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2.2 – Tecnologia Industrial Básica – TIB

FORÇAS MOTRIZES PARA

A DIFUSÃO INTERNACIONAL PROCESSO DE CERTIFICAÇÃO APLICAÇÃO - Qualidade - Meio ambiente - Saúde - Trabalho - Social - Ética - Código de conduta - Selo - Norma - Regulamento - Específico de empresa - Específico de setor ou indústria - Específico de cadeia produtiva - Genérico - Negócios internacionais - ONGs internacionais - Sindicatos internacionais - Organizações internacionais - Primeira parte (o produtor) - Segunda parte (o cliente) - Terceira parte (auditor externo) - ONGs - Governo - Auditores do setor privado - Legal (compulsório) - Requisito de competição de mercados - Voluntário

Quadro 2.11 – Tipologias das normas Fonte: Nadvi & Wältring (2002)

Uma norma técnica também significa a consolidação de um conhecimento e o direcionamento de ações. Por exemplo, a norma ISO 9000 tem sua origem em normas de operação de usinas nucleares que foram adotadas por algumas empresas. Os resultados positivos dessa adoção passaram a se difundir, até se tornarem padrões de uma organização de âmbito global como é a ISO: International Standards Organisation.

Complementando as tipologias das normas, lançada por Nadvi & Wältring, a ISO estabelece uma hierarquia dos diversos níveis de abrangência, a saber:

a) Normas de Empresa: são normas preparadas e editadas por uma empresa ou grupo de empresas com a finalidade de orientar as compras, a fabricação, as vendas e outras operações. Ex: Normas Petrobrás, Normas de montadoras de automóveis;

b) Normas de Associação: algumas entidades associativas ou técnicas também estabelecem normas, seja para o uso dos seus associados, seja para uso generalizado. Algumas dessas normas têm uso bastante difundido. Ex: Normas da ASTM – American Society for Testing

and Materials

c) Normas Nacionais: são normas editadas por um Organismo Nacional de Normalização, reconhecido como autoridade para torná-las públicas, após a verificação de consenso entre os interesses do governo, das indústricas, dos consumidores e da comunidade científica de um país. Ex: ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas.

d) Normas Regionais: são normas estabelecidas por um Organismo Regional de Normalização para aplicação num conjunto de países (uma região, como a Europa ou o Mercosul). Ex: os Organismos Regionais de Normalização aos quais o Brasil é associado são a AMN (Mercosul) e a COPANT (Continente Americano). Normas do Comitê Europeu de Normalização (CEN) são outro exemplo.

e) Normas Internacionais: são normas estabelecidas por um Organismo Internacional de Normalização para aplicação em escala mundial. Existem diversos Organismos Internacionais de Normalização, em campos específicos, como a ISO (para a maioria dos setores), a IEC (área elétrica e eletrônica) e a ITU-T (telecomunicações). As normas internacionais são reconhecidas pela Organização Mundial do Comércio (OMC) como a base para o comércio internacional e o atendimento a uma norma internacional significa contar com as melhores condições para ultrapassar eventuais barreiras técnicas.

Segundo Nadvi & Wältring (2002), a globalização da produção tem acelerado a demanda para um maior controle sobre a qualidade assegurada nos processos de produção. Isso é especialmente significativo quando os fornecedores estão geograficamente longe de seus clientes. Portanto, as normas de sistema da qualidade estão diretamente ligadas à administração das cadeias de suprimento. Usando a tipologia apresentada, os autores apresentam, no quadro 2.12, que essas normas podem ser diferenciadas em distintas “gerações”, em função do seu uso, utilidade e setor envolvido.

