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ESQUEMA DE LIGAÇÃO

2.2 MODELOS COGNITIVOS PROPOSICIONAIS

Esses modelos têm por característica uma aparência objetivista, não dependentes da experiência humana. Não fazem uso de mecanismos imaginativos, tais como metáfora, metonímia ou imagens mentais. Possuem uma ontologia que é representada pelo todo dos

elementos utilizados no MCI sendo que esses elementos podem ser tanto conceitos de nível

básico, assim como, entidades, ações, estados, propriedades, etc., podendo ser caracterizados, ainda, por outros tipos de modelos cognitivos. Além disso, têm uma estrutura definida em termos de esquemas de imagens.

Os cinco modelos cognitivos proposicionais apresentados por Lakoff são os seguintes:

Proposição simples

De acordo com Lakoff (1987), uma proposição simples consiste de uma ontologia do tipo argumento-predicado. Faz uso do esquema PARTE-TODO, sendo os argumentos e o

predicado correspondentes às PARTES e a proposição, ao TODO. Nas relações semânticas

utiliza o esquema LIGAÇÃO entre os argumentos, atuando sobre categorias de relações do tipo

AGENTE, PACIENTE, INSTRUMENTO, LOCAL, etc. Quando adicionados, mecanismos do tipo

modificação, quantificação, complementação, conjunção, negação, entre outros, formam proposições complexas.

Frame e script

A partir dos estudos de Fillmore (1982), frames podem ser entendidos, dentro do domínio da Lingüística, como estruturas que representam conceitos, dessa forma, emolduram vários conhecimentos relativos a um dado conceito. Assim, frames evidenciam uma cena ou uma situação abstrata, fazendo uso, algumas vezes, de palavras para facilitar a compreensão. Sendo assim, palavras e expressões, ao serem utilizadas, trazem à tona, a partir da memória de longo prazo, frames que serão conduzidos, por exemplo, à memória operacional, atuando como estruturas que, partindo da experiência, se manterão em contínuo processo de construção.

Os modelos cognitivos idealizados, propostos por Lakoff, guardam semelhanças com a noção de frame de Fillmore, isso porque tais modelos seriam estruturas composicionais proposicionais que agiriam na organização, culturalmente mediada, dos segmentos da realidade. Assim, poder-se-ia dizer que a maneira como determinados itens lexicais são utilizados e compreendidos adviriam exatamente de frames. Para Lakoff e Johnson (1999),

frames atuam como um dispositivo de inferências.

A ontologia do modelo script consiste de “um estado inicial, uma seqüência de eventos e um estado final.” (p. 285).19 Utiliza o esquema de imagens ORIGEM-PERCURSO-

META, quando relativo a um domínio temporal e do esquema PARTE-TODO, quando cada momento do cenário representa uma de suas partes. As relações entre pessoas, propriedades, coisas, assim como as proposições, são estabelecidas pelo esquema LIGAÇÃO.

No caso do conceito RELIGIÃO, há um cenário estruturado que possibilita que o fiel, por meio de um script, atinja seu objetivo que é alcançar a vida eterna ao lado de Deus. Nesse caso, tem-se uma pré-condição que possibilita que se tenha acesso à religião que são os

RITUAIS. O meio pelo qual se chega a Deus é a IGREJA/CAPELA, local onde normalmente são

realizados os RITUAIS cristãos. No centro de tudo está a oração, que é o veículo utilizado para

chegar ao objetivo proposto. Isso significa que, para praticar as verdades da fé, há um cenário pré-estabelecido, bem como a realização de RITUAIS previamente organizados em forma de script. Isso ocorre no momento da missa, no batizado, na crisma, na reza do terço, enfim em

todos os RITUAIS propostos pela Igreja Católica estão previstos scripts a serem seguidos.

Um script diz respeito a uma rotina específica, logo se trata de uma cadeia de inferência pré-organizada em termos sociais e culturais.

Segundo Schank e Abelson (1977), quanto mais as pessoas experienciam algo no passado, e esse algo é codificado na forma de um script, mais facilmente o compreenderão, uma vez que tal evento permanecerá em sua memória de longo prazo.

Estrutura de feixe de traços

Segundo Lakoff, esse modelo se caracteriza por ser uma coleção de propriedades, sendo as propriedades sua ontologia. Estrutura-se pelos esquemas CONTAINER e PARTE-TODO. Categorias clássicas, segundo o autor, podem ser representadas por esse modelo. Diz ainda que um traço é um símbolo que está pela propriedade, e que um feixe de traços é um conjunto de propriedades a partir de um conjunto não estruturado de tais traços.

