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Organograma 3: A Categoria 3 As Concepções de Pessoas Idosas com DP sobre o

5 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

6.1 AS CONCEPÇÕES DE PESSOAS IDOSAS COM DOENÇA DE PARKINSON

6.3.1 Satisfação e Gratidão

Uma das formas de conceber o cuidado familiar, que emanou dos relatos dos Colaboradores, é o Cuidado familiar como Satisfação e Gratidão, porque é a família que atende suas necessidades básicas e afetivas, com as quais eles estão satisfeitos e são gratos pelos cuidados recebidos.

No que diz respeito ao papel da família, a Constituição Brasileira reza sobre o dever que têm os filhos maiores de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade, devendo ocorrer de preferência nos lares. Entretanto, ressalta a responsabilidade do Estado e da sociedade em amparar as pessoas idosas.

Assim, na sociedade brasileira, tanto do ponto de vista da organização social como legal, recai sobre a família, a responsabilidade de cuidar das pessoas idosas vivendo em situação de cronicidade, sem ser dado à mesma um preparo para tal função (SOUZA; BRÊTAS, 2005).

Cuidar é, pois, manter a vida garantindo a satisfação de um conjunto de necessidades indispensáveis à vida, e que são indispensáveis na sua manifestação (COLIÈRE, 1999).

Os idosos reconhecem o empenho, o amor, a preocupação, o incentivo que a família lhes assegura para a manutenção da vida, por isso associaram o cuidado familiar à satisfação e gratidão. Os relatos explicitam a valorização e gratidão, bem como a alegria e o prazer que a família pode proporcionar com ações cuidativas simples como um telefonema, portanto, mesmo distante pode se proporcionar conforto e carinho. Com a perda da capacidade para o autocuidado e/ou realização de atividades na comunidade, o idoso passa a depender do cuidado familiar, que expressam como:

É tudo de bom que pode existir, ela (esposa) cuida muito de mim, me dá apoio nesse sentido, não posso reclamar, [...] Até então estou satisfeito. A companheira está junta, conversamos bastante um com outro. Quando não há desavenças, a gente tem satisfação, fica tudo beleza, tudo junto só coisas de casais mesmo, motivos pesados nunca existiu não. Nada desagradável nunca. (C5, 70 anos)

Olha se não fosse a minha família ser o que é... Para mim as coisas estariam muito ruins. [...] Eu me sinto próximo de quase todo mundo, continua a mesma amizade. (C1, 60 anos)

É uma bênção de Deus porque se não fosse a minha neta, como é que eu estaria aqui? Pois meus filhos, todos já são adultos casados, trabalhando e com família... Essa menina, foi Deus que colocou na minha frente. [...] Eu peço a Deus pela minha família que é uma bênção de Deus. [...] Elas representam uma bênção de Deus. [...] Ah! Minha neta, eu não vou hoje, não. E minha neta incentiva muito. Às vezes eu estou ruim [...] minha neta cuida de um jeito e de outro e fala: Vamos mãe (a neta chama-a de mãe) a senhora vai. [...] Eu vou lhe dá isso para a senhora comer ou

Os filhos é que vêm e ajudam, fazem tudo. [...] Na minha família os cuidados estão bons para comigo, graças a Deus. [...] Quanto aos cuidados do marido comigo é beleza, faz tudo, [...] O apoio familiar é forte aqui, toda vida me deu apoio. Eu não posso ficar triste, fica todo mundo preocupado. Perguntam: Tu estás triste? Por que

estás triste? Não posso nem baixar a cabeça, assim... (demonstra encostando o

cotovelo na mesa apoiando a cabeça), pois eles ficam todos preocupados, às vezes não estou nem pensando nada, mas ficam pensando que estou triste, mas eles ficam preocupados. [...] Eu sei que não pode ficar triste e que tem que ficar alegre. [...] O cuidado familiar é beleza na vida, beleza... É uma benção de Deus. [...] vivo bem com meus filhos, não tenho aborrecimento graças a Deus, sou feliz, [...] graças a Deus a mim não falta nada. (C6, 69 anos)

