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CAPÍTULO 2 – TESTEMUNHOS DE PROFESSORES DE HISTÓRIA

2.1 Barcelona – Lola, Josep e Fidelio

2.1.3 Formação inicial e continuada

Lola e Fidelio são quase da mesma idade, mas ela iniciou carreira em Secundària bem antes. Josep, o mais jovem, apesar de formado em 1994, apenas iniciaria carreira em 2001. Na tabela abaixo, exponho os locais de formação e aspectos da trajetória de cada um deles.

Tabela 7: Dados pessoais de Lola, Josep e Fidelio.

Lola Josep Fidelio

Nascimento 1952 1971 1951 Área formação Filosofia i Lletres (Història Contemporània) CAP Historia/Geografía CAP Historia/Geografía CAP

Universidade/ano Universitat Autònoma de Barcelona, 1975

Universidad de Valencia, 1994

Universidad de Barcelona, 1981

Tempo trabalho 33 anos 9 anos 17 anos

Pós-graduação

Mestrado e Doutorado em

Didáctica de les Ciències Socials na UAB

A princípio, Lola desejava ser professora de Educação Física, mas as circunstâncias políticas120 e a dificuldade de ir estudar em Madrid a impediram. No entanto, já estava claro, para ela, que sua futura profissão estaria ligada à docência. Na infância, costumava brincar de professora com seus irmãos e sempre tivera facilidade de comunicação com as crianças. Ao final, contou que decidiu pelo curso de História. Logo depois, cursou o CAP (Curs d’Adaptació

Pedagógica) e começou carreira na mesma escola em que trabalha atualmente (apesar de ter uma

curta experiência em outra escola, igualmente religiosa).

Fidelio também não planejava, a princípio, ser professor. A primeira opção, quando adolescente, era seguir a vida de agricultor nas terras da família. Mas discordâncias do pai o fizeram repensar as opções:

Yo quería ser payés, no quería estudiar. (…) yo tenía una visión más empresarial, más emprendedora y quería cambiar formas de ver. No lo podía hacer. Como no podía hacer dije: Fidelio, estudia y te vas de casa. (…) entonces yo quería estudiar arquitectura. (…) Pero, arquitectura tenía que venir a Barcelona. (…) yo con el pensamiento de que estudiando magisterio, luego vendría a Barcelona, podría ya trabajar, ganar lo de maestro y estudiar arquitectura nocturno. (…) mientras tanto estaba trabajando en Esterri d’Àneu (Pirineo), puse a estudiarme Geografía. (…) Y aquí en Barcelona me di cuenta que Arquitectura no lo podía hacer porque solamente era diurno.

Fidelio passou por duas mudanças, no campo profissional, a contragosto: primeiro, não pôde ser agricultor. Depois, não foi possível, por razões financeiras, fazer o curso de Arquitetura. Acabou por ficar na Historia/Geografia, mas nisso também há influência da família:

Pero escoger Biogeografía, Geografía Física era un poco por una faena que siempre me ha gustado. (…) porque mi padre siempre me llevaba domingos o bien en excursiones me decía nombres de cosas, de plantas, a su manera, del funcionamiento de los ecosistemas (era un payés) y siempre me había gustado eso. Y dice hago esa otra opción porque también la encuentro atractiva.

Fidelio prefere destacar sua especialidade – a Biogeografia – ao invés de enfatizar a carreira superior que cursou. E por que ser professor e não pesquisador? A resposta é simples – por gosto: “(…) magisterio siempre me ha gustado. Y como me ha gustado, me planteé, bueno, mejor geografía y me quedo trabajando de maestro porque la enseñanza me gusta”, mas também

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Para freqüentar o curso de Educação Física, Lola deveria filiar-se a um grupo vinculado aos falangistas, que apoiavam a Ditadura de Franco. Portanto, foi por motivos políticos, em grande medida, que ela não cursou sua primeira opção.

por necessidade. Ao cursar Magistério, ele sabia que, em breve, começaria a trabalhar e poderia sustentar-se por conta própria. Então, a primeira fase, como professor, foi em Primaria.

