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1 INTRODUÇÃO

3.2 FORMAÇÃO DE PREÇOS EM OLIGOPÓLIO: REGRA DO CUSTO TOTAL

A política de preços é um ponto crítico em qualquer estrutura de mercado e, como mencionou Possas (1987), envolve diversos aspectos, destacando-se: a obtenção de uma taxa de retorno desejada no longo prazo sobre o capital investido, a estabilização dos preços e das margens de lucro e a manutenção e a melhoria do market share.

A formação de preços em indústria com características de oligopólio e a regra do custo total interessam diretamente ao presente trabalho em virtude de os preços dos serviços de transporte rodoviário interestadual de passageiros serem reajustados com base no custo médio estimado para o serviço convencional com sanitário.

Guimarães (1982) enfatiza que o princípio do custo total tem sido utilizado como regra prática para determinação de preços em estruturas de mercado oligopolizadas, em que, consoante Kalecki (1983), uma margem de lucro ou um percentual esperado ou desejado do capital investido é acrescentado aos custos médios para os produtos similares, conforme expresso pela notação da Equação 3.1.

p=mu+np (3.1)

sendo, p é o preço determinado pela firma i;

m reflete a diferença entre preços e a soma dos outros custos e lucros; n indica a relativa dependência da firma i do preço médio da indústria; u é o custo direto da firma i; e

p é o preço médio das demais firmas da indústria.

Segundo Kalecki (1983), ao se considerar os parâmetros “m” e “n” iguais para toda a indústria, a Equação 3.1 passa a ser representada pela Equação 3.2 e, para os parâmetros m e n distintos, tem-se a Equação 3.3.

p =mu+np ou u n m p − = 1 (3.2) p =mu+np ou u n m p − = 1 (3.3)

Dessa forma, o mark up passa a ser mais elevado quanto maior o grau de monopólio da indústria, ou seja, maior será o valor de m/(1− ou de n) m/(1− , respectivamente nas n) Equações 3.2 e 3.3, o que favorece a coordenação oligopolista. O mais importante na proposta de Kalecki não é medir o grau de monopólio, mas identificar seus determinantes, que, de acordo com Possas (1987), estão associados ao aumento da concentração da produção decorrente da expansão das grandes empresas oligopolistas.

Scherer (1979) salienta que a utilização da regra do custo total implica que os preços sejam mais sensíveis às alterações dos custos dos insumos do que às alterações de demanda e propicia a obtenção de rendimentos superiores ao de um regime competitivo. Para Koch (1974), a adoção dessa regra implica conhecer o patamar de utilização da capacidade produtiva das empresas ou o volume de produção. Assim sendo, dado o volume padrão de produção, o capital investido pelas empresas, a taxa de retorno sobre o capital investido, a expectativa de vendas e os custos de produção, tanto o preço do produto quanto o percentual sobre os custos podem ser mensurados. Em suma, Koch (1974) registra que o preço do produto é o custo médio de produção, no longo prazo, multiplicado pelo mark up baseado na elasticidade-preço da demanda.

Dorfman (1977), Sylos-Labini (1980) e Possas (1987) afirmam que a determinação de um preço único para toda a indústria com base na regra do custo total, com intuito de assegurar o equilíbrio no longo prazo das empresas, ou seja, a obtenção de lucros normais sem atrair novos concorrentes, considerando-se a inexistência de restrições de barreiras à entrada, padece de dois problemas. O primeiro se refere ao fato de supor que o preço fixado permanecerá constante para toda a indústria sem, contudo, considerar as diferenças entre as estruturas de custo das empresas, as técnicas de produção e as capacidades produtivas de cada empresa, o que implica aumento dos preços quando há redução das vendas para cobrir custos fixos. O segundo diz respeito ao pressuposto de que o preço de equilíbrio assegura lucros normais, quando se está diante de empresas que apresentam estruturas de custo distintas, o que indica uma contradição do enfoque estático e também põe em dúvida a solução substitutiva por meio da representação de uma única firma representativa da indústria, na medida em que encobre a diversidade de custos e as condições de concorrência no mercado. O principal questionamento elaborado por Sylos-Labini (1980) refere-se ao fato de que a determinação do preço pelo custo total não incorpora a descontinuidade tecnológica decorrente do processo de concentração desenvolvido no âmbito de estruturas de mercado em

oligopólio. Esse fato corrobora com as afirmações de Kalecki (1983), no sentido de permitir somente às grandes empresas a obtenção de economias de escala e a utilização de determinados métodos de produção, bem como de conduzir à formação de grandes corporações e, por meio do processo de promoção de vendas e de publicidade, à substituição da concorrência via preços pela concorrência extrapreço.

Isso é importante porque as maiores empresas tendem a ser as mais eficientes em função do menor custo médio de produção, o que influencia na fixação dos preços. No caso dos mercados regulados com base no princípio do custo total, quando a indústria é concentrada e com poucas grandes empresas e algumas ou muitas médias e pequenas empresas, a influência das grandes firmas pode repercutir na estimativa do custo médio da indústria, ao se considerar, entre outros aspectos, a economia de escala daquelas empresas, no sentido de diminuir o impacto positivo do reajuste de preços. Por outro lado, a estrutura de custos das médias e pequenas empresas pode aumentar o impacto positivo do reajuste de preços. Assim, caso o custo médio reflita as estruturas de custos das médias e pequenas empresas, o preço resultante poderá favorecer a acumulação interna das grandes empresas.

Assim, se há barreiras à entrada, em especial as impostas pelo Estado quando se trata de mercados regulados, a situação torna-se diferente, na medida em que o próprio Estado assegura a exclusividade na exploração do mercado. Dessa maneira, pode-se estar incorrendo em perda econômica decorrente do estabelecimento do preço do produto acima do nível competitivo e da redução da quantidade produzida, ambas causas relacionadas à elasticidade- preço da demanda.

A compreensão das condições de concorrência de mercados oligopolizados torna-se mais fácil quando estas são alocadas de acordo com alguma tipologia que enfatize a evolução da estrutura desses mercados. Passa-se, assim, à apresentação das principais classificações de estruturas de mercado em oligopólio.