 abaixo adaptada de Soares da Silva (2006).

1 O inglês é considerado uma língua [- pro drop] por optar tipicamente pelo preenchimento do sujeito

pronominal, embora existam situações mais restritas em que é possível verificar a ocorrência do sujeito nulo, como, por exemplo, em notas, telegramas e diários.

(22)

Então, um indivíduo que recebe um input de uma determinada língua cuja marcação seja negativa em relação ao parâmetro do sujeito nulo, a exemplo do inglês, terá majoritariamente acesso a sentenças com sujeito pleno - o que o fará fixar este parâmetro negativamente na aquisição de sua língua-I. Por outro lado, um indivíduo que recebe um input de uma determinada língua com marcação positiva em relação ao mesmo parâmetro, a exemplo do espanhol, terá acesso a sentenças preferencialmente de sujeito nulo e a sentenças com sujeito pleno em contextos específicos e este fato o fará fixar positivamente este parâmetro na aquisição de sua língua-I, permitindo o acesso a estas duas marcações, cada qual em seu ambiente de ocorrência.

1.1.3 O Princípio EPP

O princípio EPP pertence ao quadro de princípios e parâmetros de Chomsky (1981) e é fortemente relacionado ao caso nominativo por sua exigência estrutural de que alguns núcleos apresentem seu respectivo especificador obrigatoriamente preenchido, ou seja, tal princípio é responsável pela projeção da posição sintática para o sujeito nas línguas naturais. O EPP exige que algum constituinte nominal seja movido para o especificador (spec) de ST2 porque é nesta posição que a identificação do caso nominativo da sentença torna-se possível, conferindo a esta um sujeito. Observe o exemplo (7), no qual [João] recebe o caso nominativo e, por este motivo, é reconhecido como o sujeito da sentença.

(7) João comprou um carro.

2 Tempo (T) é uma categoria funcional, acionada no decorrer da derivação sintática, que marca propriedades de

verbo (V) e com isso definem se a sentença é [+ finita] ou [- finita]. Assim, ST corresponde ao sintagma temporal.

(23)

Agora observe a Figura 3 abaixo, adaptada de Kenedy (2013), cuja representação ilustra o movimento de [João] para o spec de ST.

Como é possível observar em 3 acima, o argumento externo [João] foi movido para a posição funcional de especificador de ST, sendo então licenciado com o caso nominativo e, assim, identificado como o sujeito gramatical da sentença: João comprou um relógio.

O caso (como nominativo, acusativo, ergativo, locativo, entre outros), segundo Chomsky (1981), é a propriedade responsável pela identificação dos argumentos - externo ou interno - selecionados por um predicador. Algumas línguas identificam o caso por meio da morfologia – línguas de Caso -, outras o fazem pela chamada ordenação linear, isto é, através da ordem dos constituintes em uma sentença e estas são as línguas de Caso abstrato -, como o PB, por exemplo, que é considerado uma língua cuja ordenação linear básica é SVO, ainda que existam as ordens OSV ou OV relacionadas ao tópico3 (cf. PEZATTI e CAMACHO, 1997, dentre outros). O caso nominativo “identifica o sujeito da sentença, que tipicamente será o argumento externo do predicador de uma dada frase” (KENEDY, 2013: p. 241). Ao serem movidos para a posição funcional de ST – especificador de T -, como exemplificado na figura 3, os argumentos externos de um predicador são licenciados com o caso nominativo

3

As mudanças por que passou o PB fazem-no ter uma postura diferenciada em relação ao tópico, de modo que, quando este aparece numa sentença, geralmente leva à concordância com o verbo, assumindo o status de “sujeito” da sentença. Para maiores informações sobre tópico ver PONTES (1987), NEGRÃO (1990), VASCO (1999, 2006), ORSINI (2003) e PINHEIRO-CORREA (2010).

Figura 3: Movimento de um SN para o especificador de ST, licenciando-o clicenciando-om licenciando-o caslicenciando-o nlicenciando-ominativlicenciando-o.

(24)

fato que acontece, inclusive, com aqueles predicadores conhecidos por selecionar apenas argumento interno, como os verbos inacusativos. Seus argumentos também são movidos para a posição ST a fim de que seja satisfeito o EPP, como no exemplo (8) e (9) abaixo:

(8) [argumento interno Maria] cresceu.

(9) [caso nominativo Ela] cresceu.

Assim, os sintagmas nominais Maria e Ela são deslocados da posição de argumento interno para a posição de argumento externo a fim de que seja atribuído a eles o caso nominativo.

