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Um “fichário de ideias” e muitos “papagaios”: a leitura e a escrita de Oliveira Vianna

Vianna, um novo livro teu vale por festa mental das que deixam imperecível recordação. [...] é a mesma firme rocha, sólida má- quina de bem pensar que o Brasil tem em casa e não aproveita. Vejo anunciado o II vol de Populações. Que venha. Estou ansioso por ele; como eu, estão todos que leram o I. [...] Adeus meu caro. Saúde e produção. Do Lobato. (Carta de Monteiro Lobato a Oli- veira Vianna) 19

Li com simpatia o artigo de Julinho de Mesquita [do Estado de São Paulo], a quem fui ligeiramente apresentado na passagem para o R. Grande do Sul. Ele tem carradas de razão: para que ler testamentos, inventários, atas da Câmara? Está tudo no Le Play, está tudo na Science Sociale (revue), está tudo no Oliveira Viana. (Carta de Capistrano de Abreu a Paulo Prado. Rio, 25 de novembro de 1922) (ABREU, 1977, p. 428).

A obra de Oliveira Vianna é vasta e muito diversa, até porque produzida ao longo de décadas, sendo que vários textos inéditos – alguns incomple- tos e organizados por terceiros – foram publicados após sua morte. Aliás, a Editora José Olympio, que detinha os direitos de edição quando de seu falecimento, beneficiou-se desse fato, anunciando que nove livros, ainda desconhecidos do público, entrariam brevemente em circulação. Como Castro Faria (FARIA, 2002; VENÂNCIO, 2009, p. 173-188) chama a atenção, a obra de um autor é um conjunto complexo que, nesse caso, envolve li- vros, matérias de jornal, correspondência, pareceres técnicos e até mesmo curtas anotações. Oliveira Vianna escreveu muito e, também, se esforçou muito para tornar sua reflexão, em especial aquela em suporte livro, um “todo” dotado de sentido e estabilidade. Algo que, segundo o analista mencionado, muitos de seus comentaristas acabaram assumindo, quer porque tomassem um de seus livros como representativo desse pseudo “todo”, quer porque vissem incongruências em seu pensamento, como se “de fato” (como Oliveira Vianna desejava), uma obra fosse algo sempre harmônico e sem transformações no decorrer do tempo.

Para tal perspectiva, contribuiu decisivamente uma de suas práticas de escrita. Vianna costumava ser, ele mesmo, seu próprio prefaciador. Os textos de apresentação de seus livros são fontes valiosas para se observar como ele orientava seus leitores, destacando as ideias principais do livro e apontado como elas se articulavam com o que ele já havia publicado e, igualmente, com o que ainda estava sendo objeto de planejamento. Tam- bém apontava quais autores o haviam inspirado, especialmente naquele trabalho, respondendo a objeções, quando era o caso de reedições. Enfim, sendo o prefácio um texto em que o autor se dirige diretamente ao leitor, Oliveira Vianna dele se aproveitava (como poucos o fizeram) para fixar uma imagem de “autor” que ele gostaria de encarnar. Nessa medida, os prefácios, sobretudo os das reedições, são de grande valor para responder às críticas; para o esclarecimento de alterações que pudesse ter realiza- do; e, também, para justificar os acréscimos, que iriam atualizar o texto, enriquecê-lo, enfim, torná-lo melhor. Exemplos não faltariam, bastando percorrer alguns desses prefácios. Contudo, o que mais me interessa nes- sa menção é destacar uma ocorrência banal que, paradoxalmente, parece pouco observada. A de que Oliveira Vianna recebeu muitos elogios, mas também recebeu críticas, durante todo o tempo em que publicou. Embora desejasse, esteve longe de ser um consenso, mesmo sendo um exemplo raro de autor que praticamente se consagrou com seu primeiro livro. Po-

rém, ele escreveu muito e, tendo-o como guia, é possível recuperar não apenas uma espécie de cronologia de seu trabalho, como igualmente, algumas características que marcariam sua escrita.

