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Organograma 3: A Categoria 3 As Concepções de Pessoas Idosas com DP sobre o

2 APROFUNDANDO O CONHECIMENTO TEÓRICO SOBRE A PESSOA

2.4 A FAMÍLIA QUE CUIDA DA PESSOA IDOSA COM DOENÇA DE

Em todas as sociedades humanas, é necessário algum tipo de organização de convivência comum, que alguns consideram de subsistema ou unidade social que é representada pela família. Este é um termo definido por Ferreira (2004) “como pessoas aparentadas que vivem geralmente na mesma casa particularmente o pai a mãe e os filhos; também as pessoas do mesmo sangue; e a família nuclear é constituída pelo casal e seus filhos”.

Alonso (2003) define família com base na proximidade das relações sociais, e considera as pessoas que moram na mesma casa como uma “Primeira família”, que têm uma convivência diária próxima com relação de ajuda. Afirma que essa categoria inclui marido,

mulher e filhos que residem com o casal, pai e mãe do casal e filhos casados que moram em outra casa, no mesmo terreno e que compartilha os problemas pessoais. O mesmo autor considera como “Grande família” aquela que é constituída dos irmãos paternos e maternos, incluindo cunhados, primos, tios e sogros. A convivência entre eles é compartilhada em eventos sociais. Nesta não se compartilha os problemas pessoais e os projetos mais particulares.

Althoff (2002), em seu estudo sobre a família comenta que na era pós-moderna, “vários fatores tem interferido na organização familiar, como o trabalho feminino, o número reduzido de filhos, o aparecimento de mães de aluguel, as modernas técnicas de reprodução, além do grande número de separações, divórcios e famílias reconstituídas” (p.27). Estes fatores vêm trazendo para a sociedade vários tipos de família, inclusive os arranjos familiares. Isso ocorre, também, pelas diversas maneiras de estabelecimento de relações entre os seres humanos.

A idéia mais tradicional de família é aquela constituída por um homem e uma mulher, unidos por laços matrimoniais e pelos filhos nascidos dessa união.

A família, como grupo social, é uma unidade complexa e essencial para o processo de viver de todo ser humano. Ela não é apenas uma idéia abstrata, mas uma idéia que se concretiza através da convivência (ALTHOFF, 2002).

Essa convivência é muito importante para as pessoas, pois é nesse ambiente que se ama e se trocam reciprocamente os cuidados. Os pais, que, na grande maioria das vezes, proveram os filhos de alimento, educação, carinho e amor, ao longo da sua vida, agora, nessa fase, necessitarão de cuidados de quem outrora cuidou. Essa inversão de papéis incomoda muito o idoso, pois alteram- se as relações de poder dentro da família, portanto, precisa-se de cautela para lidar com este evento para não desencadear baixa da autoestima, isolamento e depressão, principalmente, se essa pessoa tem uma doença crônica como a DP e, se os cuidadores familiares são preconceituosos e não têm uma relação afetiva positiva com esse idoso ou não estão instrumentalizados para esse cuidar. Nesse caso, geralmente acontece situações de maus-tratos.

As pessoas com DP necessitam de cuidados da família e dos profissionais de saúde, pois esta doença traz consigo diversas demandas para o cuidar. Portanto, é salutar a formação de rede de suporte informal com familiares, amigos e/ou vizinhos. A Organização Mundial de Saúde (2005, p.38) diz que as mesmas: “precisam estar bem informados sobre as condições que têm de enfrentar, a evolução provável da situação e como obter serviços de apoio disponíveis”. Deve haver, também, a manutenção de vínculo desses cuidadores com as

unidades de referência e os profissionais de saúde para acompanhamento domiciliar e ambulatorial, a partir dos quais devem obter orientações para o cuidado ao idoso, e incentivo ao autocuidado, visto que as demandas físicas, psicológicas e financeiras são elevadas no que concerne à manutenção da vida, com qualidade, do idoso portador de DP e do seu familiar que, como cuidador, terá várias atividades que exigem paciência, perseverança, força física e mental.

Nesse sentido, o familiar cuidador deve ter opções de estratégias que o possibilite viver, cotidianamente, com a situação e não se torne vítima nem refém desse cuidar. O ideal é que a família cuide do idoso, no entanto, o Estado precisa oferecer rede de suporte formal através da qualificação de profissionais de saúde que atendam no domicílio, casa-dia, hospital-dia e em centros de referência com equipe multiprofissional e interdisciplinar.