Na derivação dessas estruturas intransitivas, os NPs se deslocam da posição de argumento interno para a posição de argumento externo, uma vez que, na posição em que os NPs são originalmente gerados, não é possível que recebam caso. Assim, os NPs, que já receberam papel de tema ou paciente do verbo, em sua posição de origem, devem se mover para a posição de especificador de IP para receber caso nominativo, deixando um vestígio nas suas posições de base, segundo proposto por Keyser & Roeper, 1984; Roberts, 1987; Di Sciullo, 2005, entre outros. (SANTOS, 2012 p. 14)

Mas, além dos predicadores que selecionam argumento externo e dos que selecionam argumento interno, existem os verbos que não selecionam argumento como, por exemplo, os meteorológicos. Para estes o EPP também exige o preenchimento da posição de especificador de ST, conferindo ao item puramente funcional o caso nominativo e, consequentemente, o

status de sujeito (expletivo) ou, ainda, esta posição será preenchida por um expletivo nulo

representado por uma categoria vazia. Veja-se um exemplo do expletivo it do inglês e do expletivo nulo do português, respectivamente, em (10) e (11) abaixo.

(10) [expletivo It] rains.

(11) [expletivo nulo__] Chove.

Neste sentido, o princípio EPP estabelece que todas as línguas naturais tenham obrigatoriamente um sujeito.

Essa obrigatoriedade de identificação do sujeito de uma sentença, com o nominativo, é representada na linguística gerativa pelo chamado traço EPP. Tal traço é de fato uma imposição formal do sintagma temporal/flexional: todo ST deve licenciar um sujeito, em seu especificador, com o caso nominativo. (KENEDY, 2013: p. 244)

(25)

Em outras palavras, o EPP exige que o especificador de ST tenha um item movido para essa posição a fim de receber o caso nominativo e o status de sujeito da sentença e, como visto ao longo desta seção, este sujeito pode ser lexical, expletivo ou uma categoria vazia a que chamaremos de pro.

1.1.4 O (Parâmetro do) Sujeito Nulo

O parâmetro do sujeito nulo foi inicialmente apresentado a partir de comparações entre as línguas românicas de sujeito nulo – línguas pro drop prototípicas – e o inglês – língua de sujeito pleno – e o licenciamento do sujeito nulo estaria relacionado a uma flexão verbal rica. Os diversos estudos acerca do parâmetro do sujeito nulo preocupam-se em encontrar as suas propriedades em diversas línguas a fim de classificá-las como línguas que licenciam o apagamento do sujeito, tendo uma marcação positiva relacionada a este parâmetro [+ pro

drop], ou línguas nas quais o sujeito aparece foneticamente realizado, tendo, portanto uma

marcação negativa relacionada a este parâmetro, [- pro drop]. Há, ainda, a preocupação em observar as possíveis transformações nestas propriedades para justificar uma existente mudança na parametrização de determinada língua.

Chomsky (1981) apresenta uma lista das propriedades que licenciam o apagamento do sujeito, ou seja, tais propriedades caracterizam uma língua [+ pro drop] e a ausência delas caracteriza uma língua [- pro drop] (cf. SOARES DA SILVA, 2006). A lista de propriedades exemplificadas em (12), (13), (14), (15) e (16) abaixo foram retiradas de Chomsky (1981) e contêm sentenças gramaticais em italiano (língua de sujeito nulo), as respectivas traduções4 para o PB aparecem em (12a), (13a), (14a), (15a) e (16a):

* Sujeito pronominal nulo: (12) ____ Ho trovato il libro. (12a) ____ Achei o livro.

* Inversão livre de sujeito: (13) L’ha mangiato Giovanni.

(13a) comeu o Giovanni. (O Giovanni comeu.)

* Movimento longo de qu- sujeito:

(14) L’uomoi [chei mi domando [chi ____i abbia visto]]

4

(26)

(14a) O homem [que me pergunto [quem ele viu]]

* Pronomes resumptivos nulos em orações encaixadas:

(15) Eco la ragazzai [chei mi domando [chi crede [che ____i possa SV]]]

(15a) Essa é a garota [que eu me pergunto [quem pensa [que pode SV]]]

* Aparentes violações do filtro *[that-trace]: (16) Chii credi [che ____i partirà]

(16a) Quem você acha [que vai sair]

Observando os exemplos em italiano acima é possível verificar as propriedades típicas das línguas pro drop prototípicas que não estão presentes em línguas de sujeito preenchido, como o inglês e o francês, por exemplo. Contudo, o PB também tem apresentado comportamento distinto com relação a estas propriedades (DUARTE, 1995, 2003) fato que será tratado na seção que se segue.

Em línguas pro drop prototípicas, segundo Chomsky (1981) há uma correlação entre o paradigma flexional rico e as propriedades exemplificadas acima e o sujeito só aparecerá expresso foneticamente em casos de contraste, para desfazer ambiguidades ou, ainda, em casos de ênfase porque o sujeito nulo é uma forma default5, ou seja, uma forma não marcada. Assim, para Chomsky (1986) uma categoria pro, sem realização fonética pode representar o sujeito e tal categoria vazia6 aparece em oposição aos sujeitos lexicais, com referência específica ou expletivos.

