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5. A Escola Secundária Abel Salazar [ESAS]: um estudo de caso

5.2. A Escola

5.2.1. Enquadramento normativo e conceptual: do Projecto Educativo ao

5.2.1.2. O Regulamento Interno (RI)

A escola é uma organização, mas é uma organização diferente de todas as outras; instituição complexa, cuja complexidade organizacional exige, para o seu correcto funcionamento, a existência de um Regulamento que defina as regras e os vários direitos e deveres de todos os intervenientes no processo educativo (Costa: 1999).

Esse documento é o Regulamento Interno, cujo carácter normativo contém as regras ou princípios referentes à estrutura orgânica, pedagógica, administrativa e económica, que regulam a escola.

O Decreto-Lei 43/89 de 3 de Fevereiro, que enquadra o regime jurídico da autonomia da escola, apenas refere no seu artigo 11.º - da orientação e acompanhamento dos alunos – a elaboração de um Regulamento Interno, que ―estabeleça as regras de

convivência na comunidade escolar, a resolução de conflitos, de situações perturbadoras do regular funcionamento das actividades escolares e a aplicação de sanções a infracções cometidas‖, como uma das competências da escola.

No Decreto-Lei 172/91 de 10 de Maio, que define o novo modelo de direcção e gestão das escolas básicas e secundárias, são várias as referências feitas ao Regulamento Interno; no entanto, dizem apenas respeito às competências e atribuições dos diferentes órgãos de direcção, Conselho de Escola, Director Executivo, e Conselho Pedagógico, a quem compete a sua elaboração (Artigo 32.º - Competências do Conselho Pedagógico).

Será apenas o Decreto-Lei 115-A/98 de 4 de Maio, na redacção que lhe foi dada pela Lei 24/99 de 22 de Abril, que regula a Autonomia, a Administração e a Gestão dos

Estabelecimentos de Educação, a fazer ampla referência ao Regulamento Interno como um dos instrumentos, que em conjunto com o Projecto Educativo e o Plano Anual de Actividades constituem, de acordo com esse diploma, instrumentos do processo de autonomia.

Logo na alínea b) do n.º 2 do artigo 3.º o Regulamento Interno é entendido, no seu conceito, como ―o documento que define o regime de funcionamento da escola, de cada

um dos seus órgãos de administração e gestão, das estruturas de orientação e dos serviços de apoio educativo, bem como os direitos e os deveres dos membros da comunidade escolar‖.

Este Decreto-Lei enquadra e define ainda os órgãos de administração e gestão das escolas, remetendo a sua composição, competências e mandato para o respectivo Regulamento Interno, a elaborar pela Direcção Executiva90

, competindo ao Conselho Pedagógico ―Pronunciar-se sobre a proposta de regulamento interno‖91

e à Assembleia, aprová-lo92

; Este Regulamento fixa ainda as Estruturas de orientação educativa e

serviços especializados de apoio educativo que colaboram com o Conselho Pedagógico

e com a Direcção Executiva ―no sentido de assegurar o acompanhamento eficaz do

percurso escolar dos alunos na perspectiva da promoção da qualidade educativa‖

(artigo 34.º), mas onde, curiosamente, não consta qualquer referência à biblioteca escolar (o que já não acontecerá, mais tarde, com o Decreto-Lei 75/2008 de 22 de Abril).

No Decreto-Lei 6/2001 de 18 de Janeiro, que estabelece os princípios orientadores da organização e da gestão curricular do ensino básico, bem como da avaliação das aprendizagens e do processo de desenvolvimento do currículo nacional, apenas no seu artigo 12.º, Avaliação das Aprendizagens, é feita referência ao Regulamento Interno no sentido deste, através do seu articulado, assegurar a participação dos alunos e dos pais e encarregados de educação no processo de avaliação das aprendizagens.

Ao revogar o Decreto-Lei 115-A/98 de 4 de Maio, o Decreto-Lei 75/2008 de 22 de Abril, que ―aprova o regime de autonomia, administração e gestão dos

estabelecimentos públicos da educação pré-escolar e dos ensinos básico e secundário‖,

90 Artigo 17º 91 Artigo 26º c) 92 Artigo 10º c)

reafirma a importância fundamental dos documentos já referidos, sendo contabilizadas 31 citações.