Não foi fácil para Fidelio conquistar um lugar na escola pública, como desejava. Mesmo no Magistério, a parte didática foi pouco aproveitada, porque a professora era relapsa, segundo ele. Como era delegado de turma, confrontou-se com ela várias vezes. Quando chegou o final do curso, Fidelio e outros companheiros tinham ideias semelhantes e queriam solicitar ao Delegado Educacional de Lleida (marido da professora de Didática) que os encaminhasse para a mesma escola para que pudessem, juntos, transformar a sociedade através do ensino ativo:

(…) éramos unos profesores – otra de las utopías, buenas – (…) éramos seis, que teníamos claro que la escuela, la pública, que fuimos a ver a (…) el Delegado, a pedirle que a los seis nos diese una escuela, pública. Sea en el Pirineo, es igual. (…) Pero que a nosotros nos mandase los seis y que nos dejase actuar bajo criterios pedagógicos. (…) Se negó.

Não houve possibilidade de negociação. Cada um desses jovens idealistas seguiu seu rumo e Fidelio preparou-se para as oposiciones e, ao mesmo tempo, procurou emprego em escolas Ativas particulares de reconhecida qualidade. Quando uma delas – das mais caras e conceituadas de Barcelona – chamou-o para uma entrevista, ele ficou muito contente. No entanto, por causa das exigências do diretor (impossibilidade de questionar os pais e vestuário impecável), Fidelio não aceitou o emprego. Pouco tempo depois, foi aprovado nas oposiciones, assumiu a escola pública e nunca mais a deixou – embora estivesse ansioso por aposentar-se.

Dos três, apenas Josep tinha clareza do que pretendia, desde os quatorze anos. A escolha pela disciplina de História se deveu, principalmente, a um professor desta disciplina do

Bachillerato. Segundo Josep, ele conseguia explicar o porquê de muitas coisas que aconteciam no

país. As decisões políticas mais polêmicas eram comentadas, independente do conteúdo. Por isso, Josep afirma ter por objetivo transmitir um conteúdo histórico que tenha utilidade para a vida e faça sentido para os alunos:

Sí, profesor de historia y además de lo que yo había visto, que me había resultado más impactante o que me había gustado mucho más que eran las clases del bachillerato. Es decir, no quería ser ni maestro de escuela, ni profesor en la universidad, nunca tenía pensado investigar en la universidad ni dedicarme al conocimiento histórico. Sí, enseñar historia. Es una idea desde que tenía, desde que estaba estudiando en el bachillerato era mi idea. Pero estudiar historia no para un plan de investigación sino de docencia.

Por algum tempo, depois da Universidade e do CAP, Josep se especializou em conhecimento histórico, mas notou que foi insuficiente para melhorar o ensino. Recentemente, procurou a UAB para aperfeiçoar-se na Didática das Ciências Sociais. Assim, ao verificarem-se as respostas quanto às formas como adquiriram conhecimento ao longo da carreira, percebe-se que Lola foi a que mais avançou no campo acadêmico. Primeiro obteve o diploma de Mestra de

Catalá, uma experiência gratificante, por aprender com profundidade sua língua materna e poder

ensiná-la. Durante a Ditadura Franquista, a língua catalã fora proibida. Mais tarde, no final dos anos 1990, Lola começou estudos de Pós-Graduação e obteve o título de Màster e, depois, de

Doctora en Didáctica de les Ciències Socials, como resultado de um intenso questionamento

profissional, em busca de legitimar o trabalho inovador que desenvolvia desde o quarto/quinto ano de magistério.

Fidelio nunca concluiu a pós-graduação, mas realizou vários cursos de formação continuada. Sua postura frente a esses programas, porém, é de cansaço e frustração. Afirma que deixou de frequentá-los por vários motivos – inclusive porque vai se aposentar. O professor se considera cansado de utilizar os horários de descanso para “fazer papel de bobo”:

Años atrás hacía muchos cursos de formación de tipo pedagógica y no me acuerdo porque tengo muchos papelitos y ahora ya me he negado hacerlos por principio [in] (más porque me voy a jubilar si es posible), pero estoy cansado de que tenga que ver los cursillos de formación siempre en horarios no lectivos. Estoy cansado. ¿Por qué no nos los hacen en horarios lectivos y me ponen un sustituto? Estoy cansado de hacer el tonto.

Entrou na profissão quase por acaso, carregado de utopias que o enfrentamento com a escola minou aos poucos. Na entrevista e nas observações, reforçou a preocupação de que a escola não seja uma perda de tempo. Ao mesmo tempo, acredita que o nível dos alunos é muito baixo para que o conhecimento traga resultados efetivos.

