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REINOS DE ENERGIA NÃO TERRENOS Um humor estranho alcançou a todos nós, como se

soubéssemos que logo todos seguiríamos caminhos separados novamente por um tempo. No dia seguinte tomamos café da manhã juntos no pátio e Chon

anunciou que havia sonhado que retornava ao sudeste do México.

Todos nós concordamos em silêncio, entre a troca de olhares refletindo nosso próprio entendimento interior. Dona Celestina o agradeceu por tudo o que havia feito pelos seus clientes, e o convidou a retornar da próxima vez que sentisse ser apropriado. Ela disse a ele que era sempre bem-vindo e que esperava que voltasse em breve a San Luis.

Chon me perguntou se estaria disposta a levá-lo até a cidade de Mexicali, onde poderia pegar o trem da tarde para a Cidade do México. Don Juan sugeriu que seria uma boa oportunidade para nós voltarmos até Pozo juntos, uma vez que Mexicali fosse a caminho, aproximadamente metade do caminho entre Pozo e San Luis. Eu concordei, sentindo um traço de sentimentalismo pelo fato de que nós três estaríamos partindo dali a poucas horas.

Depois da decisão tomada, nosso humor mudou para uma leveza onde todos aproveitávamos uma segunda rodada de café e bolinhos. Chon brincou que havia provavelmente previsto outro mês de chuva que se aproximava da área de San Cristobal de lãs Casas, onde permaneceria assim até a primavera. Ele disse que não sabia se o brim de seu chapéu duraria ainda mais um dilúvio e fez gestos hilários, imitando como aparentaria com o chapéu e a cabeça empapados.

Nós conversamos, rimos e entretemo-nos à mesa até que a necessidade nos obrigou a ocupar-nos com nossos afazeres. Chon e Don Juan se puseram a embrulhar as coisas que trariam consigo. Eu fiz o mesmo. Dona Celestina foi até sua sala de consulta e as quatro garotas limparam a área do pátio... Depois de haver terminado de fazer minhas malas, fui até a sala de consulta de Dona Celestina para me despedir e

agradecê-la em particular. Ela não estava em consulta, mas simplesmente sentada à sua mesa imersa em seus pensamentos, com o sol atravessando sua janela aberta.

- Eu queria agradecer por tudo, doña, eu disse a ela depois de fechar a porta e pedir permissão para entrar. Ela concordou como se tudo tivesse sido meramente automático.

- Entre, Merlina. Eu a verei novamente na reserva Cocopa daqui a poucos meses. - ela disse. - Acontecerá uma cerimônia onde irei atender. Você fez um bom trabalho aqui, minha querida, mas não pense que já terminou. Juan tem mais reservado para você depois que vocês dois estiverem em Pozo. Eu fiquei apreensiva. - Obrigada por me hospedar em sua casa, - disse. - Eu não posso dizer o quanto aprendi aqui.

- Você não tem que me dizer, mas ter a certeza de dizer para alguém! - ela brincou, rindo. - Eu ainda Vejo você se tornando uma contadora de estórias, Merlina. - ela se levantou e colocou seu braço em meus ombros e me acompanhou até o corredor. Aqueles feiticeiros definitivamente não se detinham em sentimentalismo ou cerimônia. Quando todos estavam de malas prontas e no momento de partir, eles simplesmente trocaram palavras de respeito e agradecimento e partiram. Nós carregamos o jipe e seguimos, com Chon sentado no banco de trás e Don Juan ao meu lado, deixando um rastro de poeira atrás de nós. A estrada para Mexicali ficava a aproximadamente uma hora. Chon e Don Juan riam e contavam estórias na maior parte do caminho, principalmente sobre conhecidos deles que eu nunca conheci. Eu estava feliz pela oportunidade de apenas ouvir e dirigir e não senti necessidade de interferir na conversa. Dirigir com os dois era algo de outro mundo e eu palpitava e precisava de toda a minha atenção na

estrada, para não pegar as saídas erradas. Nós chegamos à estação de trem antecipadamente. Chon descarregou seus apetrechos e sacos de plantas do deserto. Eu me dei conta de quanta coisa havia sobrado no jipe. Evidentemente o resto seria de Don Juan. Parecia ser mais do que havíamos trazido, e era como se alguém planejasse acampar por vários dias. Havia garrafas de água, cobertores e outros itens que eu não havia notado antes, por estarem embaixo das coisas de Chon. Eu considerava curiosas as possíveis razões para carregar aquilo conosco, mas não havia mais tempo para isso, pois tínhamos que pegar a fila para comprar o bilhete de embarque de Chon. Depois de quase uma hora, nos sentamos num banco para aguardar o trem. Chon começou a remexer em suas coisas.