Geração Exemplos Atores envolvidos Forças motrizes Influência no comércio internacional Processo de Certificação 1a geração GENERICA ISO 9000

ISO representada através dos organismos

nacionais de normalização e grandes empresas, principalmente dos países desenvolvidos e órgãos certificadores

Indústria (associações, TNCs, órgãos de

certificação)

Voluntária, mas cada vez mais se tornando

compulsória em alguns mercados europeus, também ganhando influência

nos EUA e Japão

3a parte 2a geração SETOR ESPECÍFICO AS 9000, TS 16949 HACCP: Health and Safety standards EUREP- GAP: Food Quality & Crop Management Standrds Grandes TNCs, associações de setores industriais e de comércio, órgãos certificadores Instituições públicas internacionais (ex. FAO), representantes governamentais Varejistas , importadores e fornecedores TNCs, empresas líderes na cadeia Governos locais, especialmente de países industrializados Indústria do setor privado Grande influência em setores técnicos complexos onde a qualidade certificada é requerida Grande influência nos setores farmacêutico e alimentar com crescimento no processo de gestão da cadeia de alimentos Extremamente importante na cadeia européia de produtos hortifrutis, adotado por todos os supermercados líderes do UK e importadores de alimentos 3a parte 3a parte, certificação através de instituições público-privadas 3a parte 3a geração BASEADO NA EMPRESA Daimler- Chrysler Supermarket Codes (Tesco/Sains- bury) Transnacionais (TNCs) com posição de governança no mercado mundial e de

liderança nas cadeias de suprimento

TNCs, empresas líderes na cadeia

Grande influência nos setores intensivos de complexidade tecnológica e também no setor de produtos de alimentos 1a e 3a partes

Quadro 2.12 – Diferentes gerações das normas globais de gestão da qualidade Fonte: Nadvi & Wältring (2002)

Com relação aos Regulamentos Técnicos, pode-se dizer que todos os Estados procedem à emissão e os mesmos têm um grande potencial de se constituirem em barreiras técnicas ao comércio. Dessa forma, quando se pretende exportar um produto para um determinado mercado, é imprescindível conhecer se o produto ou serviço a ser exportado está sujeito a um Regulamento Técnico naquele país em particular.

Tanto normas quanto regulamentos técnicos referem-se às características dos produtos, tais como: tamanho, forma, função, desempenho, etiquetagem e embalagem, ou seja, a grande diferença entre eles reside na obrigatoriedade de sua aplicação. As implicações no Comércio Internacional são diversas. Se um produto não cumpre as especificações da regulamentação

técnica pertinente, sua venda não será permitida, no entanto, o não cumprimento de uma norma apesar de não inviabilizar a venda, poderá diminuir sua participação no mercado.

De uma forma geral pode-se notar que não há grandes diferenças entre essas duas definições encontradas na literatura, afora a questão da compulsoriedade.

Os Estados também estabelecem requisitos técnicos para produtos, serviços, processos, sistemas ou pessoas. Os regulamentos técnicos são obrigatórios e, conseqüentemente, tendem a criar restrições que muitas vezes se constituem em obstáculos ao comércio. Classicamente, o foco da regulamentação técnica é a segurança de pessoas e bens, proteção do consumidor, proteção do ambiente, medidas sanitárias e fitossanitárias e a segurança nacional. Objetivamente, trata-se de regulamentar quando há a percepção de que o uso de normas voluntárias não é suficiente para assegurar a proteção esperada pela sociedade.

A relação entre a normalização e a regulamentação técnica tem que ver com o entendimento do papel do estado na economia. Há algumas décadas atrás, não era incomum que a atividade regulatória fosse bastante extensiva, muitas vezes com o propósito de proteger mercados para os fabricantes nacionais. Esta estratégia, decorrente da evolução dos Estados nacionais foi muito presente, por exemplo, nos processos de substituição de importações. Se por um lado essa abordagem realmente preveniu o acesso de fornecedores estrangeiros aos mercados nacionais, por outro teve como conseqüência dificultar o acesso dos produtos nacionais ao mercado internacional pela multiplicidade de regras e regulamentos, resultando numa perda generalizada de competitividade. Os próprios mercados nacionais, na maioria dos casos também se ressentiram, resultando em estagnação tecnológica e ausência de competitividade ao nível interno. Atualmente a tendência é a de eles serem estabelecidos com a finalidade de se assegurarem os chamados objetivos legítimos da intervenção do Estado, como é o caso da segurança e saúde, da proteção do ambiente, proteção do consumidor, entre outros (Abreu, 2005).