Esta categoria vazia, sem realização fonética, que apresenta uma matriz gramatical atribuída a partir de traços relativos a número, gênero, pessoa e caso, pode ser interpretada como um pronome referencial, o qual pode apresentar valores definidos, ou referência arbitrária, ou pronome expletivo, quando não possui nenhum tipo de significação ou referência. (VIEGAS, 2014, p.36)

Podemos observar o que isto significa através dos exemplos (17), (18) e (19) abaixo:

5 Para Xavier (1999 apud VIEGAS, 2014) existem diferentes tipos de línguas pro-drop: o italiano é considerado

um exemplo do pro-drop prototípico; o chinês, pro-drop unipessoal e o PB pro-drop misto. Em línguas pro-drop prototípicas, a concordância é responsável por identificar o sujeito nulo; em línguas pro-drop unipessoais o sujeito nulo é o default e, em línguas semi- pro-drop, como o PB os sujeitos nulos são os nulos não-argumentais ou expletivos e o nulo referencial de 3ª pessoa.

(27)

*pronome referencial de valor definido (17) pro Fomos ao cinema.

*pronome de referência arbitrária (18) pro Roubaram o carro do vizinho.

*pronome expletivo sem significação ou referência (19) pro Parece que meu vizinho está mal.

Línguas de sujeito pleno, como o inglês, preenchem obrigatoriamente os sujeitos referenciais (lexicais), ao contrário das línguas de sujeito nulo, que utilizam a categoria vazia

pro com valores gramaticais ocupando a posição de sujeito. Neste sentido, como será possível

verificar mais adiante, há uma correlação entre o paradigma flexional dos verbos com o parâmetro do sujeito nulo, isto significa que línguas de sujeito nulo teriam uma morfologia flexional rica e, por isso, licenciariam a categoria vazia pro, porque permitem a recuperação da informação pela desinência e as línguas de sujeito pleno justificariam o preenchimento da categoria de sujeito pelo fato de possuírem uma morfologia flexional pobre (cf. DUARTE, 1995).

Contudo, é importante ressaltar que existem línguas como o chinês, por exemplo, que permitem a omissão do sujeito apesar de apresentar uma flexão verbal pobre, sem qualquer marca flexional no paradigma verbal. De acordo com Huang (1984), esta é uma língua orientada para o discurso e, por este motivo, o sujeito tem natureza discursiva, ou seja, é deduzido através do contexto. O mesmo parece ocorrer com a LIBRAS, que embora seja, segundo Dias (2014), uma língua com alta frequência de sujeitos nulos, orientada para a sentença, o sujeito também tem natureza discursiva e pode ser deduzido através do contexto. No entanto, Rizzi (1986) apresenta a existência de um paradigma flexional rico como condição imprescindível para a ocorrência do sujeito pronominal nulo, visto que um módulo formal licenciaria este sujeito, enquanto um módulo semântico se encarregaria de recuperar a informação através do contexto. Assim, só seria permitida a ocorrência de um sujeito pronominal nulo em línguas que possuem a capacidade de licenciá-lo.

Jaeggli e Safir (1989) sugerem, por outro lado, que um paradigma flexional rico não seria exatamente responsável por licenciar o sujeito nulo, mas a condição necessária para o licenciamento seria a existência de paradigmas morfologicamente uniformes, isto é, quando o paradigma verbal apresenta todas as formas flexionadas, o sujeito é identificado através da

(28)

concordância e pode não aparecer foneticamente realizado, mas quando o paradigma flexional não apresenta todas as formas flexionadas, o sujeito seria identificado através do contexto pelo tópico discursivo. E, ainda, para os autores, línguas de paradigma verbal misto, que apresentam formas morfologicamente complexas e simples, não licenciam o sujeito.

Duarte (1995) baseia-se nas pesquisas de Roberts (1993) para justificar a mudança pela qual passa o PB semelhante ao que aconteceu no francês antigo que possuía um paradigma funcionalmente rico compatível com uma desinência zero e isto possibilitou a convivência com o sujeito nulo até que mudasse definitivamente a sua marcação para [- pro

drop]. Para Roberts (1993) um paradigma verbal rico admite uma desinência zero e um

sincretismo (formas iguais que se referem a diferentes pessoas) mantendo uma riqueza funcional que permite o licenciamento e a identificação de sujeitos.

