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Segundo Souza Neto et al. (2006, p.201), “no Brasil, início do século XX, sob o cuidado particular de militares e médicos, a Educação Física estrutura-se primeiro na caserna e só mais tarde entre os civis”. Os autores ainda destacam que o nacionalismo, o positivismo, e uma maior crença na educação foram influências significativas ao desenvolvimento do campo.

O pioneirismo militar na Educação Física foi enfatizado por Melo (2000, p.80), ao afirmar que "[...] parece claro que os militares foram os pioneiros a incluir em seus programas de formação, disciplinas ligadas à prática de exercícios físicos" sendo, fundamentalmente, estes “[...] os primeiros professores de Educação Física do país". Inclusive um dos docentes entrevistados vem de uma formação basicamente militar:

Vim para a escola de cadetes em 54 (1954) e, em 54 a gente tinha Educação Física e eu era um dos melhores na Educação Física dentro da

escola de cadetes. Quando terminei a escola de cadetes fui para Escola

A [hoje universidade]. Era um curso de nove meses equiparado ao curso da escola civil e, a gente se formava professor de Educação Física [...] fiz licenciatura plena na Escola A em nove meses e fui professor; e um senhor professor! E, fui técnico; e um senhor técnico! Fiz as duas coisas num curso de nove meses. (D.1- grifo nosso)

Segundo Souza Neto (1999, p.37) é no período da Primeira República que o Brasil verá surgir os primeiros cursos superiores e “o nascimento das primeiras universidades”. Concomitante a estes eventos o autor descreve que:

há o desenvolvimento da ginástica e dos esportes na caserna, nas colônias de imigrantes, escolas, bem como nos clubes. Porém, como formação técnica, a ginástica/Educação Física vai se desenvolver mesmo dentro da ordem militar e os esportes/Educação Física nas mãos de leigos especializados e/ou ex-atletas, constituindo-se em referência básica para a história da profissão. (p.38)

Perdurando mais de um século (1824-1931), houve “tentativas de formação profissional sistematizada, identificada no trabalho desenvolvido pelos mestres de armas, instrutores, treinadores, dependendo do seu escalão de origem” (SOUZA NETO, 1999, p.38). No entanto, Marinho (1943) afirma que a primeira iniciativa de sistematização de formação profissional só aparece mais concretamente em 1902 com a fundação de uma escola de Esgrima, que oferecia formação básica em ginástica. Essa proposta solidificou-se em 1909, quando por meio desta escola de Esgrima, cria-se a Escola de Educação Física da Força Policial (MELO, 1996; PIRES, 2006).

Junto às forças militares (Exército e Marinha) e policiais, outras escolas de formação de pessoal para o trabalho com atividades físicas são instituídas, especialmente no Rio de Janeiro e em São Paulo. Tojal (2006, p.21.38) afirma que a preparação de profissionais em Educação Física no Brasil, por meio do sistema de ensino superior, só vai ter início na década de 1930 com a abertura de cursos em São Paulo, Vitória e Rio de Janeiro. “Antes deste estágio a formação ocorrera em diferentes formas, por várias instituições e/ou por mera improvisação de instrutores”. Uma dessas instituições de formação, merecedora de destaque é o Centro Militar de Educação Física criado em 1922 que, conforme Souza Neto (1999), passa a funcionar efetivamente em 1929 no Rio de Janeiro. Melo (1996) aponta que a turma formada por esse curso é considerada a primeira turma diplomada por um curso oficial, além de referido curso posteriormente, dar origem a uma das escolas de Educação Física mais importantes do Brasil: a Escola de Educação Física do Exército (EsEFEX).

Souza Neto (1999, p.42) descreve que a EsEFEX foi criada em 1933 “por decreto de uma portaria do Ministério da Guerra, sendo considerada a primeira escola a permitir a matrícula de civis”. Pires (2006, p.180) afirma que os cursos proporcionados pela escola mencionada eram “predominantemente oferecidos para militares e, eventualmente civis poderiam realizar o curso de monitor”.

Apesar da EsEFEX ser um curso militar que aceitava a matrícula de civis, Melo (1996) destaca que em 1931, no estado do Espírito Santo, por iniciativa do tenente do exército Laurentino Bonorino, fora criado o curso especial de Educação Física para a formação de normalistas especialistas, que apesar de ser

dirigido por militares, já havia se consagrado como o primeiro curso oferecido prioritariamente para civis (PIRES, 2006).