Embora nos pareça tratar-se mais uma operação de cosmética semântica do que uma verdadeira alteração substantiva relativamente à Assembleia, órgão instituído pelo 115-A/98, uma importante determinação do Decreto-Lei 75/2008 é a instituição de um órgão de direcção estratégica onde estão representados todos os agentes educativos, o Conselho Geral.

A este órgão colegial de direcção cabe a aprovação das regras fundamentais de funcionamento da escola (Regulamento Interno), as decisões estratégicas e de planeamento (Projecto Educativo, Plano de Actividades) e o acompanhamento da sua concretização (Relatório Anual de Actividades).

Partindo deste pressuposto, no seu artigo 9.º93

decalca do 115-A/98 (artigo 3.º) a definição conceptual dos Instrumentos de autonomia. Aliás, numa primeira análise, necessariamente superficial porque outra não importa para este estudo, parece-nos que o Decreto-Lei 75/2008 é uma mera variação do Decreto-Lei 115-A/98. Não acrescentando nada de novo em termos de autonomia, bem pelo contrário (se com o Decreto-Lei 115- A/98 se estabeleceram 22 contratos94

, com o Decreto-Lei 75/2008 não foi ainda celebrado um único).

Vários artigos deste Decreto-Lei remetem para o Regulamento Interno a composição, as competências e o funcionamento dos diferentes órgãos de gestão e administração, nomeadamente o Conselho Geral (Artigo 12.º a 16.º) e o Director, a quem compete aliás, elaborar e submeter à aprovação do Conselho Geral as alterações ao Regulamento Interno (artigo 20.º), cabendo ao Conselho Pedagógico apresentar propostas para a sua elaboração (artigo 33.º).

Refira-se ainda a criação de um Conselho Geral Transitório (artigo 60.º) para efeitos de adaptação ao novo regime de autonomia, administração e gestão, com competência na elaboração e aprovação do primeiro Regulamento Interno (artigo 61.º), estabelecendo-se o prazo para a sua aprovação (artigo 62.º).

93 ―O Projecto Educativo, o Regulamento Interno, os Planos Anual e Plurianual de Actividades e o Orçamento constituem instrumentos do exercício da autonomia de todos os agrupamentos de escolas e escolas não agrupadas (…).‖

94

Relativamente à Biblioteca Escolar esta surge, neste documento, como fazendo parte dos Serviços Técnico-Pedagógico (ponto 4 do artigo 46.º95

). Reconhece-se neste artigo alguma infelicidade no entendimento que o legislador deixa transparecer, quer na forma quer no conteúdo, sobre a biblioteca escolar, nomeadamente quando afirma, de forma condicional, que ―os serviços técnico-pedagógicos podem compreender as áreas

de apoio socioeducativo, orientação vocacional e biblioteca‖, e que ―os serviços técnicos e técnico-pedagógicos referidos são assegurados por pessoal técnico especializado ou por pessoal docente‖.96

O Regulamento Interno da ESAS

O actual Regulamento Interno da Escola Secundária Abel Salazar (2009/2013) decorre, como tantos outros, da necessidade de adaptar este documento regulador por força dos normativos que entretanto foram saindo e que vieram alterar substancialmente a matriz legislativa dos principais documentos orientadores das escolas. Referimo-nos concretamente não só ao já citado Decreto-Lei 75/2008, mas também à Lei 3/2008 de 18 de Janeiro primeira alteração à Lei 30/2002 de 20 de Dezembro, que aprova o Estatuto do Aluno dos Ensinos Básico e Secundário, mais o Despacho 30265/2008 de 24 de Novembro, que clarifica a aplicação do regime de faltas definido na Lei 3/2008 e sua aplicação aos regulamentos internos das escolas, o que obrigou à elaboração de adendas até à formulação deste novo documento.

