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Diagrama 1 Categorias de fontes documentais

3.2.2 CONTEXTUALIZAÇÃO DAS FONTES DOCUMENTAIS

3.2.2.1 FONTES PERTENCENTES À CATEGORIA

As obras que compõem essa categoria são, em sua maioria, produzidas por autores ligados ao clero, logo o ponto de vista predominante é o da Igreja Católica. Deve-se levar em consideração que a presença de religiosos na formação das colônias italianas foi marcante e, em muitos momentos, decisiva. Além disso, em função da sua presença constante e atuante, é natural que a maioria das obras mais representativas desse período tenham sido por eles escritas. Contudo, cada obra busca focalizar um aspecto da influência da religião na vida do imigrante italiano, conforme veremos a seguir.

A obra Colônia italiana: religião e costumes (1981) de Arlindo Battistel tenta descrever e analisar alguns aspectos sócio-religiosos de descendentes de imigrantes italianos no Rio Grande do Sul, com o propósito de facilitar o trabalho pastoral e de evangelização dos

mesmos. Tem como preocupação central identificar a cultura italiana como sendo autônoma e não como um resíduo cultural. Busca, ainda, identificar a situação psicológica do imigrante italiano também como forma de prever o rumo que as comunidades eclesiais deveriam tomar.

O livro traz comentários referentes a entrevistas realizadas com os italianos e seus descendentes com idade entre 60 e 100 anos. As fitas cassete com as referidas gravações encontram-se no Museu da Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindes em Porto Alegre. Essa investigação está limitada aos atuais municípios de colonização italiana do Nordeste do Estado do Rio Grande do Sul que são: Caxias do Sul, Garibaldi, Bento Gonçalves, Veranópolis e Nova Prata.

De acordo com o autor, na impossibilidade de quantificar a intensidade da experiência religiosa dos italianos, são tomados como indicadores dessa vivência os registros de horários de oração, a construção de igrejas, capitéis, capelas, cemitérios, devoções, sem esquecer a presença marcante dos Padres Leigos.

A vida espiritual nas colônias italianas do Rio Grande do Sul (1995) é uma tradução

de Mário Gardelin e Rovílio Costa da obra La vita spirituale nelle Colonie Italiane dello

Statto publicada originalmente em Cinquantenario della Colonizzazzione Italiana nel Rio

Grande del Sul (1875-1925). Trata-se de uma monografia de autoria do então Cônego Dom

José Barea, publicada em 1925, o qual, posteriormente, veio a ser o primeiro bispo da Diocese de Caxias do Sul. Barea busca, com essa obra, dar destaque à vida religiosa dos imigrantes, ao mesmo tempo em que ressalta a história da imigração e colonização italiana, bem como retrata a influência da Igreja Católica (Concílio de Trento) nessa região. Objetiva, ainda, colaborar para a compreensão do valor e importância desse começo de vida religiosa para os imigrantes, seu desenvolvimento posterior, além da herança religiosa deixada, sendo que o papel dos párocos é o que tem maior destaque em sua obra.

Dom José Barea levou em torno de um ano para coletar os dados e formular conceitos, isso tudo ocorreu no ano de 1924. Seu percurso teve início nas Colônias Caxias, Conde D’Eu, Dona Isabel e Silveira Martins.

Em Paróquia Santa Teresa: cem anos de fé e história 1884-1984 (1985), padre Brandalise relata sua pesquisa histórico-documental que descreve a história da Paróquia de Santa Teresa no período de 1884 a 1984, tendo servido de fonte para este trabalho os Livros Tombo pertencentes à Cúria Diocesana de Caxias do Sul. Inicialmente, utiliza a Sinopse

Estatística de Caxias do Sul – 195 editada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e de autoria

do primeiro Bispo de Caxias do Sul, Dom José Barea. Utiliza, ainda, informações retiradas do livro Clero Italiano no Rio Grande do Sul – Padres Imigrantes de autoria do Pe. Arlindo Rubert e do Il Colono Italiano. Alguns dos fatos relatados foram por ele presenciados enquanto outros foram colhidos há mais de quarenta anos junto a pessoas idosas que foram testemunhas oculares, mas que por uma questão de preservação não têm seus nomes citados. Trata-se de um resumo histórico, bem como de um depoimento pessoal em que escreve sobre a criação da paróquia e sua evolução. Fala também sobre seus párocos e sacerdotes e refere os principais fatos dos seus 100 anos de história. Padre Brandalise atuou por vinte e quatro anos nas áreas administrativas e pastorais da Paróquia. Atuou ainda como Vigário Geral e responsável pela administração do Patrimônio da Diocese.