No mesmo ano, Souza Neto (1999, p.45) destaca o Decreto nº. 4.855, de 27 de Janeiro de 1931 – do Governo do Estado de São Paulo, que vai abrir “as portas para a criação do Departamento de Educação Física e, posteriormente, da primeira escola civil”. Entende-se posterior, pois, apesar de configurar-se como o primeiro curso reconhecido e que também permite a matrícula de civis, só inicia seu funcionamento a partir de 1934. O autor também afirma que “a preocupação da área até 1931 restringiu-se a preencher os quadros ocupacionais da sociedade civil, nos ambientes militar, escolar, esportivo (clubes)” (p.45).

A formação profissional proveniente deste primeiro curso – da escola de Educação Física do Estado de São Paulo – constituía-se em dois tipos: Instrutor de Ginástica e Professor de Educação Física (SOUZA NETO, 1999; PIRES, 2006).

Na disposição do governo provisório de Vargas, Souza Neto (1999) enfatiza que será criado também em 1931 o Estatuto das Universidades Brasileiras. Este estatuto visava ao controle do ensino superior pelo governo federal, bem como uma maior organização do respectivo ensino7. O autor afirma que dentro desse período, até 1945, “a Educação Física estruturou-se profissionalmente na luta pelo seu espaço na sociedade” (p.50).

Neste processo de transformações, a Educação Física vai sair da caserna para se afirmar como uma área independente nos estabelecimentos de ensino superior [...] médicos, militares esportistas e intelectuais deram a sua contribuição sob perspectivas diferenciadas, observando-se que coube mais aos militares, principalmente ao exército, do que aos médicos higienistas e, bem menos aos intelectuais, a propaganda sobre a Educação Física. (SOUZA NETO, 1999, p.49)

A Constituição de 1937, que torna a Educação Física obrigatória nas escolas, terá como reivindicação no âmbito da formação profissional a “exigência de um currículo mínimo para a graduação” (SOUZA NETO, 1999, p.51). O autor continua alocando que:

Esta conquista dá-se em 1939, com a regulamentação desse currículo por meio do Decreto nº. 1212 que cria a Escola Nacional de Educação Física e Desportos e estabelece as diretrizes para a formação profissional: instrutor

(um ano), professoras primárias – educação física infantil (um ano), técnica esportiva (um ano), treinamento e massagem (um ano), medicina esportiva (um ano) e professor (dois anos) (p.51).

O grande passo para a criação de uma escola nacional foi dado dois anos antes, com a criação da Divisão de Educação Física (DEF), do Ministério da Educação e da Saúde (MES), pela Lei nº. 378 de 13 de Janeiro de 1937.

Em suma, a Escola Nacional de Educação Física e Desportos seria um centro de preparação de todas as modalidades de técnicos ora reclamados pela Educação Física, ora pelos desportos. Também funcionaria como um padrão para as demais escolas do país e como um estabelecimento destinado a realizar pesquisas sobre o problema da Educação Física e dos desportos. (AMARAL et al., 2006, p.05)

Porém, cabe apontar Melo (1999, p.11), ao descrever a Escola Nacional de Educação Física e Desportos (ENEFD) como "[...] uma escola civil extremamente militarizada, sendo, no início, uma continuação do projeto militar, dentro da universidade do Brasil". Faria Junior (1987), reafirmou tal característica ao explicar que, mesmo com a criação das escolas civis, a característica das escolas de Educação Física era, predominantemente, marcada pela influência militar.

Referida influência permanece por décadas na ‘orientação’ da Educação Física, já que o país adentrava um ‘estado de perigo’ que esboça as “lutas comuns pelas oportunidades de distribuição de toda a espécie de poder” (ELIAS, 1970, p.26). Diante de questões como essa, o autor afirma que “as forças compulsivas farão esforços contínuos para aumentar o seu potencial de poder” (p.32). E, uma das formas de aumentar o poder de um grupo em relação a outro é a opressão, bem como a difusão desta em variadas formas no arcabouço das relações entre os indivíduos singulares e em grupos.

Isso leva ao que Taffarel (1993) registra quando observa que a acentuada influência militar na Educação Física faz surgir, durante o regime militar, um grande número de cursos superiores de Educação Física. Em 1968, foram registradas quatro escolas superiores de Educação Física no Estado de São Paulo; em 1975 este número cresceu para 36 e dois anos depois, constatou-se mais de 100 escolas no Brasil. Nota-se que a Educação Física foi um meio essencial para a disseminação do poderio militar, assegurando status elevado e controle social.

