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1 INTRODUÇÃO

5.3 DETERMINAÇÃO DAS TARIFAS DOS SERVIÇOS

5.3.4 Nível das tarifas dos serviços

Os percentuais dos reajustes tarifários do serviço convencional com sanitário foram comparados com índices de preços, para o período julho 1998 – junho 2006, em termos acumulados para 12 meses (julho/97 – junho/98 = 100), com intuito de avaliar o nível de tarifas praticadas no período 1999-2006. Para tanto, adotou-se o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) e o Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI), para elaborar a Tabela 5-4 e a Figura 5-2.

Cada um dos índices de preço utilizados possui suas especificidades. O IPCA é um índice que reflete a variação do poder de compra do consumidor brasileiro, enquanto o INPC é um índice que reflete a variação de preços para quem está na faixa salarial de até 8 salários mínimos, sendo bastante usado em dissídios salariais. O IGP-DI, por sua vez, é adotado no âmbito de contratos para a correção de determinados preços administrados, especialmente quando se busca proteger o passivo em dólar, na medida em que incorpora a variação cambial da moeda.

Tabela 5-4: Evolução acumulada dos reajustes tarifários do serviço convencional com sanitário e

dos índices de preços (julho 1998 - junho 2006)

Exercício Período Acumulado INPC IPCA IGP-DI Convencional com sanitário 1998 (base) jul 1997 – jun 1998 100,00 100,00 100,00 100,00

1999 jul 1998 – jun 1999 103,10 103,32 108,71 115,43 2000 jul 1999 – jun 2000 108,86 110,04 124,02 120,46 2001 jul 2000 - jun 2001 117,63 118,12 138,27 150,10 2002 jul 2001 - jun 2002 128,26 127,17 151,69 167,96 2003 jul 2002 - jun 2003 153,44 148,25 192,52 197,32 2004 jul 2003 - jun 2004 162,00 157,23 212,03 207,58 2005 jul 2004 - jun 2005 172,17 168,66 225,81 238,38 2006 jul 2005 - jun 2006 176,97 175,46 228,02 260,53

Fonte: IPCA, INPC e IGP-DI (IPEA, 2006). Reajustes tarifários do TRIP: Ministério dos Transportes (1998, 1999, 2000, 2001) e ANTT (2002b, 2003a, 2004a, 2005a, 2006b).

138,27 151,69 192,52 127,17 157,23 115,43 120,46 150,10 167,96 197,32 207,58 238,38 260,53 108,71 228,02 124,02 212,03 225,81 103,10 108,86 117,63 128,26 153,44 162,00 172,17 176,97 103,32 110,04 118,12 148,25 168,66 175,46 100,00 105,00 110,00 115,00 120,00 125,00 130,00 135,00 140,00 145,00 150,00 155,00 160,00 165,00 170,00 175,00 180,00 185,00 190,00 195,00 200,00 205,00 210,00 215,00 220,00 225,00 230,00 235,00 240,00 245,00 250,00 255,00 260,00 265,00 jul 1 997 - jun 1998 jul 1 998 - jun 1999 jul 1 999 - jun 2000 jul 2 000 - jun 2001 jul 2 001 - jun 2002 jul 2 002 - jun 2003 jul 2 003 - jun 2004 jul 20 04 - ju n 20 05 jul 20 05 - ju n 20 06 Período de Referência R ea jus te A c u m ula do ( jul/97- jun/98 = 100 ) 000 0

Convencional com sanitário IGP-DI INPC IPCA

Figura 5-2: Evolução acumulada dos reajustes autorizados dos serviços

de TRIP e dos índices de preços (julho 1998 - junho 2006)

A leitura da Tabela 5-4 e da Figura 5-2 indica que, no período julho 1998 – junho 2006, o reajuste da tarifa do serviço convencional com sanitário, em termos acumulados ao final do período analisado, ficou 32,51% acima do IGP-DI, superando este índice em seis dos oito reajustes promovidos, e ficou 85,07% e 83,56% acima, respectivamente, do IPCA e do INPC.

A explicação sobre esse resultado passa pela discussão de pelo menos três aspectos importantes, que podem ter impactado positivamente o reajuste tarifário do serviço

convencional com sanitário, sem estar necessariamente vinculado aos custos operacionais eficientes e ao capital prudentemente investido.

O primeiro se refere à inadequação da oferta com a demanda desses serviços, em termos de aumento de viagens e, por conseguinte, de assentos disponibilizados, acima da elevação da demanda, ensejando aumento nos custos operacionais e uma diminuição no IAP, o que pode caracterizar erro gerencial cometido pela própria permissionária (SEAE, 2000).

