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Rothbard versus a Síntese Marshalliana 

 

Murray Rothbard rejeitou, nos termos mais fortes, essa tentativa Marshalliana de uma        síntese das inovações marginalistas com o legado de Ricardo. E com isso, ele rejeitou a        tentativa de Marshall de uma síntese do trabalho e da espera como elementos do "custo real".        Para entender por quê, devemos começar com a distinção de Rothbard entre o julgamento de        ações ​ ex ante e ​     ex post​  . Ao julgar ​     ex ante​  , um agente determina qual curso futuro de ação é        mais provável que maximize sua utilidade. O julgamento ​         ex post​, em contraste, é uma avaliação        dos resultados de ação passada. Rothbard negava que "custos irrecuperáveis" poderiam        conferir valor. "​    ...custo incorrido ​   no passado não pode conferir qualquer valor… ​             agora​".​88 "​É 

evidente... que uma vez que o produto foi feito, o 'custo' não tem ​                         qualquer influência sobre o        preço do produto. Custos passados, sendo efêmeros, são irrelevantes para a determinação                        presente dos preços....​"​89 

 

Contra a doutrina da economia política clássica de que "​       os custos determinam o preço​        ",  que "​  deveria ser a lei da determinação de preço 'no longo prazo'​                    ", ele argumentava que "​         a verdade é precisamente o reverso​": 

O preço do produto final é determinado pelas valorizações e demandas dos                        consumidores, e esse preço ​       determina qual será o custo​        . Os pagamentos de fatores          são o ​    resultado das vendas aos consumidores, e ​            não determinam as últimas        antecipadamente​. Os custos de produção, então, estão à mercê do preço final e não o                              contrário....​90 

 

Uma doutrina revolucionária, de fato! Exceto que, numa inspeção mais de perto, não        parece tão revolucionária afinal. E o Marshall e Ricardo, a quem Rothbard se opôs tão        dramaticamente, acabam por ser caricaturas grosseiras. Suas declarações do princípio do        custo não eram nada tão cruamente metafísico como "​         o preço do produto final ​         é determinado  pelos 'custos de produção....'​      "​91  (Rothbard foi, se qualquer coisa, mais caridoso que               

Böhm­Bawerk, que se sentiu compelido a negar que houvesse poder "​       em qualquer elemento da        produção de infundir valor imediatamente ou necessariamente em seu produto​".​92​

 

Reconhecidamente, também, Rothbard fez uma tentativa hesitante de justiça, ao dar        uma descrição levemente menos cartunesca das "tesouras" Marshallianas: 

 

Marshall tentou reabilitar a teoria do custo de produção dos classicistas ao                        conceder que, no "curto prazo", no mercado imediato, a demanda dos consumidores                        governa o preço. Mas no longo prazo, entre os importantes bens reprodutíveis, o custo                            de produção é determinante. De acordo com Marshall, tanto a utilidade quanto os custos                            monetários determinam o preço, como lâminas de uma tesoura, mas uma lâmina é mais                            importante no curto prazo e outra no longo prazo... 

 

Mas ele imediatamente procedeu a despedaçar a doutrina de Marshall­­ou melhor, uma        caricatura dela. Nessa versão de espantalho de Marshall, uma contraparte moderna dos        realistas escolásticos da Idade Média, o "longo prazo" era um fenômeno com existência        concreta. 

 

A análise de Marshall sofre de um grave defeito metodológico­­na verdade, de                        uma confusão metodológica quase incorrigível quanto ao "curto prazo" e ao "longo                        prazo". Ele considera o "longo prazo" como realmente existente, como sendo o elemento                          permanente, persistente e observável sob o espasmódico e basicamente insignificante                    fluxo do valor de mercado.... 

 

A concepção de Marshall do longo prazo é completamente falaciosa e isso                        elimina todo o alicerce de sua estrutura teórica. O longo prazo, por sua própria natureza,                              não existe e nunca pode existir​.... 

