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FORÇA VITAL DANÇA DA ENERGIA Deixei o quarto de trabalho de Dona Celestina no

final da manhã para o almoço, quando Chencha nos informou que seria servido assim que quiséssemos. Enquanto atravessava o corredor sombreado e alcancei os arcos, encontrei Chon dançando no pátio, completamente inconsciente a qualquer expectador em potencial. A música tocando era animada e seus movimentos circulavam para frente e para trás da maneira mais curiosa que eu já havia visto.

Eu parei por um instante para olhá-lo. Ele sorriu para mim, agora consciente de minha presença, e então voltou a concentrar-se na dança. Saltando, gesticulando aqui e ali, seus movimentos eram às

vezes selvagens e afiados e então de repente graciosos, realizados suavemente como uma pluma caindo.

- Parece divertido. - eu disse sorrindo, não sabendo como fazer como ele. Quando a música acabou, ele foi até o rádio gravador portátil que eu tinha trazido de San Luis, e me convidou a participar com ele no pátio. - Isso é muito prático - ele comentou em aprovação. - Produz um barulho e tanto para o seu tamanho!

- Como você faz aquilo? - perguntei - Que tipo de dança é aquela?

Ele sorriu. - Oh, aquilo não era dança, não mesmo - ele disse franzindo a testa. - Aquilo era a conversa de hoje com a energia.

- Jura? - eu brinquei. - Isso é como você chama o que estava fazendo?

Chon riu. - Você quer experimentar? - ele me convidou.

Aquilo me baixou a guarda. - Acho que sim. - respondi. - Como exatamente eu faço isso?

- Bem, - ele disse num sorriso, - converse com a serpente! Volte para a energia da serpente do sonhar. Apenas traga o intento aqui neste pátio, Merlina. Deixe a energia mover seu corpo físico e a energia virá ensiná-la. Assim é como deve ser. As pessoas vêm e vão mas a energia resiste, nunca é criada ou destruída. A energia simplesmente é, ainda que mude de formas. Experimente! - seus olhos me convidavam a aceitar sua proposta e a intentar a tarefa.

Surpreendentemente, não era de todo difícil mudar minha consciência até o sonhar da serpente que eu

tinha experimentado com Don Juan no canyon, dias antes. A energia dourada da serpente estava ainda vibrantemente presente e despertou dentro de mim. Tudo que tive de fazer foi silenciar minha mente e intentar a consciência.

- Mudar para a energia do sonhar está se tornando fácil para você. Agora role seus olhos para cima e para trás de sua cabeça. - ele me guiava - Tente olhar para dentro de sua cabeça até o ponto singular entre suas sobrancelhas. - Chon tocou o ponto correspondente em minha testa com seu dedo indicador.

No momento em que fez aquilo, senti um zumbido. Era exatamente o mesmo som que tinha experimentado na noite anterior, sonhando minha energia sexual sob comando de Dona Celestina. Eu foquei meu olhar interior sobre o ponto preciso.

- Permita que a energia se mova dentro de você. - Chon me disse. - Ela trabalhará desta forma através de qualquer bloqueio que possa existir ali e começará a falar com seu corpo, guiando-o de acordo com ele mesmo, de forma a movê-lo a fim de expressar a energia fluindo através dele. - Ele golpeou minhas costas entre minhas omoplatas, me impulsionando a seguir.

A primeira sensação que tive foi um calor. Quando eu me conectei interiormente com a energia, foi como se a chama de uma tocha fosse acesa. Dentro de mim, todos os obstáculos no caminho foram reduzidos a cinzas. Meu rosto e corpo ruborizaram-se e eu suava profusamente. Então, muito rapidamente, uma explosão se tornou um calor seco. Eu senti minha pele formigar e se tornar efervescente, excitada e firme. A sensação de júbilo emocionou meu ser e eu era como luz numa brisa, cheia de energia ilimitada.

- Deixe a energia expressar a si mesma a você através do movimento. - Chon disse para mim.

De uma só vez, meus braços levantaram sobre minha cabeça, alongados e impulsionados como chamas numa brisa. Minha espinha começou a ondular até que meu corpo inteiro era uma chama dançante, viva, e com energia entusiástica que eu podia perceber fisicamente e dentro de minha visão perineal. Quando o calor começou a elevar-se dentro de mim, criou uma sensação de incandescência no topo de minha cabeça. Naquele momento meus braços se estenderam, relaxados através do plano horizontal, e ondulavam como serpentes.

- A águia come a serpente. A serpente se torna águia. - Chon comentou.

Meu corpo respondia antes que minha mente pudesse processar suas palavras. Naquele instante o movimento dos meus braços se transformou numa elevação, movendo-se como asas, batendo elevadamente em uníssono. Então meu corpo, alcançado pelo bater das asas, começou a girar e Chon se juntou a mim com seu salto mágico como um pássaro.

De repente eu senti escorrendo dentro de mim uma energia desconhecida, que agora tentava emergir de um casulo que era meu corpo e, antes que eu compreendesse o que estava acontecendo, alterei meus movimentos novamente e estava dançando a “mariposa”. O corpo de Chon parecia instantaneamente entender minha mensagem no movimento. Ele respondeu com movimentos de mariposa alucinantes de poder, espontaneidade, e graça. Eu estava atingida pela impressão que nunca em minha vida havia experimentado da mais profunda comunicação simbiótica.

Chon voltou ao rádio e colocou a música novamente. Uma penetrante Veracruzana começou divertida, que eu improvisava até ficar mareada pela letra e hiperventilei com gargalhadas.

