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A Polícia Federal está atendendo em torno de quatro pessoas por dia, que vem ao país em busca de visto humanitário. Primeiramente, é emitido um protocolo de entrada no país e depois é necessário que aguardem a disponibilidade de um agente do Comitê Nacional para os Refugiados que efetua uma entrevista para verificar e providenciar os documentos necessários para este indivíduo (ZYLBERKAN, 2014). O visto humanitário é expedido pelo Ministério das Relações Exteriores e mencionado no passaporte do imigrante (JUSBRASIL, 2012).

Os imigrantes haitianos não param de chegar em busca de uma vida melhor, no entanto, acabam se deparando com uma ínfima infraestrutura para recebê-los e dar o apoio necessário para a inclusão social (RIZZO; MOTTA; PÁDUA, 2014). O Brasil não estava preparado para a entrada de tantos imigrantes nos últimos anos, a prova disto é a emissão descontrolada de vistos humanitários (SANTINI, 2014). De acordo com o escritor D’Urso (2014), inicialmente os imigrantes haitianos foram classificados como refugiados, no entanto essa rotulação estava incorreta pois:

De acordo com a Lei nº 9.474, de 22 de julho de 1997, estabelece em seu artigo 1º, que “será reconhecido como refugiado todo indivíduo que: I - devido a fundados temores de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas encontre-se fora de seu país de nacionalidade e não possa ou não queira acolher-se à proteção

de tal país; II - não tendo nacionalidade e estando fora do país onde antes teve sua residência habitual, não possa ou não queira regressar a ele, em função das circunstâncias descritas no inciso anterior; III - devido à grave e generalizada violação de direitos humanos, é obrigado a deixar seu país de nacionalidade para buscar refúgio em outro país.” (D’URSO, 2014).

Frente a isso, segundo o autor supracitado, o Brasil desenvolveu a emissão do visto humanitário com o intuito de acolher os imigrantes que sofreram com o catastrófico terremoto em 2010, no qual os imigrantes que possuírem o visto terão autorização para residir em qualquer local do território nacional e ter acesso aos serviços básicos de saúde e educação. De acordo com a jornalista Zylberkan (2014), ao chegarem ao Brasil, os imigrantes enfrentam a burocracia para conseguirem os documentos e a infraestrutura para recebê-los. Em alguns casos é necessário que aguardem em torno de sete meses para serem legalizados e retirarem os documentos necessários para conseguirem emprego.

Com o crescente índice de imigração, foram estabelecidas cotas de 1.200 concessões anuais de vistos humanitários que autorizava o imigrante a permanecer em território brasileiro durante cinco anos. Entre a catástrofe de 2010 até janeiro de 2012, cerca de dois mil imigrantes entraram ilegalmente pelo Acre. Depois disso, os haitianos não paravam de chegar ao país, sendo que até o ano de 2014 já haviam sido concedidos

26 mil vistos humanitários; número muito além do determinado, quando a média prevista era de 44 haitianos entrarem no país por dia, vez que nos primeiros quatro meses de 2014 registraram-se a vinda de 7.305, uma média de 63 por dia (RIZZO; MOTTA; PÁDUA, 2014).

Estima-se que desde 2010 até setembro de 2014 tenham entrado no Brasil, através do Acre, 39 mil imigrantes (SANTINI, 2014). Esta situação fez com que o Governo daquele Estado disponibilizasse um local improvisado para os imigrantes se instalarem, além de oferecer conduções gratuitas para os que estão com a documentação em dia para realocarem e levá-los para outras regiões (RIZZO; MOTTA; PÁDUA, 2014). Contudo, aqueles que não possuem a documentação ficam à mercê de ajuda do Governo e da população (SANTINI, 2014).

Devido a certo descontrole do Governo Federal na emissão de vistos humanitários e à pouca segurança nas divisas territoriais, registrou-se um alto índice de imigrantes, o que levou, em 2014, a Procuradoria da República do Acre entrar com uma ação que exigia da União um projeto para disponibilizar acomodações e auxílio aos mesmos (RIZZO; MOTTA; PÁDUA, 2014). O local disponibilizado custa em torno de R$ 23 mil/mês de aluguel para o Governo Estadual do Acre, além disso foram investidos R$ 6 milhões para a construção de uma estrutura básica que pudesse abrigar os imigrantes, bem como no transporte para outras regiões (SANTINI, 2014).

No ano de 2015, o Brasil emitia cerca de 100 vistos por mês para haitianos, segundo o próprio Ministério da Justiça, entretanto, o país negocia junto ao Peru, Bolívia e Equador meios de impedir a entrada de

imigrantes ilegais que se utilizam de serviços de organizações criminosas (G1, 2015).

