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CAPÍTULO 1 – TESES DE DOUTORADO

1.1.1 Panorama

As tabelas 1 e 2 informam os principais dados sobre as teses estudadas e seus autores. Elaborei-as com ajuda de informações públicas, disponíveis nas páginas pessoais dos autores ou nas Universidades em que trabalham.

50

Tabela 1: Dados biográfico-curriculares dos autores de teses defendidas em Barcelona.

Autor Origem Currículo Ocupação atual

Carmen

Guimerà Espanha

Professora de Historia/Ciencias

Sociales em escolas públicas. Catedrática (chefia do

Departamento de Ciencias

Sociales da instituição de

Ensino).

Doutora pela UAB (1991)

Aposentada.

Joan Pagès Catalunha

Professor de Historia/Ciencias

Sociales na Rede Pública de

Barcelona.

Atua com formação de

professores em projetos oficiais e alternativos progressistas, como o Rosa Sensat. Doutor pela UAB (1993)

Formador de professores e pesquisador de Didáctica de las

Ciencias Sociales na UAB desde

1976.

Liliana

Bravo Chile

Professora de Didáctica de las

Ciencias Sociales na

Universidad Católica de Chile.

Doutora pela UAB (2002)

Professora da Universidad Alberto Hurtado de Santiago de Chile

Agnès

Boixader Catalunha

Professora de Historia no Bachillerato, em escola privada há mais de 25 anos.

Doutora pela UAB (2004)

Professora de Didáctica de las

Ciencias Sociales na Universitat Autònoma de Barcelona. Professora de Secundaria. Carlos Ferreira Brasil Licenciado em História – 1985 – Universidade Católica de Salvador. Mestrado e Doutorado em Educação na UAB (1998 e 2003). Professor Adjunto A da Universidade Estadual de Feira de Santana e Professor Assistente Doutor IV da UCSAL.

Nelson

Vásquez Chile

Licenciado e Magíster em Historia pela Pontifícia

Universidad Católica de Valparaíso, Chile. Doutor pela Universidad de Barcelona.

Professor de Historia y Geografía no Instituto de História da PUC Valparaíso.

Maria Paula

González Argentina

Formada em História pela Universidad de Buenos Aires com Especialização, Mestrado e Doutorado em Didáctica de las

Ciencias Sociales pela UAB.

Pesquisadora e docente na

Universidad Nacional General Sarmiento e Pesquisadora

Assistente no Conicet (Consejo

Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas) – Buenos

Aires.

Tomás

Villaquirán Venezuela

Professor de Historia/Ciencias

Sociales na Rede Pública da

Venezuela.

Doutor pela UB (2008)

Chefe do Departamento de

Ciencias Sociales da Universidad de Carabobo, Venezuela.

Para elaborar a tabela 2, localizei os dados nas próprias teses, por meio das suas fichas catalográficas. A finalidade destas duas tabelas é permitir a rápida localização de informações sobre as teses e seus autores ao longo da leitura do texto.

Tabela 2: Teses de doutorado sobre formação de professores de Historia/Ciencias Sociales defendidas na Província de Barcelona.

Autor Título Local Ano Orientador

Carmen Guimerà Práctica docente y pensamiento del profesor de historia de secundaria

UAB 1991 Mario

Carretero

Joan Pagès

El disseny, el desenvolupament del curriculum i el pensament del professor: el cas de l'experimentació del currículum de Ciències Socials del cicle superior d'EGB a Catalunya

UAB 1993 Pilar Benejam

Liliana Bravo

La formación inicial del profesorado de secundaria en Didáctica de las Ciencias Sociales en la Universidad Autónoma de Barcelona: un estudio de caso

UAB 2002 Joan Pagès

Agnès Boixader

Innovació en el currículum de Ciències Socials i formació del profesorat. Una recerca-acció

UAB 2004 Joan Pagès

Carlos Ferreira

A formação e a prática dos professores de história: enfoque inovador, mudanças de atitudes e incorporação das novas tecnologias nas escolas públicas e privadas do estado da Bahia, Brasil

UAB 2004 Maria Jesús Comellas

Nelson Vásquez

La formación del profesorado de Historia en Chile. La formación inicial y permanente de los educadores de la V región en el marco de la reforma educacional

UB 2004 Joaquim Prats

Maria Paula González

Los profesores y la historia Argentina reciente. Saberes y prácticas de docentes de secundaria de Buenos Aires

UAB 2008 Joan Pagès

Tomás Villaquirán

La enseñanza de la historia en la escuela básica venezolana. Visión del profesorado

UB 2008 Joaquim Prats

A tese mais antiga é a de Carmen Guimerà, de 1991, seguida pela de Joan Pagès, de 1993. Existe um intervalo de quase uma década entre as primeiras publicações e as subsequentes, orientadas, em sua maioria (três teses), pelo próprio Pagès, a partir de 2002. O ano que concentra

o maior número de defesas (três teses) é 2004 e as duas mais recentes são de 2008. Dentre os autores, mais da metade deles são latino-americanos, conforme a distribuição do Gráfico 1.