Na próxima música, Don Juan emergiu do corredor escuro, vestido de negro como sempre, tendo voltado de uma longa caminhada. De alguma forma, a tarde inteira havia transcorrido sem que eu notasse, e o crepúsculo estava se aproximando. Eu fiquei desorientada, e a música parecia insistir em chamar minha atenção. Eu podia jurar que o tempo havia sido suspenso, e já não havia maneira de me dar conta desta percepção.

O ritmo seguinte foi a “chiken scratch”, como uma rodopiante polka selvagem mexicana, mas sem letra, altamente popular entre as festividades Yaqui e Papago. Antes que eu me desse conta, Don Juan me agarrou e começamos a dançar. O padrão era dois pra cá, dois pra lá, uma versão moderna do que os nativos americanos chamavam de “bird dancing”, ele me girava em batidas rítmicas, círculos, semi-círculos, e então me inclinava completamente e voltávamos a girar sobre o pátio. Ele somente me guiava quando minha cabeça começou a palpitar e meu coração disparava tanto que eu não podia parar de respirar.

Eu me sentei nos bancos de pedra até que consegui recuperar minha compostura e meu peito sossegou. Don Juan me fitou e deu um sinal com o olhar para que Chon deixasse o pátio, o que evidentemente significava “desligue a música”. Eu estava em colapso na cadeira e Chon se sentou ao meu lado. Ele estava relaxado com grande prazer, alegre e despreocupado, e com um enorme sorriso estampado em seu rosto.

- Você pode ser uma dançarina e tanto, - ele me disse e deu uma gargalhada.

- Estou curiosa, Chon, - disse quando minha respiração voltou ao normal. - Seus movimentos de cura se originam do sonhar também?

- Você quer dizer como minha dança? - ele perguntou rindo, estendendo a palavra “dança” a um tom ridículo, abrindo seus olhos tão selvagens quanto possível.

- Me deixe colocar desta forma, Chon. Todos os seus movimentos são muito originais. - eu disse a ele. - Como você viu, qualquer um pode fazê-lo! - ele respondeu, sorrindo. - Tudo o que é preciso é sonhar a energia ao corpo para um propósito específico e então trazer a energia até o mundo acordado. Meu propósito específico para esta tarde foi puramente para o prazer. - Você pode me dar alguns exemplos de sonhar energia para o corpo? - eu pedi.

- Claro! - ele exclamou - Eu estou cheio deles! Por exemplo - ele começou, usando um tom exageradamente pedante - digamos que você queira alimentar uma área de seu corpo com energia extra para ser usada para uma cura extraordinária, inclusive para si mesma, para alguém, ou mesmo para ambos, desde que ali não haja razão que para o curandeiro se tornar esgotado. Você começa intentando energia para aquela área no sonhar. Ou talvez intentando energia para suas mãos, que mais tarde serão colocadas próximas à área em questão. Depois, refine a energia no sonhar. Trabalhe com isso até que se torne rara, exata e efetiva. Sonhe com isso de novo e de novo. Então traga esta energia ao mundo acordado realizando qualquer tarefa suporte que possa ser mostrada no sonhar que acompanhe esta energia.

- Eu sempre vejo algum tipo de movimento associado com a energia em sua expressão mais refinada. Este movimento é normalmente muito leve e concentrado, e conseqüentemente muito fácil de trazer. Isso me sinaliza que a energia agora está eficaz, educada para o que você quiser, e pronta para ser usada. Assim é como eu a trago, realizando os sinais ou os movimentos de apoio. Às vezes, em vez de movimento, eu gero um sentimento do sonhar a fim de chamar a energia. Isso é muito eficaz, especialmente se direciono o sentimento até a específica área em questão com meu intento.

- O ponto importante é sempre aperfeiçoar a energia pelo sonhar e re-sonhar, antes na verdade de aplicá-la no mundo acordado. Esse processo pode ainda ser empreendido para puramente aproveitá-lo! Podemos ainda sonhar uma dança que gera bem-estar, liberdade de espírito e poder. Nós temos sempre que lembrar de brincar! Isso evita que nos tornemos muito pesados! - Esse processo aparentemente seria muito efetivo para a autocura, bem como para o desenvolvimento de curandeiros! - eu exclamei.

- Absolutamente, - Chon concordou. - Ainda sua aplicação pode ir além do escopo da cura. Usando essas práticas com intento apropriado, é claro, podemos realmente colher, concentrar e refinar a abundância, força vital, consciência pura, e armazená- la em ambos corpos físico e energético. Muitas pessoas focam todo seu sonhar para uma vida boa e possessões materiais, ou sucesso profissional. Elas esquecem completamente de investir seus sonhos em sua própria força vital, e em suas próprias transformações na morte. Quando seus números são chamados, elas aparecem extremamente pequenas neste departamento, eu poderia dizer.

- A maioria das pessoas está totalmente despreparada para seus últimos momentos na Terra. Elas desperdiçaram sua energia sexual e energia vital em bugigangas que não podem ser efetivadas na morte. Elas morrem do jeito que morrem porque estiveram correndo fora da vida. Juan quer que falemos com você sobre experiências últimas, e mostremos a você onde os praticantes armazenam seus tesouros e como eles os recebem. Você terá lições intensas agora, Merlina, e você poderá ver verdadeiras maravilhas. Sabendo como armazenar energia em seu corpo através do sonhar é só o começo.

Chon então se levantou e apontou para o céu como se drenasse energia diretamente dele. Ele fez movimentos semi-circulares com suas mãos e as trouxe suavemente para baixo até o nível dos órgãos internos. Ele derramou em seus lados e disse “Colher, concentrar, purificar e armazenar”.

PRÁTICA 17 - Sonhando energia no corpo com passes