Muitas vezes as autoridades regulatórias baseiam os seus regulamentos técnicos nas normas técnicas. A extensão em que o fazem varia de país para país.

A tendência atualmente observada na Europa, e que vem sendo progressivamente consolidada em termos internacionais, é de que Regulamentos Técnicos devem restringir-se a quesitos essenciais, tendo como base as normas técnicas, especialmente as normas internacionais. Nesse contexto, o Acordo de Barreiras Técnicas ao Comércio (TBT), no

âmbito da OMC, estabelece um novo marco para as atividades de normalização e de regulamentação técnica, bem como para os procedimentos de avaliação da conformidade.

Dessa forma, pode-se notar que, segundo as regras da OMC, pressupõe-se que regulamentos técnicos editados com base em normas técnicas internacionais não se constituem em barreiras técnicas.

2.2.1.7 – A Avaliação da Conformidade abordada no Plano Global

Com a edição da norma ISO/IEC 17000, esta passou a ser uma das formas para apresentar o conceito de Avaliação da Conformidade. Segundo esta norma, a Avaliação da Conformidade é a “demonstração de que requisitos especificados relativos a um produto,

processo, sistema, pessoa ou organismo são atendidos”.

Há milhares de anos, desde que o mundo deu seus primeiros passos no comércio, a atividade avaliação da conformidade vem sendo usada como um importante instrumento nas trocas de mercadorias. Desde os primórdios, as relações comerciais são acompanhadas de verificações dos produtos quanto à conformidade aos padrões e aos pedidos estabelecidos.

Assim, apesar do aumento de complexidade da economia mundial, e, evidentemente, da evolução da atividade do comércio, percebe-se que o conceito de avaliação da conformidade se manteve presente ao longo de todos estes anos.

Entretanto, as questões mais recentes pertinentes à avaliação da conformidade tiveram suas origens na era de livre comércio antes da 1a Guerra Mundial, quando o “protecionismo” foi uma das formas assumidas pelo nacionalismo econômico, especialmente na década de 1930.

Por meio do “protecionismo” é oferecida uma vantagem aos produtores locais que concorrem com as importações nos mercados domésticos. Alguns países se utilizaram intensamente do protecionismo, gerando dificuldades para os produtores de outros países. Os produtos nacionais, com freqüência, eram inaceitáveis em mercados que exigiam diferentes requisitos técnicos.

Durante a 2a Guerra Mundial, os aliados ocidentais buscaram restabelecer a ordem econômica mundial e para tanto foram criados o Banco Mundial e uma nova ordem monetária supervisionada pelo Fundo Monetário Internacional – FMI. Posteriormente, ainda, foi

estabelecido um acordo para limitar a imposição de restrições ao comércio, no caso o GATT; e em 1995 foi constituída a OMC, como já comentado no item 2.2.1.2 desse trabalho.

Além desses, outros esforços foram efetuados para harmonizar, liberalizar e facilitar o comércio em escala mundial, tais como:

- criação de blocos comerciais, como por exemplo, a Comunidade Econômica Européia (CEE) em 1957, o Mercosul em 1990, entre outros;

- criação de fóruns internacionais voltados para a Avaliação da Conformidade e o Comércio, como por exemplo:

. Organização Internacional de Normalização (International Organization for

Standardization – ISO);

. Comissão Eletrotécnica Internacional (International Electrotechnical Comission – IEC); . Fórum Internacional de Credenciamento (International Accreditation Forum – IAF); . Cooperação Internacional de Credenciamento de Laboratórios (International Laboratory

Accreditation Cooperation – ILAC);

. Associação Internacional de Treinamento e Certificação de Auditores (International

Auditor and Training Certification Association – IATCA);

. Comissão Pan-Americana de Normas Técnicas (COPANT);

. Cooperação Interamericana de Credenciamento (Interamerican Accreditation

Cooperation – IAAC);

. Associação Mercosul de Normalização (AMN).