De acordo com o repórter Santini (2014), a infraestrutura do Ministério do Trabalho e Emprego é precária e devido a isso não tem equipes suficientes para fiscalizar as contratações e situações de imigrantes. Além dessas situações, a ausência de comunicação entre as áreas e os órgãos que estão tentando adaptar os imigrantes dificulta ainda mais o mapeamento e o diagnóstico das irregularidades nas contratações. Frente a isso, o Sistema Nacional de Empregos também não consegue suprir as necessidades de todos os imigrantes, ou seja, está com dificuldades em integrar os imigrantes nas empresas, sendo cobrado constantemente para desenvolver um meio para atender especialmente os imigrantes e para garantir que não sejam alvos de abusos e trabalho escravo.

O Brasil não possui infraestrutura e nem projeto para acomodar tantos imigrantes, diante isso surgiram conflitos entre os Estados, sendo que um dos mais famosos foi a transferência de dois mil haitianos do Acre para São Paulo. Esse ‘despejo’ financiado pelo Governo do Acre custou o valor de R$ 1,3 milhão e necessitou de 41 ônibus (RIZZO; MOTTA; PÁDUA, 2014). Conforme informações do site JusBrasil (2012), o Ministério de Trabalho e Emprego, em 2012, liberou a emissão de cerca de 55.009 permissões de trabalhos temporários e permanentes para imigrantes.

Somente em Santa Catarina, até 2014, foram contratados cerca de 700 haitianos em diversos segmentos. Empresas do Vale do Itajaí devido

à escassez de mão de obra, buscam esses imigrantes e lhes ajudam a regularizarem a situação (THOMÉ; DIOGO, 2014). De acordo com a repórter Duarte (2015), a cidade de Palhoça está se adaptando à migração e já oferece cursos de língua portuguesa na Faculdade Municipal. Estima-se que vivam aproximadamente cinco mil haitianos no Estado de Santa Catarina (MUNDO, 2015). Conforme os escritores Thomé e Diogo (2014) as cidades mais escolhidas pelos imigrantes que chegam em Santa Catarina são: Balneário Camboriú, Itajaí e Navegantes.

Segundo informações do site Portal Brasil (2015), o governo acelerou a emissão de vistos a 43.781 mil imigrantes haitianos, por meio do Conselho Nacional de Imigração (CNIg); garantindo a autorização de residência permanente no Brasil, com o direito à carteira de identidade de estrangeiro para trabalharem regularmente e utilizarem serviços públicos, entretanto, estes não significam a concessão de nacionalidade brasileira.

Após quatro anos e um grande índice de haitianos ter entrado pelas fronteiras brasileiras, tanto de forma legal quanto ilegal, os mesmos estão se mostrando desencantados com a vida no Brasil (EVANS, 2015). Segundo a jornalista Gabriela Bazzo (2016), o Ministério da Justiça informou que está liberando a emissão de mais vistos e vem colocando em prática projetos de integração entre os Estados e os municípios brasileiros para os haitianos e outros imigrantes.

A legislação brasileira em relação à imigração é desatualizada e não é clara em alguns aspectos, vez que a mesma foi elaborada em 1980, época do regime militar, e a sua última atualização ocorreu em 1997, garantindo

a qualquer indivíduo a oportunidade de solicitar asilo no Brasil devido às perseguições políticas ou fugindo de guerra civil. Contudo, é necessário que o país desenvolva novas leis de caráter humanitário (ZYLBERKAN, 2014).

Com o intuito de fugir da crise brasileira, segundo Sant’anna e Prado (2016), os haitianos estão alterando a sua rota e indo para o Chile; ou seja, estão fazendo o caminho reverso, com o objetivo de conseguirem trabalho, vez que a taxa de desemprego no Chile está em torno de 5,9%, enquanto no Brasil dados informam que está cerca de 10,2%. Frente ao exposto, entre janeiro e abril de 2016, saíram do Brasil cerca de 3.234 haitianos.

No Brasil, residem cerca de 45 mil haitianos e no Chile aproximadamente 9 mil, entretanto, a saída desses imigrantes do Brasil e a busca por contatos para residirem no Chile vem aumentando cada vez mais (NOTÍCIA, 2016). Para que o imigrante entre no Chile, é necessário que algum empregador ou empresa o convide e pague o seu bilhete de passagem, além disso o imigrante que for desligado da empresa possui um prazo de 30 dias para encontrar outro emprego, caso isso não ocorra a sua residência no país é considerada ilegal (SANT’ANNA; PRADO, 2016). Entretanto, mesmo assim estima-se que residam em Santa Catarina cerca de 6.000 haitianos (BAZZO, 2016). Segundo informações do site do Governo de Santa Catarina (2016) foram emitidas nos primeiros meses de 2015 o total de 2.259 carteiras de trabalho para imigrantes haitianos, enquanto em 2014 foram 986.

▯ ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS