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Quadro 9 – Descrição do processo de integração da empresa com os funcionários haitianos

Fonte: Dados primários, 2014.

Conforme demonstrado no Quadro acima, foram apresentadas treze subcategorias do processo de integração dos funcionários haitianos. Entre elas há características positivas que podem ser aperfeiçoadas e negativas que devem ser superadas.

Dentre as subcategorias, as mais citadas são as facilidades da compreensão das normas e do processo devido o domínio da língua espanhola, conforme nota-se nas falas:

Não é muito complicado, todo país tem sua regra diferente, é normal e está tudo bem. (F1).

no Brasil não falava português e entendia só um pouco de espanhol, então entendi um pouco do treinamento. (F2).

Eu entendeu todas as normas da empresa. (F5) Observa-se que o funcionário F2 associa o entendimento do processo de integração a sua facilidade em compreender o espanhol.

Em contrapartida, dois dos entrevistados falam das diferenças do processo de integração realizado pela empresa brasileira em comparação com o mesmo processo no Haiti. “Aqui no Brasil [...] se assina muito papel também, lá não assinava muito papel, era mais boca a boca, e pouca regra, aqui é mais regra.” (F1). Outro entrevistado, quando questionado, completa afirmando que o processo de integração “Foi bem. Não é igual ao Haiti, é diferente.” (F5). E o funcionário entrevistado F8 frisa que “Brasil é muito papel”.

Outra subcategoria é o treinamento sobre a empresa, que é um breve histórico de qual é sua cultura organizacional. Observa-se as falas dos funcionários haitianos:

A empresa foi lá buscar nós e falar da empresa ‘x’ e depois confirma e vem para cá. (F3).

A pessoa que foi me buscar no Acre [...] falou da empresa. (F6).

É nesse momento que eles conhecem as regras e as normas da empresa e decidem se querem ou não fazer parte daquela cultura. Chiavenato (2010) aborda a cultura como um termo utilizado para compreender os hábitos, costumes e que significa o modo de vida de uma organização.

Lacombe (2011) discorre a cultura organizacional como a união das crenças, dos costumes, dos sistemas de valor junto com a forma de realizar o negócio, sendo distinto de empresa para empresa, tornando-se assim um padrão para as atividades que caracterizam sua vida organizacional.

Outra subcategoria apresentada pelos funcionários haitianos foi a descrição que a empresa forneceu a eles sobre os cargos; verifica-se nas seguintes falas:

E falou que vai trabalhar na varrição na rua... (F4). E dizer que vai trabalhar em hotéis, na praia... (F6). Essa descrição de cargos faz parte do sistema de atividades executadas pela gestão de pessoas. Bitencourt et. al (2010), explica que se trata de um processo de aplicação de pessoas e um mau desempenho não pode ser direcionado a apenas um lado. É papel da organização, além de descrever as atividades a serem desenvolvidas e a forma de executar as

atividades, apresentar ao trabalhador o que se espera dele.

Alguns funcionários haitianos comentaram sobre as “facilidades” que a empresa forneceu, como alimentação e moradia’, os quais serviram de subsídios para iniciarem suas atividades. O funcionário F1 diz: “Quando cheguei à empresa, me deram facilidades, me deram alojamento, comida...” e o funcionário F4 também apresenta em sua fala o benefício da moradia: “e depois deram alojamento, tudo certinho”. O alojamento é um benefício fornecido pela empresa a todos os funcionários que a empresa busca de outras cidades e para alguns funcionários que a procuram solicitando ajuda por estarem desabrigados. Quanto à alimentação, nos primeiros meses que o funcionário não tem direito ao vale alimentação (benefício concedido para os funcionários) a empresa fornece uma cesta básica com os mantimentos necessário para a alimentação e a higiene até a [primeira remuneração, porém depois o funcionário passa a se manter por conta.

Já uma das principais subcategorias apontada pelos entrevistados como um aspecto positivo do processo de integração foi a ajuda de um tradutor disponibilizado pela empresa, isso nota-se nas seguintes falas:

Tinha uma pessoa [...] que foi lá e traduziu. (F4). [...] tinha uma pessoa ajudando (traduzindo). Não é tão fácil, mas quando tem uma pessoa te ajudando fica mais fácil. (F6)

O [...] traduziu em creole para mim. (F8). Teve o tradutor ajudando. (F9).