Verifica-se então que após os eventos de 1937, a Educação Física terá um considerável crescimento quantitativo no número de escolas/cursos de formação, mas que passarão por uma reformulação curricular quase três décadas depois com a criação da já mencionada primeira LDB nº. 4024/61. esta, em seu artigo 70, diz que a formação em Educação Física “passa a ter exigência do

currículo mínimo, um núcleo necessário de matérias para não comprometer uma

adequada formação cultural e profissional” (SOUZA NETO, 1999, p. 61 – grifo do autor). O autor também destaca que nesse programa de formação poderá ser afixada, pelo estabelecimento de ensino, uma “parte complementar [...] visando a atender as diversidades regionais e compor o currículo pleno” (p.51 – grifo do autor).

Na LDB nº. 4024/61 se instala a exigência de 1/8 da carga horária do curso pretendendo atender a parte pedagógica. Entretanto, Tojal (2005) pontua que a modificação em relação à Educação Física, especificamente, não é expressiva, pois apenas coloca em seu artigo 22, que será obrigatória a prática da Educação Física em todos os níveis e ramos de escolarização, com predominância esportiva no ensino superior, e no parágrafo único, que os cursos noturnos podem ser dispensados da prática da Educação Física. O autor assim coloca:

Como se pode perceber, a LDB/61, nada tratou sobre a formação superior em Educação Física e, portanto, no sentido de aprimorar a formação oferecida nos cursos superiores de Educação Física, no ano de 1962, o Conselho Federal de Educação, em 17 de Novembro, aprovou o Parecer nº. 298/62, estabelecendo o currículo mínimo para os Cursos de Educação Física e Desportos. Através desse Parecer, os cursos superiores de licenciatura em Educação Física seriam desenvolvidos em 03 (três) anos de duração mínimos e obrigatórios e deveriam apresentar na grade curricular 13 (treze) disciplinas específicas acrescidas das matérias pedagógicas, podendo ainda para que o profissional se tornasse Técnico Desportivo, existir o acréscimo de 02 (duas) matérias referentes a desportos para a especialização. Para desenvolvimento de curso exclusivo de técnica desportiva deveriam existir 12 (doze) matérias, não havendo necessidade de inclusão das matérias pedagógicas. (p.19)

Anterior ao Parecer nº. 298 do Conselho Federal de Educação (CFE) citado por Tojal (2005), é instaurado pelo mesmo órgão o Parecer nº. 292. Nele são estabelecidos os currículos mínimos dos cursos de licenciatura, em que

[...] são selecionadas as matérias destinadas à formação educacional, incluindo Psicologia da Educação, incluindo Adolescência e Aprendizagem, Didática, Elementos de Administração Escolar [...] e, a inovação, a introdução da Prática de Ensino, sob a forma de Estágio Supervisionado. (SOUZA NETO, 1999, p. 62-63)

Os Pareceres de 1962 são retomados no final da década com a Resolução n°. 69, de 6 de Novembro de 1969, do CFE. Esta resolução aprovou no Brasil o segundo modelo oficial de currículo para a formação dos profissionais de Educação Física. Segundo Amaral et. al. (2006, p.31), esse modelo curricular deveria atender nacionalmente os cursos de Educação Física e se caracterizava “por um bloco de matérias obrigatórias, subdivididas em básicas e profissionais que constituía o chamado currículo mínimo” (grifo nosso), este proposto em 1961/1962. Os autores ainda colocam que:

Cada instituição superior de Educação Física teria a liberdade de complementá-lo de acordo com as características e necessidades de suas regiões. O curso passou a ter uma duração mínima de 1.800 horas/aula, ministradas, no mínimo, em três anos e, no máximo cinco anos [...] Nesse processo de mudança curricular, como reflexo da ditadura militar, a única matéria que não foi aprovada no Conselho Federal de Educação, apesar de ter sido consenso entre os professores de Educação Física e também apresentada no Parecer 894/69, como indispensável na formação educacional, foi a sociologia. (p.31-32)

No final da década de 1960, a Educação Física começa a se libertar em certo grau das imposições militares que direta e indiretamente direcionaram, por algumas décadas, seu campo tanto de estudos quanto de aplicação. Assim, a Educação Física começa a vivenciar um momento de emancipação em relação à configuração que a norteia. Sobre isso Elias (1970, p.17) aponta que ao se emancipar, vivenciar determinado processo – no caso o estabelecimento de diversas bases legais que dão suporte à Educação Física e seu novo contorno para a formação – a sociedade (ou, os indivíduos) passa a “adquirir uma base crescente de conhecimentos mais sólidos acerca desses processos”; resultando assim, na disseminação de uma nova condição de saber (Elias, 1998), o que inevitavelmente terá como conseqüência uma nova configuração, já que as teias de interdependência que ligam agora um indivíduo a outro e à Educação Física é diferente da anterior.