 

Para analisar as forças determinantes num mundo de mudança, ​                   [o economista]  deve construir hipoteticamente um mundo sem mudança ​              [ou seja, a Economia        Uniformemente Rotativa]​  . Isto é bem diferente de... dizer que o longo prazo existe ou que                            é de alguma forma ​       mais permanente ou mais persistentemente existente do que os                 

dados reais do mercado.... O fato de que custos se igualam aos preços no "longo prazo"                                não significa que os custos irão realmente se igualar aos preços, mas que a tendência                              existe, uma tendência que está continuamente sendo ​             rompida na realidade pelas        próprias mudanças espasmódicas nos dados de mercado que Marshall aponta​.​93 

 

(Já vimos, aliás, que o longo prazo de Marshall não é equivalente ao hipotético mundo sem        mudança dos Austríacos, ou EUR, mas sim ao "equilíbrio final" Austríaco ​       em direção ao qual a          economia ​tende​, mas nunca se aproxima). 

 

Compare a versão de Rothbard de Marshall com o que o prórpio Marshall disse, como já        o citamos acima: 

 

Mas na vida real tais oscilações raramente são tão rítmicas quanto aquelas de uma                            pedra pendendo livremente de uma corda; a comparação seria mais exata se a corda                            devesse pender nas águas turbulentas de uma calha de moinho, cuja correnteza fosse                          em um momento deixada fluir livremente, e em outro parcialmente interrompida... Pois,                        de fato, as programações da oferta e da demanda não permanecem inalteradas na                          prática por um longo tempo consecutivo, mas estão constantemente sendo alteradas, e                        toda mudança nelas altera a quantidade de equilíbrio e o preço de equilíbrio, e assim dá                                novas posições aos centros em torno dos quais a quantidade e o preço tendem a                              oscilar.​94 

 

Há uma tendência constante em direção a uma posição de equilíbrio normal, em que a                              oferta de cada um desses agentes [ou seja, fatores de produção] ​               ficará em tal relação        com a demanda por seus serviços, quanto a dar àqueles que forneceram a oferta uma                              recompensa suficiente por seus esforços e sacrifícios. Se as condições econômicas do                        país permanecessem estacionárias por tempo o suficiente, esta tendência se efetuaria                      em um tal ajuste da oferta à demanda, que tanto máquinas quando seres humanos                            ganhariam geralmente uma quantidade que correspondesse razoavelmente a seus                  custos de criação e treinamento... Como estão, as condições econômicas do país                        estão constantemente mudando, e o ponto de ajuste da demanda normal e da oferta em                              relação ao trabalho está constantemente sendo alterado​.​95 

 

Mais importante do que o desvio da maioria dos preços de seu valor normal, em        qualquer dado momento, é o fato de que eles tenderão em direção a esse valor ao longo do        tempo se não impedidos por privilégio monopolista. Como Schumpeter escreveu, embora possa        sempre existir uma taxa média positiva de lucro, "​         é suficiente que... o lucro de cada fábrica              individual seja incessantemente ameaçado pela concorrência real ou potencial de novas                      mercadorias ou métodos de produção, que mais cedo ou mais tarde vai transformá­lo em uma                              perda​". A trajetória de preço de qualquer bem de capital ou de consumo, sob a influência da        concorrência, será em direção ao custo: "​      pois nenhuma coleção individual de bens de capital                permanece como uma fonte de ganhos excedentes para sempre...​                "​96 Ou nas palavras de       

 

Deixando de lado a caricatura de Rothbard das visões de Marshall (ou seja, sua suposta        visão do longo prazo como efetivamente existindo em algum senso real, como um modelo        estático como a Economia Uniformemente Rotativa), descobrimos que Marshall na verdade        disse algo bastante parecido com o que Rothbard disse: o preço de reprodução dos bens ​       tende  em direção ao custo de produção. O preço de equilíbrio e o "longo prazo", como o "equilíbrio        final" Austríaco, não são vistos em termos conceitualmente realistas como ​       coisas efetivamente    existentes. Em vez disso, eles são constructos teóricos para tornar os fenômenos do mundo        real mais compreensíveis. A postura Austríaca de ceticismo radical, quando é ideologicamente        conveniente, efetivamente priva os economistas da capacidade de fazer generalizações úteis        sobre as regularidades observadas nos fenômenos do ​mundo real​

 

O problema com a crítica de Rothbard a Marshall é que ela poderia ser aplicada com        quase tanta justiça ao próprio Rothbard. Por exemplo, Rothbard admitiu que o custo de        produção poderia ter um efeito indireto sobre o preço, através de seu efeito sobre a oferta. Em        sua discussão da distinção entre julgamentos ​         ex ante e ​     ex post​, da qual citamos anteriormente,          ele também proclamou estar "​        claro que os julgamentos ​       ex post [do agente] ​       são principalmente    úteis para ele ao pesar suas considerações ​               ex ante para ação futura​      ".​98   E diretamente após sua     

declaração citada acima de que o "​      'custo' não tem ​     qualquer influência sobre o preço do            produto​", ele continuou de forma mais extensa: 