Josep, entretanto, ainda está a explorar as possibilidades oferecidas para conhecer mais sobre a profissão, de três formas: no diálogo com professores mais experientes (principalmente no início da carreira); na intuição, pela “tentativa e erro”; e em contatos esporádicos com a Universidade (congressos, encontros, cursos e grupos de estudos e pesquisas):

Ha sido un camino lento, poco a poco y de relación con los profesores que quizás tienen mucho más experiencia. (…) Y han intentado aportarme todo lo que han podido en relación a como dar las clases (…) ha habido un momento en

que ha estado relacionado también con profesores que investigaban sobre las formas de dar las clases (…) Y hace unos tres años, empezamos con unos cuantos profesores de secundaria, participábamos de unas Unidades Didácticas que planteaban en la Universitat (…) Y cualquier experiencia que pueda aprovechar, cualquier congresos, seminarios, que me puedan servir, siempre intento recoger como algo que me pueda servir para mejorar las clases, para continuar mejorando lo que voy haciendo día a día con mis alumnos.

Percebo que os três professores optaram por carreiras universitárias voltadas para a História (principalmente Lola e Josep) porque acreditavam na possibilidade de transformar o mundo por meio deste conhecimento, que pode interligar passado e presente e, possivelmente, despertar para questões políticas. Eles cursaram o CAP e concordaram que não foi suficiente para que desenvolvessem habilidades didáticas e conhecimentos pedagógicos que permitissem dar aulas da forma como desejavam – em diálogo com uma constatação geral das teses de Barcelona, principalmente em Villaquirán (2008), Vásquez (2004) e Ferreira (2004), que criticaram a insuficiência da formação didática e pedagógica121.

As interações com a política e a religiosidade seguem na tabela a seguir: Tabela 8: Filiações políticas e religiosas de Lola, Josep e Fidelio

Lola Josep Fidelio

Filiação política Esquerda não-nacionalista Simpatizante da Esquerda Política

Catalunha livre e independente Progressista

Religião Formação católica Não crente

Formação católica Não pratica

Formação católica Cético

É notável a semelhança nas trajetórias quanto à religião. Os três tiveram formação religiosa cristã e abandonaram a crença quando adolescentes. Lola reconhece que se sente influenciada por certas matrizes do pensamento judaico-cristão em que se formou (e com o qual convive na escola em que trabalha), mas, para ela, elementos como fé ou espiritualidade não impulsionam sua prática profissional. Fidelio lembra que a matriz cultural da Igreja Católica é importante como conhecimento geral. Isso também vale para Josep, que responde a essa questão com naturalidade e não sente necessidade de oferecer maiores explicações.

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Outra semelhança é quanto à posição política desses professores, que Fidelio discutiu comigo na entrevista e fora dela. Lola e Josep afirmaram vínculo à Esquerda e, Fidelio, contrário a esta expressão, identificou-se como Progressista e Independentista. Ele explicou que os conceitos de Esquerda e Direita se encontram diluídos, atualmente, já que é possível encontrar “gobiernos que se atribuyen de izquierdas [que] hacen políticas económicas y sociales de pura derecha”. Por isso, ele pediu que o qualificasse como “Progressista”, ao entender progresso como: “(…) vivir de una manera decente, con menos dinero (…) pero con unos valores ambientales, sociales, (…) a lo mejor tener unos criterios claros de cómo personas que lo que deben hacer y de lo que no deben hacer”

Apesar da distinção de Fidelio, é preciso lembrar que, segundo Norberto Bobbio, são as posições “Direita” e “Esquerda” que permitem distinguir Progressistas de Tradicionalistas (BOBBIO, apud DE ROSSI, 2009, p.117). Portanto, o que Fidelio recusa é sua identificação com partidos ditos “de esquerda” cujas atitudes se afastam da Igualdade, da Justiça e da Emancipação. Lola igualmente se afasta dos partidos políticos, pois participa das Organizações Não- Governamentais (ONGs) Intermón122, Selenga Basi123 e da Cruz Vermelha124 catalã. Ela também coordena o Grup de Valors da UAB, pertence ao Col.legi de Doctors i Llicenciats en Filosofia i

Lletres e é sócia do Casal del Mestre125, mas não participa de nenhum movimento político.

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“Desde Intermón Oxfam, luchamos contra las causas de la pobreza, y no sólo contra sus consecuencias. Para ello, actuamos de una manera integral en más de cincuenta países de África, América y Asia: cooperamos en más de 500 programas de desarrollo y acción humanitaria, fomentamos el comercio justo y promovemos campañas de sensibilización y movilización social.” INTERMÓN OXFAM (Espanha). Quiénes somos. Disponível em: <http://www.intermonoxfam.org/es/page.asp?id=1847>. Acesso em: 23 ago. 2011.