Para Duarte (1993, 1995), o PB, anteriormente considerado como uma língua de sujeito nulo sofreu algumas mudanças morfossintáticas, tais como a perda da inversão livre, que permite manter o sujeito em posição pós-verbal (Chomsky, 1981), e a perda do princípio “Evite Pronome”, que permite não realizar o sujeito foneticamente sempre que a sua plena identificação seja possível, isto é, a prioridade sempre incide na utilização do pronome nulo, mas em situações de focalização ou contraste é feita a utilização do pronome pleno. Com isso, o PB tem apresentado a preferência pelo sujeito preenchido em todas as pessoas gramaticais, inclusive na primeira, cuja flexão verbal permitiria facilmente a identificação do sujeito, e esse fato teria levado o PB a perder o status de uma língua pro drop prototípica, como é o PE, e a caminhar na direção das línguas de sujeito pleno. A redução do paradigma flexional dos verbos a partir da perda de “tu” e “vós” e da substituição de “nós” por “a gente”, permitindo a utilização da mesma forma verbal de terceira pessoa “ele” para a primeira pessoa “a gente”, como exemplificado na Tabela 1 abaixo, resultou em mudanças relacionadas à identificação e ao licenciamento do sujeito nulo de referência definida ocasionando a perda gradativa do Princípio “Evite Pronome”.

(29)

Pess./N.º Pronome Séc. XVI Contemporâneo Contemporâneo (jovens)

Variedade Popular

1ª sing. Eu canto canto canto canto

2ª sing. Tu Você cantas canta - canta - canta - canta

3ª sing. Ele/Ela canta canta canta canta

1ª plur. Nós A gente cantamos canta cantamos canta cantamos canta - canta 2ª plur. Vós Vocês cantais cantam - cantam - cantam - canta 3ª plur. Eles/Elas cantam cantam cantam canta

Tabela 1: Quadro flexional e pronominal em PB adaptado de Duarte (1995)

O PB teria reduzido, de acordo com Duarte (1995), o seu quadro flexional de seis para quatro formas – presente na fala de pessoas cuja faixa etária é mais elevada – ou para três formas na fala de pessoas mais jovens e, ainda, “nas variedades em que se associa a desinência <Ø> também a segunda e a terceira pessoas do plural, apenas duas” (cf. DUARTE, 1995, p.33) fato que induziria ao preenchimento da categoria pro.

Nesta subseção, vimos algumas características importantes relacionadas ao Parâmetro

pro drop para compreender o que seria uma língua de sujeito nulo e uma língua de sujeito

pleno, neste sentido o termo (LSN) será doravante utilizado para designar as línguas de sujeito nulo que são marcadas positivamente [+ pro drop] com relação ao Parâmetro do Sujeito Nulo (PSN), pro drop.

1.2.1 Sujeito nulo no PB

A observação dos exemplos em italiano retirados de Chomsky - seção anterior -, nos quais se apresentam as propriedades das línguas pro drop prototípicas, possibilitou a averiguação de que o PB tem apresentado comportamento distinto de tais línguas e verificam-se mudanças em relação a algumas destas propriedades. Obverificam-serve nos exemplos (20), (21), (22), (23) e (24) abaixo como se comporta o PB diante das propriedades ora citadas nos exemplos retirados de Chomsky.

(20) Eu achei o livro.

(21) O Giovanni comeu./ O Giovanni que comeu. (22) O homem que me pergunto quem ele viu.

(30)

(23) Essa é a garota que eu me pergunto quem pensa que ela pode...

(24) Quem você acha que ____ vai sair./ *Quemi você acredita que elei vai sair.

Segundo Duarte (1995), o PB estaria passando por uma mudança na marcação do PSN apresentando tipicamente a preferência por preencher o sujeito pronominal em todas as pessoas gramaticais, ainda que, na primeira pessoa, por exemplo, a flexão verbal possa permitir a retomada dos sujeitos referenciais com mais clareza do que as outras pessoas gramaticais, como exemplificado em (20). Além disso, o PB teria perdido a propriedade de “inversão livre” para verbos transitivos (BERLINCK, 1989 apud MARINS, 2009), preferindo a ordem linear SVO, já que rejeita o verbo em primeira posição com pronome nulo referencial ou expletivo nulo como ilustrado em (21) (DUARTE, 2003) e, ainda, de acordo com Duarte (1995), o PB apresenta preferência por pronomes resumptivos em orações encaixadas, como em (22) e (23), contudo, com relação ao filtro that-trace, o PB tem apresentado comportamento semelhante ao italiano não respeitando tal filtro, já que o pronome ele expresso correferente ao pronome quem torna a sentença agramatical como em (24).