Taxonomia

São modelos que tem “uma estrutura hierárquica de categorias clássicas” (p. 287)20,

sendo cada uma dessas estruturas determinadas pelos nossos propósitos. Sua ontologia se constitui por categorias. No nível das categorias, é estruturado em termos de esquemas de imagens do tipo CONTAINER, já no nível da hierarquia estruturam-se em termos dos esquemas PARTE-TODO e PARA CIMA-PARA BAIXO não havendo, nesse caso, sobreposições entre os níveis mais altos com suas partes em níveis mais baixos.

Categoria radial

Dentro da teoria proposta por Lakoff, que é a norteadora deste trabalho, a categoria radial é o tipo de MCI proposicional, dentro os cinco por ele propostos (proposição simples, cenário ou script, feixe de traços, taxonomia e categoria radial), que melhor representa a complexidade estrutural da categoria RELIGIÃO. Com relação a uma categoria radial, Lakoff

(1987) afirma ser aquela onde “[...] há um caso central e variações convencionalizadas que não podem ser previsíveis por regras gerais” (p. 84)21. Acrescenta ainda que as categorias

20 “[…] a hierarchical structure of classical categories.” (p. 287).

21 “[…] there is a central case and conventionalizes variations on it which cannot be predicted by general rules”

radiais caracterizam “[...] relações entre subcategorias e permitem extensões de categorias, o que é uma importante função racional (p. 145)”22 e nesse sentido diz:

Como outras categorias, uma categoria radial é representada estruturalmente como um recipiente e suas subcategorias são recipientes dentro dela. O que as distingue é que estão estruturadas pelo esquema CENTRO-PERIFERIA. Uma subcategoria é o centro; as outras subcategorias estão ligadas ao centro por vários tipos de ligações. As categorias não-centrais podem ser subcentros, isto é, podem ter estruturas adicionais do centro-periferia impostas nelas (1987, p. 287).23

Lakoff conclui, metodologicamente, a partir dos comportamentos dos modelos cognitivos culturais que:

(a) As categorias estruturadas radialmente podem ter diferentes representações. Nesse caso as subcategorias, bem como as categorias não centrais devem ser representadas, uma vez que não há nada que preveja os casos não centrais a partir dos centrais.

(b) Torna-se necessária uma teoria da motivação.

(c) Torna-se necessária uma teoria dos possíveis tipos de ligação entre subcategorias centrais e não centrais.

(d) Torna-se necessária uma teoria experiencialista do pensamento significativo, da razão e dos modelos cognitivos idealizados a fim de que possam tratar de forma apropriada essas ligações.

De acordo com Lakoff, para que se estruture uma categoria radial é necessário, entre outras coisas, detectar o caso mais central para que sirva como modelo cognitivo. Há, ainda, que se caracterizar as possíveis ligações entre as subcategorias mais e menos centrais por meio de modelos metafóricos, metonímicos, etc. Na presente análise, o caso mais central é

DEUS, tendo como centro prototípico PAI, isso acontece uma vez PAI pertencer a um domínio

mais concreto da experiência do homem.

22 “[…] relationships among subcategories and permit category extension, which is an extremely important

rational function. (p. 145)”.

23 “Like other categories, a radial category is represented structurally as a container, and its subcategories are

containers inside it. What distinguishes it is that it is structured by the CENTER-PERIPHERY schema. One subcategory is the center; the other subcategories are linked to the center by various types of links. Noncentral categories may be ‘subcenters’, that is, they may have further center-periphery structures imposed on them.” (p. 287).

A investigação aqui estabelecida tem especial interesse na análise do modelo proposicional radial da categoria RELIGIÃO e, em função disso, vale destacar o que diz Feltes (2007) a esse respeito:

[...] os modelos proposicionais radiais são pouco explorados nas análises em semântica cognitiva, e tais modelos são, em nosso ponto de vista, a base estrutural para a realização de várias formas de análises semânticas, como aquelas afetas à metáfora e à metonímia, fenômenos que têm recebido grande atenção nestas últimas duas décadas (p. 87).

Dentre as características mais importantes das estruturas radiais destacadas por Lakoff está o fato de demonstrarem que algumas experiências básicas podem existir apenas nos domínios específicos de uma cultura, além disso, em uma categoria, há membros mais centrais que outros.

No que diz respeito aos modelos cognitivos propostos, são apresentados, a seguir, os dois modelos cognitivamente mais produtivos: o modelo metonímico e o metafórico.