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Capítulo III – Intervenção Pedagógica em Contexto de Educação Pré-Escolar

3.1. Contextualização do ambiente educativo

3.2.3. Intervenção com a comunidade educativa

A abordagem ecológica do desenvolvimento humano permite verificar que a escola é um sistema social aberto que deve englobar vários atores sociais na educação das crianças, isto porque embora os principais contextos da sua vida possam ser a casa e a escola, toda a comunidade e o meio envolvente são responsáveis pela formação dos futuros cidadãos (Brofenbrenner (s/d), referido por Magalhães, 2007).

Nesta linha de pensamento, considera-se que todas estas interações são fundamentais para promover na criança uma aprendizagem e um desenvolvimento holístico, de modo a esta se integrar na sociedade como um ser livre, autónomo, criativo, responsável e solidário (ME, 1997). Assim sendo, o processo educativo da criança é da responsabilidade de vários agentes, mas cabe ao educador de infância promover estas interações (família, comunidade educativa e meio envolvente).

Desta forma e acreditando que a cidadania se aprende em cidadania (Alves, 2001), ao longo de toda a prática procurou-se envolver a comunidade educativa para garantir uma educação com maior qualidade e promover o desenvolvimento harmonioso das crianças da sala da Pré B. Para tal, optou-se por comunicar diariamente com os Encarregados de Educação e convidá-los a intervirem nas atividades desenvolvidas na

sala e, ao mesmo tempo, procurou-se envolver dentro da própria escola outras crianças e adultos no processo educativo do grupo e ainda, promover saídas de campo para as crianças conhecerem outros espaços pedagógicos.

Seguidamente e de forma reflexiva e fundamentada, apresenta-se as atividades que foram desenvolvidas de modo a estreitar os laços entre as crianças e a restante comunidade escolar.

Neste sentido, como nos incita Barbosa (1988), citado por Villas-Boas (2001, p. 82), a “família e a educação são dois termos indissociáveis” sendo necessário incentivar uma boa relação entre a instituição e a família, pois esta participação no contexto escolar e as interações que delas provêm promovem a qualidade da educação e permitem compreender melhor as crianças para adequar a prática pedagógica.

Assim sendo, através da ligação que se conseguiu efetuar com a maioria das famílias e com recurso à observação e à reflexão efetuadas diariamente, verificou-se que este grupo de crianças manifestava relutância em ingerir determinados alimentos. Todavia, como este assunto não se restringia apenas às crianças da sala da Pré B, decidiu- se juntamente com a colega que estava a realizar o seu estágio na mesma instituição (sala da Pré C) e com a equipa pedagógica da escola, que se deveria proporcionar uma ação de sensibilização intitulada “Saúde e Nutrição Infantil”, com o intuito de partilhar experiências que promovessem a aquisição de hábitos de ingestão destes alimentos, tanto na escola como em casa. Esta sensibilização foi dinamizada pela enfermeira Clara Gama que desempenha funções no Serviço de Saúde Escolar no Centro de Saúde do Bom Jesus no Funchal. É de salientar que esta instituição de saúde disponibiliza diversos agentes especializados para monitorizarem e fazerem aconselhamento sobre a saúde das crianças, sempre que os pais precisarem.

A maioria dos pais manifestou interesse em participar na ação de sensibilização, se esta fosse realizada em horário pós-laboral, contudo no dia da sensibilização a adesão foi pouco significativa, mesmo sendo no horário que as famílias preferiam.

Após refletir sobre esta atividade, cheguei à conclusão que talvez alguns pais tivessem tido algum contratempo ou que por motivos profissionais não tenham tido a oportunidade de participar nesta atividade como era a sua intenção. No entanto, acredita-se que apesar de esta atividade não ter tido o sucesso esperado, podemos encontrar outras formas de envolver os pais na vida da escola, procurando ir ao encontro das suas possibilidades de intervenção, tal como defende Magalhães (2007).

Assim, com a chegada do Natal, e no sentido de sensibilizar as crianças para a proteção ambiental, para a reciclagem e para a diminuição do consumo, solicitou-se a colaboração dos pais na decoração da escola e da sala, com materiais reciclados. As famílias reproduziram motivos de Natal, em casa com os seus filhos, e depois, com a colaboração das crianças e da equipa pedagógica, expusemo-los na árvore de natal e à entrada da sala, avivando assim o sentido de partilha e de cooperação e valorizando a participação de todos (ver figura 20).

A prenda de Natal que as crianças ofereceram aos pais também foi realizada com materiais de desperdício, incentivando uma vez mais a criatividade e a reutilização dos materiais. Para tal, solicitou-se atempadamente que os pais fornecessem alguns frascos de vidro, depois as crianças decoraram-nos, recorrendo a diversas técnicas de expressão plástica e por fim, encheram-nos com as broas que se tinha realizado com a cooperação de vários elementos da comunidade escolar, incluindo as próprias crianças.