Para tanto, é interessante ressaltar que Oliveira Vianna foi um pro- fessor, embora os indícios sejam de que essa não era a profissão de seus sonhos. As notícias de Letras Fluminenses assinalam que ele começou a ganhar a vida dando aulas de matemática em casa e de história no Colégio Abílio, estabelecimento de ensino muito prestigiado. Tornou-se, em 1916, professor da Faculdade de Direito do estado do Rio de Janeiro que, em 1921, passou a se chamar, Faculdade de Direito de Niterói. Deu aulas de Teoria e Prática do Processo Penal e Direito Industrial, sendo que o mais interessante não é sua atuação em classe, mas sua ação extraclasse. Isso porque, é na convivência com um grupo de alunos mais próximo a ele, que seria fundado o Clube de Sociologia, no qual funcionava como um orientador de leituras e, também, de pesquisas de campo. Faziam parte desse time de aspirantes a sociólogos-bacharéis exatamente os que se chamariam seus “discípulos” e que se encarregariam da guarda de sua memória, todos, aliás, reconhecidos como homens de letras fluminenses: Alberto Lamego, Geraldo Bezerra de Menezes, Marcos Almir Madeira, Dayl de Almeida, Vasconcelos Torres e Hélio Palmier, entre outros. Essa amizade, portanto, foi crescendo com o passar tempo, perdurando, como se viu, até a morte do autor. Da Faculdade esses alunos se transferiram para a residência de Vianna, que passaram a frequentar, observando e participando do próprio processo de escrita de seus textos. Em função disso, é possível flagrar Oliveira Vianna em seu cotidiano de vida e traba- lho, pelo relato de Vasconcelos Torres sobre uma dessas visitas que, tudo indica, eram uma constante no relacionamento entre eles:

[...] chegávamos pela manhã e o surpreendíamos na espaçosa va- randa, entregue à leitura de jornais. Os artigos que despertavam sua atenção eram recortados e à medida que se ia inteirando do noticiário esparramava as folhas pelo chão. Logo nos conduzia à biblioteca e comentava o último livro lido ou abria a gaveta e nos exibia os originais do próximo estudo, escolhendo um capítulo para que o lêssemos em voz alta. De ver como seguia atentamente a leitura, determinando aqui e ali uma interrupção para uns comentários. Nós formávamos como que uma pequena sociedade para ele. As poucas visitas que fez foi sempre a um de nós, os amigos moços que contavam com sua afeição (VENÂN- CIO, 2015).

Esses moços são a mais evidente demonstração de como o tempo vivido na Faculdade de Direito de Niterói deixou marcas na vida pessoal e profissional de Vianna, demarcando seu círculo “familiar” de sociabilidade intelectual. A passagem inicial da descrição de Torres, por exemplo, coin- cide exatamente com uma fotografia de Vianna, já idoso e lendo jornal em sua casa, entre folhas esparramadas pelo chão. Ela está (em parte) na capa do livro de Castro Faria e integralmente, na página 3 de Letras Flu-

minenses, ilustrando o artigo de Dayl de Almeida, “As palavras na obra de

Oliveira Vianna”. O tom apologético dessa matéria, como era de esperar, quer assinalar a grande preocupação de Vianna pelo “apuro da forma” e “o carinho pelas belezas da linguagem”; não por “ambições literárias” e sim “[...] para ser preciso na grafia de suas ideias e fiel a seus pensamentos [...].” Ou seja, a forma de escrita apenas se submetia à precisão do con- teúdo que se queria fixar. Assim, ao mostrar como Vianna teria sido um obcecado por esse tipo de precisão, Dayl de Almeida nos mostra como eram os originais dos livros deixados por ele, onde se veria um excesso de emendas nas provas tipográficas e, no caso das reedições, um “[...] grande número de vocábulos substituídos, para não falarmos nas formas sintáticas aqui e ali modificadas [...].” Um prato cheio para os estudos literários, mas certo paradoxo para o discípulo, pois ele mesmo reconhece que Vianna costumava afirmar que não retificava o conteúdo de seus livros. Talvez, seja possível aventar, porque isso pudesse soar como uma mudança de suas ideias ou até pior, uma “adequação” a críticas sofridas. Algo que feria o desejo de se construir como um autor coerente, que planejava e dava continuidade a sua obra ao longo do tempo. Dessa forma, a solução encontrada por Almeida foi explicar essa “severa revisão” de palavras, em cada nova edição, como uma vontade de “fortalecer o conteúdo” do que já escrevera. Saída honrosa, que ele lembra perseguir o autor desde o momento da datilografa dos originais (lidos, inclusive, pelos moços como ele) e que continuava nas provas tipográficas e não cessava nunca.

