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FORMA DE REGISTRO DOS DADOS NA COLETA E ORGANIZAÇÃO

4 CAMINHO METODOLÓGICO

4.6 FORMA DE REGISTRO DOS DADOS NA COLETA E ORGANIZAÇÃO

A atividade realizada com as crianças colaboradoras apresenta em suas narrativas a percepção que constroem da escola, das tarefas, dos conhecimentos e interações, imersos em suas diferentes formas de configurar e significar o mundo, por meio do componente lúdico.

Os quadros a seguir têm a função de mapear as situações em que ocorreram as narrativas, as circunstâncias dos jogos em que foram propostas, bem como os temas geradores e situações- surpresa que foram sorteados por cada criança.

QUADRO 8 - Identificação dos temas geradores narrados por cada criança participante com indicação do jogo e data.

Criança D. K. L. M. P.

Jogo Trilha Bolinha de gude

Trilha Bolinha de gude

Trilha Bolinha de gude

Trilha 5 Marias Trilha Bolinha de gude Temas/ data 06/03/2018 02/03/2018 06/03/2018 09/03/2018 18/04/2018 18/04/2018 18/04/2018 18/04/2018 22/03/2018 22/03/2018 Aprender X X X X X Brincar X X X X X Classe Hospitalar X X X X X Contar X X X X X Errar X X X X X Escola X X X X X Escrever X X X X X Estudar X X X X X Fazer X X X X X Gostar X X X X X Importante X X X X X Ler X X X X X Lição X X X X X Livro X X X X X Resolver problema X X X X X Saber X X X X X

Fonte: Elaborado pela pesquisadora a partir dos registros da coleta.

QUADRO 9 - Identificação de situações-surpresa narradas por cada criança participante com identificação da data.

Criança D. K. L. M. P.

Situações problema Trilha

06/03/2018 Trilha 06/03/2018 Trilha 18/04/2018 Trilha 18/04/2018 Trilha 22/03/2018

1. T. fez um tratamento longo e sua

internação durou quatro meses e meio. Como recebeu alta, T. voltará para a sua escola. - O que você pensa que irá acontecer, quando T. voltar para sua escola?

X X X X

2. M. ficou internada durante 5 semanas,

quando voltou para a escola, seus colegas ficaram contentes, mas também ficaram curiosos e queriam saber como era estudar no

hospital. - O que você acha que M. contou para seus colegas?

3.A mãe de R. trouxe dois livros que a

professora da escola enviou para R. fazer suas lições no hospital. No livro tinham exercícios e leituras para R. fazer. - Na sua opinião, o que R. pensa sobre fazer atividades no livro que a professora mandou?

X X X

4.D. precisou faltar várias vezes na aula,

porque estava fazendo exames e tinha muitas consultas com diferentes médicos. Quando D. ia para a aula, não sabia como fazer as atividades, ficava muito triste. - O que poderia ser feito para ajudar D. a acompanhar as aulas na escola? Qual a sua sugestão?

X X X

5.A professora da classe hospitalar disse para

L. que a aula do dia seria livre. L. iria sugerir o que fazer no horário da aula. L. deu um sorriso e escolheu três atividades para fazer. - Se você fosse L., que atividades teria

escolhido?

X X X X

6.J. e B. estavam conversando sobre as

atividades de Matemática que fizeram na aula de hoje. Eles estavam muito animados! Quando T. voltou do exame de ultrassom, quis saber o que J. e B. fizeram e por que estavam tão animados. - Qual foi a resposta de J. e B. na sua opinião?

X X X

7.A professora de H. estava muito pensativa,

porque precisava mandar atividades para H. fazer no hospital, mas não sabia o que seria interessante mandar. - Como você ajudaria essa professora? Que sugestões poderia dar a ela?

X X X

8. O médico de P. disse que ele não poderá

sair do leito por alguns dias. Por isso, as professoras irão trazer as atividades para ele fazer. - Que atividades você acha que P. gostará de fazer nesse período?

X X X

9.M. gosta de fazer as atividades que as

professoras propõem. Mas tem algumas que ela não quer fazer, porque acha que não serve para nada e são muito chatas. - Que

atividades são essas que M. não quer fazer, na sua opinião?

