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5. A Escola Secundária Abel Salazar [ESAS]: um estudo de caso

5.2. A Escola

5.2.1. Enquadramento normativo e conceptual: do Projecto Educativo ao

5.2.1.4. Projecto Curricular de Escola (PCE)

O diploma legal que institucionaliza o Projecto Curricular de Escola é o Decreto- Lei n.º 6/2001 de 18 de Janeiro, que, no âmbito do desenvolvimento da autonomia das escolas, "estabelece os princípios orientadores da organização e da gestão curricular

do ensino básico, bem como da avaliação das aprendizagens e do processo de desenvolvimento do currículo nacional‖.

A utilização da expressão é mais recente do que a de Projecto Educativo de Escola e está associada à ideia de que o currículo nacional, pode e deve ser entendido numa concepção de projecto, logo, enquanto algo que é aberto e dinâmico, de forma a permitir adaptação às realidades para que é proposto e onde vai ser posto em prática.

O Projecto Curricular de Escola deve ser muito mais do que a simples transposição do currículo nacional para um documento da escola; a sua concepção parte da convicção de que uma escola de sucesso e o desenvolvimento de aprendizagens significativas passam pela sua reconstrução, tendo sempre em atenção os contextos nos quais se vai operacionalizar e definindo, (i) o nível de prioridades da escola, (ii) as competências essenciais e transversais em torno das quais se organizará o projecto e (iii) os conteúdos que serão trabalhados em cada área curricular.

Gerir o currículo significa analisar cada situação e procurar diversificar as práticas e metodologias de ensino para que todos aprendam; por isso, se reconhece que o Projecto Curricular da Escola (juntamente com os Projectos Curriculares de Turma), enquanto instrumento de gestão pedagógica da escola, deve promover uma cultura reflexiva e de análise dos processos de ensino e aprendizagem, bem como investir fortemente no trabalho colaborativo entre os professores.

Entende-se pois que o Projecto Curricular de Escola se inscreve no conjunto de instrumentos100 previstos no quadro de uma filosofia educativa orientada para uma efectiva autonomia das escolas, visando dotar cada escola da sua própria organização e desenvolvimento curricular, para o que deve inspirar-se e articular-se com os princípios e orientações estabelecidos na carta política da escola, o seu Projecto Educativo.

Curiosamente, em todo o articulado anterior a 2001 não existe qualquer referência ao Projecto Curricular da Escola, estando o seu conceito completamente ausente do

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Projecto Educativo, Regulamento Interno e Plano Anual de Actividades, só para referir apenas os que são objecto da nossa análise.

Decreto-Lei 115-A/98 (Costa: 2004). Este facto terá introduzido alguma desarticulação na elaboração do Projecto Educativo e do Projecto Curricular; encontramos escolas onde o Projecto Curricular está integrado no Projecto Educativo, e outras que optaram por elaborar documentos distintos.

Em 2004 o Decreto-Lei n.º 74/2004 de 26 de Março ―estabelece os princípios

orientadores da organização e da gestão do currículo, bem como da avaliação das aprendizagens referentes ao nível secundário de educação‖ referindo expressamente,

no seu artigo 2.º,101 a integração do Projecto Curricular de Escola no seu Projecto Educativo.

Estranhamente, ou talvez não, também o Decreto-Lei 75/2008 de 22 de Abril, que revoga o Decreto-Lei 115-A/98, não faz qualquer menção ao Projecto Curricular de Escola, referindo-se apenas a uma Organização, Articulação e Gestão Curricular.

O Projecto Curricular da ESAS

O modo como a escola se organiza tem forçosamente influência no seu desenvolvimento e no grau de sucesso(s) que proporciona.

O Projecto Curricular da Escola Secundária Abel Salazar, tem por base conceptual dois dos objectivos estratégicos enunciados no ―Pacto Educativo para o Futuro‖ (ME: 1996), ―(i) Definir denominadores comuns quanto a currículos, dispositivos

pedagógicos e padrões de avaliação e certificação, conferindo espaços de autonomia às escolas para encontrarem as suas próprias soluções, e (ii) reconhecer a diversidade de vias de ensino e formação sempre qualificantes, respeitando a sua especificidade, definindo princípios de equivalência e promovendo modos de interacção entre as vias de ensino regular e o ensino profissional,‖ e tendo como suporte legais os já referidos

Decretos-Lei 6/2001 de 18 de Janeiro, e 74/2004 de 26 de Março, que estabelecem os princípios orientadores da organização e da gestão do currículo do ensino básico e do ensino secundário, respectivamente.