Certamente Oliveira Vianna não era o único “obcecado” de sua ge- ração e também não era o único a fazer projetos de livros que seriam escritos. Contudo, nesse particular talvez ele mereça algum destaque, pelo tanto que planejou e fica atestado pela quantidade de originais inéditos que deixou ao falecer. O rascunho de uma carta 20, escrita ao Ministro das

Relações Exteriores Oswaldo Aranha (1951, p. 6-7) em 1944, cedido pela

família de Vianna a Letras Fluminenses é de uma riqueza ímpar para uma aproximação de como, nesse momento, Vianna via seu trabalho retros- pectivamente, e como o projetava para o futuro. A primeira observação relevante vem da família, que esclarece que Vianna escrevia tudo, “no mínimo, em duas mãos”, ou seja, tanto os livros como as cartas sofriam mudanças, não sendo aquele rascunho a versão da carta efetivamente en- viada “ao caro ministro e eminente amigo”. Oliveira Vianna, já na ABL e no TCU, respondia a um convite que Aranha lhe fizera: integrar a Comissão de Estudos sobre o Paraguai, com o objetivo de subsidiar o traçado de uma nova política no relacionamento com aquela nação. Vianna agradece, mas recusa o convite, para o que procura construir uma sólida argumentação. Explica que se encontrava no justo momento de uma “démarrage literária”, recomeçando a elaboração de uma obra que fora forçado a interromper há 10 anos, mas que representava o esforço de 20 anos de “intensas lei- turas e penosas pesquisas arquivais sobre o Brasil.” Diz que possuía nada menos que o esboço (“pouco polido”) de quatro volumes sobre questões de imigração e colonização, aos quais gostaria de se dedicar. Então, ele os enumera: Raça e etnia; Seleções telúricas; Mobilidade social e Sociologia das elites. Todos esses livros tinham sido planejados entre 1924 e 1932, depois de ter publicado Populações meridionais e Evolução do povo brasi-

leiro (1922).

Considerando um possível espanto de Aranha, Vianna esclarece que o fato de ter tantos livros no “estaleiro” se devia a seu método de trabalho um “tanto extravagante”: “[...] planejando o livro, escrevo-o logo, num esforço grosseiro, sem lavor literário, falquejando-o por assim dizer; feito isso, guardo-o; e só depois de vários anos é que o retomo para os traba- lhos definitivos de refusão, atualização e polimento.” Para reforçar ainda mais esse “método” informa que ainda tem também “na gaveta”, desde 1924, o segundo volume de Populações, inteiramente dedicado aos povos pastoris do extremo sul, conterrâneos de Aranha. A essa altura, ao lado do “método”, ele produz uma espécie de periodização para seu trabalho intelectual, narrando quando é forçado a interromper todo esse trabalho. O ano é o de 1932 e o evento decisivo é sua entrada no Ministério do Trabalho. É esse acontecimento que vai obrigá-lo

[...] a abandonar tudo, romper bruscamente com velhos estu- dos que vinham desde a fase de elaboração de Populações e lançar-me de todo o corpo num novo campo de estudos – o

dos aspectos jurídicos dos problemas sociais. Não lamento, en- tretanto, esta interrupção violenta dos meus estudos, nem os oito anos que ali consagrei. Deles me saíram alguns livros de interesse geral que considero úteis ao meu país.

Fica claro, portanto, que seu método de escrita é um tanto decorrente das circunstâncias e possibilidades de sua vida profissional, sendo a fun- ção de Consultor Jurídico do ministério um divisor de águas, pois Vianna não só tem que abandonar diversos projetos já encaminhados, como precisa se lançar com mais afinco em campo de estudos não previsto. Tal imperativo o atraiu, sem dúvida, e resultou em livros como Problemas de

Direito Corporativo (1938) e Problemas de Direito Sindical (1943), que ele

envia a Aranha com a carta. Nessa linha e mantendo a “gaveta” cheia, ti- nha dois inéditos, compostos a seu modo: uma História da questão social no Brasil (1500-1940) e Fundamentos da política brasileira (1930-1945), possivelmente uma reflexão sobre a Revolução de 1930 e seus desdo- bramentos políticos. Como se sabe, Vianna não publicaria nada próximo a esses títulos, mas esse elenco dá a dimensão do balanço que fazia, em 1944, para seu trabalho nos anos que se seguiriam. Ele finalmente podia voltar para seus projetos iniciais, estando tudo preparado para um esforço concentrado que não queria, de forma alguma, interromper. Mesmo em função de um convite de Aranha, ministro que admirava e conhecia desde os tempos da preparação do anteprojeto de Constituição para a Assem- bleia Nacional Constituinte de 1933/1934.