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A ONG Selenga Basi está inscrita na Prefeitura da cidade e desenvolve atividades de ajuda financeira para reforma e construção de escolas em regiões pobres do mundo. Atualmente, a ONG adquiriu status internacional e recebe ajuda de muitas organizações. A participação de Lola já não é tão próxima. <http://es- es.facebook.com/pages/Selenga-Basi-MonEduc/261493744704>

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“(…) el Moviment Internacional de la Creu Roja i de la Mitja Lluna Roja, el qual s’ha creat per la preocupació de prestar auxili, sense discriminació, a tots els ferits als camps de batalla, s’esforça, sota el seu aspecte internacional i nacional, a prevenir i alleujar el patiment de l’ésser humà en totes les circumstàncies. Tendeix a protegir la vida i la salut, així com a fer respectar la persona humana. Afavoreix la comprensió mútua, l’amistat, la cooperació i una pau duradora entre tots els pobles.” CREU ROJA CATALUNYA (Catalunha). Creu Roja. Disponível em: <http://www.creuroja.org/AP/CM.aspx>. Acesso em: 23 ago. 2011.

125

Josep foi afiliado à Izquierda Unida126 (IU) entre 1996-1999 e participou do Consejo

Político Comarcal de Vall d’Albaida127 (Valencia), bem como em campanha eleitoral (que não especificou). Ele também realizou trabalhos para as Comisiones Obreras128. Por fim, Fidelio participou do PSUC129 e do Partido Comunista Español. Atualmente, participa da Associação Deumil.cat, que será explicada adiante.

O PSUC e a IU possuem uma visão bem semelhante quanto à participação dos trabalhadores no destino da Catalunha e da Espanha, mas nenhum professor continua ativo nesses movimentos. Um dos motivos é a dificuldade de encontrar sentido na vida política partidária. A crise do sistema capitalista, agravada em 2008, estava ainda pendente de resolução no período letivo 2010-2011 e afetava as escolas pela redução dos recursos, pelo aumento da jornada de trabalho dos professores e pelos cortes salariais.

As medidas tomadas pelo governo de Rodríguez Zapatero (Partido Socialista Obrero Español - PSOE – 2004/2011) foram duramente criticadas pelos opositores de Direita

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“Izquierda Unida es un Movimiento Político y Social, que se conforma en una organización jurídica y políticamente soberana, cuyo objetivo es transformar gradualmente el sistema capitalista en un sistema socialista democrático, fundamentado en los principios de justicia, igualdad, solidaridad y respeto por la naturaleza y organizado conforme un Estado social y democrático de derecho, federal y republicano.” IZQUIERDA UNIDA (Espanha). La Organización. Disponível em: <http://www.izquierda-unida.es/laorganizacion>. Acesso em: 23 ago. 2011.

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Comarcas são divisões políticas características de territórios de fala catalã. Possuem origens medievais ou, provavelmente, mais remotas. Segundo o site oficial da Comarca citada, “La Vall d'Albaida es una comarca natural e histórica enclavada en la Comunidad Valenciana. Limita geográficamente con comarcas importantes (...). Se trata de una de las comarcas más industrializadas, con una importante tradición textil, aunque la presencia de las actividades agrícolas y ganaderas es notable. También se observa cada vez más un aumento del sector terciario”. LA VALL D’ALBAIDA. ¿Qué es la Vall? Disponível em: <http://www.valldalbaida.com/intro_es.php>. Acesso em: 18 maio 2012.

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“CCOO es una organización sindical democrática y de clase que está formada por trabajadores y trabajadoras que nos afiliamos de forma voluntaria y solidaria para defender nuestros intereses y para conseguir una sociedad más justa, democrática y participativa.” CONFEDERACIÓN SINDICAL DE COMISIONES OBRERAS (Espanha).

¿Quiénes somos? Disponível em: <http://www.ccoo.es/csccoo/menu.do?Conoce_CCOO:_Quienes_somos?>.

Acesso em: 23 ago. 2011. Além disso, as CCOO trabalham em prol dos pensionistas, dos migrantes, dos desempregados, da juventude. Pretende desenvolver a igualdade de oportunidades, de gênero e a solidariedade com todos os povos do mundo, buscando a tolerância e combatendo a xenofobia e o preconceito. Prioriza a gestão democrática e a abertura do sindicato para trabalhadores de todas as cores políticas, desde que democráticas.

