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Organograma 3: A Categoria 3 As Concepções de Pessoas Idosas com DP sobre o

5 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

6.1 AS CONCEPÇÕES DE PESSOAS IDOSAS COM DOENÇA DE PARKINSON

6.3.4 Impaciência

A impaciência dos cuidadores familiares é explicitada nos depoimentos dos Colaboradores, ao demonstrar que a família tem afeto, ações de atenção; entretanto, ocorre falta de paciência, atribuída ao cansaço da dupla jornada de trabalho – o profissional e os

afazeres domésticos/cuidados ao idoso –, o desconhecimento da doença, falta de interesse pelo outro, e as alterações de comportamento do próprio idoso, inerentes ao envelhecimento e à DP. Esta subcategoria leva-nos ao que Waldow (2004) chama de “não cuidado” no qual exemplifica citando: “a pessoa ficar horas chamando e não aparecer ninguém; realizar o cuidado de forma mecânica, rude, sem vontade”. Diante do exposto vejamos nos relatos:

Tem que ter paciência. (C13, 84 anos)

Meu esposo não ajuda nos cuidados, ele não ajuda em nada, ele pode estar assim dormindo, se eu ficar sem poder andar ele nem se abala, às vezes eu peço e ele levanta provocando, se tiver deitado e chamar para dar ajuda, levanta todo aborrecido parecendo que eu tenho culpa. No modo que ele fala parece que eu tenho culpa: Mas como é que tava boa, tal dia ou mais cedo tava boa e agora já está desse

jeito? Eu digo a ele, a Ezequiel, (esposo): Eu não sei o porquê, eu não sei porque eu fico assim. não é porque a pessoa quer. Isto é da doença. [...] A minha filha que

cuida de mim, mas ela não tem muita paciência não, boa pessoa, boa menina, não falta nada aqui dentro de casa, porque tudo que eu peço a ela, não falta nada, o remédio ela tem o maior cuidado, quando vai terminando ela vai comprar, é assim tem o maior cuidado, mas paciência ela não tem muito não. [...] Eu sei que tem hora, eles pensam até que é abuso, eu penso assim comigo, mas eles não dizem, não, eu acho assim que acham abuso... Eles sabem, mas nem todo mundo é igual! Não há desavenças em casa, apenas o marido reclama e fica zangado, mas o quê que eu posso fazer? Eu não sei se é a natureza dele mesmo que é assim, pois nós já temos tantos anos de casados, cinquenta e três anos. [...] Paciência não, ela fica nervosa. Ela trabalha! E levanta cedo para trabalhar, chega em casa cansada. E, às vezes, eu não posso nem esquentar a comida. (C7, 77 anos)

Até brigam comigo, porque eu faço as coisas, eu quero fazer e eles não deixam fazer, só falam: Não faça não! Você é teimosa não é para fazer isso. Deixa eu fazer e eles: Vá ficar quieta lá no canto. [...] Eu sinto assim aquela tristeza porque a gente gosta de fazer as coisas, (C6, 69 anos)

Eu tenho carro e todos os filhos sabem dirigir. É, mas o adolescente é muito disperso disso (cuidado). Eles não estão cuidando e se têm vontade não percebo também, não. [...] A gente tem que contar os detalhes, quando chega seis horas da tarde para pegar o pão pega o dinheiro bota no bolso e vai para a academia e só volta nove horas da noite ou nove e meia com o pão. [...] Essa falta de cuidado, não precisa nem brigar para isso. (C9, 60 anos)

A minha esposa que cuida de mim, é uma pessoa maravilhosa, (risos discretos) só às vezes que ela fica um pouco nervosa, [...] No tratamento e exames sempre ela, [...] Ela é paciente tem algum momento assim que ela não é. Porque de qualquer maneira a pessoa não é inflexível a um troço diferente. Não entende bem porque de qualquer maneira, não é? Nem eu que sou portador da doença não entendo bem esse negócio, [...] apenas a pessoa que fica acompanhando a gente, precisa de certa paciência para tolerar os abusos da gente. (C11, 79 anos)