Pela carta vê-se que Vianna tinha um calendário. Queria concluir até 1946, quando a guerra já teria terminado, segundo ele, os volumes sobre problemas migratórios, voltando-se então, até 1948, para os dois livros sobre a questão social e o governo Vargas. Reconhecendo, certamente, que já era muito, escreve:

Poderei então, se Deus se amercear (sic) de mim e me der vida para tanto, ultimar a elaboração dos dois últimos trabalhos de meu plano de estudos brasileiros, o II volume das Populações

meridionais [...] e a Introdução à História da Revolução de 30,

que será o ponto final de minha vida de escritor. 21

Não se pode dizer que Oliveira Vianna viveu pouco; o que é impressio- nante é o quanto ele imaginava poder escrever – mesmo tendo planos e escorços etc. – no, literalmente, restante de sua vida. Porém, a obsessão e dedicação do autor indicam que era precisamente isso que ele pretendia. No ano da graça de 1944 tinha tudo arrumado para esse “recomeço”, sen- do ele mesmo, mais uma vez, quem descreve como costumava trabalhar: vou mobilizar “[...] as milhares de fichas e nótulas que coligi sobre essas árduas matérias em vinte anos de pesquisas e leituras”, para reclassificá- -las e elaborar sínteses parciais, que irão se conformando em longas narrativas. Oliveira Vianna, como os intelectuais de seu tempo, elaborava seus próprios sistemas de coleta e classificação de dados, o que chamava muito a atenção dos que se iniciavam em estudos e pesquisas sociais. No caso de Vianna, são comuns as menções a um móvel que existia em sua biblioteca, com quatro faces e com muitas gavetinhas, que funcionava como um grande fichário. Um “fichário de ideias”, como era chamado, pois guardava uma infinidade de papeletas – seus “papagaios” – ou seja, notas que podiam ser escritas sobre qualquer tipo de papel, além de po- derem ser curtas ou longas, registrar citações, números, impressões etc. 22

Obviamente, não é possível realizar, em um capítulo de livro, exame condigno das condições de produção dos livros de Vianna, menos ainda fazer uma análise – que teria que ser mais longa e mais complexa que a primeira – da história da recepção de suas ideias, que reverberam até hoje. Oliveira Vianna, recebido em 1924 no IHGB, foi, provavelmente, um dos primeiros intelectuais brasileiros a ser reconhecido e chamado de sociólo- go. Críticos como Agripino Grieco, Humberto de Campos e Cândido Motta Filho, entre outros grandes nomes do período, como Monteiro Lobato, elogiaram o autor e o aproximaram, por exemplo, de Alberto Torres, Silvio Romero e Euclides da Cunha, pelo realismo e poderosa argumentação. Sem contribuições como as dele, outras do mesmo quilate não ocorre- riam. Nesse caso estaria, por exemplo, Gilberto Freyre e outros. Sendo assim, vê-se que, durante os anos 1920, 1930 e 1940, mesmo sendo as críticas majoritariamente positivas, houve os dissonantes.

Entre eles estava Capistrano de Abreu, para quem Oliveira Vianna “grassava”, como escreve em carta de 1926 a Paulo Prado: “Que me diz do

22. Uma fotografia desse móvel e mais duas fotos da biblioteca onde Vianna trabalhava aprecem no número especial de Letras Fluminenses, dando visibilidade e valor aos ambientes do que seria a Casa de Oliveira Vianna, recém-criada.

