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2. Pressupostos teóricos

2.2. Gêneros e tipologias textuais

2.2.2. Redação/narrativa escolar

O gênero redação escolar é estritamente ligado à situação de ensino, é trabalhado em sala de aula, muitas vezes sem que se considerem os contextos extra-instituição escolar e necessidades reais de interação, comunicação e “ação”/intervenção/participação na sociedade. O enunciador nesse gênero é um aluno, que, em geral, tem como objetivo exclusivo atender a uma tarefa proposta pelo professor, que, por sua vez, lê o texto, entre outras finalidades, com o intuito de corrigi-lo.

Na tarefa de produzir redações, percebe-se uma preocupação com o domínio das regras gramaticais do registro formal e com o atendimento à temática dada, visto que o aluno precisa atender ao que o professor propõe para obter o grau de excelência em jogo nesse ambiente de produção textual.

A redação escolar é um gênero produzido sob a pressão desse ambiente e sob a pressão da hierarquia que se estabelece entre os interlocutores (professor/aluno). Por isso, em todos os níveis de escolarização é comum os alunos-produtores reagirem negativamente ou, pelo menos, com certo desconforto às situações de redação propostas.

Segundo Beth Marcuschi (2005),

17 As redações adotadas na presente pesquisa são do tipo narrativo; por essa razão, como já

mencionado, serão tratadas como narrativas escolares.

trabalho de ônibus.

Por volta das 7h, três criminosos armados entraram no veículo, que fez uma parada na via expressa, perto da Vila do João, para pegar mais um passageiro.

Dos 28 ocupantes do ônibus, oito ficaram sem joias, celulares, carteiras, bolsas e dinheiro, entre outros objetos de valor. Segundo as vítimas, os assaltantes pareciam calmos. Após a fuga dos criminosos, o motorista mudou seu itinerário e foi direto para a 21ª DP.

Com base em sua avaliação o professor faz com que o aluno, além de absorver, aos poucos, a cultura escolar, incorpore a lição de que deve escrever pouco e recorrer a frases estereotipadas. [...] Neste sentido, o aprendiz exercita predominantemente a reprodução mecânica, e a redação consolida-se como uma atividade controlada de escrita. (op. cit.: 145)

As redações do tipo narrativo têm como características a presença de um narrador, de personagens, de um fato, de acontecimentos ou ações que localizam no tempo e no espaço. Quanto às propriedades linguísticas desse tipo, utilizam-se referências diretas às personagens (eu, ele, meu, dele) e ao quadro espaço-temporal (há dois anos, um dia, em São Paulo, em seu quarto etc.), além do uso de verbos de ação no pretérito perfeito ou imperfeito. Espera- se que nas narrativas escolares sejam apresentados elementos centrais, tais como o anúncio do tema, apresentação de personagens, apresentação das circunstâncias, problema, solução e a conclusão.

Segundo Bastos (2001), nas narrativas escolares é possível perceber um maior ou menor grau de envolvimento dos alunos-produtores que depende da situação de produção na qual ele está inserido. Esse envolvimento do aluno pode provocar ou não particularidades no texto, tais como a presença de um resumo/orientação ou a maneira como o aluno se coloca em seu texto.

Diferentemente das notícias, a narrativa escolar pode ser redigida em 1ª ou 3ª pessoa. O aluno-produtor pode se incluir no texto, sendo um narrador- personagem, ou não se incluir, sendo um narrador-observador. O narrador pode, também, iniciar seu texto apresentando sentenças que resumem a história, assim pode despertar o interesse do leitor.

Nas narrativas analisadas foi possível verificar os dois tipos de narradores e ainda alguns textos iniciados por um resumo. Na narrativa (16), o produtor do texto participa como narrador-personagem e inicia seu texto apresentando uma orientação na frase “há dez anos ocorreu algo perigoso e

engraçado”. Já no exemplo (17), a narração é feita em 3ª pessoa, com um narrador-observador.

16. O afogamento

Há dez anos ocorreu algo perigoso e engraçado. Eu estava em uma

reunião em família em uma sítio, nós fomos brincar em um lago próximo, eu estava com o meu amigo jogando a bola para lá e para cá, ó que em um momento a bola estorou. [...] [Redação, 9º ano]

17. Em um dia bem lindo, a muito tempo atrás, um garoto chamado Walace andava calmamente até a locadora para trocar a fita e mega drive (FIFA 98), tudo foi dando certo, mas no meio do caminho de volta para casa,o garoto pisa em um prego enferrugado, assim fazendo o correr desesperado para casa, após chegar em casa, sua mãe calmamente tira o prego do seu filho e todo mundo fica feliz. Fim da historia. [Redação, 2º ano]

Sobre a ordenação, diferentemente das notícias, é comum, nas redações escolares, que se faça a exposição das circunstâncias e justificativas primeiramente, para posteriormente apresentar o foco da narrativa. Segue-se, geralmente, a estrutura de introdução, desenvolvimento e conclusão de tal forma que se apresentam as personagens e a localização espaço-temporal, para posteriormente construir-se a trama e apresentar-se o desfecho.

Verificam-se algumas das características mencionadas no texto abaixo, que compõe a subamostra das narrativas escolares:

Título Apresentação de personagens / Localização tempo- espaço Fato Ações/ acontecimentos Conclusão

18. A sete anos atrás, aconteceu uma coisa muito engraçada! Uma vez, a minha mãe estava na casa de uma amiga... E nesse dia estava chovendo muito, então a minha mãe foi embora, e a chuva ia cada vez mais aumentando, a minha mãe abriu o guarda-chuva e deu na minha mão. Como eu só tinha 5 anos, eu era bem pequenininha, e não tinha força suficiente para segurá-lo.

Então bateu um vento muito muito muito forte! E o guarda- chuva saiu da minha mão, e desceu a rua dando cambalhotas, eu bem que tentei correr atrás dele, mais eu não consegui.

Mais à frente eu ainda fiz o favor de pisar numa possa de lama, e escurregar!

Moral da história: eu fiquei toda suja e molhada e no dia seguinte o dia amanheceu ensolarado. [Narrativa escolar, 7ª. ano EF]