O artigo O catolicismo da imigração: do triunfo à crise de De Boni faz parte de uma coletânea de textos publicados em Lando (1980), intitulada RS: imigração & colonização que tem por objetivo elaborar uma síntese da história da imigração de brancos não-portugueses no Rio Grande do Sul a partir de uma coletânea de textos elaborados por estudiosos da imigração.

A colonização italiana no Rio Grande do Sul: implicações econômicas, políticas e

sociocultural dos imigrantes italianos no contexto econômico, político e cultural do Brasil. O autor buscou, para estudar essa questão, o dado sociocultural mais significativo das colônias italianas no Rio Grande do Sul que é a predominância da religião católica nas manifestações sociais e culturais dos imigrantes.

Para a realização desse trabalho, Manfroi coletou informações no Arquivo Histórico do Estado do Rio Grande do Sul (Relatórios e Falas do Presidente da Província, 1829-1889; Mensagem do Presidente do Estado, 1894-1929; Relatório da Secretaria dos Negócios e das Obras Públicas, 1894-1928). Pesquisou, ainda, no Arquivo Nacional (Relatórios do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, 1860-1900), Arquivo e Museu da Colonização Italiana de Nova Palma – RS, Arquivo da Província dos Capuchinhos do RS, Arquivo da Província dos Capuchinhos de Savoie-França, Arquivo da Cúria Geral dos Carlistas em Roma e Centro Studi Emigrazione em Roma.

Itálico Marcon, prefaciador da obra, destaca a importância da Religião Católica apresentada por Manfroi:

Com efeito, particularizando, a Religião Católica foi o seguro e derradeiro sustentáculo a que os colonos peninsulares se apegaram para salvar a sua própria identidade cultural. Graças a ela conseguiram vencer todos os traumatismos da emigração, preenchendo o vazio encontrado na nova pátria adotiva e estruturando um tempo e um espaço congeniais geradores de uma singular civilização ítalo-sul- rio-grandense.

Esse o suporte subjacente e decisivo.

Partindo da exteriorização do seu culto religioso, os imigrantes criaram uma sociedade rural que lembrava, de perto, a das suas aldeias e vilas do Vêneto, da Lombardia e do Trentino-Alto Ádige (1975, p. 8).

A obra Igreja e imigração italiana: os capuchinhos de Sabóia e seu contributo à

Igreja do Rio Grande do Sul (1895-1915) (1980), de Carlos Albino Zagonel, foi produzida

originalmente como uma monografia para obtenção de Livre Docência em História da Igreja, tendo por objetivo, segundo o autor, fazer uma contribuição à História do Rio Grande do Sul eclesiástico, a fim de colaborar para a compreensão da personalidade histórico-religiosa dessa região. O período investigado é o de 1895 a 1915 e apresenta o contexto histórico da Colonização Italiana fazendo um esboço de aspectos da História Política e Eclesiástica do Rio

Grande do Sul, bem como da política imigratória, características dos imigrantes italianos e o perfil moral do clero gaúcho. Tudo isso visando demonstrar a situação religiosa, espiritual e cultural do colono encontrado pelos missionários que aqui chegaram para seu trabalho apostólico.

Comunidades indígenas, brasileiras, polonesas e italianas no Rio Grande do Sul

(1896-1915)(1976) é a obra que reproduz os escritos de Frei Bernardin d’Apremont e de Frei

Bruno de Gillonay. Frei d’Apremont foi um dos primeiros missionários capuchinhos franceses a vir para o Rio Grande do Sul, permanecendo aqui até 1913 e, a pedido do Superior Geral dos Freis Capuchinhos, Frei Pacífico de Seggiano, redigiu, no ano de 1914, o relatório que compõe essa obra. Tal relatório é composto de trezentas e dezoito páginas dividido em dois momentos: a ação missionária em área não italiana e em área italiana. Encontra-se no Arquivo Geral dos Freis Capuchinhos em Roma. O povo italiano que descreve já é o do final do século, o qual já havia superado a fase mais crítica dos primeiros anos de sua chegada. Este relatório teve tradução da Irmã Maria Antonieta Baggio, da Congregação de São José.

Frei Bruno de Gillonnay foi fundador da Missão Capuchinha no Rio Grande do Sul. Chegou ao estado em 1896, a pedido de Dom Cláudio J. Gonçalves Ponce de Leão instalando-se em Conde D’Eu juntamente com Rei Leon de Montsapey. Juntos percorreram a colônia italiana fundando conventos capuchinhos e pregando missões populares.

3.2.2.2 FONTES PERTENCENTES À CATEGORIA 2

Esta categoria concentra, como principal fonte, memórias e cartas que revelam, pelo ponto de vista do próprio imigrante, a importância da fé para sua sobrevivência.

Júlio Lorenzoni retrata, através de memórias, as vivências, os contratempos e os costumes dos imigrantes italianos, tendo como foco as regiões de Silveira Martins (Santa Maria) e os atuais municípios de Bento Gonçalves e de Garibaldi, na obra Memórias de um

Foi considerada, em 1974, pela comissão julgadora do Concurso de Monografias sobre a Imigração Italiana, uma obra extremamente importante devido, principalmente, a sua honestidade narrativa. Alguns fragmentos dessa obra fazem parte do álbum do “Cinquantenário della Colonizzazione Italiana nel Rio Grande Del Sud”.

Júlio Lorenzoni nasceu em Vila Raspa, comuna do Mason Vêneto, distrito de Maróstica, província de Vicenza, a 23 de março de 1863, imigrou para o Brasil, junto com seus pais, em princípios de 1878. Foi professor de italiano, agente do Correio, escrivão do Cível e Crime, oficial do Registro Civil, escrivão da Provedoria e Casamentos e do Cartório de Órfãos, entre outras atividades.

Esta obra teve tradução de Armida Lorenzoni Parreira, filha de Júlio Lorenzoni.

Em La mérica (1975), De Boni reproduz alguns escritos de imigrantes italianos como, por exemplo, o de Luigi Toniazzo que fala da viagem do imigrante para o Brasil, o de Paulo Rossato que conta os primeiros momentos do colono na nova terra e o de Carlin Fabris que narra a história de uma comunidade típica de imigrantes, organizando-se socialmente e lutando pela organização de uma paróquia local. Tais escritos, de acordo como o autor, corroboram a crença de que foi na religião que os imigrantes encontraram os elementos necessários para a reconstrução de seu mundo cultural, o que justifica as lutas enfrentadas pela construção da igreja. Diz o autor:

Enfim, os presentes escritos, principalmente o de C. Fabris, confirmam a asserção de que a religião forneceu aos imigrantes os elementos necessários para a reconstrução do mundo cultural. “História da Conceição” assemelha-se a um texto bíblico do Livro dos Reis, fazendo com que tudo gire em torno da vida religiosa. O povoado não teria história se lhe amputássemos a parte religiosa; Conceição não teria mesmo surgido, se o esforço dos primeiros imigrantes não se houvesse voltado para a construção de uma capela. O significado religioso no mundo cultural dos colonos esclarece as lutas pela construção da igreja, a história semi-cômica do “corno” a salvar-lhes o cemitério, e o “ideal” de ter um sacerdote e viver numa sede paroquial. (p. 7).

Esta categoria busca revelar, por meio de um estudo historiográfico e soliciológico, a cultura dos imigrantes italianos e de seus descendentes. Contudo, nossa análise ficará restrita às questões ligadas à religião.

O antropológo Thales de Azevedo retrata os primeiros tempos da imigração italiana através da obra Os italianos do Rio Grande do Sul – cadernos de pesquisas (1994) fazendo uso do método de entrevistas informais. Isso se dá uma vez o autor se sentir privado de outras possíveis fontes, tais como de livros, pois esses quase inexistiam na Biblioteca Pública.

Cadernos de Pesquisa – Os italianos no Rio Grande do Sul – tem sua origem nas incursões realizadas pelo autor à Região Colonial Italiana, no Rio Grande do Sul, no período de 1955 a 1973.

Os originais manuscritos integram o acervo sobre o Rio Grande do Sul e a Região Colonial Italiana do Estado, doado pelo autor ao Projeto – Elementos Culturais das Antigas Colônias Italianas do Rio Grande do Sul – ECIRS, da Universidade de Caxias do Sul, que se empenhou por sua publicação.