clã?” (ABREU, 1977, p. 476). Sem dúvida, Capistrano, nos anos 1920, era o maior e mais reconhecido historiador de seu tempo. Em várias menções que faz em cartas a amigos, sobre o que acha de Populações Meridionais e de Oliveira Vianna, ele é categórico. Vianna não era um historiador – ser aceito no IHGB não tinha maior significação para Capistrano –, mas o que contava mesmo era que ele não prezava a regra número um do método – “ler documentos” –, sendo a ciência que praticava de pouca credibilidade, já que parecia conhecer melhor Le Play (de cujas ideias Capistrano não gostava), do que a história do Brasil. Assim, Julinho de Mesquita tinha carradas de razão! Astrogildo Pereira, ainda nos anos 1920 foi outro crítico arguto, pois aponta que a fama de Populações se devia ao desejo de Vianna justificar o domínio dos grandes proprietários rurais, que ele chamava de “aristocracia rural”. Um ponto que seria observado e aprofundado por muitos outros críticos que se seguiriam, mas apenas algumas décadas depois. Entre 1920 e 1940, a estrela de Vianna não foi seriamente abalada por observações desse, nem de qualquer outro tipo (FARIA, 2002; CARVALHO, 1993, p. 37).

No ano de sua morte, em 14 de novembro de 1951, em chave muito diversa, mas muito expressiva, observa-se um sinal de mudança. Ele está no discurso de Austregésilo de Athayde, o sucessor de Oliveira Vianna na ABL. Anunciando o novo clima político-intelectual em relação ao autor, Athayde, delicadamente, na fala em que devia homenagear seu anteces- sor, explica:

Os meus contatos com Oliveira Viana foram mais raros e creio que as entranhadas e irredutíveis convicções liberais, a diversa maneira de encararmos a organização da polis, nos colocaram por vezes em posição antagônica, embora confluindo as nossas aspirações para o mesmo objetivo, o engrandecimento da pá- tria comum. Traduzindo em termos do Segundo Império, direi que Oliveira Viana foi, em toda a sua vida, um “Saquarema”, [...] identificado até a medula com o esplendor imperial dos trinta anos que se seguiram à Maioridade. Enquanto eu sou um “Luzia”, ligado pelo sangue Feitosa à Revolução Praieira, signatário do Manifesto de 1870, abolicionista sem dúvida, membro de clube republicano e por instinto inimigo do trono e dos incomportáveis privilégios da realeza. 23

23. Discurso de posse de Austregésilo de Athayde, disponível em <http://www.academia.org.br/>. Acesso em 9 de maio de 2018.

O sinal era o de que os tempos sorriam para os Luzias. Quer dizer, para os que iriam fazer o combate político e acadêmico aos que aderiram ao trono do Estado Novo, como Oliveira Vianna. Porém, os trabalhos do autor seriam mais fortemente criticados, quando não atacados por sua adesão ao autoritarismo e corporativismo, nos anos 1960/70, principal- mente após o golpe de 1964. Um período que é uma espécie de inferno astral para a recepção da obra de Oliveira Vianna. São exemplares desse momento, os livros de José Honório Rodrigues (1979) e Dante Moreira Leite (1955/1969) que acabam por desqualificar completamente as ideias do autor em função de suas escolhas políticas. Algo que seria apontado como uma confusão de efeitos maléficos, tendo-se em vista a influência das propostas de Oliveira Vianna nos anos 1930/40 e a importância do estudo de suas ideias, que deixaram marcas na conformação de uma cul- tura política no Brasil da segunda metade dos anos 1950. Assim, os anos 1980/90 assistirão a uma retomada do interesse pelo autor e igualmente por outros pensadores autoritários, como Azevedo Amaral e Francisco Campos. Ocorre, então, uma espécie de movimento para a leitura e ree- dição de seus livros 24 e de seus inéditos, entre os quais vale mencionar Ensaios inéditos (OLIVEIRA VIANNA, 1991), com apresentação de Marcos

Almir Madeira. Dois livros de teor biográfico compõem esse conjunto:

Oliveira Vianna: um saquarema na República (LONGO, 1981) e Mundos e construções de Oliveira Vianna (MACIEIRA, 1990).

Esse afluxo é tão importante, como duradouro e enriquecedor para a história e as ciências sociais no Brasil, sendo a produção de comentaristas sobre a obra de Oliveira Vianna tão ampla, densa e diversificada que seria inútil sequer tentar fazer uma nota de rodapé com alguns exemplos. Sem