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7. Proposta de Modelo de Sistema de Gestão de Informação

7.4. Fórum de “Boas Práticas”

Na perspectiva do que temos vindo a defender como modelo de gestão e partilha de informação e desenvolvimento das respectivas competências na organização Escola faz todo o sentido que esta, no seu papel mais geral de preparação dos cidadãos para os desafios da sociedade da informação e também no seu papel de formação específica, orientada para o desenvolvimento de competências bem definidas, adopte práticas de ensino e aprendizagem que envolvam comunidades de aprendizagem alargadas, estimulando a participação de todos os parceiros interessados no processo educativo (professores, alunos, pais e encarregados de educação, autarquias, empresas, cidadãos) nessas comunidades (que no nosso modelo apelidamos de Fórum de ―Boas Práticas‖), como uma mais-valia no desenvolvimento de competências individuais e no enriquecimento do processo de ensino e aprendizagem, pelo envolvimento de entidades relevantes ao processo.

No quotidiano das suas actividades profissionais, as pessoas tendem a interagir com os seus pares, formando grupos mais ou menos informais no âmbito dos quais partilham a sua experiência prática, competências e conhecimento intuitivo em torno de interesses comuns, dificuldades, soluções, ideias, perspectivas sobre o mundo, são as chamadas ―comunidades de prática,‖148

―Communities of practice are everywhere. We all belong to a number of them - at work, at school, at home, in our hobbies. Some have a name, some don't. We are core members of some and we belong to others more peripherally. You may be a member of a band, or you may just come to rehearsals to hang around with the group. You may lead a group of consultants who specialize in telecommunication strategies, or you may just stay in touch to keep informed about developments in the field. Or you may have just joined a community and are still trying to find your place in it. Whatever forms our participation takes, most of us are familiar with the experience of belonging to a community of practice‖. (Wenger: 1998)

148 O conceito de Comunidade de Prática (Community of Practice – CoP) foi formalizado por Lave e Wenger (1991)

e desenvolvido, principalmente, pelo segundo, referindo que ―Communities of practice are groups of people who

share a concern or a passion for something they do and learn how to do it better as they interact regularly‖.(Wenger:

não esquecendo que, (i) o verdadeiro conhecimento é aquele que é partilhado, fruto de

construções pessoais, resultado de processos e de ideias, de preocupações, de

referências coordenadas, organizadas e relacionadas entre si, e (ii) quando a missão da organização/instituição é partilhada e as pessoas são capazes de se unir na sua prossecução, torna-se mais fácil a criação de um sentido próprio de comunidade de trabalho.

Nestas comunidades, o processo de troca de conhecimento tem lugar numa base informal e os membros de cada comunidade desenvolvem uma identidade própria – partilhando valores e conhecimento – assim como se envolvem mutuamente no seu trabalho e partilham as suas preocupações diárias (Wenger: 1998), constituindo por isso um aspecto fundamental de um processo de gestão do conhecimento em qualquer organização.

Davenport e Prusak (1998) acrescentam que os gestores deveriam olhar para estas

comunidades como verdadeiros activos das organizações e para a forma de as preservar,

alertando para o interesse em fortalecer estas verdadeiras redes informais de conhecimento. Afirmam, ainda, que os gestores não devem subestimar o valor da

conversa entre as pessoas, pois é nestes grupos informais que o conhecimento,

sobretudo tácito (informal knowledge), do trabalho é partilhado.

Defendem Lesser e Prusak (1999) que as comunidades de prática desempenham um papel crítico no dia-a-dia das organizações. Sendo que uma das suas funções chave é a

construção de capital social entre os seus membros, permitindo-lhes, em contrapartida,

gerir com mais eficácia o seu conhecimento organizacional.

Não só a globalização mas também, e como vimos, os novos canais de comunicação disponíveis no espaço digital, o aparecimento de novas formas de interacção, síncrona e assíncrona, e o atenuar das barreiras geográficas, trouxeram às

comunidades de prática novas oportunidades de desenvolvimento; sobretudo porque se

começou a compreender o seu relevante papel no desenvolvimento de competências individuais, na aprendizagem organizacional e, consequentemente, no desempenho das organizações.

Estas comunidades, e é nesse sentido que as requeremos para o nosso modelo, apresentam evidentes benefícios, tanto ao nível dos indivíduos como ao nível das

organizações.

Ao nível dos indivíduos o envolvimento em comunidades de prática constitui, sem sombra de dúvida um importante meio de integração profissional e organizacional e de

desenvolvimento pessoal de competências para o exercício de uma determinada profissão no contexto de uma organização específica, como a Escola (se não nos abstrairmos da temática do nosso trabalho esta valoração é por demais evidente). Este desenvolvimento é conseguido através da interacção com os seus pares e do consequente debate sobre as práticas e/ou o exercício de uma actividade, possibilitando também o reconhecimento de proficiência individual e o estabelecimento de reputação profissional. Para além destes benefícios directamente relacionados com a aprendizagem e o enriquecimento intelectual, importa ainda referir benefícios relacionados com o desenvolvimento da consciência cívica dos indivíduos e do induzir de práticas de participação e responsabilidade cívica.

Ao nível das organizações, as comunidades de prática são um importante meio de aprendizagem colectiva, facilitando a difusão da cultura e práticas institucionais e ainda um elemento fundamental na promoção da inovação, através do desenvolvimento de um espírito e trabalho colaborativo, característica intrínseca destas comunidades. (figura 32)

Fonte: Belinda Allan (2008). Professional Development for Chinese National Teachers of English.

http://masters.bilbea.com/extras/Chinese_teacher_PD/Chinese_teacher_PD_final.html

No entanto, e de acordo com Wenger (2006) nem todas as comunidades podem, ou devem, ser consideradas ―comunidades de prática‖, para que isso suceda é fundamental que estas possuam três elementos cruciais: um domínio de interesse, partilhado por todos os elementos de uma determinada comunidade; uma comunidade, ter o mesmo emprego ou função não nos faz elementos de uma comunidade de prática, a não ser que daí decorra interacção, partilha de perspectivas e conhecimento, resultando numa mútua aprendizagem; uma prática, uma comunidade de prática não é apenas e só uma comunidade com interesses comuns, os seus membros são

profissionais de uma determinada actividade que partilham experiências, desenvolvendo

e implementando novas tecnologias ou ―boas práticas‖, inovando, resolvendo problemas, etc. (figura 33)

É na combinação sincrónica destes três elementos que se constitui e se desenvolve uma verdadeira comunidade de prática.

Fonte - Centers for Disease Control and Prevention – USA (2008)

http://www.cdc.gov/phin/communities/resourcekit/tools/intro-cops.html

Em contexto educativo, a Escola, enquanto organização, agrupada (em agrupamentos) ou isoladamente, constitui um ambiente, por excelência, propiciador do desenvolvimento de comunidades de prática149, nomeadamente quando alunos e/ou professores, de uma ou de várias escolas, partilham projectos e/ou interesses comuns (por exemplo o jornal da escola), ou quando se envolvem em articulação curricular entre os vários níveis de ensino, desde que inseridos numa dinâmica estruturada e sistematizada, no espaço e no tempo, tendo como suporte a estrutura informacional da escola e alicerçada num espírito de trabalho colaborativo, na procura de uma melhoria contínua de práticas, na construção de novas competências e criação de conhecimento.

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