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METODOLOGIA DA PESQUISA

3.3 Questionários aplicados: apresentação dos resultados

3.3.2 A família e a sua escolarização

Em relação à escolaridade do pai, verificou-se que dois deles pos- suem ensino fundamental incompleto e apenas um tem o ensino médio completo, o maior grau de escolarização encontrado entre os pais.

Na pesquisa, foram evidenciadas situações em que um filho não teve contato com o pai e não sabia sua escolaridade, sendo que, em tal situa- ção, a mãe era a responsável pela família.

Verifica-se que a escolaridade da mãe supera o nível de escolaridade alcançado pelo pai. Nota-se maior número de mulheres que possuem o ensino médio, duas delas ou estão cursando ou interromperam o ensino superior (de acordo com os dados, uma das mães possui ensino superior incompleto).

Os melhores índices educacionais das mães possuem impacto dire- to nas ocupações exercidas, visto que, conforme demonstrado anterior- mente, já se verifica que a mãe/madrasta desses estudantes está inserida em ocupações que exigem a formação superior e também atua em áreas que necessitam de maior conhecimento técnico, como o funcionalismo público.

Assim como já evidenciado por Sousa (2013), nas gerações atuais, se verifica a existência de acesso aos graus mais elevados de escolarida- de, pois os filhos têm ultrapassado a escolaridade atingida pelos pais.

Em relação à escolaridade dos avós paternos e maternos, verificou- se que a grande maioria dos estudantes pesquisados (cinco deles) não sabe responder a respeito e apenas um informou a escolaridade dos avós, constatando-se que possuem, majoritariamente, o ensino fundamental incompleto, sendo que o menor índice de escolaridade constatado foi da avó materna, que é analfabeta.

Sobre a importância da obtenção de informação sobre os avós para melhor elucidar as trajetórias escolares desses estudantes, Viana (2000) afirma: “Acreditamos, como Laurens (1992), que algumas práticas e sig- nificados escolares só se tornam compreensíveis quando colocados no contexto da genealogia familiar” (VIANA, 2000, p. 48).

O pouco conhecimento da trajetória escolar dos avós nos leva a in- ferir que assuntos relativos a estudos não eram muito abordados no con- vívio dos estudantes com seus avós ou que esses estudantes não manti- veram contato com esses familiares.

Considerando a escolaridade dos pais e avós dos estudantes pes- quisados em relação ao fato de esses estudantes estarem a caminho da conclusão do curso superior, constata-se, em conformidade com os re- sultados da pesquisa de Sousa (2013, p. 114), que:

Nesse contexto, os estudantes pesquisados são provenien- tes de uma configuração familiar que gradativamente foi sendo integrada aos níveis mais elevados de ensino. Assim, se as referências para uma escolarização de longo curso não vieram dos avós, ou mesmo do núcleo familiar mais restrito, como mãe e pai, possivelmente, na configuração familiar e social mais ampla, estes estudantes puderam se espelhar, visto que os índices de inserção no Ensino Supe- rior de tios, primos e amigos foram significativos.

Ao assinalar as referências de escolarização superior por parte de tios, primos e amigos dos estudantes de camadas populares, Sousa (2013) remete-nos a pensar sobre as circunstâncias atuantes mencio- nadas por Portes (2000), e se pode inferir que a presença de familiares ou amigos que tenham cursado ou estejam cursando um curso superior pode ser um fator favorecedor da longevidade escolar dos estudantes de camadas populares.

Quando questionados se os pais tinham o hábito de guardar livros e cadernos escolares dos filhos, quatro dos estudantes pesquisados afir- maram que essa prática estava presente na sua família.

Em relação aos materiais de leitura que eles tinham disponíveis em sua residência quando eram crianças, a metade relatou que havia jornais, e dois deles disseram que havia, em sua casa, livros acadêmicos, infantis e religiosos. Dois estudantes informaram não haver nenhum material de leitura em sua residência na época em que era criança.

Acerca da utilização da escrita no ambiente familiar na época em que era criança, verificou-se que, em cinco famílias dos estudantes pes- quisados, tinha-se o hábito de escrever cartas. Os estudantes também

informaram o hábito de escrever bilhetes, diários e lista de compras. Um estudante destacou que a escrita não era utilizada na residência familiar durante sua infância.

Dentre as atividades que realizavam com sua família quando eram crianças (podendo-se informar até três atividades), verificou-se que cin- co respondentes participavam de atividades e brincadeiras no bairro e três iam com a família para a igreja ou culto.

Ao questionar se os pais incentivaram ou incentivam o estudante a continuar a estudar, quatro estudantes afirmaram que sim, e cinco afir- maram que os pais acham que a escola é útil para o dia a dia.

Em relação à quantidade de escolas que frequentaram até o ensino médio, todos os estudantes afirmaram terem frequentado até três escolas no percurso até a conclusão dessa etapa, não havendo, portanto, em sua trajetória escolar, mudanças frequentes de instituições visando à busca de estabelecimentos escolares de maior qualidade ou prestígio.

Quase a totalidade dos respondentes (cinco casos) revelou que a mãe era principal responsável pelo acompanhamento escolar dos filhos, situação essa também apontada nos estudos de Lahire (1997) e Portes (1993, 2001).

Essa maior presença das mães no acompanhamento escolar dos fi- lhos também pode estar relacionada ao fato de elas possuírem maior grau de escolaridade em relação aos pais e, dessa forma, mais recursos escolares para orientar os filhos quanto à realização dos deveres.

Acerca do contato dos pais com os professores no período de edu- cação básica, os dados demonstraram que quatro dos pais conheciam apenas alguns professores, e não houve menção da situação em que os pais não tiveram contato com nenhum professor durante a formação educacional básica de seus filhos.

Foram encontrados dois casos em que os pais sempre compareciam às reuniões ou festas escolares. Não se verificaram respostas informando que os pais nunca compareciam às reuniões ou festas escolares.

Esses dados indicam uma presença dos pais nos eventos promo- vidos pela escola ou quando convocados para esclarecimentos sobre o desenvolvimento acadêmico dos filhos, fato que demonstra um acompa- nhamento escolar dos filhos desde a infância.

Também foi perguntado aos estudantes trabalhadores quais ações seus familiares empreenderam para melhorar seu rendimento acadêmi- co. Como era de se esperar, nesse quesito, verificou-se um percentual significativo de estudantes que alegaram não ter havido investimento adicional em sua educação.

Confrontando essa resposta com os demais dados referentes à par- ticipação nas reuniões escolares e a reação positiva da família frente à escola, partiu-se do pressuposto que a utilização do termo técnico “investimento na educação” na questão formulada no questionário pode não ter sido interpretada corretamente pelos estudantes, os quais entenderam que investimento na educação seria algo restrito ao inves- timento financeiro.

TRABALHAR E ESTUDAR, EIS A