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A Expropriação da Terra no Velho Mundo 

Introdução à Parte II: Exploração e os Meios Políticos 

A.  A Expropriação da Terra no Velho Mundo 

 

O termo "capitalismo" é usado normalmente, especialmente na direita libertária, para se        referir simplesmente a um sistema econômico baseado primariamente em mercados e na        propriedade privada. Não há nenhum mal nisto; muitos libertários intelectualmente honestos (por        exemplo, os Nockianos e os Rothbardianos de Esquerda) distinguem claramente entre seu        "capitalismo de livre mercado" (muito do qual é compatível com o socialismo de livre mercado        de Benjamin Tucker), e o "capitalismo realmente existente" da economia corporativa de hoje.        Mas esse não é o significado de capitalismo como os socialistas clássicos usavam a palavra.        Como já vimos, Thomas Hodgskin usava o termo "capitalismo" para se referir, não a um livre        mercado, mas a um sistema estatista de domínio de classe em que os donos do capital eram        privilegiados de uma maneira análoga ao status do senhores de terra sob o feudalismo. Para        Marx, mercados livres e a propriedade privada não eram condições suficientes do capitalismo.        Por exemplo, um sistema econômico em que artesãos e camponeses possuíssem seus meios        de produção e trocassem seus produtos de trabalho em um livre mercado não seria        "capitalismo". Capitalismo era um sistema em que os mercados e a propriedade privada não        apenas existissem, mas em que os trabalhadores não possuíssem os meios de produção e        fossem forçados a, em vez disso, vender seu trabalho por salários. 

 

Para que o capitalismo como o conhecemos acontecesse, foi essencial, em primeiro lugar, que        o trabalho fosse separado da propriedade. Marxianos e outros economistas radicais        normalmente se referem ao processo como "acumulação primitiva"​12​

 

Por si mesmos, o dinheiro e as mercadorias não são capital, tampouco os meios                            de produção e de subsistência. Eles carecem da transformação em capital. Mas esta                          mesma transformação só pode se suceder em certas circunstâncias que se centrem                        nisto, a saber, que dois tipos muito diferentes de possuidores de mercadorias devem se                            pôr frente a frente e entrar em contato, de um lado proprietários de dinheiro, de meios de                                  produção e de subsistência...; do outro lado trabalhadores livres, os vendedores da                       

própria força de trabalho e por isso vendedores de trabalho... O sistema capitalista                          pressupõe a completa separação entre os trabalhadores e toda a propriedade dos                        meios pelos quais eles podem realizar seu trabalho... O processo, portanto, que abre o                            caminho para o sistema capitalista não pode ser outro que não o processo que tira do                                trabalhador a propriedade de seus próprios meios de produção... A chamada                      acumulação primitiva, portanto, nada é senão o processo histórico de divórcio de                        produtor e meios de produção...​13 

 

Este processo não aconteceu naturalmente. "​      ...A Natureza não produz de um lado              possuidores de dinheiro e de mercadorias e, do outro, homens que não possuem nada além de                                suas próprias forças de trabalho... Isto é claramente o resultado de um desenvolvimento                          histórico anterior, o produto de muitas revoluções econômicas, da extinção de toda uma séria                            de formas mais antigas da produção social​            "​14​. Os meios pelos quais ele realmente aconteceu               

foram descritos por Marx, na que talvez seja a passagem mais eloquente de todo o corpo de        sua obra: 

 

...[E]stes homens recém­libertos se tornaram vendedores de si apenas depois de                      terem sido roubados todos os seus meios de produção e todas as garantias da sua                              existência proporcionadas pelas velhas instituições feudais. E a história disto, de sua                        expropriação, está inscrita nos anais da humanidade com letras de sangue e fogo.​15 

 

Isto foi provocado pela expropriação da terra "​         a qual ​   [o camponês] tinha o mesmo título          de direito feudal que próprio senhor, e pela usurpação das terras comunais​                      "​16​. Embora alguma     

forma de roubo violento tenha se sucedido em todo país da Europa, focamos na Inglaterra como        o caso mais relevante às origens do capitalismo industrial. 

 

Para compreender a enormidade e a perversidade do processo, deve­se entender que        os direitos da nobreza à terra sob a economia senhorial eram completamente uma ficção legal        feudal derivada da conquista. Os camponeses que cultivavam a terra da Inglaterra em 1650        eram descendentes daqueles que a haviam ocupado desde de tempos imemoriais. Por qualquer        padrão de moralidade normalmente aceito, ela era sua propriedade em todos os sentidos da        palavra. Os exércitos de William, o Conquistador​            NT1​, por nenhum outro direito além da força,               

compelira estes proprietários camponeses a pagar aluguel em sua própria terra.   