- Eu tenho uma coisa pra você. - ele disse para mim. Ele sorria com satisfação e tirou seu chapéu de palha das montanhas, decorado por uma longa cinta de fitas coloridas. Chon me entregou o chapéu com satisfação. Era um trabalho de arte, uma verdadeira peça de colecionador, completada com uma pequena ponta no topo e borla de crina de cavalo atrás. - Ele não agüenta nem mesmo mais nenhuma chuva. - ele brincou. Eu alegremente aceitei o bonito chapéu. Ele estava carregado com a personalidade e energia de Chon. De repente, tive um estranho pensamento. Eu me lembrei da estória de Don Juan sobre o presente de cobertores do feiticeiro Melquior Ângelo. Eu inspecionei o chapéu com novo interesse, me perguntando se o corpo energético de Chon poderia talvez estar escondido em algum lugar dentro dele. Aquilo fez Chon e Don Juan rolarem de rir, tão alto de fato, que tive de desistir para que eles se acalmassem. Eu agradeci Chon pelo presente.

- Isto é apenas para que eu possa ficar de olho em você até vê-la novamente, ele disse picando e sacudindo seu dedo apontado pra mim. Ele voltou para Don Juan a despedida deles parecia ser a de dois amigos de longa vida que se veriam novamente em vinte minutos ao dobrar a esquina. Eu estava tocada pela dignidade e afeição silenciosa entre eles, suas maneiras casuais e a confiança profunda entre eles. Quando o trem de Chon chegou à plataforma, nos apressamos a acompanhá-lo até a porta. Ele entrou e sentou-se no banco ao lado da janela e parecia estar feliz, como se fizesse um prospecto de sua longa viagem. Nós esperamos na plataforma depois de ajudá- lo com sua bagagem, então seu trem saiu da estação. Foi um momento surreal cheio de presságios e natureza final de viagem misteriosa. Don Juan me disse quando saímos da estação: - Cada vez que alguém que eu conheço não está comigo, especialmente se é alguém que aprecio, eu sempre o Vejo viajando no infinito. - foi apropriado e valeu a pena, e nós saímos de lá pouco tempo depois. Nós ainda tínhamos mais estrada a percorrer. Éramos afortunados pela tarde clara e encantadora, como a manhã havia sido. Don Juan sentou-se e apreciava a paisagem. Nós íamos ao sul de Mexicali em direção a Pozo, mas quando alcançamos a estrada de terra que nos levaria a oeste para a cidade, Don Juan me instruiu a pegar a estrada ao sul.

- Nós não estamos voltando diretamente para minha casa - disse Don Juan.

- Nós iremos acampar em algum lugar? - perguntei finalmente, mencionando toda a bagagem extra atrás do jipe.

- Estou te levando até um lugar de poder que eu conheço. Nós passaremos algumas noites lá. Há coisas

que eu quero te mostrar que só são aprendidas nesses lugares. - ele disse.

Eu sabia que ele tinha preparado a viagem antecipadamente, como Dona Celestina havia comentado. Eu dirigia relaxada, sabendo que Don Jun me daria as direções no momento apropriado. Eu estava muito feliz por ter enchido o tanque de gasolina em Mexicali, porque viajávamos mais longe do que eu imaginava. Viajamos ao sul quase a caminho de Santa Rosalia, que ficava próxima ao meio da Baja Península, antes de Don Juan me dizer para pegar a estrada a oeste para as montanhas da Sierra de Guadalupe, até alcançarmos o local onde Don Juan disse para estacionar o jipe.

- Este é um território de cavernas pintadas. - ele disse. - Algumas das mais enormes estão próximas daqui. Esta área costumava abrigar os índios Cumiai, mas outros grupos do deserto também conduziam a busca da Visão e do Sonhar em alguns desses lugares sagrados.

- É por causa disso que estamos aqui, Don Juan? - Às vezes, - ele disse, - se um praticante acumula energia suficiente, sua capacidade para a transformação excede às limitações da Terra, à sua idade e ao seu corpo físico. Eles excedem à capacidade de seus próprios corpos para a metamorfose.

- O que acontece então? - eu perguntei. Don Juan me olhou firmemente, como se eu já soubesse responder àquela questão. - Eles se fiam ao desenvolvimento de seus corpos energéticos até o ponto, - ele disse finalmente, depois de uma longa pausa: - Eles se movem até reinos não humanos e não terrenos. É por isso que escolhi trazê-la aqui. Aqui nós Veremos além do humano. Considere que cada passo

que der aqui como não pertencendo à Terra. - com isso, Don Juan abriu a porta do seu lado e saiu.

PRÁTICA 20 - Vendo energia humana e não-humana