Atendendo a que as crianças da Pré B gostavam muito de ouvir e de contar histórias e reconhecendo a sua importância no desenvolvimento da linguagem, da criatividade e do pensamento infantil, convidei uma aluna que frequentava o 3.º ano de escolaridade para vir à nossa sala contar uma história a seu gosto. Esta criança tinha Necessidades Educativas Especiais (NEE) e apresentava dificuldades de aprendizagem na leitura e na escrita, mas aceitou o convite com muito entusiasmo.

É de salientar que quando fiz este convite tinha como propósito promover um momento agradável às crianças da Pré B, devido ao seu interesse por histórias, mas também queria promover a importância da inclusão e do respeito pelas pessoas portadoras de NEE e fazer com que estas crianças compreendessem que é possível,

apesar das dificuldades que algumas crianças têm, aprenderem e fazerem uma vida normal.

Na minha opinião, o meu objetivo foi bem conseguido, pois durante o conto da história as crianças ouviram-na atentamente, mostraram interesse na sua história e compreenderam que apesar de sermos todos diferentes merecemos ser respeitados e que conseguimos superar as nossas dificuldades. Acrescento ainda que esta aluna, na minha perspetiva, sentia-se verdadeiramente feliz por partilhar este momento com estas crianças mais pequenas, embora no início da sua intervenção se apresentasse um pouco envergonhada e desconfortável.

Ainda no sentido de envolver a comunidade e de valorizar os seus recursos educativos para proporcionar experiências mais ricas e diversificados (Magalhães, 2007), decidiu-se levar as crianças a conhecerem a Biblioteca Regional da Madeira. Saliente-se que esta visita de estudo teve em conta o interesse destas crianças por histórias e também pelo facto de esta biblioteca ter uma secção adaptada para as crianças e fomentar o desenvolvimento da literacia infantil (ME, 1997). Ressalve-se que o PEE intitulava-se Ler Mais, Comunicar e Escrever Melhor, ou seja, tinha como finalidade promover o gosto pela leitura e pela escrita, tal como se pretendeu ao dinamizar esta visita pedagógica.

Após se ter conversado com a educadora cooperante, a direção da escola e a direção da Biblioteca Regional da Madeira, informou-se os pais sobre esta possibilidade e eles concordaram com a deslocação, com vista a enriquecer as experiências educativas dos filhos. Saliente-se que para se efetuar esta atividade contou-se com o apoio da junta de freguesia de Santa Luzia que nos facultou o transporte, respeitando as devidas condições de segurança que as crianças desta faixa etária exigem.

A meu ver, a atividade decorreu muito bem, as crianças cumpriram as regras que tinham sido acordadas previamente, apresentaram níveis altos de bem-estar emocional e de implicação e mostraram-se muito interessadas nos livros e em explorar uma história sobre alguns dos valores transmitidos no Natal (ver figura 21).

A maioria das crianças manifestou ainda interesse em solicitar que os seus pais as levassem àquela biblioteca mais vezes. Neste sentido, julguei importante dar a conhecer aos pais as atividades desenvolvidas nesta biblioteca, nomeadamente a “hora do conto” e a “leitura a dois” que têm como intuito promover o gosto e o interesse por descobrir e por aprender mais na interação entre crianças e adultos.

Ressalve-se ainda que planifiquei algumas atividades que devido a várias razões não se puderam concretizar. Como por exemplo: no âmbito das aprendizagens sobre a alimentação planificou-se, juntamente com a sala da Pré C, uma visita a pé ao Mercado dos Lavradores. Esta deslocação tinha como objetivo dar a conhecer às crianças os diferentes alimentos, principalmente, os que existiam em maior abundância no outono e de as crianças partilharem vivências com as pessoas que lá trabalhavam. No entanto, devido às condições climatéricas não foi possível concretizar esta visita.

Em suma, a realização destas atividades que visaram estreitar os laços entre as crianças e todo a comunidade escolar, repercutiram-se em múltiplas experiências e aprendizagens para todos os envolvidos, nomeadamente: a partilha de informações, de materiais e de saberes com a colega estagiária, com o pessoal docente e não docente, com as famílias, com as próprias crianças e com os restantes agentes que formam a comunidade escolar. Neste sentido, tudo isto permitiu-me compreender a escola como um espaço verdadeiramente democrático, em que todos os elementos podem e devem participar, de modo a contribuírem para a formação pessoal, social e profissional das crianças, num clima de apoio e de compreensão (Vilhena & Silva, 2002).