Relativamente ao presente Regulamento Interno, aprovado em Junho de 2009 para o quadriénio 2009/2013, importa salientar, não só, a sua concordância com os normativos legais em vigor, especialmente o Decreto-Lei nº 75/2008 de 22 de Abril, mas também, e de acordo com o disposto na Lei de Bases do Sistema Educativo, a forma como procura definir como a escola poderá, (i) contribuir para a realização dos alunos, através do pleno desenvolvimento da personalidade, da formação do carácter e da cidadania, preparando-os para uma reflexão consciente sobre os valores espirituais, estéticos, morais e cívicos e proporcionando-lhes um equilibrado desenvolvimento físico, (ii) desenvolver valores de liberdade, de solidariedade, de paz e de justiça;

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―Os serviços técnico-pedagógicos podem compreender as áreas de apoio socioeducativo, orientação vocacional e biblioteca.‖

entendendo-se ainda como indispensável a colaboração de todos os membros da comunidade educativa na consecução destes dois objectivos.

A Biblioteca Escolar no Regulamento Interno

A aplicação do Programa da Rede de Bibliotecas Escolares (desde 1997) subentende, (i) a criação de instalações adequadas e espaços especializados nas escolas, (ii) o desenvolvimento de uma política documental ajustada à população escolar, (iii) uma dotação orçamental anual que permita a sua sustentabilidade, (iv) uma equipa multidisciplinar estável e com o perfil adequado, (v) a aplicação de princípios de organização e funcionamento ajustados aos objectivos gerais propostos para as bibliotecas escolares e (vi) a articulação em rede com outras bibliotecas escolares ou

públicas (nomeadamente através do SABE97

das Câmaras Municipais).

De modo a operacionalizar estes pressupostos é indispensável que a biblioteca se integre na escola, mais, que seja entendida e interiorizada como um pólo dinamizador de competências de informação da própria escola. Em nosso entender, este desiderato cumpre-se de duas formas: (i) institucionalizando a Biblioteca no quadro normativo da escola através da sua integração clara e objectiva no seu Regulamento Interno, não devendo ser entendida como uma área marginal, e (ii) através de uma prática assumida por toda a comunidade educativa, não devendo o seu bom funcionamento depender de situações mais ou menos conjunturais, ou da maior ou menor sensibilidade dos

decisores da escola.

Mas se esta integração é fundamental é também importante notar que neste documento normativo, para toda a escola, determinadas normas devem ser definidas em termos gerais, não devendo, por exemplo, nele constar os regulamentos dos utilizadores nem questões de rotina ou de pormenor, que devem fazer parte do Regimento da Biblioteca.

Assim, num Regulamento Interno, estruturado em capítulos e secções, a Biblioteca Escolar, pela sua especificidade, e não esquecendo o enquadramento legal a que deve obedecer, deverá constar num capítulo de ―Serviços e Recursos‖, em secção específica e articulando, de forma sucinta, os seguintes itens: Objecto e Âmbito,

Princípios, Objectivos, Serviços, Organização, e Funcionamento.

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No anterior Regulamento Interno da Escola Secundária Abel Salazar (2005/2008), para além de algumas menções dispersas, a biblioteca só é referenciada especificamente num único artigo (73.º) Secção IV - Serviços especializados de apoio educativo -, onde, em três alíneas, se dá conta da Composição e Mandato da equipa responsável, remetendo-se as suas Funções e Competências para regulamento próprio.

Inversamente, no actual Regulamento Interno (2009/2013) a biblioteca, fruto de uma posição cada vez mais relevante no contexto das aprendizagens e desenvolvimentos de competências, é citada, como fazendo parte dos Serviços

Especializados de Apoio Educativo,98 em 10 artigos:  Artigo 67.º Definição

 Artigo 68.º Objectivos

 Artigo 69.º Política documental da escola  Artigo 70.º Organização e Gestão

 Artigo 71.º Parcerias

 Artigo 72.º Composição da equipa

 Artigo 73.º Perfil e competências do professor coordenador  Artigo 74.º Funcionamento

 Artigo 75.º Mandato

 Artigo 76.º Disposições finais

Finalmente, importa referir, por força da portaria 756/2009 de 14 de Julho que regulamenta a designação de professores bibliotecários a partir do ano 2009-2010, a necessidade de proceder aos ajustes necessários para que o Regulamento Interno, no que à biblioteca diz respeito e concretamente nos aspectos referentes ao professor bibliotecário, esteja em conformidade com o novo enquadramento legal.