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CAPÍTULO I : O TABU DO FEMINISMO / CONTRIBUIÇÕES DE MULHERES NA

1.7 Feminismo Radical

As feministas radicais têm por objetivo formar novas identidades políticas. Segundo Grossi (1998), essa vertente deve sua manifestação, em parte, ao feminismo socialista e dá início ao desenvolvimento de ideias sobre as diferenças entre mulheres e grupos de mulheres, e não apenas entre o homem e a mulher. No entender de Santos, neste sentido, para elas, a expressão ―Mulher‖ não significa o mesmo que ―Mulheres‖ (2004, p. 3). Essa observação que começa com o feminismo socialista é posteriormente desenvolvida numa perspectiva radical em que ser mulher jovem não é o mesmo que ser mulher adulta, ser mulher negra, ser mulher pobre ou ser mulher rica, e assim por diante. Dessa maneira, constituem uma vanguarda que traz para a pauta de discussões a ênfase na questão de que não há uma mulher universal, e sim mulheres plurais.

Elizabete Rodrigues Silva23 (2008), quando discorre sobre a origem e desenvolvimento da vertente do feminismo radical, aponta que é no final dos anos de 1960 e inicio dos anos de 1970, que surgem os estudos sobre mulheres, gerando problemas teórico-metodológicos e desacordos entre as diferentes vertentes do movimento feminista. Nesse momento as mulheres colocavam a sua própria condição de mulher no centro da discussão, levantando discussões menos aceitas, como a questão do aborto, do prazer sexual feminino e da homossexualidade entre mulheres. De acordo com Silva (2008), a luta era pelo fim do absolutismo da família biológica e a favor da bissexualidade, em que a diferença genital entre os sexos não mais importava. Isso porque acreditavam que para haver a liberação da mulher fazia-se necessário acabar com o patriarcado, de modo que as mulheres pudessem ter controle sobre a reprodução, e assim as diferenças genitais não teriam mais significado cultural. Elas identificaram as

23 Professora titular da Educação do Estado da Bahia e da Faculdade Maria Milza - FAMAM, e Professora Pesquisadora I do PARFOR/UFRB. Tem experiência na área de História e Estudos de Gênero, com ênfase em História Regional do Brasil.

46 esferas da vida consideradas privadas como centros da dominação patriarcal, ao analisarem as relações de poder estruturantes da família e da sexualidade.

Assim, esse pensamento radical expõe de forma aberta a própria condição da opressão. A origem desse pensamento esteve entre as mulheres que começaram a se organizar em oposição às contínuas discriminações que sofriam nas organizações de esquerda das quais participavam, como já apresentado acima. Segundo Pinto (2003), identificavam os homens como os principais agentes da opressão, tomando as outras formas de opressão como extensão da elevação masculina. Concentravam seus esforços na conscientização e, para tanto, organizavam grupos exclusivamente femininos.

As feministas radicais argumentaram que a dominação masculina excluía as mulheres da história, da política, da teoria, e das explicações prevalecentes da realidade [...] perguntando-se como seria diferente se elas – história, antropologia, ciência política, etc. – tivessem considerado relevante considerar o ‗ponto de vista feminino‘(Piscitelli, 2002, p. 14).

A assertiva de Piscitelli estimula a reflexão sobre a valorização das atividades realizadas pelas mulheres, de modo que se este ―ponto de vista feminino‖ fosse considerado no encaminhamento de possíveis mudanças na organização social, esta já se encontraria em outro patamar de desenvolvimento.

Esse radicalismo propôs, como meio de combate à cultura patriarcal, a redefinição e a construção de um novo espaço social, no qual as mulheres seriam agentes na composição de instituições sociais. Para essa vertente, as instituições e os conceitos haviam sido construídos numa esfera de cultura masculina, o patriarcalismo, o que levou as mulheres a ocuparem uma esfera de subordinação em sua situação social, ou seja, no menor grau de valor e sem contribuir na organização social e política. Pode- se verificar a sincronia entre esse posicionamento e o pensamento de Engels:

A emancipação da mulher só se torna possível quando ela pode participar em grande escala, em escala social, da produção, e quando o trabalho doméstico lhe toma apenas um tempo insignificante [...] A supremacia efetiva do homem na casa tinha posto por terra os últimos obstáculos que se propunha ao seu poder absoluto. Esse poder absoluto foi consolidado e eternizado pela queda do direito materno, pela introdução do direito paterno e a passagem gradual do matrimônio sindiásmico à monogamia (Engels, 1991, p. 182).

47 A partir dessa citação de Engels podemos inferir que as mulheres encontravam- se, portanto, subjugadas e silenciavam frente às instituições e conceitos estabelecidos, de modo a perpetuar a violência contra elas, tanto física, quanto moral e psicológica. De acordo com Costa (1998), foi nesse momento que um dos conceitos que faziam parte da pauta de discussões internacionais ganhou destaque, o conceito de direitos reprodutivos, até então manipulado com base nos referenciais masculinos.

Ressalta-se, conforme mostra Pinto (2003), que o feminismo radical no Brasil marcou sua atuação num contexto de lutas e reflexão, em circunstâncias históricas que marcaram posicionamento contra a ditadura militar e a censura, nas décadas de 1970/1980, por meio do qual se lutava pela democratização do país, pela anistia e por melhores condições de vida. Foi, também, um momento de significativa demarcação das feministas brasileiras em suas manifestações. Elas mobilizaram-se e atuaram sobre temas como sexualidade, direito ao prazer e ao aborto, e demandaram que as ações de controle de natalidade e o próprio planejamento familiar estivessem sob responsabilidade de políticas públicas estruturadas. De acordo com Silva (2008), nesse período houve a elaboração e a conceituação do ―gênero‖ como uma construção social das identidades sexuais. A partir de então a questão do gênero tornou-se objeto dos estudos das feministas.

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