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4. Enquadramento Metodológico

4.2. O Estudo de Caso

Desta forma, e dada a manifesta intenção de tentar compreender determinados processos que ocorrem num contexto organizacional específico (a Escola Secundária Abel Salazar) e a nossa condição de investigador individual adoptou-se como abordagem metodológica o estudo de caso, tido como uma ―investigação empírica (Yin, 1994) que se baseia no raciocínio indutivo (Bravo, 1998; Gomez, Flores & Jimenez, 1996) que depende fortemente do trabalho de campo (Punch, 1998) que não é experimental (Ponte, 1994) que se baseia em fontes de dados múltiplas e variadas (Yin, 1994). ‖ (Coutinho e Chaves, 2002: 224)

Esta opção pareceu-nos ser a mais adequada e vantajosa, para um investigador isolado, ―dado que proporciona uma oportunidade para estudar, de uma forma mais ou

menos aprofundada, um determinado aspecto de um problema em pouco tempo‖ (Bell,

2004: 23), permitindo observar e descrever detalhada e aprofundadamente um determinado fenómeno (Merriam: 1988), ou compreender melhor a particularidade de uma dada situação (Ponte: 1994b); é ainda a estratégia de pesquisa mais utilizada quando, ―(a) ‗how‘ and ‗why‘ questions are being posed, (b) the investigator has little

control over events, and (c) the focus is on a contemporary phenomenon within a real- life context.‖ (Yin, 2009: 2); a propósito das potencialidades, vantagens e limites do

estudo de caso na investigação em educação ver, entre outros, os trabalhos de Robert Bogdan e Sari Biklen (1994), Judith Bell (2004) e Robert Yin (2009).

Robert Yin define ―estudo de caso‖ com base nas características do fenómeno em estudo e com base num conjunto de características associadas ao processo de recolha de dados e às estratégias de análise dos mesmos. Ainda segundo Yin (2009), o estudo de caso é um processo de investigação empírica (empirical inquiry) com o qual se pretende estudar um fenómeno contemporâneo no contexto real em que ocorre, particularmente quando as fronteiras entre este (fenómeno) e o contexto em que ocorre não são claramente evidentes; acrescenta ainda que, pelo facto de muitas vezes ser difícil isolar o fenómeno em estudo do contexto em que ocorre, é normalmente necessário usar múltiplas fontes de evidência (multiple sources of evidence) e cruzar (triangular) os diferentes dados recolhidos. (cf. Yin: 2009)

Assim, seguimos no sentido de que a nossa investigação não recorresse apenas a uma única fonte de evidência mas a um leque alargado de fontes de informação razão pela qual, do ponto de vista metodológico optamos pela combinação e utilização de diferentes métodos de recolha de dados, (i) pesquisa e análise documental, designadamente, os documentos produzidos na escola; (ii) inquérito por questionário e respectiva análise estatística descritiva; (iii) entrevistas não estruturadas no sentido de clarificar alguns pontos menos claros, ou que tenham suscitado dúvidas após análise dos questionários; (iv) observação directa e participante; e (v) conversas informais.

Sendo geralmente considerados estudos qualitativos, os estudos de caso sugerem de facto a combinação de uma grande variedade de métodos, incluindo técnicas quantitativas, mas para isso,

―há que seleccionar métodos porque são estes que fornecem a informação de que necessita para fazer uma pesquisa integral. Há que decidir quais os métodos que melhor servem determinados fins e, depois, conceber os instrumentos de recolha de informação mais apropriados para o fazer.‖ (Bell, 2004: 95)

A utilização de múltiplas fontes de dados na construção de um estudo de caso, permite-nos por um lado, considerar um conjunto mais diversificado de tópicos de análise e, por outro, corroborar a informação obtida a partir de outras fontes.

Com o objectivo de reduzir/minimizar algumas das inevitáveis distorções que poderiam surgir resultantes da recolha de dados, de forma a respeitar a validade e fiabilidade interna na condução e desenvolvimento do nosso estudo e procurando

conferir-lhe uma maior validade, utilizar-se-á um processo de triangulação

metodológica e das fontes de dados (Stake: 2007; Yin: 2009).

Assim, para além do levantamento e inventariação de todo o tipo de documentação, passível de estudo, pretende-se ainda, numa primeira fase de recolha de dados, aplicar (i) o questionário de forma a obter uma imagem da percepção que a comunidade educativa (para efeitos deste estudo limitada a professores, alunos e funcionários), possui sobre a temática em apreço, e (ii) a entrevista, realizada apenas aos elementos da comunidade considerados chave (responsáveis pelos órgãos de gestão administrativa e pedagógica e responsáveis pelas diferentes estruturas técnico- pedagógicas); ancorada na mesma estrutura conceptual utilizada na construção do questionário, entretanto respondido, esta entrevista não estruturada permitirá, por exemplo, esclarecer e/ou aprofundar algumas questões afloradas no referido questionário e que tenham suscitado dúvidas aos respondentes, ou ao investigador, durante a sua análise.

Sendo o estudo de caso uma metodologia que envolve uma investigação aprofundada e detalhada de uma entidade bem delimitada59, definimos como unidades

de análise a inquirir (Bogdan e Biklen: 1994) todas aquelas que, directa ou

indirectamente, são actores participantes no processo informacional, nos seus diferentes níveis e contextos. Dentro destes consideram-se relevantes pelo papel de direcção e/ou gestão que desempenham, e por isso objecto de entrevista, o Director, os Coordenadores de Departamento, a Presidente do Conselho Geral, as Coordenadoras dos Directores de Turma e dos Cursos Profissionais, a chefe dos Serviços Administrativos e a chefe do Pessoal Auxiliar e o Presidente da Associação de Estudantes.

No que diz respeito à ―generalização‖ das conclusões e resultados de um estudo de caso, é necessário salientar que esta metodologia de investigação não tem o propósito de generalizar os resultados obtidos (até pelos constrangimentos próprios do comportamento humano) - donde os críticos desta abordagem, ao apontarem o facto de a generalização não ser geralmente possível, questionarem o valor do estudo de acontecimentos individuais (Bell: 2004) - mas sim um conjunto de conhecimentos práticos, apoiados por uma base teórica e por um quadro metodológico que permita

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Não esquecendo que, ―a escolha de um determinado foco, seja ele um local na escola, um grupo em particular, ou

qualquer outro aspecto, é sempre um acto artificial, uma vez que implica a fragmentação do todo onde ele está integrado.‖ (Bogdan e Biklen, 1994: 91)

conhecer profundamente casos concretos e particulares (Merriam: 1988; Yin: 2009), até porque normalmente é ao nível destes casos concretos e particulares que se pretende actuar, alterando, entre outros aspectos, as práticas quotidianas.