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f í e m , que dizer acerca disso? Na sua maneira de pensar, quem é que deveria ser introduzido no “hall da fam a” da Fé? Jó ou seus “am igos” ? Já está na hora de você dar seu voto. A quem escolherá?

Sugiro que, antes, você considere atentamente o caso de Jó. A questão a ser respondida é esta: Em questões de fé, Jó integra o “hall da fam a” , lado a lado com luminares como Abraão, Isaque e Jacó? Ou seria um hom em carnal e sem fé, cuja propensão para confissões negativas acarre- tou-lhe a própria queda, tão trágica?

Antes de votar, porém, considere o que o autor de best- sellers, Benny Hinn, tem a dizer. Ele afirma que as tribu- lações de Jó lhe sobrevieram porque ele proferiu palavras de medo e fez acusações a Deus. Hinn descreve Jó como hom em “carnal” e “m au”, asseverando inclusive que a “boca de Jó era seu m aior problem a” . Em essência, ele diz que Jó tocou no lado negativo da força por meio de suas volumosas confissões negativas.1

A fim de que florescesse a m ensagem da Fé, Jó preci- sava cair. E ele realmente caiu - mas não por ser culpado de alguma grande falha moral. Antes, foi derrubado por

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um a cam panha de ataques maliciosos, na qual foi temera- riamente caricaturado por Hinn como um dos maiores fra- cassos da fé de todos os tempos.

Naturalmente, Hinn precisou ignorar o claro contexto das Escrituras para liberar sua diatribe contra Jó. Pois enquanto Deus o cham a de hom em justo, Hinn diz que ele é carnal. Quando Deus o cham a de bom, Hinn acusa-o de mau. Quando Deus diz que Jó falou corretamente, Hinn diz que ele fez um a confissão negativa.

Deus deixou claro que Jó era “íntegro e reto, temente a Deus, e que se desviava do m al” (Jó 1.1,8; 2.3). De fato, o Senhor chegou a declarar a Satanás que “ninguém há na terra semelhante a ele” (Jó 1.8; 2.3).

A despeito dos elogios divinos recebidos por Jó, Benny Hinn insiste em atacá-lo. N um a das cenas mais horrorosas que jam ais testifiquei num a televisão evangélica, Hinn não somente aviltou Jó por sua falta de fé, mas denegriu uma das maiores declarações de fé jam ais proferidas em meio à tragédia.

Apesar do aviso sombrio de Provérbios 30.6 (“Nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda e sejas achado m entiroso”),2 Hinn adicionou a palavra “nun- ca” ao texto de Jó 1.21, revertendo assim completamente o significado da passagem. Encorajado pela audiência, riu- se: “Vocês sabem o quê? Já dissemos isso um milhão de vezes, e nem ao menos é bíblico — tudo por causa de Jó: Ό Senhor deu, e o Senhor o tom ou’. Tenho uma novidade para vocês: isso não é a Bíblia; não é a Bíblia. O Senhor dá e nunca tom a de volta. E somente porque ele disse:

‘Bendito seja o nome do Senhor’ não significa que estava com a razão. Quando falou: ‘Bendito seja o nom e...’, Jó estava apenas sendo religioso. E ser religioso não significa que você está com a razão” .3

O arroubo de Hinn não é fato isolado. Muito antes de ele atacar Jó, homens como Copeland,4 Capps,5 Savelle,6 Crouch7 e uma hoste de outros já o tinham feito.

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Não somente esses mestres da Fé alteram a passagem para que ela diga precisamente o contrário do que está registrado na Bíblia, mas tam bém ignoram que o versículo seguinte das Escrituras elogia Jó com as seguintes pala- vras: “Em tudo isto Jó não pecou, nem atribuiu a Deus falta algum a” (Jó 1.22).

Jó teimosamente se recusou a am aldiçoar seu Criador, em meio às mais profundas dores que se possam imaginar. Ele fora selecionado como o sujeito de um duro teste de fé, por que era, indisputavelmente, o m aior hom em de fé que estava vivo. Deus declarou que a fé de Jó era verda- deira. Satanás, porém, dizia que era inconstante. Basta que sejam tomadas suas possessões, sugere o diabo, e a fé de Jó tam bém desaparecerá.