Gráfico 1: Origem dos autores das teses defendidas em Barcelona.

Joan Pagès orientou mais teses (três)51, seguido por Joaquim Prats (Universidad de

Barcelona), com duas teses, quem, junto com Mario Carretero (Universidad Autónoma de Madrid), são os únicos orientadores de fora da Universitat Autònoma de Barcelona (UAB). As

teses de Joan Pagès e Agnès Boixader foram redigidas em catalão e a de Carlos Ferreira, em português. As demais estão em castelhano.

Quanto aos temas (conforme Tabela 3), predominam o “pensamento do professor de

Historia/Ciencias Sociales” e “currículo e programas de formação de professores – inicial e

continuada”. Como temas isolados, há: “saberes e práticas de professores de história” e “a influência da formação e capacidade de inovação dos professores de história sobre o aprendizado de seus alunos” – que, também, flertam com o “pensamento de professores de Historia/Ciencias

Sociales”52.

51

A origem destas teses está num grupo liderado por Pagès que congregou investigadores catalães interessados em conhecer práticas e interferir nos conhecimentos de professores de Historia/Ciencias Sociales na Província de Barcelona. Um artigo coletivo explica o objetivo do grupo, naquele momento: “(…) la detección de las representaciones de l@s estudiant@s de maestro de primaria y secundaria sobre la enseñanza de las Ciencias Sociales, la evaluación de los aprendizajes, la descripción e interpretación de la práctica de la enseñanza de la DCS según los supuestos de la investigación acción, y la observación y el análisis de los aprendizajes del alumnado de primaria y secundaria en Ciencias Sociales en las clases donde intervienen l@s estudiantes en formación”. Esclarecimento diponível no artigo “La formación del profesorado de educación primaria y secundaria en didáctica de las Ciencias Sociales” de Pagès et al (2000, p.1).

52

Tabela 3: Temática das teses de Barcelona. Pensamento do professor Currículo e programas de formação Saberes e práticas Novas tecnologias e formação de professores Guimerà, 1991 Pagès, 1993 Villaquirán, 2008 Bravo, 2002 Boixader, 2004 Vásquez, 2004 González, 2008 Ferreira, 2004

Os objetivos a que se propõem as teses variam e direcionam o referencial teórico- metodológico. Guimerà, Vásquez, González e Villaquirán compartilham objetivos: compreender e interpretar o pensamento, as percepções, os saberes, as ações ou as crenças dos professores a respeito do currículo, do ensino da História recente ou de reformas educacionais e/ou políticas. Já os trabalhos de Bravo, Ferreira e Boixader, assim como o de Pagès, analisam e avaliam ações formativas e inovações curriculares, tanto por meio da “voz do professor” quanto pelo acompanhamento de experiências na formação inicial e/ou continuada de professores de

Historia/Ciencias Sociales.

A necessidade de uma exaustiva revisão de literatura de todos os campos correlatos ao tema pesquisado aparece, principalmente, nas duas teses mais antigas e nas de latino-americanos (notadamente, de Villaquirán e Vásquez). Provavelmente, isso se explicaria pela ausência, nos anos 1990, de textos que sintetizassem as pesquisas sobre didática da Historia/Ciencias Sociales. Para os casos americanos, a justificativa é a divulgação de textos ainda pouco conhecidos no Novo Mundo.

Quanto ao referencial teórico-metodológico, os autores mais citados são representantes do conceito de profissional crítico e reflexivo, enfatizando um ou outro destes adjetivos. José Gimeno Sacristán, Carlos Marcelo e Donald Schön são citados em cinco das oito teses. Autores ligados à Pedagogia Crítica também aparecem, embora a variedade de obras seja menor. Michael Apple e Henry Giroux, seguidos de Thomas Popkewitz, são os mais reconhecidos, o que confirma a hegemonia de interpretações anglo-saxônicas, no que se refere à Pedagogia Crítica, entre as teses defendidas em Barcelona. Na tese de Vásquez (2004), os modelos crítico e reflexivo são tomados como um único paradigma. Esse tema será retomado no item 1.3.

A lista de referências das teses – sobre formação de professores de Historia/Ciencias

referenciados nas oito teses. Os autores mais citados são Joan Pagès (UAB), com dezessete referências, seguido de Ronald Evans53 com sete citações e de Pilar Benejam54, cujos textos receberam seis referências. Logo depois, com quatro referências, está Anna Pendry55 e com três citações empatam Stephen Thornton56, Beverley Armento57, James Shaver58 e Ramón Galindo59, conforme o gráfico 2.

Gráfico 2: Autores mais citados sobre formação de professores de Historia/Ciencias Sociales nas teses apresentadas em Barcelona.

53

San Diego State University. Informações curriculares disponíveis em: <http://phonebook.sdsu.edu/results.php?detail_of=b3U9Pzg1OTA3ODAzNzU4OTYzMTg4MDEwMDk=>. Acesso: em 14 ago. 2011.

54

Universitat Autònoma de Barcelona. Informações curriculares disponíveis em: <http://ddd.uab.cat/pub/expbib/2009/pilben/curriculum.htm>. Acesso em: 14 ago. 2011.