J. L. e Barbara Hammond tratavam a vila do século XVI e o sistema de campo aberto        como sobreviventes da sociedade camponesa livre dos tempos Anglo­Saxões, com o senhorio        sobreposto a eles. A classe senhorial via os direitos dos camponeses que ainda sobreviviam        como um obstáculo ao progresso e à agricultura eficiente; uma revolução em seu próprio poder        era uma maneira de quebrar a resistência camponesa. Consequentemente, a comunidade        agrícola foi "​    feita em pedaços... e reconstruída da maneira em que um ditador reconstrói um                          governo livre​"​17​

 

da Inglaterra, foi o confisco dos Tudor​            NT2 da terra monástica e a subsequente distribuição dela               

entre os nobres favoritos. Isto foi um golpe contra as classes trabalhadoras de duas maneiras:        primeiro, porque muitos dos inquilinos da Igreja foram expulsos durante o subsequente        processo de cercamento; e segundo, porque a renda daquela terra tinha sido a maior fonte de        auxílio aos pobres. 

 

A supressão dos monastérios, etc. lançou seus ocupantes no proletariado. As                      propriedades da igreja foram em grande parte doadas a gananciosos favoritos reais, ou                          vendidas a preço nominal para fazendeiros e cidadãos especuladores, que expulsaram,                      em massa​, os sublocatários hereditários e juntaram suas terras em uma só.​18 

 

Os homens do rei que devoraram a antiga propriedade dos monastérios tiveram poucos        escrúpulos sobre como tratavam seus novos inquilinos. De acordo com R. H. Tawney, 

 

Aluguéis extorsivos, despejos, e as conversões de terras aráveis em pastos foram o                          resultado natural, pois os agrimensores aumentavam os valores a cada transferência e,                        ao menos que o último comprador espremesse seu inquilinos, a transação não                        compensaria. 

 

Por que, afinal, um senhorio deveria ser mais melindroso do que a Coroa? "Vós                            não sabeis", disse o donatário de um dos solares de Sussex do monastério de Sião, em                                resposta a alguns camponeses que protestavam contra a apreensão de suas terras                        comuns, "que a graça do Rei derrubou todas as casas de monges, frades e freiras?                              Portanto, agora chegou o momento que nós cavalheiros derrubaremos as casas de tão                          pobres patifes como vós sois". 

 

Entre as vítimas, como casos ilustrativos, estavam os habitantes da vila cercada pela família        Herbert para construir o parque em Washerne; e os inquilinos de Whitby, cujos aluguéis anuais        foram aumentados de £29 para £64.​19 

 

A expropriação da Igreja destruiu o sistema de financiamento da principal fonte do apoio        de caridade para os pobres e incapacitados. O estado dos Tudor preencheu o vácuo com sua        Leis dos Pobres​    NT3​. O efeito foi como se, no mundo moderno, o estado tivesse expropriado as                           

principais propriedades e títulos das fundações de caridade, e as entregue para corporações da        Fortune 500; e então criado um sistema de bem­estar às custas do pagador de impostos com        controles incomparavelmente mais draconianos sobre os pobres.​20 

 

Ainda outra forma de expropriação foi o cercamento das terras comuns­­em que,        novamente, os camponeses comunitariamente tinham um direito de propriedade tão absoluto        quanto qualquer defendido pelos defensores dos "direitos de propriedade" de hoje. Os        cercamentos ocorreram em duas grandes ondas: a primeira, se tornando um poderoso surto        sob os Tudors e reduzindo­se a uma goteira sob os Stuarts, foi o cercamento da terra para        pastos de ovinos. A segunda, que consideraremos posteriormente, foi o cercamento dos       

campos abertos para a agricultura capitalista de larga escala.   