Conforme revelam as Escrituras, Jó não somente pas- sou no teste da fé galhardamente, como demonstrou a notável profundeza de sua fé quando proferiu aquelas pa- lavras memoráveis: “Nu saí do ventre de minha mãe e nu tomarei para lá; o Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor” (1.21). Em lugar de amai- diçoar a Deus, conforme sugerido por sua mulher (2.9), ou atribuir sua tragédia a algum pecado oculto, como seus “am igos” o exortaram, Jó deixou sua sorte nas mãos de Deus, que é infinitamente justo e misericordioso.

Os amigos de Jó - tal como os correligionários deles, Hinn e os mestres da Fé - insistiram que Jó tinha pecado e por isso m erecia as calam idades que lhe sobrevieram. Elifaz, o temanita, à sem elhança de Tilton, jactava-se de ter autoridade religiosa e visões misteriosas; Bildade, o suíta, tal como vários mestres da Fé, gostava de proferir clichês de efeito; e Zofar, o naamatita, igual aos mestres do nomeie-o e reivindique-o modernos, acreditava que as calamidades de Jó era resultado de pecado não revelado. Todos esses “consoladores” apegavam-se à crença de que a enfermidade e o sofrimento eram resultantes de pecado oculto ou de confissões negativas. Não obstante, Deus

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confirm ava constantemente que Jó era hom em sem culpa e reto.

Zofar foi o hom em de menor tato dentre os que acusa- ram diretamente Jó. Ele repetia constantemente o refrão: “Jó, estás sendo punido por causa do teu próprio pecado’’. Jó sabia, entretanto, que suas calamidades de alguma ma- neira faziam parte do plano soberano de Deus. A seme- lhança do apóstolo Paulo, Jó acreditava que “todas as coisas contribuem juntam ente para o bem daqueles que am am a Deus, daqueles que são chamados por seu decre- to” (Rm 8.28).

O livro de Jó elabora um a defesa hermética da fé de Jó. Q uem pode se esquecer da sua declaração inesquecível de fé: “Ainda que ele me mate, nele esperarei; contudo, os meus caminhos defenderei diante dele” ? (13.15). Essa sin- guiar declaração provou quão profunda era a sua depen- dência de Deus. Ele valorizou essa fé sobre a própria vida. Sua perspectiva eterna está engastada indelevelmente em suas palavras: “Porque eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim se levantará sobre a terra” (19.25).

De fato, a m aior dem onstração de fé consiste em conti- nuar confiando em Deus quando não se entende o que está acontecendo. Como seria possível a Hinn perder de vista o tem a central do livro de Jó? Deus não somente nos com- partilha o conteúdo da conversa mantida com Satanás - o que aliás, serve para evidenciar a intenção perversa deste ser decaído - , mas tam bém deixa claro, por sua condição de Soberano, que permite o sofrimento na vida de seus santos a fim de purificá-los e conformá-los à sua vontade e ao seu propósito.

Depois de tudo o que foi dito e feito, Deus ordena a todos que cessem seus discursos insensatos (caps. 38—41). E, do meio dum a tormenta, num a fala gotejada de sarcas- mo, mas sem intenção destrutiva, Deus pergunta de Jó e de seus amigos se eles poderiam compreender as vastas extensões da Terra (37.18). Suas palavras majestosas var-

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rem a face da Terra e proclamam, poderosamente, sua soberania sobre todas as criaturas e a criação em geral. No fim de seu discurso, Deus condena os amigos de Jó e ordena que busquem as orações daquele a quem haviam insultado, para que pudessem ser perdoados (42.8,9).8 Fi- nalmente, tece elogios a Jó, visto que falara a respeito dEle apenas o que era reto (42.7,8).

Diante dessa evidência, qual será o seu voto? Jó mere- ce entrar no “hall da fam a” da Fé? Ou seria ele nada mais que um vergonhoso exemplo de confissão negativa?