55

University of Oxford. Informações curriculares disponíveis em: <http://www.education.ox.ac.uk/about- us/directory/dr-anna-pendry/>. Acesso em: 14 ago. 2011.

56

University of South Florida. Informações curriculares disponíveis em: <http://www.coedu.usf.edu/main/departments/seced/Faculty/Thornton.html>. Acesso em: 14/8/2011.

57

Georgia State University. Informações curriculares disponíveis em: <http://www2.gsu.edu/~mstbja/vita.htm>. Acesso em: 14 ago. 2011.

58

Utah State University. Informações curriculares disponíveis em: <http://catalog.usu.edu/preview_entity.php?catoid=2&ent_oid=81&returnto=83>. Acesso em: 26 mar. 2012.

59

Universidad de Granada. Informações curriculares disponíveis em: <http://directorio.ugr.es/static/Personal/*/rgalindo@ugr.es>. Acesso em: 14 ago. 2011.

Dos oito autores mais citados, apenas três são espanhóis (Pagès, Benejam e Galindo) e os demais são estadunidenses ou ingleses. Destes textos, quarenta e dois estão em língua espanhola, trinta e cinco em idioma inglês, oito em português, três em catalão, dois em francês e um em italiano.

As pesquisas são todas de tipo qualitativo, à exceção da tese de Vásquez (2004), que é quantitativa, com questionários fechados, enquanto Ferreira (2004) lança mão de um instrumento quantitativo (questionário estruturado) analisado em perspectiva qualitativa. Predominam o uso de grande variedade de fontes (Guimerà, Pagès, Bravo, González) e as pesquisas de tipo investigação-ação (Bravo e Boixader).

Estudos sobre “crenças” ou “pensamentos” dos professores, a partir do referencial “reflexivo” são comuns na literatura anglo-saxônica sobre formação de professores de História ou Ciências Sociais. A revista TRSE é representativa. Alguns trabalhos selecionados da coleção da revista exemplificam esta discussão, como Elizabeth Heilman (2001) no artigo “Teachers’s perspectives on real world challenges for social studies education” que estabelecem a necessidade de investigar relações entre os objetivos da formação e as crenças dos professores. “Crença” (beliefs) é um termo bastante utilizado nessa literatura, mas sua tradução pode criar confusão com aspectos religiosos. Portanto, conforme Pagès (2000), no artigo “La didáctica de las ciencias sociales en la formación inicial del profesorado”, o termo é entendido como “perspectivas”60.

Os autores que publicaram na dita revista demonstram que a reflexividade deve ser a marca do professor de História. Como profissional, em sala de aula, ele carrega grandes responsabilidades, que deve cumprir apoiado pela formação que recebeu. Precisa ser consciente dos problemas que afetam seus alunos e capaz de promover ações eficazes para solucioná-los. Além disso, é desejável que se engaje nos problemas da comunidade em que vivem os alunos.

60

Outros artigos que confirmam a correlação entre as teses analisadas e a tradição norte-americana são os de Christine Bennet e Elizabeth Spalding, “Teaching the social studies” (1992); Richard Chant (2002), que, no artigo “The impact of personal theorizing on beginning teaching”, verificou a importância da reflexão, com bom aparato teórico, sobre suas crenças e seu potencial para mudá-las; Ronald Evans (1990), em “Teacher conceptions of History revisited”, mostrou que professores conservadores ensinaram de forma menos crítica, que os liberais preocupavam- se com os valores em sua concepção de transmissão e, por fim, os revolucionários acreditavam que sua prática na sala de aula poderia mudar o mundo; Letitia Fickel (2000) pesquisou divergências entre as práticas escolares e o objetivo oficial para os Social Studies nos EUA, que divulgou no artigo “Democracy is Messy”; e na recente pesquisa de Jason Ritter & Kyunghwa Lee (2009), intitulada “Explicit goals, implicit values, and the unintentional stifling of pluralism” sondagens semelhantes foram realizadas.

Este é o perfil geral deste referencial teórico, adotado pelos doutores que defenderam em Barcelona. No entanto, como procurarei demonstrar adiante, ele não determina as interpretações sobre formação de professores de Historia/Ciencias Sociales nas teses.

Em resumo, as oito teses defendidas em Barcelona são pesquisas qualitativas, que usam fontes de tipos diversos (principalmente questionários, entrevistas e documentos curriculares). Os temas se concentram no pensamento e nas perspectivas dos professores e na análise de currículos e programas de formação. A base teórico-metodológica conjuga autores europeus e norte- americanos em perspectiva de formação de profissionais reflexivos e críticos. A UAB acolhe a maior parte dos trabalhos neste campo. Dessas informações, o fato de o referencial teórico favorito girar em torno de “pensamentos e perspectivas” de professores não significa que a ligação entre o trabalho do docente de Historia/Ciencias Sociales esteja ausente de vinculações políticas, ou que inexista discurso utópico. Na sequência, destacam-se os problemas e as propostas das teses, a fim de identificar as noções predominantes a respeito do professor de História.