De acordo com o prefaciador da obra, Emilio Franzina: “Percorrendo os apontamentos dos primeiros cadernos, compreende-se muito bem que o autor prepara os materiais para uma investigação que se propõe ser ao mesmo tempo historiográfica e sociológica, mas sempre radicada no presente.” (p.20). Acrescenta ainda o prefaciador:

E o presente, na metade dos anos cinqüenta, coincide em Caxias e arredores com o início de um primeiro fluxo de reinvenção da tradição dentro de estruturas necessariamente voltadas à mudança. Se a “monótona” vida na colônia continua a ser marcada em profundidade por um espírito religioso nativo, cultivado em torno a lugares e símbolos de oração, como as célebres capelas rurais, esta forma de piedade que Stuart qualifica como mística e sentimental deve já contar com a penetração, lenta mas segura, do espiritismo e da macumba. (p. 20).

Thales, durante suas pesquisas, tem acompanhantes e guias de origem italiana, os quais fornecem dados e notícias, o que não o impede de formar sua opinião sobre a realidade que se apresenta. Suas fontes variam de arquivo a conversas domésticas com os colonos. 3.2.2.4 FONTES PERTENCENTES À CATEGORIA 4

Nesta categoria estão concentrados os trabalhos investigativos realizados por Arlindo Battistel e Rovílio Costa, investigação essa de cunho antropológico. Isso proporciona que se possa traçar a relação do imigrante italiano e de seus descendentes com a religião por outro viés.

Arlindo Battistel e Rovílio Costa empreenderam uma pesquisa de oito anos que resultou na obra Assim vivem os italianos, publicada em três volumes. No primeiro volume,

Assim vivem os italianos: vida, história, cantos, comidas e estórias (1982), os autores

apresentam um trabalho de cunho antropológico que tem por objetivo retratar a evolução da cultura italiana. Os dados foram obtidos, segundo os autores, por meio de pesquisa de campo que teve como principais tarefas observar, indagar, escutar, registrar, comparar, entre outras.

Para a realização da pesquisa, os autores optaram por procurar um estudo de caso bem determinado de uma família de descendentes italianos em uma área de pequena mobilidade social, que sempre mantiveram uma vida tradicional de imigrantes agricultores, conservando seus costumes familiares, culturas e instrumentos de trabalho, próprios dos primeiros tempos da colonização italiana, situada a partir de 1875.

A obra tem por característica apresentar, em alguns momentos, o relato genérico dos autores com referência aos personagens, para que se tenha uma descrição geral e, em outros momentos, transcreve as informações da maneira e na linguagem em que ocorrem.

Battistel iniciou sua pesquisa a partir da vivência e das experiências de sua própria família, mas buscou isentar-se, como pesquisador, de variáveis afetivas a que poderia estar submetido. Foram entrevistadas também pessoas que apresentassem as mesmas características dos seus familiares, tais como a idade (acima de 70 anos), profissão (agricultores), língua utilizada no cotidiano, o dialeto (italiano), mesmo nível cultural (sem estudos além da escola rural), com experiência na atividade agrícola e com residência permanente na zona rural. Para

a realização desta pesquisa foram necessários seis anos que contou, além das entrevistas (gravadas), com estudos bibliográficos a fim de ampliar o ângulo de visão da investigação.

Os capítulos desse trabalho estão organizados em descrição de fatos, ocasião em que apenas se aproveita os relatos que já não são pessoais, e em relato de vida que revela exatamente os interesses e a percepção da realidade dos personagens. São feitos registros no dialeto e traduzidos simultaneamente.

O segundo volume de Assim vivem os italianos: religião, música, trabalho e lazer (1982) transcreve, com algumas adaptações, uma pesquisa realizada por Arlindo Itacir Battistel em 1978 referente à vida religiosa italiana no Rio Grande do Sul focada na figura do Padre Leigo. Battistel apresenta seu trabalho como sendo uma pesquisa descritiva de campo situada no âmbito da Sociologia Religiosa.

Este segundo volume é composto, primeiramente, pela descrição da situação do imigrante italiano ao abandonar a Itália e as aventuras que envolveram sua viagem rumo ao Brasil. Em seguida, são transcritos comentários simultâneos de entrevistas realizadas com descendentes de imigrantes italianos com idade entre 40 e 100 anos. Finalizando, transcreve na íntegra a pesquisa realizada por Arlindo Itacir Battistel, que teve início em 1978 e foi concluída em 1980. Transcreve, também, a Liturgia da Missa, as orações oficiais e espontâneas, o canto religioso e profano.

Por fim, o terceiro volume intitulado Assim vivem os italianos: a vida italiana em

fotografia (1982) representa o fecho de oito anos de pesquisas que, como dizem os autores,

tratou-se de uma obra planejada para que outros escrevessem, outros esses, que eram os entrevistados.