• Nenhum resultado encontrado

O learning by searching engloba aquelas atividades de busca de novas tecnologias que são internas à empresa e, na maioria dos casos, formalizadas em departamentos ou equipes

2.1 – Capacidade e Aprendizagem Tecnológica

CAPACIDADE EM PROJETO

6. O learning by searching engloba aquelas atividades de busca de novas tecnologias que são internas à empresa e, na maioria dos casos, formalizadas em departamentos ou equipes

de pesquisa e desenvolvimento.

Bell (1984), por sua vez, destaca outros mecanismos formais de aprendizado, tais como o learning by training (treinamentos), citando o sucesso da experiência de engenheiros brasileiros trabalhando ao lado de engenheiros japoneses na Cia Siderúrgica Usiminas em 1978; e o learning by hiring (contratação), quando o conhecimento pode ser adquirido através de um simples mecanismo de contratação de profissionais que detêem os recursos desejados.

Uma distinção muito comum é feita entre os mecanismos by-doing e outros tipos mais explícitos e deliberados de esforços. Segundo Bell (1984), os esforços by-doing são automáticos e não formais, à medida que a capacitação tecnológica ocorre como um subproduto da própria atividade produtiva.

Outros mecanismos de aprendizado, ao contrário, são mais explícitos, pois representam investimentos deliberados no desenvolvimento de capacidades tecnológicas.

Os esforços by-doing, por sua vez, apesar de importantes, não são suficientes para avanços mais significativos na trajetória de aprendizado em direção à fronteira do conhecimento (Bell, 1984).

De maneira geral, os esforços mais formais e deliberados são associados à acumulação de capacidades tecnológicas mais complexas, e a resultados mais originais, criativos e cientificamente intensivos em termos de mudança técnica. As atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D), por exemplo, são normalmente apontadas como o principal tipo de esforço para gerar conhecimentos associados à tecnologia industrial, por representar o meio mais formal e deliberado de aprendizado e mudança técnica. Acredita-se, portanto, que a condução de atividades de P&D pode levar à acumulação de capacidades mais avançadas e complexas, isto é, capacidades de gerar conhecimento tecnológico novo (Costa, 2003).

Diante do exposto, nota-se que o modelo desenvolvido por Figueiredo (2003), além de contemplar os mecanismos clássicos dissertados na literatura, estabelece uma visão crítica acerca dos processos de aprendizagem através de quatro características (variedade, intensidade, funcionamento e interação), servindo para medir a eficiência da aprendizagem bem como orientar estratégias empresariais.

2.1.5 – A classificação das capacidades tecnológicas em países em desenvolvimento

A análise do aprendizado e da mudança tecnológica nos países em desenvolvimento segundo a abordagem da capacidade tecnológica é marcada por forte viés empírico, consolidando um conjunto bastante heterogêneo de estudos. O caráter empírico desta abordagem e a percepção de que a acumulação de capacidades tecnológicas ocorre em diferentes níveis da atividade produtiva implicam um vasto número de definições, conceitos e classificações (Costa, 2003).

A relação entre esforços, capacidades e mudanças técnicas como seguindo uma trajetória cumulativa traz implícita a noção de uma seqüência evolucionista de acumulação, incorporada em muitas classificações e tipologias encontradas na literatura, especialmente nos primeiros trabalhos na década de oitenta. Nestas classificações, a empresa acumula seqüencialmente conhecimentos, experiências e aptidões que lhe permitem evoluir da mera operação de determinada tecnologia, para sua busca, aquisição, absorção, adaptação, melhoramento, modificações substanciais, até atingir um nível de aprendizado que lhe permita realizar inovações stricto sensu, isto é, mudanças pioneiras na fronteira internacional do conhecimento tecnológico (Fransman, 1984; Lall, 1992).

Há um consenso, entre vários autores da linha evolucionista, que para que as empresas dos países em desenvolvimento reduzam o hiato em relação à fronteira tecnológica internacional, realizando desta forma o catching-up, não basta acumular capacidades para usar, mesmo que eficientemente, tecnologias importadas. É preciso avançar em direção a capacidades mais complexas, o que requer a condução de esforços mais explícitos e deliberados (Costa, 2003). Ou seja, um verdadeiro catching-up deve passar pela experiência de ser incluído entre os geradores da tecnologia e não apenas entre os usuários.

Autores da literatura sobre capacidade tecnológica reconhecem, no entanto, que as possibilidades dos países em desenvolvimento realizarem o catching-up são bastantes complexas, uma vez que as empresas nestes países conduzem, basicamente, esforços menos deliberados, implicando um aprendizado tecnológico limitado. Em sendo assim, as aptidões e conhecimentos acumulados permitem alcançar mudança técnica marcada por forte caráter adaptativo e incremental, a partir de conhecimento gerado nos países desenvolvidos (Bell, 1984). Deste modo, o processo de mudança tecnológica nos países em desenvolvimento não tem sido de inovação na fronteira do conhecimento, mas consiste essencialmente em aprender a usar e melhorar tecnologias já existentes nos países desenvolvidos, ou seja, imitar e adaptar.

Com base nestas noções, sobretudo da seqüência de aprendizado, a literatura sobre capacidade tecnológica nos países em desenvolvimento apresenta diferentes formas para classificar os estágios de acumulação tecnológica possíveis, segundo os níveis de complexidade das capacidades, do grau de novidade e originalidade da mudança tecnológica e do propósito com que os esforços tecnológicos são empreendidos.