Quanto ao cuidado da companheira, eu acho que gosta de mim assim, me trata muito bem, eu não posso dizer nada, porque não tenho nada que dizer dela. [...] Por que não tem o que dizer... Os filhos telefonam quase todos os dias de Salvador e o da fazenda também, tem telefone na Fazenda. [...] Telefona quase todos os dias, nos domingos ela (filha) telefona, no feriado porque ela trabalha numa firma. (pausa e respiração ofegante). (C8, 77 anos)

Afinal de contas Aminadabe (esposa) é nota dez. A minha esposa que cuida de mim. Assim, Aminadabe passa os procedimentos para o acompanhante (cuidador formal contratado apenas para os cuidados ao idoso), saber assim a questão da alimentação, essas coisas assim. [...] Eles compreendem, pois são esclarecidos, os filhos ajudam, eles são ótimos, são maravilhosos, eles entendem. [...] Eles têm cuidados, conversam, trocam idéias, e essas coisas assim (C11, 79 anos).

O quê que eu penso? É maravilhoso. Minha filha às vezes me ajuda a tomar banho, tenho medo de cair no banheiro, ela me ajuda a segurar. Agora mesmo eu estou muito atacada, não estou podendo levantar da cama, tenho dificuldade de levantar da cama. [...] Os cuidados são ótimos (C13, 84 anos)

O relacionamento positivo entre os casais favorece os atos cuidativos, pois emana a compreensão, a relação de afetividade como as relatadas pelos Colaboradores. As Colaboradoras Dois e Seis sentem o aconchego e a cumplicidade da relação com os maridos. Vale salientar que a Colaboradora seis fala com muita alegria dos cuidados do marido, que faz tudo dentro de casa. Essa realidade pôde ser observada durante a pós-entrevista. Quando observei o marido da idosachegar e organizar minuciosamente a capa de sofá, varrer o arroz da sala que a neta havia derramado no chão, demonstrando intimidade com afazeres doméstico. Além disso, retirando-se da sala com a neta, pedindo-lhe silêncio, pois a avó e eu estávamos conversando. Por esses detalhes pude comprovar a veracidade da fala desta Colaboradora.

Essa Colaboradora revela toda sua satisfação e gratidão, sendo a única a ter cuidador masculino. Ao observar a conduta do marido desta, percebe-se o companheirismo verdadeiro. Em contrapartida, a Colaboradora Sete não vive essa proximidade e afeto do marido, deixando-a triste, sentindo-se sozinha e abandonada por aquele com quem convive há mais de cinquenta anos. Esta Colaboradora já chegou a pensar em suicídio.

Ao compararmos as vivências das Colaboradoras Seis e Sete, podemos inferir que a importância do cuidado familiar dispensado pelo cônjuge foi fundamental para a satisfação da Colaboradora Seis, e decepção da Colaboradora Sete.

Na fala da Colaboradora Dois, apareceu a responsabilidade e a solidariedade do cuidado intergeracional, no qual a neta demonstra ajudar no atendimento das necessidades humanas básicas, através das ações como banho, alimentação, afeto e estimulando a participação social através do GAM, bem como ajudando na superação da síndrome do ninho vazio, pois três filhos morreram e seis estão casados e morando em suas residências.

Na fala do Colaborador Oito surge a atenção à distância, pois os filhos oferecem um suporte emocional e psicológico através de contatos por telefone. O idoso sente-se amado e querido por membros da família, referindo satisfação com a atenção. Neste contexto, os Colaboradores significam o cuidado familiar como satisfação e gratidão.

Neste aspecto, Zimerman (2005), ao refletir sobre envelhecimento e cronicidade, diz que: se o velho admitir que algumas doenças crônicas são inevitáveis e aceitá-las, ele se sentirá bem, procurará viver buscando satisfações e, consequentemente, não será um doente solitário.