Entende-se ainda que este documento deverá constituir-se como um instrumento de gestão pedagógica da escola, em consonância com o seu Projecto Educativo, fomentando uma cultura de reflexão e de análise do processo de ensino e aprendizagem,

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―4 — As estratégias de desenvolvimento do currículo nacional são objecto de um projecto curricular de escola, integrado no respectivo projecto educativo‖.

dinamizando o trabalho colaborativo entre os seus agentes educativos na consecução do sucesso educativo.

Respeitando sempre o currículo nacional, definem-se opções e intencionalidades próprias construindo-se modos específicos de organização e gestão curricular, adaptados à consecução das diferentes aprendizagens que integram o currículo, no contexto e especificidade da escola Secundária Abel Salazar, conferindo-lhe uma identidade própria porque mobilizador dos recursos locais e regionais procurando responder às situações reais pela flexibilização de percursos e meios de formação.

O seu desenho curricular integra uma crescente diversidade de cursos do ensino profissional, de acordo com uma filosofia que se pretende de ―abertura à mudança‖ e da dinâmica que a escola pretende imprimir, fomentando a articulação horizontal e vertical necessárias à optimização de todos os seus recursos.

A Biblioteca e o Projecto Curricular

Por outro lado, a Biblioteca Escolar terá de adaptar-se às realidades de quantos a frequentam e particularidades do que lhe é solicitado. A sua política documental, como instrumento promotor de mais e melhores aprendizagens, deve estar de acordo e articular-se com o currículo nacional e o projecto curricular da escola, para além do respectivo Projecto Educativo, procurando dar resposta às necessidades de informação da comunidade educativa que serve.

Agindo proactivamente, deve a Biblioteca desenvolver estratégias para a integração dos seus recursos na (re)organização de actividades na sala de aula, na pesquisa, selecção, organização e produção de recursos destinados aos professores e alunos, assim como desenvolver a articulação com as áreas curriculares disciplinares, não disciplinares e lúdicas.

Concluindo…

Do que fica exposto poderemos afirmar que, (i) a Biblioteca Escolar tem vindo a assumir um papel cada vez mais preponderante e muito particular no desenvolvimento das diferentes literacias e respectivas competências, constituindo-se como um núcleo

catalisador da sua gestão; ideia corroborada não só pela legislação e respectivos

normativos que nos últimos anos têm referenciado a Biblioteca Escolar e o papel do professor bibliotecário nesse sentido (que culminou com a publicação da portaria

756/2009 de 14 de Julho102

), como também pela referência, cada vez mais frequente e extensa, que lhe é feita nos principais documentos orientadores da gestão administrativa e pedagógica das escolas (como acabamos de ver neste capítulo), e que, (ii) tal como noutras situações, a crescente valorização da Biblioteca Escolar, não nasce por decreto, mas, bem pelo contrário, ela é, ou deve ser, fruto de um processo de maturação e apropriação da própria escola e da sua comunidade educativa que encontra na sua Biblioteca não só uma resposta às crescentes necessidades de articulação curricular e de informação, e a assume, não como mais um serviço que é disponibilizado, mas como sendo ela própria a imagem da escola contribuindo de forma decisiva para a consecução do sucesso educativo dos seus utilizadores preferenciais, os alunos.

Na figura 8, apresentamos de forma esquemática103

a relação dos diversos documentos analisados neste capítulo e que constituem o referencial da administração e gestão pedagógica da Escola Secundária Abel Salazar, representando a figura 9 o organigrama dos principais órgãos e serviços da ESAS (de acordo com a legislação em vigor, Decreto-Lei 75/2008), responsáveis pela elaboração, aprovação e aplicação desses referenciais.

102 Que estabelece ―as regras de designação de docentes para a função de professor bibliotecário nos agrupamentos ou escolas não agrupadas, assim como o modo de designação de docentes que constituem a equipa da biblioteca escolar‖.

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Adaptado de Leite (2000)

Conselho Geral Director Departamentos Curriculares Conselho Administrativo Conselho Pedagógico Conselhos e Directores de Turma Serviços Administrativos SASE Serviços de Psicologia e Orientação Biblioteca Órgãos de Direcção, Administração e Gestão (DL. 75/2008) Serviços Administrativos, Técnicos e Técnico- Pedagógicos (DL. 75/2008) Estruturas de Coordenação Educativa e Supervisão Pedagógica (DL. 75/2008) forte colaboração