O objetivo maior dessas organizações é o de eliminar as barreiras técnicas entre os países e atingir um elevado nível de harmonização de normas e procedimentos de Avaliação da Conformidade.

O cenário internacional da avaliação da conformidade tem evoluído substancialmente nos últimos anos, em decorrência da importância que esses mecanismos adquiriram no comércio internacional. Embora estas ferramentas tenham sido originalmente desenvolvidas para o ambiente industrial, o desenvolvimento recente abrange a sua aplicação a praticamente todas as atividades econômicas, e algumas muito inovadoras, segundo a CNI, 2002a. Pode-se

enumerar vários setores que já aplicam as ferramentas da avaliação da conformidade, tais como:

- o setor de serviços;

- o setor das tecnologias da informação e comunicações; - o setor de softwares;

- a área ambiental;

- o setor de agronegócios, envolvendo os organismos geneticamente modificados.

Em relação aos sistemas de gestão, o sucesso do conceito de sistemas de gestão normalizados e documentados, que possibilitam, portanto, a sua certificação, tem suscitado a sua aplicabilidade a novos contextos, como são a gestão da segurança da informação ou os sistemas dedicados a gerir o que vem sendo chamado de responsabilidade social das empresas.

Por outro lado, a multiplicação de certificações a que as empresas têm que atender, seja por demanda do mercado, seja por força de legislação específica, tem impulsionado a defesa de mecanismos como o uso mais generalizado da Declaração do Fornecedor, com o intuito de se evitarem obstáculos ou barreiras técnicas ao comércio. As empresas de atuação global têm sido particularmente adeptas desta visão, em virtude dos elevados custos decorrentes da necessidade dos seus produtos terem que apresentar certificações diferentes normalmente com o mesmo objetivo, requeridas pelos diversos mercados em que atuam. Em paralelo com esta dinâmica, há uma aceleração dos processos de reconhecimento mútuo, em especial os multilaterais (MRA), de modo a preservar o valor agregado pela certificação e o seu elevado grau de garantia da conformidade, reconhecida pelo mercado (CNI, 2002a).

2.2.2 – A Abordagem no Plano Local

2.2.2.1 – A criação da Tecnologia Industrial Básica – TIB, no Brasil

O termo TIB foi concebido pela extinta Secretaria de Tecnologia Industrial – STI, do antigo Ministério da Indústria e do Comércio – MIC, no final da década de 70, para expressar em um conceito único as funções básicas do SINMETRO – Metrologia, Normalização e

Qualidade Industrial, às quais se agregou a Gestão da Qualidade. Os alemães denominaram a TIB de MNPQ – Messen, Normen, Prufen, Qualitat (explicitanto o encadeamento das funções relativas a Medidas, Normas, Ensaios e Qualidade), nos países de língua inglesa de MSTQ –

Metrology, Standardization, Testing and Quality e nos EUA usa-se o termo Infrastructural Technologies.

Destaca-se que o Brasil foi o primeiro país e é um dos poucos a possuir um sistema integrado de TIB dentro de uma mesma estrutura, o SINMETRO, orientado por um colegiado de nível ministerial, o CONMETRO, tendo o INMETRO como entidade central do Sistema e cujas ações são executadas por diversas entidades que respondem por papéis específicos.

Segundo Souza (2000), a Tecnologia Industrial Básica – TIB, reúne um conjunto de funções tecnológicas de uso indiferenciado pelos diversos setores da economia (indústria, comércio, agricultura e serviços). A TIB compreende, em essência, as funções de metrologia,