A escala geral das expropriações foi bastante massiva. O número de inquilinos        despojados após a dissolução dos monastérios foi de 50.000. A área cercada entre 1455 e        1605 foi "algo como meio milhão de acres". O número de despojados de terras cercadas entre        1455 e 1637 foi de 30­40.000. "​      Isto pode bem ter representado uma cifra de mais de 10 por                        cento de todos os proprietários pequenos e medianos e entre 10 e 20 por cento daqueles                                empregados por salários...; caso no qual as reservas de trabalho assim criadas teriam sido de                              dimensões comparáveis àquelas que existiam apenas nos piores meses da crise econômica                        dos anos 1930​    ". Embora "​    o número absoluto de pessoas afetadas em cada caso possa                    parecem pequeno para os padrões modernos, o resultado foi grande em proporção à demanda                            por trabalho contratado na época​        "​21​. E aqueles camponeses não sujeitos aos cercamentos               

foram vitimados pelos aluguéis extorsivos e por multas arbitrárias, que frequentemente        resultavam neles sendo afugentados da terra pela incapacidade de pagar​22​

 

A expropriação da terra Realista durante o Interregno​              NT4 seguiu um padrão similar àquele         

dos monastérios sob Henry VIII. Compradores de terra confiscadas, escreveu Christopher Hill,        "​estavam ansiosos para assegurar rendimentos rápidos. Aquelas de seus inquilinos que não                        pudessem apresentar prova escrita de seus títulos estavam sujeitas a desocupação​                    "​23​. Os   

inquilinos de propriedades sequestradas reclamavam que os novos compradores "​      tiram dos    Inquilinos pobres todas as anteriores Imunidades e Liberdades de que antes eles gozavam...​"​24​

 

Outro grande roubo de terra camponesa foi a "reforma" da lei de terras no século XVII        pelo Parlamento da Restauração​      NT5​. (À legislação pode ser atribuída mais de uma data, uma                     

vez que, como toda a legislação aprovada durante o Interregno, ela tinha que ser confirmada        sob Charles II). Os direitos dos senhorios na teoria legal feudal foram transformados em direitos        absolutos de propriedade privada; os inquilinos foram privados de todos os seus direitos        tradicionais à terra que eles lavravam, e foram transformados em inquilinos​                    NT6 no sentido   

moderno.   

Após a restauração dos Stuarts​        NT7​, os aristocratas fundiários conduziram, por meios             

legais, um ato de usurpação, efetuado em todo lugar no Continente sem qualquer                          formalidade legal. Eles aboliram a posse feudal da terra, isto é, eles se livraram de todas                                as obrigações para com o Estado, "indemnizaram" o Estado através de impostos sobre                          o campesinato e o resto do povo, reivindicaram para si mesmos os direitos da                            propriedade privada moderna às terras às quais eles tinham somente título feudal e,                          finalmente, aprovaram essas leis do assentamento que, ​             mutatis mutandis​  , tiveram o      mesmo efeito sobre o trabalhador agrícola inglês que o édito do Tartar Boris Godunof​                          NT8 

sobre o campesinato russo.​25 

 

(Os efeitos das leis do assentamento​          NT9​, como uma forma de controle social, serão tratadas                 

posteriormente.)   

Como Christopher Hill coloca, "​       as posses feudais foram abolidas apenas para cima, não                  para baixo​  ". Ao mesmo tempo que os senhorios tinham garantias contra toda incerteza e        capricho vindo de cima, os camponeses foram colocados à mercê absoluta dos senhorios.   

O Ato de 1660 insistia que ele não deveria ser interpretado para alterar ou mudar                              qualquer mandato por enfiteuse​      NT10​. Os enfiteutas não obtiveram nenhum direito absoluto               

de propriedade às suas terras arrendadas, permanecendo em abjeta dependência de                      seus senhorios, suscetíveis à impostos sucessórios arbitrários que podiam ser usados                      como um meio para despejar o recalcitrante. O efeito foi completado por um ato de 1677                                que assegurou que a propriedade de pequenos locatários não vinculados​                  NT11 não deveria   

estar nem um pouco menos insegura do que aquela dos enfiteutas, ao menos que                            apoiada por título legal. Então a maioria dos obstáculos aos cercamentos foi removida: a                            explosão da produção agrícola do final do século XVII e do século XVIII se reverteu em                                benefício dos grandes donos de terra e dos fazendeiros capitalistas, não dos                        proprietários camponeses... O século após o fracasso dos radicais em conquistar a                        segurança legal da posse dos homens de pequena estatura social é o século em que                              muitos pequenos donos de terra foram forçados a vender tudo em consequência dos                          aluguéis extorsivos, das multas pesadas, da tributação e da falta de recursos para                          competir com os fazendeiros capitalistas.​26 

 

Ao mesmo tempo, todas as obrigações feudais anteriormente pagas pela aristocracia        como uma condição de sua propriedade foram substituídas por impostos sobre a população em        geral. 

