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ESQUEMA DE LIGAÇÃO

2.4 MODELOS COGNITIVOS METAFÓRICOS

No que diz respeito à metáfora, Lakoff e Johnson (1980) afirmam que as metáforas utilizadas na linguagem cotidiana influenciam nossas vidas, logo, as metáforas não devem ser entendidas apenas como figuras de linguagem e persuasão, mas sim como figuras de pensamento. Acrescentam também que o conceito de metáfora pode ser compreendido como experienciar algo em termos de outra coisa. Acreditam que a metáfora é essencialmente conceptual fazendo parte do sistema do pensamento e da linguagem e, com base nisso, sustentam que:

[...] Sob o ponto de vista experiencialista, nosso sistema conceptual emerge de nosso agir constante e bem-sucedido em nosso ambiente físico e cultural. Nossas categorias de experiência e as dimensões a partir das quais são construídas não apenas emergem de nossa experiência, mas estão sendo constantemente testadas por meio do agir contínuo e bem-sucedido de todos os membros de nossa cultura. Isso nos oferece os elementos de uma teoria pragmática.” (1980, p. 180). 26

26 “On the experientialist view, our conceptual system emerges from our constant successful functioning in our

physical and cultural environment. Our categories of experience and the dimensions out of which they are constructed not only have emerged from our experience but are constantly being tested through ongoing successful functioning by all the members of our culture. This gives us elements of a pragmatic theory.” (p. 180).

Levando em consideração o enfoque experiencialista proposto pelos autores, a construção da metáfora se daria pela união da razão à imaginação, ao que chamaram de racionalidade imaginativa.

Portanto, por um mapeamento metafórico, ou seja, a partir de um domínio da experiência, domínio-fonte, no caso dessa investigação, FAMÍLIA, se pode chegar à compreensão de um domínio diferente, domínio-alvo, que é RELIGIÃO. Há entre esses

domínios correlações ontológicas nas quais entidades do domínio FAMÍLIA encontram correspondentes no domínio RELIGIÃO, contudo, a eficiência de tais relações dependerá da

cultura em que ocorrerem.

De acordo com os autores, os conceitos abstratos geralmente são metafóricos, dessa forma, as metáforas seriam, entre outras coisas, um aparato cognitivo capaz de influir na maneira de pensar, falar e agir do homem. Tais conceitos, assim como os ligados às emoções, devem ser compreendidos, primeiramente de forma indireta, via metáfora.

Dessa forma, afirmam que: “Para compreender o mundo e agir nele, temos de categorizar os objetos e as experiências de forma que passem a fazer sentido para nós.” (p. 162)27.

Para Lakoff e Johnson (1980), “a maior parte do nosso sistema conceptual é metaforicamente estruturado, isto é, os conceitos, na sua maioria, são parcialmente compreendidos em termos de outros conceitos.”28.

Com relação às metáforas conceituais, Lakoff (1980) estabelece três tipos distintos. O primeiro tipo são as Metáforas Orientacionais. Essas metáforas estruturam os conceitos de

27 “In order to understand the world and function in it, we have to categorize, in ways that make sense to us, the

things and experiences that we encounter.” (p. 162).

28 “[…] that most of our normal conceptual system is metaphorically structured; that is, most concepts are

forma linear como, por exemplo, MAIS É PARA CIMA, MENOS É PARA BAIXO. Um exemplo

dado pelo autor é o seguinte: “Estou me sentindo para cima.”29. Logo:

FELIZ É PARA CIMA; TRISTE É PARA BAIXO

SAÚDE E VIDA É PARA CIMA; DOENÇA E MORTE É PARA BAIXO BOM É PARA CIMA; MAU É PARA BAIXO

O segundo tipo são as Metáforas Ontológicas. Esse é o caso em que características de substância ou entidade são projetadas sobre algo que não apresenta tais características de forma inerente. Como exemplo, Lakoff e Johnson apresentam30:

MENTE É UMA MÁQUINA

Como no caso de: ‘A minha mente simplesmente não está funcionando hoje.’31

O terceiro tipo apresentado pelos autores é o das Metáforas Estruturais. Nesse caso, uma experiência ou atividade é experienciada em termos de um outro tipo de atividade ou experiência. Tais metáforas, de acordo com o autor, são chamadas também de Metáforas Literais, uma vez que, na maioria das vezes, são metáforas que ocorrem no cotidiano de forma automática e convencional. Como exemplo desse caso, cita32:

TEORIAS SÃO CONSTRUÇÕES

Como no caso de: ‘Ele construiu uma teoria.’33

Para Lakoff (1987), a produtividade de uma metáfora conceitual é medida pelo número de acarretamentos metafóricos que é capaz de produzir a partir das correlações que estabelece com um domínio-fonte.

Para fins da análise que empreendemos é importante destacar quando Lakoff afirma que: “Suposições, valores e atitudes culturais não são conceitos que acrescentamos à experiência. Seria mais correto dizer que toda a nossa experiência é totalmente cultural e que

29 “I’m feeling up”. (1980, p. 15) 30 “MIND IS A MACHINE”

31 “My mind just isn’t operating today.” (1980, p. 27). 32 “THEORIES ARE BUILDINGS”

experienciamos o ‘mundo’ de tal maneira que nossa cultura já está presente na experiência em si.” (p. 57)34. A isso acrescenta que grande parte do nosso sistema conceptual é

metaforicamente estruturado, o que significa dizer que boa parte dos nossos conceitos são compreendidos em termos de outros conceitos.

Kövecses (2005) esboça, de forma preliminar, a teoria que propõe para operar com a questão da universalidade e variação da metáfora e que o fez entender a Lingüística Cognitiva com a vê hoje. Nela, a metáfora é vista como sendo constituída por uma variedade de aspectos, componentes ou partes que interagem entre si. Esses componentes, segundo ele, são os seguintes:

(1) Domínio-fonte; (2) Domínio-alvo: A metáfora consiste de um domínio-fonte e um domínio-alvo, sendo a fonte um domínio mais físico e o alvo um tipo de domínio mais abstrato. Exemplo: “AFEIÇÃO É CALOR”35 (p. 6).

(3) Bases experienciais: A escolha de uma fonte em especial para seguir um alvo específico é motivada por uma base experiencial, isto é, por alguma experiência corpórea. Exemplo: “O movimento é um tipo de evento.”36 (p. 6).

(4) Estruturas neurais no cérebro correspondentes a (1) e (2): Experiências corpóreas resultam de certas conexões neurais entre áreas do cérebro, áreas essas que correspondem a fonte e alvo. Um exemplo potencial seria: “Quando a área do cérebro correspondente à afeição é ativada, a área correspondente ao calor é também ativada.”37 (p. 6).

34 “Cultural assumptions, values, and attitudes are not a conceptual overlay which we way or may not place upon

experience as we choose. It would be more correct to say that all experience our “world” in such a way that our culture is already present in the very experience itself.” (p. 57).

35 “AFFECTION IS WARMTH” (2005, p. 6). 36 “[…] motion is a type of event.” (2005, p. 6).

37 “When the area of the brain corresponding to affection is activated, the area corresponding to warmth is also

(5) Relações entre a fonte e o alvo: Nesse caso, o relacionamento da fonte e do alvo é tal que um domínio da fonte pode se aplicar a diversos alvos e um alvo pode se unir a diversas fontes. Exemplo: O domínio VIAGEM aplica-se tanto a VIDA como a AMOR.38 (p. 6).

(6) Expressões lingüísticas metafóricas: A união de domínios fonte e alvo geram expressões lingüísticas metafóricas; tais expressões lingüísticas derivam da conexão entre dois domínios conceptuais. Exemplo disso: DIFICULDADES SÃO OBSTÁCULOS39 (p. 6).

