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Organograma 3: A Categoria 3 As Concepções de Pessoas Idosas com DP sobre o

3 TEORIA DA DIVERSIDADE E UNIVERSALIDADE DO CUIDADO

Essa Teoria foi construída pela enfermeira americana Madeleine Leininger em 1985, quando trabalhava com crianças de diferentes nacionalidades e percebeu que cada uma tinha suas especificidades, construída, a partir da cultura, mesmo havendo coisas que eram comuns a todas.

Diante da situação, avaliou que havia uma lacuna no cuidado de Enfermagem que precisava ser preenchida por meios de estudos em diversas culturas, buscando conhecer a diversidade com que estas desenvolvem o cuidado. Nesta perspectiva, Leininger lança mão de fundamentos da Antropologia para subsidiar sua teoria.

Leininger realizou vários trabalhos e desenvolveu o primeiro método de pesquisa genuinamente da enfermagem o qual denominou de Etnoenfermagem, isto é, o “estudo das crenças, valores e práticas de atendimento de enfermagem, como percebidos e conhecidos cognitivamente por uma determinada cultura, através de suas experiências diretas, crenças e sistemas de valores” (LEININGER apud GEORGE, 2000, p.297).

Leininger elaborou pressupostos e conceitos importantes para a teoria de enfermagem transcultural, conhecida hoje como Teoria da Diversidade e Universalidade do Cuidado Cultural, e definida como:

Um ramo da enfermagem que enfoca o estudo comparativo e análise de culturas com respeito a enfermagem e às práticas de enfermagem de cuidados de saúde-doença, às crenças e aos valores, com a meta de proporcionar um serviço de atendimento de enfermagem significativo e eficaz para as pessoas de acordo com seus valores culturais e seu contexto de saúde-doença. (Ibid., p.298).

Leininger destacou a importância do conhecimento obtido da experiência direta daqueles que a experimentaram, denominado-o como êmico, e construiu essa teoria da enfermagem com base na premissa de que as pessoas de cada cultura não apenas podem saber e definir as formas nas quais experimentam e percebem seu mundo de atendimento de enfermagem, mas, também, podem relacionar essas experiências e percepções com suas crenças e práticas gerais de saúde. Baseado nessa premissa, o atendimento de enfermagem desenvolve-se no contexto cultural do qual a pessoa faz parte. Por isso, a necessidade de se conhecer a realidade vivenciada pela pessoa idosa com DP e a visão que tem da doença e do cuidado familiar, pois esse conhecimento poderá servir para a enfermagem avaliar sua própria prática de cuidar.

Leininger (1991 apud GEORGE, 2000) assegura que o cuidado humano é central para a enfermagem como disciplina e como profissão. Ela reconhece e propõe a preservação do cuidado como a essência da Enfermagem. Para alcance dos seus objetivos, criou o modelo do sol nascente no qual define fases do processo de enfermagem, para um atendimento baseado na cultura da pessoa. Ela apresenta argumentos convincentes para o uso do modelo na orientação de pesquisa com métodos qualitativos e etnográficos, apoiando a importância de descobrir o que é, de explorar a essência e os significados do cuidado.

Ela caracterizou sua teoria como sendo de cuidado cultural porque traz os componentes culturais para o cuidado, tanto do ponto de vista da vivência da pessoa cuidada, quanto pela articulação com os conceitos fundamentais da Antropologia e da própria Enfermagem. Acrescentou, posteriormente, os termos “universalidade” e “diversidade” porque acreditava que, não obstante a variedade sociocultural, impunha elementos divergentes, pois há na cultura práticas de saúde específicas e padrões prevalentes que são comuns culturalmente.

Na apresentação de sua teoria, em 1991, ela definiu vários termos, apesar de considerar que eles poderiam ser alterados, conforme a cultura estudada. Além dessas definições, ela apresentou pressupostos que apóiam a sua previsão de que culturas diferentes percebem, conhecem e praticam os cuidados de maneiras diferentes, apesar de haver pontos comuns nos cuidados de todas as culturas do mundo.

Desse modo, o foco da teoria é a abordagem teórico-prática do cuidado a famílias, grupos, comunidades e instituições, na perspectiva cultural e holística, sendo esta a essência da atuação profissional da enfermagem. O sujeito da ação é o enfermeiro, e os indivíduos, famílias, ou grupos são ativamente envolvidos no processo de cuidar, tornando-se coparticipantes na busca de cuidado congruente, com base em negociação, evitando imposições por parte do enfermeiro (LEOPARDI, 2006).