Garantir a integralidade do cuidar ao idoso é a finalidade da Política Nacional de Saúde do Idoso (BRASIL, 2006), que estabelece como diretrizes: construir na sociedade a idéia de solidariedade para com este grupo etário; propiciar um envelhecimento ativo, preservando a autonomia do sujeito; fomentar uma rede estruturada de apoio social; garantir a atenção multiprofissional e interdisciplinar nos serviços de saúde e, estruturá-los sob a ótica do atendimento integral, humanizado e de qualidade para essa população. No entanto, esta política está apenas no papel, esperamos destarte que se converta em realidade para atender aos idosos e suas famílias.

Na contemporaneidade, as modificações na dinâmica do trabalho restringem a permanência dos ascendentes no âmbito da família e altera as composições dos núcleos familiares e suas possibilidades pessoais, de destinar cuidados aos idosos. Mesmo estando amparado pela Constituição de 1988, que estabelece, nos artigos 229 e 230:

Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores tem o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade.

A família, a sociedade tem o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo- lhes o direito à vida. (BRASIL, 1988)

Entretanto, nem sempre a família pode cuidar do idoso seja pela incapacidade financeira e/ou psicológica para a função, seja por negligência e/ou maus-tratos, ou, pela sua inexistência, sendo, portanto, imprescindível implementação das políticas públicas, devido à urgência na necessidade de se criar moradia para as pessoas idosas. Logo, as instituições asilares de longa permanência para idosos (ILPIs) podem ser uma alternativa para estas

situações ou, para quando os idosos não sejam capazes de se manterem sozinhos, na comunidade.

Mesmo sendo um grande desafio para o sistema de saúde pública, o Sistema Único de Saúde, equânime e integral, deve desenvolver formas para atender a esta demanda, através do planejamento e execução de programas e políticas voltadas para a saúde dos idosos.

Segundo a OMS (2005, p.34), as políticas mais eficazes são aquelas que “abordam o desenvolvimento de comunidades, a promoção da saúde, a prevenção de doenças e a participação crescente”. A formulação dessas políticas, por parte dos gestores de saúde, perpassa, inicialmente, pela avaliação das necessidades da população e pelo levantamento dos recursos financeiros disponíveis, medidas indispensáveis para a elaboração de ações resolutivas que prezem o elevado padrão de qualidade.

Caldas (2003, p.774) afirma que “seria de fundamental importância [...] saber quais são os gastos de um paciente idoso com alto grau de dependência para o Sistema Único de Saúde [...]”. Além disso, pesquisar quais são as patologias mais prevalentes e quais são os procedimentos mais requisitados – dentre atendimentos médicos especializados, exames diagnósticos, tratamento medicamentoso e terapias de reabilitação – são pontos essenciais para que se possa direcionar a alocação dos recursos de maneira inteligente e conveniente, adequando a oferta à demanda e permitindo, assim, a elaboração de estratégias que atendam, de forma efetiva, a melhoria da qualidade de vida dos idosos assistidos. Também com intuito de estabelecer referência e contrarreferência para apoiar a família após a alta hospitalar.

A política da OMS para intervenção junto à população idosa é baseada na idéia de envelhecimento ativo, que, segundo tal organização (2005, p.13), consiste no “processo de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida, à medida que as pessoas ficam mais velhas”. Ressalta ainda que “a palavra ‘ativo’ refere-se à participação contínua nas questões sociais, econômicas, culturais, espirituais e civis, e não somente à capacidade de estar fisicamente ativo [...]”. Desse modo, devem ser pensadas formas de intervenção que contemplem todos esses aspectos, baseadas nas necessidades dos idosos e de suas famílias em cada localidade.

A política de envelhecimento ativo da Organização Mundial da Saúde (2005) tem como base Princípios das Nações Unidas para o Idoso: independência, participação, assistência, auto-realização e dignidade, além de conter três pilares de ação: a saúde, com a garantia de acesso universal e integral; a participação, incluindo atividades socioeconômicas, espirituais e culturais; e a segurança, tanto social quanto física e financeira, assegurando proteção, dignidade e assistência.

Ainda no tocante às propostas de intervenção na saúde do idoso, Ramos (2003, p. 797) defende que devem ser adotadas estratégias que visem à promoção e manutenção da capacidade funcional dos idosos, alegando que “identificar causas tratáveis de déficit cognitivo e de perda de independência no dia-a-dia deveriam tornar-se prioridade do sistema de saúde”. Assim, nós, profissionais de saúde, temos o dever de sensibilizar e mobilizar a sociedade para tornar reais as ações que estão estabelecidas nas Políticas Públicas do Brasil.