Outro fator importante relacionado à mudança na marcação do PSN no PB consiste ainda na verificação do tempo verbal. Neste sentido, observou-se que em tempos verbais cujas desinências possuem maior distinção a ocorrência de sujeito nulo é maior, por outro lado, em tempos verbais com desinências menos distintas, maior é o índice de sujeito pleno. Assim, o pretérito perfeito nos termos de Duarte aparece como o tempo verbal que mais favorece a ocorrência de sujeito nulo, visto que 39% das orações neste tempo têm seu sujeito nulo, seguido do pretérito imperfeito com 27% e do presente com 26% (cf. DUARTE, 1995). Estes percentuais sugeririam que “as desinências do pretérito perfeito resistem mais ao degaste pelo qual passa o paradigma flexional”. (DUARTE, 1995, p.57).

As investigações feitas por Duarte (1993, 1995), que apontam para uma possível mudança paramétrica do PB foram feitas com textos de peças de teatro escritos em sete períodos diferentes entre o final do século XIX e o século XX. Há, segundo a autora, uma grande relação entre a preferência pelo sujeito pleno e a redução do paradigma flexional de seis para três formas verbais, como visto na tabela 1. Contudo, é importante ressaltar que, segundo Ferreira (2000), o PB não apresenta sujeito preenchido em todos os tipos de sentenças, visto que ainda admite sujeito nulo, representado por um proexpl em situações

específicas tais como sentenças com verbos meteorológicos, impessoais, existenciais e de alçamento, como mostram os exemplos abaixo (25- 28).

(31)

(26) proÉ verão no Brasil. (27) pro Tem um homem na sala.

(28) proParece que a universidade entrará em greve.

Assim, Ferreira (2000) sugere que o PB tem apresentado mudanças que impossibilitam a ocorrência de uma categoria vazia na posição de sujeito de orações finitas, fato que o afasta de LSN prototípicas, como o espanhol, mas, além disso, o PB mantém características que o distanciam de línguas prototípicas de sujeito preenchido, como o inglês e o francês, visto que “admite sujeitos nulos expletivos e indefinidos, mas não sujeitos nulos referenciais” 7. Isto, segundo Duarte (2003a apud VIEGAS 2014), parece indicar que itens não referenciais resistiriam mais ao preenchimento do sujeito, ao contrário dos itens referenciais. Tais características, então, permitem dizer que o PB estaria num processo de mudança linguística relacionada ao PSN e, por isso, não tem se comportado como uma LSN prototípica sendo considerado por alguns autores (Duarte, 1995 e Kato, 1999) como uma língua pro drop parcial.

1.2.2 Sujeitos referenciais

Existe no PB de acordo com Duarte (1995) a preferência pelo preenchimento do sujeito em todas as pessoas gramaticais, contudo, nota-se que o índice de preenchimento do sujeito se dá em maior número na primeira e na segunda pessoa, já a terceira pessoa se mostra mais resistente à mudança do PB, isto é, tal resistência parece estar relacionada ao traço [+/- animado] do referente. Segundo Cyrino, Duarte e Kato (2000) há uma hierarquia de referencialidade determinando que itens mais referenciais – a primeira e a segunda pessoa – cujos traços são [+ humano] [+ específico] e [+ referencial] ocupam a posição mais alta da hierarquia sendo mais suscetíveis à mudança, enquanto a terceira pessoa que apresenta os traços [+/– humano], [+/– específico] seria mais resistente à mudança. Na Figura 4 abaixo podemos ver a hierarquia da referencialidade proposta por Cyrino, Duarte e Kato (2000: p. 57).

7

Como é possível verificar com os exemplos abaixo retirados de Ferreira (2000: p. 15) (1) a. Está chovendo.

b. Mataram o prefeito. c. Não usa mais saia no Brasil. d. * Comprou um carro novo.

(32)

Figura 4: Hierarquia da Referencialidade de Cyrino, Duarte e Kato.(2000)

Assim, de acordo com Duarte (2003), “o traço [+ humano] se mostra como favorecedor do preenchimento do sujeito, confirmando a atuação da hierarquia referencial proposta em Cyrino, Duarte & Kato (2000)”. Neste sentido, uma vez que se verifica a hierarquia de referencialidade dando conta de processos de mudança relacionados à pronominalização, é possível perceber que os sujeitos não referenciais cuja posição é a mais baixa como visto na figura acima, apresentam enorme resistência ao preenchimento do sujeito por um pronome expletivo lexical no PB. Sujeitos não referenciais permanecem nulos em PB representados por um proexpl. (FERREIRA, 2000) em sentenças com verbos meteorológicos,

impessoais, existenciais, de alçamento e apresentativas (VIEGAS, 2014), como em (25 - 28) na seção anterior e (29) abaixo.

(29) pro Apareceu uma barata no armário.

