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Quadro 20: Dificuldades encontradas no Brasil Fonte: Dados primários, 2016

No Quadro 20, verifica-se que em relação às principais dificuldades encontradas pelos imigrantes haitianos no Brasil são: comunicação, moradia, emprego, distância da família e preconceito. Conforme já foi visto nos Quadros anteriores, esses fatores elencados no Quadro 20 são importantes para o desenvolvimento humano, evidenciando o porquê de a maioria dos haitianos estarem abandonando o sonho de uma vida melhor no Brasil e voltar para o seu país de origem.

▯ CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo como objetivo geral a percepção dos imigrantes haitianos quanto ao processo de Gestão de Pessoas e de como ela é aplicada nas empresas em que trabalham, ficou claro que não têm uma opinião formada sobre a expressão “Gestão de Pessoas”. Quando questionados sobre treinamento, avaliações e feedback, respondem com propriedade sobre os assuntos, diferentemente de quando é a usada a expressão ‘Gestão de Pessoas’. Neste momento, ficam com o olhar perdido, conversam entre si no seu idioma nativo, meio que tentando explicar um para o outro sobre o assunto.

Quanto à dificuldade de os imigrantes haitianos entrarem e se manterem no mercado de trabalho, pode-se dizer que não passaram por dificuldade para entrar no mercado de trabalho, porém a maioria informa que os empregos atuais não condizem com as suas qualificações. Vale ressaltar que, apesar da manifesta insatisfação com cargos e salários, têm um nível de rotatividade muito pequeno entre os entrevistados. A maioria está no Brasil deste o ano de 2013 e trocaram de emprego apenas uma vez neste período.

A principal dificuldade apontada pelos haitianos no ambiente de trabalho é a comunicação. Informam que os processos não são claros e, desta forma, muitas vezes não entendem determinadas orientações; a dificuldade é ainda maior com a escrita da língua portuguesa. Dentre os entrevistados, alguns informaram que usam os gestos e o som quando não

sabem falar determinada palavra. Sendo a comunicação um dos fatores mais importantes dentro e fora das organizações, pode-se perceber a dificuldade que têm em entenderem e executarem corretamente as suas tarefas.

No contexto das diferenças culturais e da invisibilidade humana, nos deparamos com uma dura realidade: o preconceito e a discriminação já são observados na hora dos imigrantes procurarem por uma residência. De forma geral, todos informaram que os brasileiros não querem alugar casas para haitianos e quando alugam são em locais ruins e com valores acima dos praticados normalmente para os próprios brasileiros.

Os imigrantes também informam que o racismo existe e que as pessoas não disfarçam, chegando ao ponto de um simples “Bom dia” ser ignorado. As pessoas passam por eles de cabeça baixa, desviando-lhes o olhar, o que evidencia que são vítimas da “invisibilidade humana”. Alguns se mostraram magoados com essa situação e informaram que no Haiti não tratam mal os brasileiros; outros por sua vez informam que entendem que as pessoas passam despercebidas e não os saúdam por não estarem em um bom dia, como se procurassem justificar o preconceito sofrido ou como forma de se esconder da agressão que é ser ignorado pelos seus semelhantes.

Por fim, analisou-se se os imigrantes haitianos têm possibilidades e perspectivas de desenvolvimento profissional. Por meio da análise dos dados coletados, mais uma vez o resultado foi negativo, uma vez que são supostamente treinados e avaliados, mas nem sequer recebem um feedback sobre o seu desempenho.

No início deste trabalho, partiu-se da hipótese de que as empresas não possuem programas de Gestão de Pessoas direcionados para os imigrantes haitianos, não se percebendo muita preocupação com o desempenho dos mesmos nem com o desenvolvimento desses profissionais. Ao final desta pesquisa, pode-se afirmar que a hipótese foi confirmada, sendo que com a análise dos dados coletados evidenciou-se que não existe nenhum tipo de programa ou projeto voltado para o desenvolvimento e bem-estar destes imigrantes que estão em meio a uma multidão e ao mesmo tempo sozinhos, em sua luta pela própria sobrevivência e envio de subsídios para suas famílias que ficaram em um país tão distante, castigados por exploração de suas riquezas no passado e hoje vítimas de incidentes naturais que deixaram uma população inteira em condições sub-humanas de vida.

Para os autores, o presente trabalho foi de grande aprendizado tanto profissional quanto pessoal. O contato com pessoas de cultura diferente e proximidade com a comovente história de vida dos imigrantes, nos faz repensar alguns hábitos e atitudes que, apesar de pequenos, se praticados no dia a dia, podem fazer diferença na nossa vida e de quem está ao nosso redor.

Percebe-se uma grande dificuldade dentro das organizações de lidar com a diversidade, com o novo e com o diferente; as pessoas são julgadas pela aparência. Essa realidade faz parte do cotidiano não somente dos imigrantes, mas de uma maioria que pertence a uma classe social menos favorecida ou a pessoas com hábitos e atitude julgadas diferentes do “padrão”, por assim dizer. Vivemos em um país em que o

preconceito é evidente e o diferente é julgado.

Em tempo: Dos sete entrevistados, sabe-se que três já desistiram do Brasil e voltaram para o Haiti!

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CAPÍTULO 3

O PROCESSO DE INTEGRAÇÃO DE