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“El Partit Socialista Unificat de Catalunya és un partit nacional i de classe que te com a projecte estratègic

Esquerra Unida i Alternativa, el referent d'Izquierda Unida a Catalunya. Els comunistes del PSUC han

promogut, amb companys i companyes d'altres organitzacions, aquest punt de trobada conjunt de l'esquerra

alternativa a Catalunya, com a espai d'acció política unitària, de debat i impuls per a construir una majoria social

d'esquerres al nostre país.” PARTIT SOCIALISTA UNIFICAT DE CATALUNYA (Catalunha). Qui som? Disponível em: <http://www.psuc.org/content/view/15/27/>. Acesso em: 23 ago. 2011. Grifos originais.

(notadamente, pelo Partido Popular) e corriam o risco de perder o apoio histórico dos grandes sindicatos. Atualmente, os espanhóis sentem que a força dos tradicionais partidos está abalada. Em Maio de 2011 (dois meses depois do final do meu estágio de Doutorado em Barcelona), concomitante à onda de revoltas nos países árabes e norte-africanos, os espanhóis também foram às ruas, ou melhor, às praças. Los Indignados acamparam na Plaza del Sol, em Madrid e na Plaza

Catalunya, em Barcelona, por várias semanas – reorganizando as manifestações periodicamente.

Os jornais caracterizaram os Indignados pela diversidade de reivindicações e pela ausência, senão rechaço, a qualquer ideologia partidária130. Foram manifestações contra a falta de alternativas políticas e não a favor de determinados partidos.

Zygmunt Bauman, em entrevista ao jornal El País (outubro de 2011)131 refletiu se “¿tiene

futuro la solidariedad?” e procurou esclarecer ilusões sobre a iminência de uma Revolução. Para

ele, as manifestações estavam, naquele momento, baseadas em emoções, o que dificultava a formulação de propostas concretas. No entanto, elas poderiam agir como pano de fundo para futuras ações melhor fundamentadas. Com efeito, no final de 2011, o Partido Popular, de Direita, venceu as eleições espanholas.

Provavelmente ao pensar nesta situação, Fidelio preferiu o termo “progressista” e abandonou os partidos políticos. Participa, atualmente, de movimento da Sociedade Civil pela independência da Catalunha, o que se reflete na sua fala com os alunos mais velhos. O separatismo catalão – que tem seus defensores de Direita e de Esquerda – é um dos debates políticos mais sensíveis da região. Anexada definitivamente ao Estado espanhol em princípios do século XVIII, na Catalunha existem grupos mais ou menos radicais no que se refere à preservação de sua identidade, como afirma José Enrique Ruiz-Domènec, em “Catalunya, España” (2010) e Deumil.cat é uma delas. Igualmente, Josep deixou de participar de Partidos Políticos logo depois que começou a trabalhar.

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Por exemplo: LA plaza es un ágora Elperiódico.com, Barcelona, p.1-1. 20 maio 2011. Disponível em: <http://www.elperiodico.com/es/noticias/politica/print-1012711.shtml>. Acesso em: 22 ago. 2011. Un viernes con más protestas. El País. 21 ago. 2011. Visuais. 1 fot. Col. Disponível em: <http://www.elpais.com/fotografia/espana/viernes/protestas/elpfotnac/20110821elpepunac_40/Ies>. Acesso em: 22 ago. 2011. 131

BAUMAN, Zygmunt. El 15-M es emocional, le falta pensamiento. Entrevista a Vicente Verdú. ElPaís.com,

Madrid, 17 out. 2011. Disponível em:

Questionados sobre professores inspiradores, Josep e Fidelio se lembraram de profissionais que demonstraram a força da escola pública e o poder do saber para a transformação do mundo. Seus conhecimentos sobre Socialismo, a presença dos autores marxistas durante a formação e os desejos de mudar a sociedade também influenciaram a escolha de ser professor. Basta lembrar que a utopia inicial de Lola era que deixassem de existir ricos e pobres e que Fidelio acreditava em transformar a sociedade pela Educação.

Lola também respondeu que há alguns pontos fundamentais de influência em sua vida para que se compreenda a professora que é. Em primeiro lugar, a trajetória de vida da avó e do pai. Ela não forneceu detalhes, mas deixou claro que lutaram muito para sobreviver, além do fato de fazerem um grande esforço para que ela mesma seguisse os estudos. Soam como exemplos de força, constância e superação. Em segundo lugar, se destaca a formação marxista dos professores que lhe ensinaram História na universidade. Essas teorias (mais tarde revistas e aperfeiçoadas) casaram com utopias e incompreensões que carregava desde muito jovem:

Y yo creo que esa era mi utopía, el hecho de que no fueran dos paredes distintas