Vale ressaltar que tanto o proexpl do PB quanto o “It” expletivo do inglês, por exemplo,

existem apenas por motivos estruturais a fim de que seja satisfeito o EPP. E este fato reforça ainda mais o que dizem Duarte (1995) e Kato (1999) sobre o PB apresentar um status de língua pro drop parcial, diferente de línguas de sujeito preenchido como o inglês e, ainda diferente de línguas pro drop prototípicas como o espanhol, visto que, como observado na seção anterior, o PB perdeu algumas propriedades responsáveis por caracterizar uma língua prototipicamente pro drop e mantém apenas os sujeitos nulos não referenciais como característica semelhante a estas línguas. Veja em (30), (31) e (32) exemplos de expletivos nulos do PB e do espanhol e pleno do inglês.

(30) pro Chove muito no Rio. (31) pro Llueve mucho en Río. (32) It rains a lot in Rio.

(33)

Contudo, para Duarte (2003) o PB parece buscar naturalmente outras formas de preenchimento do sujeito não referencial ou expletivo

[...] seria natural esperar que os sujeitos não referenciais ou expletivos começassem também a se realizar foneticamente, apresentando nosso sistema um conjunto de estruturas em que tal posição, antes categoricamente vazia, passaria a se mostrar preenchida. Entre as estratégias apresentadas em Duarte (1997, 1999, 2000) como possíveis recursos para evitar a posição de expletivo nulo, foi apontada a significativa ocorrência do pronome você com os verbos ter e ver em construções variantes daquelas que exibem os verbos ter e haver existenciais. (Duarte, 2003, p.2)

como exemplificado em (33)8,

(33) a. _____ Há/Tem muito concreto na tua frente b. Você vê muito concreto na tua frente.

Assim, as sentenças com a posição de sujeito nula, como em (a), passariam a ter o sujeito pleno como em (b). Neste sentido, o PB caminha rumo às línguas de sujeito pleno e em algum momento pode deixar de ser uma LSN parcial para ser uma língua com todas as características das línguas de sujeito pleno.

1.2.3 Sujeitos referenciais de 3ª pessoa

Pesquisadores como Duarte (1995) e Ferreira (2000) afirmam que o PB teve uma enorme redução com relação às possibilidades de utilização do sujeito nulo, visto que sujeitos pronominais de referência definida e indeterminada têm sido caracterizados por preferir o sujeito pleno. Assim, restaria a possibilidade de sujeitos nulos a uma pequena parte, tais como os sujeitos não referenciais ou expletivos. No entanto, Duarte (1995) aponta o fato de os sujeitos referenciais de terceira pessoa serem mais resistentes ao processo de mudança em curso no PB rumo ao sujeito pronominal pleno e, segundo Ferreira (2000) e Rabelo (2010), o sujeito nulo referencial de terceira pessoa só é possível quando há um antecedente numa sentença matriz, como em (34).

(34) Meu paii disse que ___i viu meu carro na rua.

Entretanto, para Ferreira (2000), o sujeito nulo referencial no PB não corresponde a um pronome nulo, tampouco a uma categoria vazia, e sim a vestígios causados pelo alçamento para uma sentença mais alta, visto que sentenças como (35) precisam ser

(34)

encaixadas em outra oração que contenha um elemento para servir de antecedente ao sujeito como em (36), caso contrário, são agramaticais.

(35) *comprou uma casa.

(36) O Luizi disse [que ____i comprou uma casa].

Ferreira (2000) defende, então, que estes vestígios são cópias apagadas fonologicamente como resultado do um alçamento de um DP sujeito de uma oração finita para o spec de T de uma oração mais alta.

[...] as instâncias de sujeito nulo referencial encontradas em PB não correspondem a um pronome nulo, nem a uma categoria vazia vinculada a um operador nulo, mas sim a um vestígio, resultado de uma operação de alçamento a partir da posição de especificador de T finito para uma oração mais alta (hiperalçamento, na terminologia de Ura (1994)). (FERREIRA, 2000, p.16)

Assim, é possível verificar como aconteceria a derivação até que se tenha como resultado o exemplificado em (36). Veja abaixo em (37)

(37) a. [vP Luiz comprou uma casa].

b. [TP Luiz T [vP Luiz comprou uma casa.]]

c. [vP disse [CP que [TP Luiz T [vP Luiz comprou uma casa.]]]]

d. [vP Luiz disse [CP que [TP Luiz T [vP Luiz comprou uma casa. ]]]]

e. [TP Luiz T [vP Luiz disse [CP que [TP Luiz T [vP Luiz comprou uma casa.]]]]]

Neste sentido, é possível compreender que a redução no paradigma flexional dos verbos tenha influenciado a diminuição de sujeitos nulos no PB, tal como postula Duarte (1995), uma vez que estes só aparecem em orações encaixadas como em (36) e não aparecem em orações matrizes como em (35). Para Ferreira (2000, p. 20), o sujeito nulo de terceira pessoa no PB deve estar localizado em uma oração encaixada como uma condição necessária para a sua legitimação, mas, além disso, o sujeito nulo referencial no PB deve estar c-comandado9 por um antecedente na oração imediatamente mais alta, como em (38).