Um número considerável de modelos e classificações das capacidades tecnológicas implica a imprecisão conceitual que marca este tema. Nesta seção são resumidamente mostradas quatro abordagens, com posterior avaliação da possibilidade de adoção de uma delas para efeito de estudo de relações entre TIB e capacidade tecnológica, objeto de pesquisa desta tese. São os seguintes os modelos e classificações a serem comentados:

a) Matriz das capacidades tecnológicas, segundo Lall (1992);

b) Classificação das capacidades tecnológicas da empresa – funcionais e metacapacidades, segundo Costa (2003);

c) Modelo da trajetória de capacitação tecnológica, segundo Fleury (1991);

d) Modelo descritivo das capacidades tecnológicas em empresas de economias emergentes, segundo Figueiredo (2003).

Esses modelos e classificações foram escolhidos para análise por conterem algumas características que orientam esta tese, a saber:

- terem o foco na empresa industrial;

- terem sido desenvolvidos para empresas em economias emergentes;

- fazerem distinção com relação ao uso-geração da tecnologia por parte das empresas, ou seja, além de usarem de forma eficiente a tecnologia atual, serem capazes de gerar novas tecnologias;

- levarem em conta que a acumulação de capacidade tecnológica se processa das categorias de funções tecnológicas mais simples para as mais complexas, caracterizando assim diversos níveis de capacidade. Alguns estudos sobre o desenvolvimento tecnológico em economias emergentes que lançam mão das estatísticas sobre patentes e dos gastos com P&D, como indicadores da atividade tecnológica, tendem a buscar, de uma lado, apenas evidências sobre as atividades avançadas, ou limitam-se a identificar a incidência, ou não,

de atividades inovadoras. Ignoram-se, portanto, os diversos níveis intermediários de capacidade tecnológica – que são predominantes em empresas em economias emergentes e, de cujo processo de aprofundamento cumulativo, depende o alcance de níveis tecnológicos mais sofisticados (Lall, 1992; Dosi, 1988; Bell & Pavitt, 1995; Kim 1997; Figueiredo, 2003). Ou seja, busca-se a existência, ou não, de atividades tecnológicas inovadoras sem, contudo, captar os níveis de capacidades e seu modo e velocidade de acumulação. Como conseqüência, gera-se uma perspectiva linear e polarizada de inovação e de capacidade tecnológica, que considera dois extremos: básica (simples montagem – sem atividades inovadoras) ou avançada (baseada em patentes e P&D) (Figueiredo, 2003).

A matriz das capacidades tecnológicas, segundo Lall (1992):

A análise da tecnologia ao nível de empresa, em países em desenvolvimento, inspirou a criação das teorias evolucionárias desenvolvidas por Nelson & Winter (1982) e posteriormente comentadas e detalhadas por Dosi (1988). O ponto de partida dessas teorias é que as empresas não podem operar numa função de produção comum a todas elas. O conhecimento tecnológico não é compartilhado igualmente entre as empresas e nem é facilmente imitado ou transferido entre elas (Lall, 1992).

A transferência necessariamente requer aprendizagem porque as tecnologias são tácitas e seus princípios não são sempre facilmente compreendidos. Portanto, conquistar o conhecimento de uma nova tecnologia requer habilidades, esforços e investimentos pela empresa receptora.

A ocorrência das diferenças de nível entre empresas, com relação aos esforços tecnológicos, pode variar por tipo de indústria, pelo tamanho da empresa ou mercado, pelo nível de desenvolvimento ou pelas suas estratégias industriais/comerciais.

Dosi (1988) coloca que as teorias evolucionistas podem explicar a “existência permanente de assimetrias entre empresas, em termos de suas tecnologias de processos e qualidade de seus produtos”.

Com base nessas noções, Lall (1992) propôs uma matriz de capacidades tecnológicas. Nessa matriz Lall identifica três graus de complexidade, segundo a formalidade e o propósito dos esforços tecnológicos: básico, intermediário e avançado.

As capacidades tecnológicas básicas são acumuladas por meio das rotinas básicas da atividade de produção, isto é, mecanismos by-doing ou com base na experiência. As capacidades intermediárias são construídas a partir de atividades ou esforços conduzidos em base mais deliberada. As capacidades avançadas, por sua vez, são desenvolvidas por meio de atividades de P&D, que são a forma mais explícita e deliberada de esforço. Baseado nessa matriz, Lall distingue capacidade operacional de capacidade inovativa. A primeira é definida pelos conhecimentos e experiências necessários para usar tecnologias desenvolvidas por outros (know-how). É acumulada principalmente por meio de esforços by-doing, constituindo, portanto, capacidade de menor nível de complexidade. Capacidade inovativa, por sua vez, é mais complexa e avançada, referindo-se à capacidade de entender os princípios da tecnologia.

Além do grau de complexidade, a matriz apresentada por Lall (1992) classifica as capacidades tecnológicas segundo suas funções em facilitar atividades produtivas específicas. São três as dimensões funcionais das capacidades identificadas por Lall: 1) investimento (o qual ocorre em dois estágios: pré-investimento e execução do projeto); 2) produção (engenharia de processo, engenharia de produto e engenharia industrial); e 3) ligações com outros agentes (econômicos, fornecedores, licenciadores, consultores, etc.).

Um aspecto importante citado por Lall é que essa matriz não significa uma linha seqüencial necessária de aprendizado. Diferentes empresas e diferentes tecnologias podem adotar seqüências diferentes, uma vez que os aspectos funcionais estacados na matriz podem não ser os únicos e nem todos eles encontram utilização nos mais diversos tipos de empresas.