Algumas coisas a minha companheira faz para ajudar-me. [...] Na verdade ela gostaria que não fosse assim, mas aconteceu. [...] Os cuidados que ela me presta são bons, (risos) é bom... Não, eu acho tudo normal sem necessidades de demarcar o que foi bom e o que foi ruim, eu quero agora olhar para frente. (C12, 60 anos)

Do depoimento dos Colaboradores emergiram a necessidade dos cuidados, a dependência, a sobrecarga de trabalho para a família, a intolerância e superproteção da

família. Vemos nos relatos, narrativas ambíguas, em relação ao cuidado, pois fala do cuidado como suprimento das necessidades materiais, mas sente carência afetiva em relação aos filhos. Alguns justificam a ausência dos filhos, que relaciona às exigências da vida, principalmente do trabalho, e, mesmo assim, dizem que os filhos fazem o possível para atender às necessidades, sobrando-lhes pouco tempo para fazer companhia ao idoso. Há cônjuge que age com negligência e omissão, causando maus-tratos pelo “não- cuidado”.

Os maus-tratos ao idoso são definidos como ato único ou repetidos, ou ainda, ausência de ação apropriada que cause dano, sofrimento ou angústia e que ocorram dentro de um relacionamento de confiança (OMS, 2002). Na literatura, os maus-tratos são classificados em: físico, verbal, psicológico ou emocional, sexual, econômico e negligência (MENEZES, 1999). Esta última é expressa por uma Colaboradora, cujo marido negligencia as necessidades da idosa, que, ao ir ao banheiro sozinha à noite, fica exposta ao risco de quedas, além de ficar na cama na mesma posição com receio de pedir-lhe ajuda.

Em um estudo de revisão sobre essa temática, Espíndola e Blay (2007) encontraram cinco artigos abordando a negligência (privação da assistência necessária para as atividades diárias), com prevalência de 0% a 24,6%. Desses estudos, o realizado em Cuba por Miranda et al. a negligência ocorreu com 24,6 % dos idosos, enquanto nos Estados Unidos por Pillemer e Finkelhor o percentual foi 0,4% (ESPÍNDOLA; BLAY, 2007).

Na realidade, percebemos que a família traz aspectos cuidativos positivos, ajudando na manutenção da vida e do bem-estar do indivíduo, porém tem ações negativas, como no caso dos Colaboradores Sete, Nove e Doze, com os quais aparecem negligências, omissões e impaciências das famílias que deveriam funcionar como elo de desenvolvimento afetivo.

Caldas (2002) traz em sua pesquisa com cuidadores de idosos em processo de demência que é necessário ter muita paciência, capacidade de aceitar e enfrentar a doença, flexibilidade, compreensão, adaptação, planejar estratégias para o cuidado, dividir tarefas entre todos da família, e trabalhar a aceitação, exercício da paciência e superação.

Na DP, a personalidade da pessoa altera-se, tornando-a passiva, inativa, e, se não for estimulada pela família a reagir, poderá desenvolver depressão ou demência. A depressão ocorre em aproximadamente 40% e a demência pode atingir de 15 a 20% dos idosos com DP (SILBERMAN et al., 2004; FAHN, PRZEDBORSKI, 2002).

Camargos et al. (2004), em um estudo, aponta que a depressão nem sempre é reconhecida pelos próprios pacientes, pois somente 1% dos indivíduos relata a depressão, comparado a 50% dos que foram considerados depressivos quando avaliados por uma escala.

Neste contexto, o relacionamento familiar fica comprometido pelo cansaço e sofrimento, pela dificuldade de entendimento entre o idoso e o cuidador que, muitas vezes, age sob a pressão que está vivenciando ao assumir o cuidado e a falta do suporte informal com familiares, amigos, vizinhos; e formal com profissionais de saúde, grupos de ajuda mútua e instituições (SERAPIONE, 2005).

Assim, o cuidador familiar consegue desenvolver o cuidar fazendo adaptações que geram custos materiais e comprometem a sua saúde física e mental, o qual, diante das várias dificuldades, acaba agindo sem paciência, por não dispor de suporte emocional, financeiro e social (CALDAS, 2002).