(38) Mariai acha [que ___i é linda].

9

O termo c-comando representa o vínculo sintático entre dois constituintes, no qual um constituinte x c-comanda um constituinte y de acordo com um ponto de referência, ou seja, um nódulo sintático qualquer, isto é, o primeiro elemento que domina um item também é o primeiro elemento que domina outro. No caso do exemplo (38) o elemento Maria c-comanda a categoria vazia, ou seja, o sujeito nulo é c-comandado por seu antecedente na oração imediatamente mais alta. (cf. REINHART, 1976)

(35)

1.3 Sujeito nulo no espanhol

O espanhol caracteriza-se por ser uma língua de sujeito nulo, isto é, uma língua pro

drop prototípica por apresentar a marcação positiva típica destas línguas, visto que manifesta

a obrigatoriedade em deixar a posição de sujeito nula em orações finitas não marcadas, sobretudo com relação à categoria pronominal. Aponta-se que tal característica seja resultado da existência de uma riqueza flexional nesta língua, como apresenta Fernández Soriano (1999 apud SOARES DA SILVA, 2006, p. 42):

El español permite omitir los pronombres de sujeto, esto es, junto a una oración como Ella ha venido existe la posibilidad de la paralela sin pronombre, Ha venido (...) Así, nuestra lengua difiere de otras, como el inglés, que sólo permiten, con verbos conjugados, construcciones en que el sujeto aparece expresado (He saw her). Esta posibilidad, que se da también en italiano y en otras lenguas no emparentadas, se ha puesto en relación con la riqueza que presenta el paradigma verbal, es decir, con el hecho de que la desinencia flexiva del verbo permita, por sí sola, distinguir entre las distintas personas gramaticales. (FERNANDEZ SORIANO, 1999, p.1224)

Ao contrário do PB, o espanhol possui, nos termos de Duarte (1995), um paradigma flexional rico que permitiria a categoria vazia recuperar os traços gramaticais de licenciamento e identificação, isto, segundo Soares da Silva (2006), permite a possibilidade de apagamento do pronome em todas as seis pessoas gramaticais. Assim, de acordo com Rizzi (1986 apud VIEGAS, 2014, p.37), “o módulo formal licenciador visa especificar as condições de ocorrência da categoria vazia e o módulo semântico licenciador especifica como o conteúdo da categoria vazia será recuperado pelo contexto linguístico”.

Neste sentido, a flexão do verbo tem traços pronominais que permitem o preenchimento de sujeitos referenciais ou expletivos por uma categoria vazia, sem realização fonética, que pode recuperar os traços gramaticais de gênero, número, pessoa e caso. Veja a Tabela 2 abaixo com o quadro pronominal e flexional do espanhol peninsular.

(36)

Pess./N.º Pronome

1ª pess. sing. Yo canto

2ª pess. sing. Tú cantas

3ª pess. sing. Él/ Ella/ Ello Usted

canta canta 1ª pess. plural Nosotros/ Nosotras cantamos 2ª pess. plural Vosotros/ Vosotras cantáis 3ª pess. plural Ellos/ Ellas

Ustedes

cantan cantan

Tabela 2: Quadro pronominal e flexional do espanhol adaptado de Soares da Silva (2006)

Para Duarte (1995) o espanhol, como LSN prototípica, apresenta a obrigatoriedade em deixar a categoria de sujeito referencial vazia, ocorrendo a realização fonética do sujeito pronominal apenas em situação marcada, para desfazer ambiguidades, marcar ênfase ou em situações de contraste. Isto se deve ao fato de o espanhol possuir um paradigma pronominal nominativo com traços de número e pessoa e, ainda, marca de gênero, como é possível observar na tabela 5. Segundo Fernández Soriano (1999 apud SOARES DA SILVA, 2006), os pronomes de primeira e segunda pessoa do plural em espanhol também se flexionam em gênero, devido à união do adjetivo otro(a) às formas primitivas nos e vos (nosotros, vosotros), que se deu no final do século XV. Para Rizzi (1989) e Jaeggli & Safir (1989 apud SOARES DA SILVA, 2006), o espanhol encaixa-se no grupo de LSN, visto que, possui a categoria

Agr10 caracterizada como [+ pronominal] porque não projeta o especificador de ST, já línguas de sujeito pleno, como o inglês são [- pronominal] porque projetam o especificador de ST representado por um pronome fraco e quando o sujeito é expresso por um pronome numa LSN, este pronome é forte. Assim, o sujeito pronominal pleno numa língua de marcação positiva em relação ao PSN tem a característica de ser forte e ocupar a mesma posição alta que ocupa nas línguas de sujeito pleno e nestas línguas marcadas negativamente em relação ao PSN, o pronome fraco aparece à esquerda e pode ser duplicado por um pronome forte (KATO, 1999 apud SOARES DA SILVA, 2006).

