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Organograma 3: A Categoria 3 As Concepções de Pessoas Idosas com DP sobre o

5 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

6.1 AS CONCEPÇÕES DE PESSOAS IDOSAS COM DOENÇA DE PARKINSON

6.1.2 Limitação do Viver Cotidiano

Para Ferreira (2004), limitação é o ato ou efeito de limitar-se, diminuição, insuficiência. Portanto, nessa categoria, a DP faz a pessoa conceber a doença como diminuição do seu viver diário e, nesse sentido, as falas dos Colaboradores colocam-nos diante da realidade de pessoas que estão impossibilitadas de exercer o ofício. E essa lida era uma atividade que lhe dava satisfação, alegria, prazer e fonte de renda, sendo que, de repente, levanta na manhã, toma café e não sabe mais o que viver.

Emocionado, ele fala: Nunca tive férias e me vê hoje parado... Sentado dentro de casa, o que nos remete a refletir sobre a dor física e psicológica causada pela perda das funções produzidas pela doença. A percepção da doença como agente limitante, que os impossibilitam de trabalhar naquilo que tanto gostam, e ficar em casa piora a condição física e emocional, funcionando como tortura, que é enfrentada através da socialização e do diálogo com a família. Os Colaboradores têm consciência da necessidade de sair, de realizar atividades, fazer fisioterapia. Vejamos os relatos dos Colaboradores:

[...] essa doença vai limitando e não tenho mais força para fazer aquilo que quero e tenho vontade [...] sinto que o corpo já não aguenta mais. [...] Olha é meio difícil ela (DP) atrapalhou minha vida toda... Hoje, eu sinto que tudo está pela metade, o pensamento, o andar, o agir, [...] a DP vai limitando tudo, a cada ano que passa a gente vem sentido que está mais deficiente. (C1, 60 anos)

[...] a gente acostumado a batalhar no dia a dia [...] Como eu falei, a dificuldade maior foi essa, chegou a ponto de não conseguir tirar a barba, [...] a roupa para vestir dava trabalho, o sapato para calçar dava trabalho. [...] Para mexer o prato não mexia mais, (C3, 60 anos)

A doença também vem através do trabalho porque eu tenho 52 anos de profissão, nunca tive férias na minha vida, sempre na luta porque gostava da minha função, gostava do que fazia. E me ver hoje parado, [...]sentado dentro de casa, eu nunca tive essa oportunidade, eu fico bastante chateado, [...] talvez até a doença me acresça um pouco após isso, porque eu sinto a necessidade do trabalho, [...] nada melhor do que você acordar de manhã, tomar o seu café e saber o que vai fazer. [...] Eu fazia isso todos os dias e depois de 52 anos mais ou menos, eu aí, não consigo mais trabalhar, porque tenho o problema do tremor [...]. (C5, 70 anos)

[...] Ela (DP) limita passear, sair, viajar dificulta muito. Eu gostava de viajar e tirar férias em janeiro, mas de um ano para cá eu parei. (C9, 60 anos)

O que mais me incomoda é não poder trabalhar, pois eu gostava muito de trabalhar e com isso eu não posso trabalhar, com esse braço tremendo como é que vou trabalhar? [...] Como é que vou pegar as coisas? Pode quebrar, não é? Cair da minha mão e pronto. [...]Eu gostava de dançar de brincar e deixo passar as coisas! (C6, 69 anos)

[...] é uma doença que de qualquer forma é ruim, incomoda muiiiito, atrapalha a vida demais, atrapalha andar, atrapalha fazer as coisas, atrapalha tudo (disartrofonia) e até conversar mesmo, [...] Atrapalha, tem hora que a pessoa vai falar e a voz não sai, sai malmente àquela voz rouca, tem vez que parece estar rouca. [...] De dez anos para cá não fui mais ao supermercado, não fui mais à feira livre. [...] (C7, 77 anos)

Antes do Parkinson era bom, eu ia para todos os cantos, [...] eu ia para rua, fazia feira, eu arrumava tudo, cuidava do meu filho na cama direto, eu que limpava ele, dava banho, cuidava da minha casa [...] A doença de Parkinson atrapalha muito, [...] (C2, 71 anos)

Por esses relatos, é possível inferir quea DP revela-se como fator limitante das ações cotidianas, gerando dificuldades para andar, conversar, pegar objetos, ir às compras, viajar, passear, trabalhar.

Essas limitações físicas decorrentes do tremor, bradicinesia, e rigidez muscular funcionam como precursoras de comprometimento da capacidade funcional, de realização das atividades profissionais e atividades da vida diária, favorecendo ainda outra limitação, a financeira, por diminuição da receita e aumento de custos com o tratamento.

A capacidade funcional é a capacidade para realizar as tarefas do dia-a-dia sem depender de outras pessoas. Sendo assim, as falas dos Colaboradores já apontam para sua diminuição. E na literatura, Souza e Iglesias (2002 citado por TRELHA et al., 2005, p.38), a funcionalidade é definida:

[...] pela independência do indivíduo viver, realizar suas atividades físicas e mentais necessárias para manutenção das suas atividades básicas e instrumentais, ou seja: tomar banho, vestir-se, realizar higiene pessoal, transferir-se, alimentar-se, manter a continência, preparar refeições, controlar as finanças, tomar medicamentos, arrumar a casa, fazer compras, usar transporte coletivo, usar o telefone e caminhar uma certa distância.

Portanto, as narrativas dos idosos comprovam a dificuldade que eles têm de execução das pequenas coisas do dia-a-dia e de adaptação a essas mudanças. Diante desse contexto, temos subsídios que corroboram a subcategoria em análise, que é a incapacidade funcional.

Segundo Alves et al. (2007), a incapacidade funcional é definida como a inabilidade ou dificuldade de realizar tarefas que fazem parte do cotidiano do ser humano e que normalmente são indispensáveis para uma vida independente e autônoma na comunidade.

Vitoreli, Pessini e Silva (2005) verificaram que a alta prevalência de doenças crônicas, na terceira idade, pode comprometer o estilo de vida dos indivíduos acometidos, em razão das diversas limitações impostas pelo tratamento e pelas complicações na sua mobilização e função mental.

Os aspectos limitantes ocasionados pela DP, informados pelos Colaboradores, tais como: atividades da vida diária, comunicação, a interação social, o autocuidado, mobilidade, saúde e qualidade de vida, reforçam a importância da família e do suporte formal na adoção de medidas que favoreçam a participação dos idosos em atividades sociais, atividades fisioterápicas, atividades corporais, entre outras, que sejam preventivas de complicações, promotoras de reabilitação e manutenção da independência.

Além dos aspectos emocionais e físicos, a DP altera também as relações sociais, pois atrapalha e afeta as relações no trabalho, na família e no convívio com amigos/vizinhos. Segundo Lira, Nations e Catrib (2004), a doença constitui uma situação problema que afeta a vida cotidiana, causando ruptura e desordem, exigindo dos indivíduos medidas

normalizadoras que lhes permitam enquadrar a experiência geradora de ruptura em esquemas interpretativos e reintegrá-las, assim, à zona não questionada da vida cotidiana.