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Ao todo são 3 (três) filmes que explicam e contam o universo de Matrix, primeiramente, em 1999 pelas irmãs Wachowski que teve duas sequências: “Revolutions” e “Reloaded” em 2003, em abril e maio respectivamente, porém a análise em questão será feita levando em consideração somente o primeiro deles.

1 Termo genérico que se inserem as obras cinematográficas e as obras de multimídia. De acordo com a Lei 9610/98, obra

audiovisual consiste no resultado de fixação de imagens com ou sem recurso sonoro, que tenha como objetivo de produzir, através de sua reprodução, a impressão de movimento (BRASIL, 1998).

O filme Matrix é um filme pautado em um contexto de calmaria pós-Guerra Fria, onde os Estados Unidos da América se consolidam como a maior potência mundial, produzindo empregos, salários e vidas estáveis. Entretanto, a maior parte desses empregos revelavam o que cada pessoa precisava alcançar, por exemplo, às vezes, elas só tinham que organizar arquivos, de maneira mecanizada, de maneira que continuassem trabalhando para que a estabilidade fosse mantida. Assim como em Matrix, alguns filmes da época, tal como “A grande virada” de 1996, “Quero ser Jonh Malkovich” de 1999, “Como enlouquecer seu chefe” (1999) e “Clube da luta” (1999), retratam, por exemplo, a perda da autonomia das pessoas e o tédio de levar uma vida apenas de trabalho, estável, sem genuinidades e sem necessidade de liberdade de escolha de maneira autônoma e autêntica. Também fazem uma crítica social à maneira como a sociedade norte americana se constituiu após um período de conturbação mundial, a Guerra Fria.

A obra cinematográfica em questão foi dirigida pelas irmãs Lana e Lilly Wachowski, sendo lançado ao ar em 21 de maio de 1999, pela WARNER BROS, tendo nos papéis principais os atores Keanu Reeves (Neo), Laurence Fishburne (Morpheus), Carrie-Anne Moss (Trinity) e Hugo Weaving (Agente Smith - um dos vilões) e trata de questões absurdas como o cultivo de seres humanos feito por máquinas para geração de energia, após uma guerra entre humanos e inteligências artificiais ou a aprendizagem acelerada possibilitada por um programa de computador que pode, literalmente, escrever informações no cérebro a partir de tecnologia extremamente avançada.

Além disso, é um filme sobre dualidades: o real e o forjado, o correto e o inadequado. Esta dualidade pode se visualizada na vida dupla do personagem de Keanu Reeves, pois de um lado ele é conhecido como Thomas A. Anderson, um programador de uma respeitável companhia de Software, que paga impostos e ajuda sua senhoria a levar o lixo para fora, demonstrando como uma de suas características ser politicamente correto; de outro lado, ele vive por detrás dos computadores em que é um hacker conhecido como Neo, sendo culpado virtualmente de todos os crimes de informática previstos na lei.

A trama se inicia quando o personagem principal conhece Morpheus (Laurence Fishburne) e o faz escolher entre tomar a pílula azul, como afirma Morpheus: “vai acordar em sua cama e acreditar no que você quiser” ou “[...]a pílula vermelha, que fica no país das maravilhas e eu vou mostrar até onde vai a toca do coelho” (MATRIX, 1999). Então, Neo decide tomar a pílula vermelha, mas só depois de tomá-la que é notificado que ela significa a representação virtual de um software.

Desse modo, tanto seu corpo, quanto o mundo não são exatamente como tinha sido apresentado no primeiro momento, pois ambos aparecem bem mais debilitados, e ainda, Neo após tomar a pílula, acorda em um mundo dominado por máquinas com inteligência artificial, que usam os seres humanos como fonte de alimentação. Quando Neo efetivamente desperta e conversa com Morpheus sobre o que

aconteceu, é explicado para ele que se encontra quase duzentos anos à frente do ano que pensava estar e também são explicados o que é Matrix, assim como quais os motivos para a jornada traçada para ele.