De acordo com Raposo (1992) “o sistema gramatical formal das línguas naturais especifica de modo discreto a sua categoria Agr como ‘forte’ ou ‘fraca’. Em línguas de Agr forte, como é o caso do espanhol peninsular, pro é licenciado e em línguas de Agr fraco, como o inglês, pro não é licenciado”. Neste sentido, é possível perceber que o traço EPP é satisfeito

(37)

em espanhol através do preenchimento da categoria de sujeitos, tanto referenciais como expletivos, por pro.

1.3.1 Sujeito pronominal no espanhol

O espanhol peninsular permite que o sujeito não realizado foneticamente ocorra em todas as pessoas gramaticais e, segundo Fernández Soriano (1999 apud SOARES DA SILVA, 2006) em todos os tempos verbais, exceto nas formas impessoais, isto é, as que não selecionam argumento, como exemplificado em (39) abaixo.

(39) Hace calor hoy. (Faz calor hoje.)

Tal fato vem sendo atribuído ao paradigma de flexão verbal rico nesta língua já que sujeitos referenciais e expletivos são nulos. Veja em (40) e (41), respectivamente.

(40) ____ comimos mucho./ ____ llaman al teléfono.

(Comemos muito.)/ (Chamam ao telefone./Alguém está ligando.) (41) ____ Es necesario comer más./ ____ Llueve.

(É necessário comer mais.)/ (Chove.)

Dentre as possibilidades de ocorrência de sujeito foneticamente realizado em espanhol, é importante destacar que este somente se refere a pessoas, ou seja, não existe a possibilidade de um sujeito pleno retomar um referente inanimado, porque neste caso existe a obrigatoriedade de manter o sujeito nulo, como no exemplo (42) abaixo.

(42) He visto el móvil de María. _____ Tiene una interfaz sencilla.

Ao contrário do que se observa em PB. Veja o exemplo acima utilizado em (43) abaixo no PB.

(43) Vi o celular de Maria. Ele tem uma interface simples.

Desta maneira, é possível observar que o espanhol peninsular é uma língua pro drop prototípica, que preenche obrigatoriamente os sujeitos referenciais apenas em situações de foco contrastivo, quando o pronome se associa a um elemento adjetival ou apositivo, como ora exemplificado, respectivamente em (44), (45) e (46) abaixo (Rizzi, 1998).

(44) ¿Quién fue? (Quem foi?) Fuimos nosotros. (Fomos nós.)

(38)

(45) Ella, que está hambrienta, puede comer ahora. (Ela, que está faminta, pode comer agora).

(46) Él mismo lo resolvió. (Ele mesmo resolveu.)

Contudo, de acordo com Luján (1999 apud SANTOS, 2012), sempre que houver uma sentença com sujeito pleno em espanhol, este será distintivo ou contrastivo e denotará ênfase. Em (47) é possível observar um exemplo de (foco) contrastivo.

(47) Él trabaja demasiado. (No otro) (Ele trabalha muito. (Não outra pessoa))

Para a autora, quando o sujeito pleno aparece anteposto ao verbo possui função distintiva, mas se aparecerem após verbo expressa contraste, como nos exemplos (48) e (49), respectivamente.

(48) Ella no puede comer pan. (Pero yo puedo comerlo). (Ela não pode comer pão. (Mas eu posso))

(49) Ha visto la película usted11. [No ella, no María] (O senhor viu o filme. (Não ela, não Maria))

O espanhol peninsular preserva todas as características de uma língua pro drop prototípica, semelhante ao PE, ao contrário do PB que vem sendo considerado uma LSN parcial. Dias (2008) utiliza um corpus de língua escrita para comparar quatro línguas, espanhol (de Buenos Aires), italiano, PE e PB, a fim de verificar as taxas de sujeito nulo nestas línguas e o PB se distancia das demais com um número bem menor de ocorrência do sujeito nulo, enquanto o espanhol se aproxima do italiano e do PE na utilização do sujeito pronominal nulo.12

11

O pronome de cortesia de segunda pessoa, usted apresenta propriedades diferentes dos outros pronomes pessoais. Ele não é associado a uma marca flexional distintiva, uma vez que se combina com a desinência verbal Ø. Isso, entretanto, não impede que o pronome seja omitido: seu preenchimento só ocorre quando há necessidade de o falante reforçar a sua atitude de respeito ou para desfazer uma interpretação ambígua, já que não há desinência distintiva (FERNÁNDEZ SORIANO, 1999, 1235).

Referências

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