 

E então a abolição das posses militares na Inglaterra pelo pelo Longo                        Parlamento​NT12​, ratificada após a ascensão de Charles II​              NT13​, embora simplesmente uma       

apropriação das receitas públicas pelos pelos proprietários feudais de terra, que assim                        se livraram da compensação pela qual eles mantinham a propriedade comum da nação                          e a jogaram sobre a população em geral na forma da taxação de todos os                              consumidores, têm há muito sido caracterizada, e ainda é suportada nos livros de                          direito, como um triunfo do espírito da liberdade. Contudo, aqui está a fonte da imensa                              dívida e da pesada tributação da Inglaterra.​27 

 

Após a "Revolução Gloriosa"​      NT14​, pela qual o povo da Inglaterra foi libertado da tirania                     

papista de James II​      NT15 para entrar nos suaves cuidados da Oligarquia Whig​              NT16​, ainda outra     

reforma foi introduzida. Num prenúncio da erroneamente chamada "privatização" dos nossos        dias, a maior parte da terra da coroa, legitimamente a propriedade do povo trabalhador da        Inglaterra, foi dividida entre os grandes senhores de terras. 

 

Eles inauguraram a nova era praticando, em uma escala colossal, roubos de terras                          estatais, roubos que tiveram sido previamente conduzidos mais modestamente. Estas                    propriedades foram doadas, vendidas à uma cifra ridícula, ou mesmo anexadas a                        propriedades privadas através do confisco direto... As terras da Coroa assim                     

fraudulentamente apropriadas, junto com o roubo das propriedades da Igreja... formam a                        base para os domínios principescos atuais da oligarquia inglesa.​28 

 

Além de suas "reformas" agrárias, o parlamento Whig sob William e Mary introduziram        as Leis da Caça​      NT17 como um meio de restringir a subsistência independente por parte das                     

classses trabalhadoras. Caçar, para a população rural, tinha tradicionalmente sido uma fonte        suplementar de comida. A lei de 1692, em seu preâmbulo, se referia especificamente à "​       grande  injúria​" pela qual "​      artesãos, aprendizes, e outras pessoas devassas ​             [!] negligenciam seu ofícios      e empregos​" em favor da caça e da pesca.​29 

 

Mesmo após as expropriações dos períodos dos Tudor e dos Stuart, a desapropriação        do campesinato ainda estava incompleta. Um quantidade significante de terra ainda permanecia        em mãos camponeses sob formas tradicionais de propriedade, e continuaram a fornecer uma        margem de independência para alguns. Após as expropriações dos Tudor, muitos vagabundos        migraram para "​    tais vilas de campos abertos que os permitiriam ocupar precariamente as                      margens das terras comuns ou baldias​          ". Um panfletista do século XVII observou que "​      em todas    ou na maioria das cidades em que os campos se encontram abertos e são usados em comum                                  há um novo bando de intrusos arrivistas como residentes, e habitantes de casas legais                            erguidas contra a lei...​      ". Ele se referia à reclamação comum dos empregadores, de que eles        eram "​  vadios que não serão normalmente obtidos para trabalhar ao menos que eles possam ter                            salários tão excessivos quanto eles mesmos desejem​            "​30​. Consequentemente, a expropriação       

final mesmo destas últimas terras camponeses restantes era vital para o completo        desenvolvimento do capitalismo. 

 

A segunda onda de cercamentos, nos séculos XVIII e XIX, estava, portanto,        intimamente ligada com o processo de industrialização. Sem contar os cercamentos antes de        1700, os Hammonds estimaram o total de cercamentos nos séculos XVIII e XIX entre um sexto        e um quinto da terra arável na Inglaterra.​              31     E. J. Hobsbawn e George Rudé, de forma menos             

conservadora, estimaram os cercamentos apenas entre 1750 e 1850 como tendo transformado        "​algo como um quarto da superfície cultivada de campos abertos, terras comuns, prados ou                            terras baldias em campos privados...​        "​32​. Dobb estimou­os em tanto quanto um quarto ou metade                   

da terra nos catorze condados mais afetados.​            33 Dos 4000 Atos Privados de Cercamento a partir               

do início do século XVIII até 1845, dois terços envolviam "campos abertos pertencentes a        camponeses", e o outro terço envolvia bosques comuns e brejo.​34 

 

Os cercamentos dos Tudor e dos Stuart foram executados por senhorios privados, de        sua própria iniciativa, frequentemente às escondidas. Do século XVIII em diante, no entanto,        eles foram executados pela lei, através de "atos de cercamento" parlamentares: "​      em outras    palavras, decretos através dos quais os senhorios concediam a si mesmos a terra do povo                              como propriedade privada...​    ". Marx citou estes atos como evidência de que as terras comuns,        longe de serem a "​        propriedade privada dos grandes senhorios que tomaram o lugar dos                    senhores feudais​  ", tinham, na verdade, exigido "​      um ​ golpe de estado parlamentar... para sua            transformação em propriedade privada​"​35​

 

As classes dominantes viam o direito tradicional dos camponeses à terra como uma        fonte de independência econômica do capitalista e do senhorio, e assim uma ameaça a ser        destruída. Mandeville, em ​     Fable of the Bees​      , escreveu sobre a necessidade de manter os        trabalhadores tanto pobres quanto estúpidos, a fim de forçá­los a trabalhar: 

 

Seria mais fácil, onde a propriedade está bem segura, viver sem dinheiro do que sem                              pobres; pois quem faria o trabalho? ...Enquanto eles devem ser impedidos de passar                          fome, no entanto eles não deveriam receber nada que valha a pena poupar. Se aqui e ali                                  um da classe mais baixa, através de incomum diligência, e apertando sua barriga,                          elevar­se acima da condição em que ele foi criado, ninguém deve impedi­lo; ...mas é do                              interesse de todas as nações ricas que a maior parte dos pobres quase nunca deveria                              estar ociosa, e também continuamente gastando o que ela ganha... Aqueles que ganham                          a vida através de seu trabalho diário... não têm nada a incitá­los a serem prestáveis                              além de suas necessidades, as quais é prudente aliviar, mas tolice curar... Para tornar a                              sociedade feliz e as pessoas mais fáceis sob as circunstâncias mais cruéis, é                          necessário que grandes números delas devam ser ignorantes assim como pobres...​36 

 

Um panfleto de 1739, citado por Christopher Hill, alertava que a única maneira de impor a        diligência e a tamperança era "​      submetê­los à necessidade de trabalhar todo o tempo que eles                    possam dispensar do descanso e do sono, a fim de obter as necessidades comuns da vida​"​37​

 

Estas prescrições para manter produtivas as classes trabalhadoras foram ecoadas em        um folheto de 1770, "Essay on Trade and Commerce": 

 

Que a humanidade em geral, está naturalmente inclinada à facilidade e à indolência,                          fatalmente experimentamos ser verdade, a partir da conduta de nossa população                      manufatureira, que não trabalha, na média, mais do que quatro dias em uma semana, ao                              menos que as provisões sucedam de estar muito caras... Eu espero que tenha dito o                              suficiente para tornar aparente que o trabalho moderado de seis dias em uma semana                            não é nenhuma escravidão... Mas a nossa população adotou a noção de que, como                            homens ingleses, eles gozam de um privilégio inato de serem mais livres e                          independentes do que em qualquer país da Europa. Agora, esta idéia, na medida em que                              ela possa afetar a bravura de nossas tropas, pode ser de algum uso; mas quanto menos                                os manufatureiros pobres tenham dela, certamente tanto melhor para si mesmos e para                          o Estado. As pessoas trabalhadoras nunca deveriam se achar independentes de seus                        superiores... É extremamente perigoso encorajar a ralé em um estado comercial como o                          nosso, em que, talvez, sete partes de oito do todo são pessoas com pouca ou nenhuma                                propriedade. A cura não será perfeita, até que nossos manufatureiros pobres estejam                        contentes em trabalhar seis dias pela mesma soma que eles agora ganham em quatro                            dias.​38 

 

a venderem seu trabalho nos termos dos senhores. Arthur Young, um cavalheiro de        Lincolnshire, descreveu as terras comuns como "​       um terreno fértil para 'bárbaros', 'nutrindo uma              raça perniciosa de pessoas​      '". "[Q]​  ualquer um que não seja um idiota sabe​              ", ele escreveu, "​     que  as classes inferiores devem ser mantidas pobres, ou elas nunca serão laboriosas​                      ". O relatório      do Conselho de Agricultura para Shropshire, em 1794, ecoava esta queixa: "​         o uso de terra      comum por trabalhadores opera sobre a mente como um tipo de independência​                      "​39​. A   

Commercial and Agricultural Magazine avisou em 1800 que deixar o trabalhador "​            possuir mais    terra do que sua família pode cultivar às tardes​                " significava que "​       o fazendeiro não mais poderia        depender dele para trabalho constante​        ".​40 Sir Richard price comentou sobre a conversão de