 

Que os custos tem uma influência na produção não é negado por ninguém. No                            entanto, a influência não é diretamente sobre o preço, mas sobre a quantidade que será                              produzida ou, mais especificamente, sobre o grau em que os fatores serão utilizados...                          O tamanho dos custos em escalas individuais de valor, então, é ​                     um dos determinadores      da quantidade, o ​      estoque​, que será produzida. Este estoque, claro, ​              mais tarde    desempenha um papel na determinação do preço de mercado. Isto, no entanto, está                          bem longe de dizer que o custo determina ou é coordenado com a utilidade em                              determinar o preço​.​99 

 

Mas isso é quase exatamente como o próprio Marshall explicou a ação do princípio do custo,        em detalhe, em sua discussão da crítica de Jevons a Ricardo, no Apêndice I de ​       Principles of    Economics​. Na verdade, pode­se achar muitas passagens em ​       Principles of Economics em que          Marshall descreve a ação do custo sobre o preço através da oferta, numa linguagem quase        idêntica à de Rothbard acima. Marshall não alegou que o preço de um bem presente específico        era misticamente "determinado" pelo seu custo passado de produção. Ele argumentou, na        verdade, que os preços ao longo do tempo tendiam ao custo de produção ​       através das decisões      dos produtores quanto a se os preços de mercado justificavam a produção ​futura​

 

E os Austríacos ligavam algumas qualificações bastante comprometedoras a suas        declarações não qualificadas de que a utilidade determinava o valor e de que o preço final        determinava o custo de produção. Böhm­Bawerk, em ​       Positive Theory​  , escreveu que o valor era        determinado pela "​   importância daquele desejo concreto... que é menos urgente entre os desejos                     

que são satisfeitos pelos ​       estoques disponíveis de bens similares​        . [ênfase adicionada]"​    100 

Rothbard escreveu que "​      [o] preço de um bem é determinado por ​               seu estoque total em        existência e pela programação da demanda por ele no mercado​                  . [ênfase adicionada]"​    101 Da 

mesma maneira: "​    No mundo real dos ​       preços imediatos de mercado​      , ...é óbvio para todos que o              preço é unicamente determinado pelas valorizações do estoque­­pelas 'utilidades'­­e                  absolutamente não pelo custo monetário.... [A m]aioria dos economistas reconhece que ​                     no  mundo real (o chamado 'curto prazo') os custos não podem determinar o preço... [ênfase                            adicionada]"​102 Isso soa tremendamente similar, na prática, à compreensão de Marshall da                     

predominância da lâmina da "utilidade" da tesoura no "curto prazo". A diferença, como vimos        acima, era que Rothbard denunciava a própria idéia do "longo prazo" como totalmente sem        sentido. 

 

As qualificações de Rothbard do princípio da utilidade sugerem uma fraqueza na teoria        subjetiva do valor que apontamos recorrentemente nas seções anteriores: ela só pode ser        tomada literalmente na medida em que ignoramos o aspecto dinâmico da oferta, e tratamos o        balanço entre a demanda e os estoques existentes de suprimentos em qualquer ponto como        dado, sem levar em conta o fator tempo. 

 

Isso é verdadeiro tanto da teoria de utilidade do valor dos bens de consumo dos        Austríacos, que assume estoques fixos no ponto de troca, e de sua teoria da imputação dos        preços dos fatores, que similarmente supõe um estoque fixo de bens de ordem superior. Como        Dobb criticou a última, 

 

Se a situação é manejada em termos de bens de capital concretos (dispensando o                            gênero do capital como um fator supostamente escasso), então se esses bens são                          reprodutíveis não deveria haver qualquer razão para qualquer taxa positiva de lucro que                          seja, em condições estritamente estáticas. Se todas as entradas, exceto o trabalho, são                          entradas produzidas, de onde surge a "escassez" específica da onde o lucro deveria                          vir? Se suposições de equilíbrio estático completo forem consistentemente adotadas,                    então a produção no setor dos bens de capital da economia tenderá a ser aumentada                              até que a saída de bens seja eventualmente adaptada à necessidade por eles... Com a                              oferta deles inteiramente adaptada à demanda por eles para propósitos de reposição                        atual, não haverá mais qualquer base para seus preços estarem acima do custo                          (primeiro) de sua própria reposição atual (ou depreciação)​.​103 

