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Capítulo IV – Estágio Pedagógico em Contexto de 1.º Ciclo do Ensino Básico

4.1.1. Caracterização do meio

4.2.2.4. Expressões artísticas: aprender com o corpo

Desde a Grécia antiga que se reconhece que as expressões artísticas assumem um papel fundamental na educação, pois permitem que a criança participe em experiências educativas que englobam as diversas dimensões do ser humano (afetiva, biológica, social, motora e cognitiva), o que porventura lhes dá a oportunidade de desenvolverem as suas faculdades culturais e artísticas (Sousa, 2003).

Tanto o programa do 1.º CEB, como a LBSE, contemplam o desenvolvimento harmonioso das capacidades estéticas e criativas dos alunos, reconhecendo a importância das atividades que envolvem o movimento corporal, a experimentação, a improvisação e a composição, entre outras formas da criança se exprimir na tentativa de compreender o mundo que a rodeia.

Assim, durante a intervenção pedagógica procurou-se implementar estratégias que envolvessem diferentes formas de expressão e que permitissem à criança desenvolver a perceção sensorial e cognitiva, o pensamento criativo e o espírito crítico, de modo a encontrar outras formas de comunicar para além da linguagem oral e escrita. Neste sentido e rumo a uma formação equilibrada que contemplasse a interdisciplinaridade na articulação das diversas áreas do saber e na formação global do ser humano, procurou-se criar espaços e ocasiões para os alunos manifestarem a criatividade e o desenvolvimento de potencialidades, com base em princípios morais e de cidadania (ver figura 33).

Dramatização do texto “ Os Três Amiguinhos”

No âmbito das aprendizagens sobre os animais, houve uma das crianças que trouxe uma fábula sobre a amizade e o respeito pelo outro. Após a leitura e a interpretação do texto, explorou-se as ideias sobre os sentimentos e as emoções vivenciados na história. Através das considerações orais e dos desenhos dos alunos, foi possível identificar algumas dificuldades na distinção de sentimentos e de emoções, por isso e com o objetivo de os alunos se expressarem de forma mais livre, utilizando o seu corpo, realizou-se uma atividade fora da sala.

Nesta atividade, pediu-se que os alunos dançassem ao som de uma música e que quando a música parasse mimassem emoções. Os alunos mimaram as emoções identificadas no texto e outras que acharam pertinentes, de acordo com o que a música lhes despertava. A meu ver, esta foi uma atividade que permitiu aos alunos reconhecerem nos colegas as expressões de alegria, de tristeza, de vergonha, de culpa, entre outras.

Durante esta atividade, os alunos manifestaram-se muito motivadas e verificou-se uma interação genuína entre todos os elementos do grupo, o que, por vezes, era muito difícil de se verificar em outras atividades de grupo. No decorrer desta atividade surgiu a ideia de se dramatizar a história e os alunos manifestaram logo grande empenho em trabalhar o texto e em construir os cenários e os adereços (RS, 12 a 14 de maio de 2014).

Sousa (2003) refere que através da expressão dramática, a educação escolar pode e deve utilizar a atividade lúdica que é própria e natural na criança, para desenvolver as

suas capacidades cognitivas, afetivas e sociais, bem como desenvolver a sua personalidade e a sua identidade. Deste modo, após a leitura expressiva do texto em voz alta, em que cada aluno assumiu diferentes papéis, determinou-se, em grande grupo, qual a personagem que cada um iria representar. Apesar da confusão que esta atividade originou, prevaleceu um ambiente afetivo muito estimulante e interativo, o que levou as crianças a reconhecerem as qualidades dos outros, para além das vantagens da oralidade e promoveu-se o desenvolvimento de valores associados à cooperação e ao respeito pelo outro. Reconhecendo-se também que, embora nem todas as crianças sejam iguais, todas podem apreciar o seu sucesso artístico.

É relevante frisar que a interação com a comunidade educativa é muito importante, não só para o grupo que pretende apresentar o seu trabalho, como também para as pessoas que o pretendem ver. Neste caso, decidiu-se apresentar a dramatização aos dois grupos de EPE. Para tal, os alunos elaboraram um convite em que procuraram transmitir a mensagem evidenciada nos textos que tinham lido.

Esta atividade, particularmente a dramatização (ver figura 34), proporcionou momentos de aprendizagem e de interação com o meio, com o outro, com o espaço e com o próprio corpo. Revelou-se também uma estratégia motivadora para se desenvolver outros conteúdos e outras áreas do saber, nomeadamente as áreas de expressão plástica, motora e musical e permitiu ainda apelar ao desenvolvimento estético através da perceção, do pensamento e da imaginação.

Na verdade, é necessário salientar que estas não eram áreas muito exploradas pela professora cooperante como suporte das aprendizagens dos alunos, pois esta recorria frequentemente ao manual escolar e às fichas de trabalho, subdelegando as

expressões artísticas para as atividades de enriquecimento curricular. Todavia, após a realização desta atividade e de todo o sucesso a ela inerente, verificou-se que as expressões artísticas tiveram um forte impacto nestes alunos, deixando-os mais motivados, concentrados e, consequentemente, as expressões são uma boa forma de abordar os conteúdos de forma lúdica e, nas palavras de Feio (2011) “as expressões promovem a autonomia, a acção, o aprender em situação, a reflexão e a criatividade” (p. 83).

4.3. Intervenção com a comunidade educativa

A interação entre os vários agentes educativos deve efetivar-se no sentido de se unir esforços com vista ao sucesso académico dos alunos, mas também à construção de relações interpessoais que visem um ambiente educativo positivo e o desenvolvimento de competências sociais, emocionais e culturais (ME, 1997). De acordo com Estanqueiro (2010), as experiências partilhadas no diálogo e na cooperação beneficiam o trabalho do professor, desenvolvendo a sua competência profissional e a motivação de todos, sendo este também apontado como fator essencial para prevenir a indisciplina e o insucesso escolar.

Neste sentido, a criação de verdadeiras parcerias entre a escola e todos os membros da comunidade educativa, nomeadamente a família e a restante comunidade escolar, deve incentivar a participação ativa e relacional com as crianças e aproveitar os recursos e as experiências que podem ser partilhados, pois estes são uma mais-valia nas aprendizagens dos alunos.

Deste modo, como referi anteriormente, as atividades desenvolvidas procuraram, sempre que possível, envolver outros agentes educativos, dentro e fora da escola, e estabelecer relações sociais e académicas entre as crianças e entre as crianças e os adultos, contando com a colaboração de toda a comunidade educativa.