O segundo versa sobre a concorrência entre os diferentes serviços de TRIP, especificamente quanto à oferta de serviços diferenciados em linhas de serviço convencional com sanitário (SEAE, 2000) e ANTT (2006a). Essa concorrência pode influenciar o atendimento à demanda do serviço público, conforme a distribuição de horários dos respectivos serviços, o que forçaria a redução do IAP do serviço convencional com sanitário, ou seja, diminuiria a demanda desse serviço público e, em conseqüência, impactaria positivamente o reajuste das tarifas.

O terceiro diz respeito às informações usadas pelo Poder Público para apurar o custo médio dos insumos para a produção dos serviços de TRIP, em especial quanto ao custo do combustível e ao do veículo. Tal fato significa, de acordo com Scherer (1979), que o modelo cost plus pode tornar o reajuste das tarifas de serviços de TRIP mais sensível às alterações dos custos dos insumos do que à redução da demanda, favorecendo a fixação de tarifas acima do regime competitivo.

A apuração do custo médio do serviço convencional com sanitário, com base em planilha tarifária ou em fórmula paramétrica, acaba incorporando os custos dos insumos consumidos tanto na prestação desse serviço quanto na prestação dos serviços prestados em regime privado, haja vista que as notas fiscais relativas à aquisição desses insumos não discriminam em que serviços serão alocados, mas apenas as empresas que os adquire. Além disso, a sensibilidade do reajuste tarifário aumenta em função dos parâmetros operacionais, especialmente quanto ao valor estabelecido para o PMA e o IAP.

No caso dos veículos, a análise das notas fiscais de aquisição de modelos de chassis e de carrocerias pode permitir identificar que tipo de ônibus foi adquirido, bem como o preço pago pelo veículo. No que diz respeito à aquisição de combustível (óleo diesel), as notas fiscais também permitem obter o preço efetivamente pago pelas permissionárias. Assim sendo, o

preço efetivamente pago reflete o custo desses insumos, bem como permite verificar se as empresas estão obtendo economias de escala na aquisição do combustível.

5.4 - TÓPICOS CONCLUSIVOS

Os conceitos de economia industrial forneceram subsídios para analisar e discutir os aspectos conceituais de vários fatores concernentes à prestação dos serviços de transporte rodoviário interestadual de passageiros, bem como ampliar ou formular conceitos que facilitassem a compreensão de alguns aspectos inerentes à produção dos serviços.

Destacam-se, assim, os conceitos de mercado, de empresa e de indústria de TRIP e, especialmente, de diferenciação de serviços, não apenas como alteração operacional dos serviços, conforme a legislação trata os serviços diferenciados, mas como modificação da produção promovida pela empresa, com o objetivo de aumentar sua participação nos mercados em que atuam.

A sistemática para determinação das tarifas quilométricas dos serviços de TRIP, baseada no modelo cost plus, tem características de formação de preços em indústrias oligopolizadas com base na regra do custo total, sendo o percentual de 12% a margem de rentabilidade aplicada sobre o capital investido pelas permissionárias de TRIP.

O resultado da comparação dos reajustes tarifários do serviço convencional com sanitário com o IPCA, o INCC e o IGP-DI, para o período 1999-2006, indicou que o percentual acumulado do reajustes superou o IGP-DI em 33%, o INCC em 84% e o IPCA em 85%, o que aponta para o fato de que a sistemática adotada nos reajustes procedidos não considerou os custos operacionais em regime de eficiência.

6 - TRANSPORTE RODOVIÁRIO INTERESTADUAL DE

PASSAGEIROS: SOBREPREÇO DAS TARIFAS E O IMPACTO

SOBRE A DEMANDA, A FROTA E O FATURAMENTO DOS

SERVIÇOS

Este capítulo tem o objetivo de apresentar e discutir, em seis seções, o resultado da análise do impacto do nível de tarifas dos serviços de TRIP, à luz do referencial teórico apresentado nos Capítulos precedentes, com base na evolução do custo médio do óleo diesel e de veículos e dos valores dos parâmetros operacionais adotados pelo Poder Público federal, sobre a demanda, a frota e o faturamento por tipo de serviço.

Na primeira e na segunda seção são discutidos, respectivamente, os procedimentos adotados pelo Poder Público federal quanto à apuração do preço médio do óleo diesel e de veículos. Na terceira seção, apresenta-se e discute-se a evolução dos preços de óleo diesel e de veículos e dos valores dos parâmetros operacionais para o período 1999-2006. Na quarta seção, procede- se à simulação dos reajustes tarifários para o período 1999-2006 e discutem-se os resultados obtidos, levando-se em conta os custos médios de óleo diesel e de veículos apresentados na primeira e segunda seção, juntamente com os valores dos parâmetros operacionais adotados pelo Poder Público federal. Na quinta seção, realiza-se a análise do impacto dos reajustes tarifários autorizados no período 1999-2006 sobre a evolução da demanda, da frota e do faturamento por serviço de TRIP. Por fim, apresenta-se uma seção conclusiva do presente capítulo.