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1. Esta tarefa do sonhar é transmitida pela energia do desafiante da morte vista pelos xamãs do deserto. É costume praticá-la para o momento da morte.

2. Este sonho precisa ser permitido para acontecer. Não pode ser forçado. Entramos no sonhar e permitimos que o sonho se torne nossa própria morte, não no sentido profético, mas simplesmente como uma prática. O processo da morte pode ser ativado no sonho por um ser fora de nós mesmos, ou nosso próprio corpo energético pode iniciar a prática, desde que o praticante tenha suficiente controle e consciência do que este ser empreende.

3. Permita que a morte ocorra, sonhe seu caminho pelo processo ao invés de ficar apavorado e acordar. Esta segunda resposta é muito comum, e é instintivo alguém ficar engendrado pelo medo. Entretanto, pode ser superado.

4. Permita que o vazio total ocorra sem permitir nenhuma interrupção na sua consciência do sonhar. Se a interrupção for inevitável, não fique com ninguém mais do que o tempo necessário. Então comece a reconfigurar sua consciência, limpando-a no mais essencial do que a primeira configuração. Não degenere em sonho ordinário ou em sonhos do ego. 5. Em vez disso, esforce-se para trazer a consciência essencial de volta com você até o mundo acordado numa simples, silenciosa e vazia humildade. Foque-se na paz.

CAPÍTULO 22 - A ÁGUIA

Durante à tarde, enquanto Don Juan descansava, dei uma volta pelas reDondezas. Havia muitas trilhas que levavam a outros locais murais. O mais memorável deles era um grupo de pedras cobertas com criaturas aladas grandes, negras, que talvez fossem águias. Ao examinar as criaturas, parecia que cada uma retratava a mesma coisa, como se os artistas tivessem deliberadamente evitado desenhar a cabeça da criatura e então era impossível para mim ter certeza de que ser era representado ali, sem a presença de Don Juan. Até, por alguma razão desconhecida, talvez devido às asas em vôo e a forma, eu senti que todas estavam representadas da mesma forma de águias.

Eu não me afastei muito da caverna, uma vez que Don Juan havia me dado instruções muito específicas

sobre retornar antes do pôr-do-sol. Na volta coletei mais lenha e, quando alcancei a caverna muralizada, o sol estava justamente se pondo. Don Juan estava preparando o círculo de fogo como havia preparado na noite anterior. Sentada no meu lugar dentro da caverna, me perguntava como a noite e o sonhar haveriam de ser, mas silenciei estes pensamentos. As instruções de Don Juan haviam sido intentar sonhar e nada mais.

Uma vez que o céu estava escuro e com o fogo aceso brilhando, Don Juan começou sua cantiga novamente. As palavras, os ritmos e as melodias foram diferentes da noite anterior, mas estas foram todas discerníveis. Uma das cantigas incluía altos tons ocasionais, guinchos que provocavam calafrios em meu corpo. Cada lamento foi acompanhado de algo que era lançado ao fogo. Eu não pude ver o que era, mas o que quer que fosse, faziam saltar ante suas palavras.

Eu mantive minha consciência acordada mais tempo nesta segunda noite, mas depois de um tempo comecei a notar sombras pairando e girando no teto da caverna. Observando-as me fez ficar enjoada e a única maneira de parar aquela sensação foi deitar sobre meu cobertor e fechar meus olhos. Uma vez feito isso, os sons do fogo pareciam ter amplificado até que eu senti que as chamas me engoliriam e me queimariam inteira. Naquele momento, fui engolida pelo calor e comecei a adormecer.

Quando acordei no sonhar, meu corpo energético estava no teto da caverna olhando meu corpo dormindo abaixo dele. De cima, pude ver claramente o corpo de Don Juan sentado perto do fogo, alimentando de quando em quando. Eu não pude, entretanto, ouvir nenhum canto, embora seus lábios parecessem estar se movendo. Eu corri pelo teto da caverna como uma

aranha e, quando alcancei a entrada, meu corpo energético baixou a si mesmo num fio prateado deslizando para baixo suavemente até estar perto o suficiente do chão e focalizou-se na perspectiva da minha altura normal.

Eu apalpei meus braços com minhas mãos. Eu parecia ser eu mesma. Como eu pude me tornar tão minúscula por um momento foi um mistério pra mim, mas me permitiu arrastar-me ao longo do teto da caverna aparentemente sem perceber e descer na direção do fogo sem ser chamuscada. Agora que estava em pé no chão do lado de fora da caverna, voltei para olhar o lado de dentro.

Uma enorme sombra negra, tal como eu havia visto pairando sobre mim mais cedo naquela noite, desceu arremessando-se naquele exato momento para bloquear a entrada da caverna e então eu dificilmente pude distinguir o lado de dentro e o fogo em seu interior. Eu retrocedi quando percebi que a sombra era palpável, com a consistência de um gás denso negro. Parecia ser um lugar que queimava no interior da escuridão. Pensei comigo mesma que estava testemunhando o nascimento de uma nova galáxia. Então o lugar se tornou um olho amarelo imenso que me olhava do centro da cabeça aquilina negra. O bater das asas em sua base se tornou discernível e se estendia até o infinito. Eu estava olhando o centro do universo!

De alguma forma o universo tornou-se uma águia negra e a águia, o universo. Ela flutuava sobre e entre estas duas visões. De repente, eu estava queimando com seu singular cerne amarelo-branco-quente numa temperatura que não pensava ser concebível. Eu fui reduzida a um minúsculo monte de pó dourado. A águia perscrutava sobre o pó dourado. Seu olho se

tornou tão grande que alcançou todo meu escopo, a totalidade da minha visão. A águia então escolheu uma partícula com seu bico da pilha de pó dourado que eu era e voou com ela, revelando a entrada iluminada da caverna quando saiu.

Minha consciência foi reconfigurada assim que a águia partiu. Se Don Juan não estivesse dentro da caverna,

ou se não tivesse me advertido a retornar para lá, eu poderia não estar interessada em fazê-lo, tal era o atrevimento audaz de meu corpo energético. Eu sentia uma limpeza irromper em meu corpo dormindo. Eu soube

que o ciclo transformacional ainda não havia se completado. Fora da circunstância favorável onde estivemos ambos procurando, eu tive que retornar. Retornar, entretanto, não foi tão fácil quanto eu havia pensado. Eu mudava de forma tantas vezes que não era possível retroceder e voltar a ser quem eu havia sido. A fim de me aproximar do meu corpo novamente, tive que deixar de ser uma minúscula pilha de pó dourado e me tornei apenas puro vazio. Apenas daquela forma eu pude flutuar até a caverna passando pelo fogo e pairar acima de meu corpo dormindo, vim a recuperar a mim mesma.

Quando acordei de manhã, vi Don Juan examinando a areia com seus dedos sobre as cinzas remanescentes, para ter certeza de que o fogo havia sido apagado. Eu estava deitada e olhei para o teto da caverna. A luz da manhã parecia fria em comparação com os fogos que havia experimentado no sonhar. Eu me enrolei mais sob meu cobertor e virei para meu lado direito, onde pude olhar facilmente a entrada da caverna. Respirando o ar de um novo dia começando