(7) Mapeamentos: São correspondências conceptuais básicas e essenciais ou mapeamentos, entre os domínios fonte e alvo. Exemplo: “Metáfora conceptual: O AMOR É UMA JORNADA, que tem por mapeamentos40 (p. 6):

Viajantes→ amantes Veículo→ relação amorosa

Destino→ o propósito do relacionamento

Distância coberta→ progresso feito no relacionamento

Obstáculos ao longo do caminho→ dificuldades encontradas no relacionamento

(8) Acarretamentos: Os domínios-fonte traçam, freqüentemente, idéias para o domínio-alvo que vão além das correspondências básicas. Estes mapeamentos adicionais são chamados de acarretamentos ou inferências. Exemplo de mapeamento: “Se amor é conceptualizado como uma jornada, bem como veículo correspondente para o relacionamento, então, nosso conhecimento sobre veículo pode ser usado para compreender relacionamentos amorosos. Se o veículo quebra, temos três escolhas: (1) saímos e tentamos alcançar nosso objetivo por outros meios; (2) tentamos consertar o veículo; ou (3) permanecemos no veículo e não fazemos nada. De modo correspondente, se um

38 “The JOURNEY domain applies to both LIFE and LOVE […].” (p. 6). 39 “DIFFICULTIES ARE OBSTACLES.” (p. 6).

40 “LOVE IS A JOURNEY” Mappings: travelers→lovers; vehicle→love relationship; destination→purpose of

the relationship; distance covered→progress made in the relationship; obstacles along the way→difficulties encountered in the relationship.” (p. 6).

relacionamento falhar nós podemos: (1) deixar o relacionamento; (2) tentar consertá-lo; ou (3) permanecermos na relação e sofrermos com ela.”41 (p. 7).

(9) Mesclas: A junção de um domínio-fonte a um domínio-alvo resulta, em geral, em mesclas, ou seja, materiais conceptuais novos tanto no que diz respeito ao domínio-fonte como ao domínio-alvo. Exemplo: “Estava tão furioso que saía fumaça de suas orelhas.”42

Nesse exemplo, tem-se por domínio-alvo pessoa irritada e fumaça como domínio-fonte. Esse exemplo integra conceptualmente os dois domínios dando origem a uma mesclagem.

(10) Realizações não-lingüísticas: As metáforas conceituais são, frequentemente, materializadas ou realizadas de maneira não-lingüística, ou seja, são materializadas não somente na língua e em pensamentos, mas também na prática e realizações físico-sociais. Exemplo: “IMPORTANTE É CENTRAL”43 (p. 7). A partir dessa idéia, pode-se, por exemplo,

dizer que, em reuniões e em vários outros eventos sociais importantes, pessoas com posição social superior tendem a ocupar espaços físicos mais centrais do que pessoas menos importantes.

(11) Modelos Culturais: Metáforas conceituais podem produzir e convergir para modelos culturais, modelos esses que operam no pensamento. São estruturas, simultaneamente, culturais e cognitivas, advindo daí o termo modelo cultural ou cognitivo, que são, na verdade, representações culturalmente específicas de aspectos do mundo. Exemplo: Compreendemos o tempo como uma entidade móvel, isto é, nosso modelo cultural de tempo é baseado/criado a partir da metáfora conceitual “TEMPO É UMA ENTIDADE MÓVEL”44 (p. 8).

41 “If love is conceptualized as a journey and the vehicle corresponds to the relationship, then our knowledge

about the vehicle can be used to understand love relationship. If the vehicle breaks down, we have three choices: (1) we get out and try to reach our destination by some other means; (2) we try to fix the vehicle; or (3) we stay in the vehicle and do nothing. Correspondingly, if a love relationship does not work, we can (1) leave the relationship; (2) try to make it work: or (3) stay in it (and suffer).” (p. 7).

42 “He was so mad, smoke was coming out of his ears.” (p. 7). 43 “IMPORTANT IS CENTRAL” (p. 7).