O único voto válido em função das Escrituras só pode ser em favor da introdução de Jó nesse hall. Aqueles que m aculam o caráter de Jó - tanto seus “am igos” , como os mestres da Fé — não negam pertencer ao “hall da vergo- nha” , a que têm um particular direito por sua fé antibíblica.

A verdade é que as características necessárias para al- guém ser levado ao “hall da fam a” a Fé pouco ou nada têm a ver com aquelas tão efusivamente alardeadas pelos mestres da Fé. A fé, longe de ser uma força mágica, conjurada através de fórmulas fixas, é a espécie de confi- ança em Deus exemplificada por Jó. Ele perseverou em meio à aflição, confiando em Deus a despeito do vendaval que lhe bagunçou a vida, lançando-o num a condição de ignomínia e esquecimento.

A verdadeira fé, pois, consiste em perseverar em meio ao temporal. Esta fé é a característica mais acentuada na vida do apóstolo Paulo, que não somente combateu o bom combate, mas tam bém terminou a carreira e conservou a fé. Sua fé, tal como a de Jó, não se firmava em circunstân- cias temporárias da vida, mas estava estabelecida sobre o Autor e Consum ador da fé, o próprio Cristo (cf. Hb 12.1).

O “hall da fam a” da Fé, para decepção de alguns, não está ornado com o brilho e o glam our daqueles que escar- necem do conceito bíblico da fé. Antes, apinha-se de ho- mens e mulheres que seguem no trem dos que, voluntaria- mente, dão suas vidas ao serviço do Rei dos reis.

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A galeria dos heróis da fé não contém relatos apenas daqueles que, à semelhança de Gideão, Baraque, Sansão, Jefté, Davi, Samuel e os profetas, pela fé conquistaram reinos; lá tam bém estão os que foram torturados, chicotea- dos e sofreram zombarias; os que foram agrilhoados e lançados na prisão; apedrejados e mortos; despojados; per- seguidos e maltratados. Não obstante, todos foram igual- mente elogiados por sua fé — porquanto sua confiança não se firmava em circunstâncias, mas em Deus.

Esteja certo de que Jó foi um autêntico herói da fé. De fato, parece que Deus não pensava em honrar a fé de Jó exclusivamente no livro que tem seu nome. Por duas ve- zes, no livro de Ezequiel, Jó é exaltado, juntam ente com Noé e Daniel, como hom em de integridade e fé incondici- onais (Ezl 14.14,20). E quem poderia esquecer-se do que disse Tiago, não poupando palavras em seu elogio a Jó pela paciência e perseverança demonstradas em meio à dor e ao sofrimento? (Tg 5.11).

Ironicamente, Hinn é laçado por suas próprias palavras, quando conclui sua invectiva contra Jó com a seguinte declaração: “Toda confissão errada vem do inferno. Isso é o que a Bíblia ensina. Quando você diz algo que discorda da Palavra de Deus, você está sendo literalmente controla- do pelo inferno” .9 Por conseguinte, Hinn ficou pendurado na forca erigida por suas próprias palavras. Pois ao discor- dar dos claros ensinamentos das Escrituras, está de fato sendo “literalmente controlado pelo inferno” .

O Jó bíblico traçou um a vereda de fé para todo o povo de Deus que se lhe haveria de suceder - pessoas que, como Joni Eareckson Tada, têm aprendido que a verdadei- ra fé não equipa necessariamente alguém para levantar-se da cadeira de rodas, mas antes, prepara-o para usar a ad- versidade como um meio de conduzir hom ens e mulheres ao reino de Deus. A tragédia real não é a paraplegia ou a m orte prematura. A verdadeira tragédia é viver m uito tem- po e com toda a robustez, m as não para a glória de Deus.

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Sem dúvida alguma, Joni preferiria suportar a tragédia e a dor por algum tempo se, por meio delas, a graça de Deus a permitisse influenciar o destino eterno de milhões de cria- turas humanas.

Algum dia, em breve, a saúde e a riqueza significarão muito pouco. Tudo quanto vai lhe interessar é que o pró- prio Senhor Jesus Cristo volte-se para você e diga: “Bem está, servo bom e fiel. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor” (Mt 25.21).

PARTE III

Homens e

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