Os funcionários perceberam uma boa receptividade quanto ao processo de integração devido ao auxílio do tradutor, pois como se tratam de idiomas muito diferentes a comunicação seria inválida ou complicada, o que dificultaria a contratação de haitianos pela empresa. Segundo Prochnow, Leite, e Pilatti (2005, s/p), “[...] a falha de comunicação, ou simplesmente, a falta dela nos submete a perdas na produtividade. Saber identificar os motivos e atuar sobre eles é uma das principais formas de obtenção de ganhos para a empresa e para os funcionários desta.”

Outra subcategoria bem apresentada pelos funcionários haitianos ao descrever o processo de integração foi a falta de informações sobre a remuneração e os descontos, pois muitos alegaram receber menos do que foi combinado, como apresentado nas falas a seguir:

[...] dinheiro que disseram que ia receber não recebi, recebi pouco, mas não tem grande diferença [...] (F2).

[...] falou para nós que ia receber um salário mais maior quando chegou aqui recebi o salário maior mais o menor. Lá no Acre explicou um salário para nós, todo falou certo e depois confirma e vem aqui,

quando chegou aqui o salário não fica igual, fica menor. E depois explica os descontos. (F3)

A pessoa que foi me buscar no Acre, chegou lá e falou que ia receber um dinheiro, e não recebi. (F6). Os funcionários entrevistados apresentaram um descontentamento com a informação passada referente às remunerações; percebe-se que foi passado apenas a remuneração base, sem informações sobre os encargos sociais e os descontos referentes ao vale transporte, ao auxílio moradia, entre outros que constam no regulamento interno da empresa.

Os encargos sociais podem ser tão diferentes que dependendo da visão de quem o observa as conclusões podem variar entre 20% até 215% dos salários, conforme (BRASIL B, 2006)

No Quadro 10 constam os resultados sobre a receptividade que os funcionários haitianos tiverem em relação aos seus colegas de trabalho.

Subcategoria Respondentes

Existe um respeito recíproco. 2 Não houve discriminação. 1 Bom relacionamento. 10

Normal. 1

Houve discriminação. 1 Alguns nem se relacionam. 1 Mau relacionamento. 1

Quadro 10 – Receptividade dos colegas de trabalho.

Fonte: Dados primários, 2014.

Nessa categoria a pergunta abordada foi “Como você percebe o tratamento de seus colegas de trabalho em relação a você?” Conforme Quadro 10, a maioria alega ter sido bem recebida e mantém um bom relacionamento com os demais colegas, apresentado nas falas a seguir:

Até agora não recebi nenhuma discriminação, porque depende da pessoa; se eu respeito a pessoa a pessoa me respeita também. (F1).

Nunca tive problema, sempre bem com todos os amigos, colegas de trabalho. (F2).

Trataram bem. Brasileiro tratavam bem. Até agora trataram bem. (F5). Nenhum brasileiro fala mal comigo. Eu tranquilo com todos brasileiros. (F5). Os demais funcionários alegaram terem sido bem recebidos ou apenas um recebimento normal, exceto um funcionário que afirmou que além de ter sido mal recebido por alguns colegas de trabalho se sentiu discriminado com algumas atitudes. Isto se observa na fala a seguir:

Recebi um comportamento 40%. [...] houve discriminação. [...] Como fui professor, conheço quem me trata bem e me trata mal. Às vezes enquanto uma pessoa fala comigo e depois diz outra coisa. Não são todas as pessoas que me tratam bem. Quando cheguei na empresa encontrei muitas pessoas que me tratam bem, mas também tem algumas pessoas que não conversam (F6). Observa-se que o funcionário entrevistado F6 se sentiu discriminado pela falsidade de alguns colegas, que conversavam com ele e depois quando não estava presente diziam outra coisa. O funcionário não foi discriminado por suas origens, como vem acontecendo em outras regiões do Brasil. Em uma empresa de Curitiba (PR) muitos haitianos estão sofrendo preconceito por sua raça e sua nacionalidade, gerando agressão física contra funcionários haitianos, que por precisarem do

emprego acabaram suportando as ofensas e as agressões (ANÍBAL, 2014). O Quadro a seguir aborda se os funcionários haitianos pudessem sugerir algo para a empresa melhorar o processo de integração, qual seria a sua sugestão.

Subcategoria Respondentes

Sem sugestões. 3

Aumentar salário. 2 Colocar as normas e documentos em creole, para facilitar o

entendimento. 4

Clareza nos valores referentes à remuneração, antes da

contratação. 3

Informar os descontos na folha de pagamento, antes da

contratação. 1

Ter sempre um tradutor. 2 Emitir carta de habitação, para trazer a família para o Brasil. 1

Quadro 11 – Sugestões para melhorar o processo de integração