 

Dobb também escreveu dos Austríacos sobre a "​      suposição de suprimentos ​     dados de    vários fatores, com a consequente determinação de todos os preços pela demanda...​                      "​104 Mais 

tarde na mesma obra, Dobb observou sobre a artificialidade das teorias do valor embasadas        inteiramente no balanço de curto prazo entre a oferta e a demanda: 

 

....para fazer tais afirmações, uma série de coisas tem que ser tomadas como                          dadas (como­­para pegar o caso extremo­­em todas as afirmações sobre as situações                        Marshallianas de "curto período", ou período semi­curto): os dados que são variáveis                       

dependentes de outro, e "mais profundo", nível de análise....   

Uma maneira de se ilustrar o que se quer dizer quando se fala de contextos em                                que relações de troca determinadas pela demanda são aplicáveis pode ser a seguinte.                          Poderia se supor que todas as entradas produtivas fossem objetos naturais disponíveis                        em qualquer determinada data em dadas quantidades determinadas pela natureza ​                   [por  exemplo, as pedras meteóricas de Marshall]​      .... Mas aí, claro, o processo de produção                como normalmente visto... seria inexistente.... 

 

Na medida, ​   per contra​  , em que se atribui um papel maior à atividade humana no                        processo de produção e as entradas reprodutíveis.... substituem objetos naturais                    escassos, os elementos essenciais do problema econômico se tornam diferentes....   

Mas se um modo formal de determinação em termos de relações de escassez...                          pode ser construído, e pode transmitir alguma informação, numa situação de meios ou                          entradas naturalmente determinados, por que não deveria ser possível fazê­lo em                      situações análogas em que qualquer conjunto de ​               n meios ou entradas, embora não          dependentes de limitações ​     naturais​, são necessariamente determinados quanto a suas              ofertas de alguma outra maneira? ...De fato, isto é bem possível; mas... sujeito à                            condição restritiva de que o conjunto de ​               n meios ou entradas já são fornecidos como um                dado​. A restrição é grande. Ela exclui de consideração todas as situações em que                            essas ofertas estão suscetíveis a mudança (ou seja, a mudar conforme um efeito de                            "feedback" de seus preços), e a análise assim restrita não pode fazer qualquer                          declaração quanto a por que e como essas mudanças ocorrem ou quanto a seus                            efeitos­­razão pela qual falamos de situações às quais uma tal teoria pode se aplicar                            como "situações de período semi­curto​".​105 

 

Em ​ Political Economy and Capitalism​      , Dobb escreveu em termos similares sobre a        suposição Austríaca de que, "​        em qualquer determinado conjunto de condições, a oferta de tais                    fatores de produção finais era fixa​          ".​106 Ele qualificou isso em uma nota de rodapé ao adicionar,                   

"​Estritamente falando, os Austríacos não assumiam, ou precisavam assumir, que a oferta de                          fatores básicos de produção era imutável: meramente que a quantidade deles era determinada                          por condições externas ao mercado, e consequentemente poderiam ser tratada como                      independente"​.​107 Não obstante, o efeito prático era que, "​              sendo limitados por uma escassez         

inalterável (para o momento), esses fatores, como qualquer outra mercadoria, adquiririam um                        preço igual ao serviço marginal que eles poderiam render na produção: esses preços formavam                            os elementos constituintes do custo​        ".​108 Isso exigia abstrair deliberadamente a "teoria do valor"               

dos fatores de produção do custo, ou de quaisquer "​      características que afetassem a        demanda​".​109 

 

Além disso, a teoria Austríaca da precificação dos fatores é, de certo modo, um        exercício elaborado de petição de princípio. Dizer que os fatores são precificados de acordo        com sua produtividade marginal é só outra maneira de dizer que o preço é baseado na       

capitalização do lucro e da renda esperados. Mas as últimas quantidades, e seu nível natural        em um livre mercado, são precisamente os pontos em questão entre as versões mutualista e        Austríaca da teoria do livre mercado. 