Nas palavras de Morpheus:

Quando Matrix foi criada, um homem nasceu lá dentro, com a capacidade de mudar o que quisesse, de recriar Matrix, se necessário. Ele libertou os primeiros de nós, ele mostrou a verdade e enquanto Matrix existir a raça humana jamais será livre. Depois que ele morreu, o Oráculo profetizou sua volta e sua vinda traria a destruição de Matrix, acabaria com a guerra e traria liberdade ao nosso povo. Por isso, alguns de nós passaram a vida esquadrinhando Matrix, à procura dele, [...] acredito que a busca terminou (MATRIX, 1999).

A partir daqui, pode-se verificar mais uma dualidade que se desdobra até o final do filme, Neo que não acredita em destino por não gostar da ideia de não poder controlar sua própria vida, sofre pressão de todos ao seu redor, pois esperam que ele seja alguém que ele próprio não sabe se é, mas é por causa desta dualidade, que o filme termina de maneira surpreendente e até um tanto esperançosa, uma vez que o telespectador passa cerca de metade do filme esperando que Neo seja o Escolhido, ou seja, aquele que vai salvar a humanidade da opressão das máquinas. Por conta, especialmente, desta missão de Neo, que se faz possível relacionar os conceitos existencialistas que circundam o filme.

3 O EXISTENCIALISMO

O Existencialismo é uma corrente filosófica que tem como centro de suas questões a existência do homem. Surgiu no período entre guerras, de revolução sexual e de anseio por liberdade, pensando e discutindo sobre questões relativas à existência do homem, tais como: angústia, liberdade, responsabilidade, etc. O Existencialismo é a expressão de uma experiência singular, individual, um pensamento motivado por uma situação muito particular e, de fato, cada pensador desenvolveu sua própria doutrina e maneira de pensar o ser humano.

Para Husserl, filósofo que inaugurou a fenomenologia, esta singularidade se dava pela intencionalidade do ser – pela consciência dele em relação constante com o mundo ao seu redor – que não deixa de acontecer, fazendo, portanto, do sujeito, cultural. Heidegger procura pensar o ser em sua temporalidade, para ele “[...] o tema central [...] é o esquecimento do ser”, além de sua herança biológica, ele tem herança de lugar e de tempo nos quais nasce – os quais ele não escolhe, mas ainda assim é submetido – dos quais toma conhecimento em uma situação dada, ou seja, a facticidade (FERREIRA, 2019, p. 61).

Kierkegaard enfatiza como importante a Ontogenia1 do ser, sua história de vida, considerando o ser como temporal valorizando na análise filosófica a própria existência pessoal. A importância da própria existência, desenvolvida por Kierkegaard, é um dos pontos predominantes para os pensadores existencialistas. Ressalta-se também que os pensadores existencialistas concordam que a existência não pode ser conhecida nela mesma como um dado objetivo da ciência: “[...] o caráter essencial da existência é a subjetividade” (FERREIRA, 2019, p. 58).

Um dos principais nomes do Existencialismo é o filósofo francês Jean-Paul Sartre, que busca compreender o homem a partir dos significados que ele atribui à existência e às suas possibilidades de escolha frente a esta existência, como pode se visualizar no excerto abaixo.

[...] em primeira instância, o homem existe, encontra a si mesmo, surge no mundo e só posteriormente se define. O homem, tal como o existencialista o concebe, só não é passível de uma definição porque, de início, não é nada: só posteriormente será alguma coisa e será aquilo que ele fizer de si mesmo. [...] O homem é tão-somente, não apenas como ele se concebe, mas também como ele se quer (SARTRE, 1987, p. 55).

Segundo Sartre (1997, p. 33), este nada vem ao mundo pelo homem que ao questionar a si e ao mundo, constata o próprio nada, pois “[...] ele é o que não é e não é o que é”, ou seja, constitui-se pela nadificação do em-si (do seu passado, de seu corpo, do mundo, das coisas que ele não é). Com base nesta ideia de homem que só é algo a partir do que ele fizer de si, tem-se a premissa fundamental: “[...] o nada mais é do que aquilo que ele faz a si mesmo: é esse o primeiro princípio do existencialismo” (SARTRE, 1997, p. 36).

Diante destas breves considerações, pretende-se relacionar três elementos do Existencialismo, a responsabilidade, a liberdade e a angústia com algumas cenas do filme Matrix, que retratam o teor existencialista da referida obra cinematográfica.

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