A demarcação científica dessa teoria tem conceitos complexos e múltiplos e sofre influência, principalmente de Margaret Mead, mas propõe uma estrutura sistêmica, exigindo conhecimento da Antropologia Cultural. É uma proposta que permite a classificação dos elementos do cuidado, facilitando o diagnóstico e avaliação. Na visão de Leininger, a enfermagem é uma disciplina de cuidados transculturais humanísticos. No que concerne ao alcance e limites, a proposta amplia o conceito de cuidado, pois estabelece uma possibilidade de diversidade de ações, de acordo com a cultura, sendo útil na assistência de grupos e nas estratégias de saúde da família (LEOPARDI, 2006).

Monticelli, Alonso e Leopardi (1999) informam nos estudos transculturais realizados por Leininger que foram constatados vários elementos do cuidado como: apoio, conforto, estimulação, observação, envolvimento, toque, respeito, prevenção, ajuda, amor, confiança e simpatia. Também foram destacados conceitos importantes da teoria, tais como: saúde, enfermagem, cultura e cuidado cultural, que são assim definidos:

Saúde: um estado de bem-estar culturalmente definido, valorizado e praticado, que reflete a habilidade de indivíduos ou grupos para desempenhar suas atividades diárias de forma culturalmente satisfatória (p. 97).

Enfermagem: uma profissão científica e humanista, que é aprendida e focalizada no fenômeno e do cuidado humano e em atividades para assistir, apoiar e facilitar ou capacitar indivíduos ou grupos para manter ou reaver o seu bem-estar, de uma forma culturalmente significativa e satisfatória, ou para ajudá-los a enfrentar as dificuldades ou a morte (p. 97).

Cultura: conjunto de valores, crenças, normas e modos de vida de um determinado grupo aprendidos, compartilhados e transmitidos e que orientam seu pensamento, suas decisões e suas ações de maneira padronizada (p. 97).

Cuidado Cultural: é aquele em que os valores, crenças e modos de vida padronizados, aprendidos e transmitidos subjetiva e objetivamente, assistem, apóiam, facilitam ou capacitam outro indivíduo ou grupo a manter o seu bem-estar, a melhorar suas capacidades e modo de vida, a enfrentar a doença, as incapacidade ou a morte (p.98).

Baseado na diversidade e universalidade do cuidado cultural, Leininger sugere o Modelo do Sol Nascente (SUNRISE) como guia (Anexo G) para execução do processo de enfermagem e para atingir os objetivos de cuidar de forma congruente, com a cultura do indivíduo ou grupo. Leininger (1991 apud LEININGER; MCFARLAND, 2006) apresenta três tipos de interação entre enfermeiro e cliente:

Preservação do cuidado cultural/ manutenção: refere-se às ações ou decisões do enfermeiro para apoiar, facilitar ou capacitar o cliente no restabelecimento da saúde ou enfrentamento da morte; (p.8).

Acomodação do cuidado cultural/negociação: refere-se às ações ou decisões profissionais de assistência, suporte e capacitação que estimulam as pessoas de um determinado grupo cultural para uma adaptação ou negociação de seu modo de vida, com os profissionais que prestam cuidados, visando a alcançar um resultado de saúde benéfico ou satisfatório; (p.8).

Repadronização/reestruturação do cuidado cultural: refere-se às intervenções profissionais, que ajudam os seres humanos a reorganizarem seu modo de vida com padrões de cuidados diferentes, respeitando os valores culturais e crenças dos clientes, integrados a possibilidade de um modo de vida mais sadio para alcançar adequada qualidade de vida (p.8).

Portanto, a Teoria da Diversidade e Universalidade do Cuidado Cultural vem sendo usada ao longo dos anos como referencial teórico e/ou metodológico de estudos realizados pela enfermagem em diversos países. No Brasil, a teoria é um importante instrumento para se conhecer a clientela que a enfermagem assiste. Tal fato contribui para elaboração de novos conhecimentos que culminam com a implementação de um cuidado culturalmente congruente à realidade do indivíduo.

Nessa perspectiva, a equipe de Enfermagem, ao usar a Teoria, passa a compreender e respeitar a autonomia e individualidade do cliente, refletindo sobre as crenças, valores e necessidades, tanto de quem cuida como de quem é cuidado. Superando, deste modo, velhos paradigmas, deixando de levar em conta apenas as suas próprias convicções e filosofia.

Assim, acreditamos que a Teoria, embora tenha limitações como todas as teorias, seja útil para aqueles pesquisadores que desejam enveredar pela pesquisa na área de enfermagem transcultural e apontar um caminho para guiar a nossa prática assistencial, de ensino e pesquisa. Nesse sentido, servirá de subsídio para atendermos a parcela da população que mais cresce no Brasil e no mundo, a população idosa.