Outro fator que vem configurar uma distinta Educação Física ocorre também na ‘movimentada’ década de 1960, quando foram nomeados grupos de trabalho para repensar a formação acadêmica. Segundo Souza Neto (1999, p.64), baseado no Parecer CFE nº. 894/69, estes grupos colocaram como

questionamento negativo que os cursos paralelos ao de professor de Educação Física e de técnico desportivo, na prática, não se mostravam exeqüíveis. Na formação de professor não havia as matérias pedagógicas e no curso de técnico desportivo constatou-se, pelos relatos desses grupos de estudo, que muitas escolas não estavam aparelhadas para manter cursos regulares das muitas especialidades existentes no país. Outro dado revelador, apontado pelos estudos, é que na prática não se estava atendendo efetivamente ao mercado de trabalho em quantidade e qualidade, permitindo que ex-atletas continuassem a ocupar o lugar dos profissionais formados por uma escola superior [...] Como alternativa para solucionar esse problema, foi sugerido, na reestruturação da proposta curricular, que esta dever-se-ia restringir, apenas à formação de professores e de técnicos.

É importante ressaltar que nesse processo de se ‘repensar’ a formação, assim como as abordagens já citadas anteriormente, difundidas como forma de melhor situar a Educação Física escolar, também houveram propostas disseminadas no campo da Educação Física para revê-la como instrumento de formação em nível superior. Souza Neto (1999) destaca quatro propostas, que surtiram efeito após a década de 1960, influenciadas pelos grupos de trabalho que repensavam a formação no campo, bem como incidiram no retorno de mestres e doutores que buscaram suas titulações no exterior. Assim, o autor se refere a estas propostas como “perspectivas distintas, mas que mantêm entre si vínculos de estreita relação” (p.69). Não é intenção do presente estudo aprofundar estas perspectivas, mas baseado na obra do autor, convém citá-las apontando os estudiosos que as definem.

1. Perspectiva Esportiva: o cenário desta proposta é a Alemanha tendo como fundador de duas escolas de preparação profissional Carl Diem. Com o nazismo, a proposta inicial destas escolas fora desvirtuada e precisaria ser repensada uma vez que, paralelamente há a ascensão do esporte como fenômeno das massas, influenciando métodos e concepções de ensino. Em 1947 é fundada a Escola Superior de Esportes de Colônia sendo alicerçada por quatro pilares – Força, Verdade, Bondade e Beleza – que posteriormente são substituídos por – Pesquisa, Ensino, Educação e Esporte. O termo esporte passa então a substituir Educação Física designando todo tipo de trabalho desenvolvido na área de atividades físicas. Dentro da perspectiva esportiva, esporte passa a significar área de conhecimento e referência profissional, e é

dessa maneira que a Educação Física foi e, ainda é, desenvolvida em quase toda a Europa, tendo como sinônimo a denominação esporte.

2. Perspectiva Acadêmica (disciplina acadêmica): após diagnóstico feito por James Bryant Conat – presidente da universidade de Harvard – sobre a “Formação dos Professores na América” em todas as áreas, foi observado que o ensino da Educação Física estava centrado nas habilidades motoras e capacidades físicas como único conteúdo. Assim, diagnosticou-se que seu ensino não encontrava justificativa para estar na universidade, podendo adequar-se às escolas médias (2º grau – ensino médio), devendo ser eliminados os cursos de graduação e de pós-graduação como reflexos da primeira. Em resposta a este diagnóstico, Franklin M. Henry da universidade da Califórnia, publica o texto: “Educação Física: uma disciplina acadêmica” compreendendo a mesma como uma disciplina que possui um corpo de conhecimento organizado e reunido coletivamente num curso formal de aprendizagem. Com isso as críticas ao diagnóstico se expandem entre os intelectuais da área que vão defendê-la como uma área de conhecimento cujo objeto de estudo é o ser humano no contexto das atividades físicas. Também é colocado que a formação não deve se apoiar apenas em profissionais que tenham a habilidade de executar, mas para além da experiência e conhecimentos sobre execução de habilidades, estes profissionais devem ter a capacidade de ensinar estas habilidades a outras pessoas. No Brasil, esta proposta é aprofundada pelo Prof. Dr. Go Tani que adota a terminologia cinesiologia, significando, literalmente, o estudo do movimento humano. A cinesiologia como área de conhecimento iria além da perspectiva de disciplina acadêmica, apresentando uma estrutura transdisciplinar constituída de três grandes sub-áreas de investigação e aplicação: biodinâmica do movimento humano, comportamento motor humano e estudos sócio culturais do movimento humano.