 

Como James Buchanan a caracterizou, a teoria subjetiva foi uma tentativa de aplicar a        teoria clássica de valor para bens em oferta fixa para todos os bens, tanto reprodutíveis quanto        não. 

 

O desenvolvimento de uma teoria ​         geral do valor de troca se tornou um interesse                  primário. A análise clássica foi rejeitada porque continha dois modelos separados, um                        para bens reprodutíveis, outro para bens em oferta fixa. A solução foi reivindicar                          generalidade para o modelo simples de valor de troca que os escritores clássicos                          haviam reservado para a segunda categoria. O valor de troca é, em todos os casos,                              diziam os teoristas da utilidade marginal, determinado pela utilidade marginal, pela                      demanda. No ponto da troca de mercado, todas as ofertas são fixas.                        Consequentemente, os valores relativos ou preços são exclusivamente estabelecidos                  pelas utilidades marginais relativas.​110 

 

Marshall acreditava, aliás, que o custo de produção influenciava a demanda, mesmo no        curto prazo, através das expectativas dos compradores de mudanças futuras no preço        conforme a produção aumentava. Para um caso similar do efeito das expectativas sobre o        preço de demanda, não precisamos ir mais longe do que aos bens eletrônicos. Quantas        pessoas adiaram a compra de um DVD player na expectativa de que eles seriam produzidos        mais barato em um ano ou dois? 

 

Para os Austríacos, por definição, o "valor" era identico ao preço de mercado em        qualquer dado momento. O "preço futuro" estava de fato sujeito a mudança, através das        reações dos produtores ao preço presente; mas ir tão longe quanto introduzir o "preço de        equilíbrio" como um conceito útil, ou reivindicar a relação entre o preço de equilíbrio e o custo de        produção, era algo realmente fora de questão. Constructos teóricos são muito bons­­mas só        para Austríacos. 

 

A doutrina Austríaca de que a utilidade determina o preço, se tomada literalmente, é um        total absurdo. A doutrina é verdadeira apenas com as qualificações que eles, entre parênteses,        forneceram: que o valor é determinado sem levar em conta o longo prazo, mas somente pelos        estoques existentes de suprimentos em relação à demanda de mercado em qualquer dado        momento. E essas qualificações, tomadas com a admissão de Rothbard de que o custo de        produção indiretamente afetava o preço através de seus efeitos sobre a oferta, trazem a        essência da teoria de Rothbard para bem perto daquela de Marshall. 

 

A caricatura de Marshall por Rothbard se compara intimamente com a versão de        espantalho da economia política clássica que Jevons se felicitava em ter destruído há mais de        um século. E a análise de Marshall da crítica Jevoniana a Ricardo, que vimos anteriormente,       

poderia ser voltada a Rothbard com grande efeito: se considerarmos a real doutrina de Marshall,        em vez da paródia grosseira de Rothbard dela, é evidente que os dois estão muito mais        próximos em essência do que Rothbard admitiria; me se formos tomar as doutrinas tanto de        Marshall quanto de Rothbard como satirizadas por seus inimigos­­como a afirmação nua de que        o custo "determina" o preço ou que a utilidade "determina" o preço­­a verdade está muito mais        próxima da primeira do que da última afirmativa. 

 

NOTAS 

 

Nota do Tradutor: As citações em todo o livro foram traduzidas diretamente do texto original        desse livro, sem referência às obras citadas. Dessa maneira, mantemos as referências de        páginas e edição originais nas notas, assim como os nomes dos livros como estão no texto        original. 

 

1. Como definido por Ronald Meek, o termo "teoria de custo" inclui "​       qualquer teoria que aborda o problema do              preço de uma mercadoria do ângulo dos 'custos' (incluindo lucros) que tem que ser cobertos se for valer a pena,                                        enquanto produtor, continuar produzindo­a. Algumas 'teorias do custo' não dizem mais do que que o preço de                                  equilíbrio é determinado pelo custo de produção; outras vão mais longe e buscam um determinante final do custo                                    de produção em si​      ". Studies in the Labour Theory of Value, 2nd ed. (New York and London: Monthly Review Press,        1956) 77n. Nesse capítulo, a teoria do custo de produção e a teoria do valor­trabalho são usadas cde forma        intercambiável, exceto onde especificado de outra maneira. Na teoria mutualista, os componentes não­trabalhistas