3. Perspectiva Motriz (motricidade humana): essa perspectiva tem como proponente o Prof. Dr. Manuel Sérgio da Cunha, de Portugal, que apresenta de forma filosófica a Motricidade Humana como uma área de conhecimento para a Educação Física e não da Educação Física. Nesta proposta a matriz biológica de conhecimento teórico que tem identificado a Educação Física desloca-se

para uma matriz humanística (ciências humanas). A Motricidade Humana é entendida, então, como uma ciência que propõe o estudo do ser humano em seus aspectos motores de forma antidualista e holística expresso na passagem do físico ao motor, em que a Educação Física seria a pré-ciência da Motricidade Humana. Nesta proposta, concretamente, tem-se o reconhecimento da Motricidade Humana, como indicativo de uma área de estudos centrada na área de humanas.

4. Perspectiva Pedagógica: esta perspectiva ganhou relevo com os movimentos da escola nova, da psicologia humanística, do construtivismo e da teoria crítica dentro do enfoque da Educação Física, tendo no corpo o seu objeto de estudo e na cultura corporal, ou cultura de movimento e/ou cultura corporal de movimento os seus pressupostos teóricos. Esta perspectiva tem como proposta uma disciplina da Educação Física orientada pela pedagogia e, não uma disciplina para a Educação Física. No domínio desta perspectiva tem- se o advento da já citada psicomotricidade, esta vislumbrando o perfil de um professor voltado para a aprendizagem, contudo perde-se a especificidade da Educação Física. Na busca de um diálogo interdisciplinar, retoma-se o conteúdo historicamente acumulado da Educação Física – ginástica, jogos, danças, esportes e lutas, numa dimensão mais ampla e menos técnica para a área escolar. Na esfera da formação profissional, o Prof. Dr. Alfredo Gomes de Farias Júnior, principalmente, vai defender esta concepção com a formação do professor generalista em oposição ao especialista, entendendo que se trata de um profissional formado sob uma perspectiva humanista, com licenciatura plena em Educação Física, podendo atuar tanto no âmbito escolar, quanto fora dele.

Com base nas propostas apontadas por Souza Neto (1999), é bem evidente o esforço do campo Educação Física em direção a uma reorientação teórico-científica que o estabeleça como pertencente ao espaço acadêmico, distanciando-se de uma mera função de indivíduos que por sua vez seriam práticos executores na orientação dos homens em relação à atividade física.

Para adentrar o meio acadêmico, a Educação Física vivencia a situação anteriormente mencionada entre estabelecidos e outsiders analisada por

Elias e Scotson (2000). Na situação de outsider, a Educação Física configurando-se como um novo campo no espaço das instituições de formação profissional, encontra problemas para se estabelecer devido a grupos que atuam coercitivamente para estigmatizá-la como mera função de instrução prática, bem como por suas próprias disputas internas. Estas disputas ocorrem no interior do campo na tentativa de passar para a condição de estabelecidos que, ao tentar se constituir como um campo que deve ser acadêmico, os próprios indivíduos não se observam como um todo – nas palavras de Elias (1998), como um “nós”. Essa é uma das diferenças, segundo o autor, entre teorias do conhecimento do tipo filosófico tradicional e a teoria do conhecimento sociológica não-reducionista. Para ele,

A primeira trabalha com a imagem humana de um sujeito do conhecimento, um conhecedor, em um vácuo – de “eu” sem “nós”, “você” sem “eles”. A última trabalha com o conhecedor num grupo enquanto sujeito do conhecimento. Ninguém pode saber sem adquirir conhecimento de outro. Sem partir de um grupo de conhecedores que dividem uma função comum de conhecimento e, como parte disso, de uma linguagem específica do