X X X

10. Durante o tratamento, C. fez várias

atividades, mas algumas foram mais

importantes. - Que atividades você considera mais importantes para serem feitas na classe hospitalar?

X X X

Fonte: Elaborado pela pesquisadora a partir dos registros da coleta.

As sessões foram gravadas em vídeo para possibilitar a transcrição de cada evento com detalhamento das circunstâncias e explicitação das condições de produção do discurso, os

movimentos, entonações e silêncios com cuidado para preservar as falas infantis e o sentido original delas como aconselham Silva, Barbosa e Kramer (2005).

O equipamento utilizado para gravação das atividades de coleta de dados foi uma câmera Sony - Cyber-shot HSC – 400, que foi fixada em um tripé. Em cada sessão de coleta, os materiais para filmagem foram posicionados próximos do leito ou da mesa de modo a captarem a fala, os movimentos e a expressão de cada criança. Todas as situações em que houve coleta de dados o equipamento foi ligado durante toda a atividade, que variou de 20 (vinte) a 30 (trinta) minutos. O total da gravação foi de três horas e vinte minutos. Houve apenas uma interrupção de cerca de cinco minutos na filmagem no jogo “Trilha da Classe Hospitalar” realizado por D. e K., porque a enfermeira precisou aferir a pressão arterial de D. Após o procedimento o jogo e a filmagem foram retomados.

O uso da câmera está previsto nos documentos de autorização da coleta de dados (TALE e TCLE) e produziu diferentes reações nas crianças: curiosidade pelo funcionamento e montagem do equipamento, suas formas de utilização, a valorização de si mesmos e interesse pelo significado de sua participação no processo. Eventualmente, as crianças participantes olharam fortuitamente para a câmera, mas reagiram de maneira espontânea e descontraída durante a atividade.

Para a interpretação dos dados, as orientações de Silva, Barbosa e Kramer (2005) sugerem que os registros sejam feitos após cada sessão, para priorizar as condições da produção do discurso, a descrição dos diálogos e das expressões não verbais e dos movimentos, além de considerar a identificação da pesquisadora (de onde fala/ de onde escuta) e os dados de identificação social e escolar das crianças participantes, resguardando o anonimato delas.

Além da filmagem, informações foram coletadas por meio de registros em cinco diários de campo que descrevem o contexto das atividades realizadas e os procedimentos. Em uma ficha foram preenchidos dados informativos sobre as crianças com anotações cedidas pelas professoras da classe hospitalar (Apêndice D) e em outra ficha os jogos realizados por cada criança e os temas geradores sorteados (Apêndice E).

As sessões de coleta totalizaram nove eventos, em atividades individuais realizadas pela criança e pesquisadora. As transcrições são identificadas por um número sequencial de acordo com a data de realização da sessão de coleta, a letra inicial do nome da criança e a data da realização da atividade, como indicado a seguir:

a) Transcrição 1 D. 02/03/2018;

b) Transcrição 2 D. K.06/03/2018 (atividade realizada em dupla D. e K.); c) Transcrição 3 K. 09/03/2018;

d) Transcrição 4 P. 22/03/2018; e) Transcrição 5 P. 22/03/2018; f) Transcrição 6 L. 18/04/2018; g) Transcrição 7 L. 18/04/2018; h) Transcrição 8 M. 18/04/2018; i) Transcrição 9 M. 18/04/2018;

Para a transcrição dos registros gravados em vídeo foi feito uso do software InqScribe, que possibilita simultaneamente fazer edição do texto e assistir à filmagem, com recursos para controle de pausas, avanços e retrocessos, além da indicação do tempo. Após a transcrição completa de cada sessão, o arquivo de texto foi transferido para um documento do Software Word.

Bogdan e Biklen (1994), Bardin (2007) e Franco (2008) preveem uma etapa de organização e sistematização dos dados coletados para análise do conteúdo com o objetivo de possibilitar a ampliação da compreensão das informações a partir da questão inicial da pesquisa e a elaboração de indicadores que irão orientar a interpretação final.

A seleção está presente na organização dos dados, porém a escolha não é arbitrária, de acordo com Franco (2008) que considera haver um produtor na análise de conteúdo com determinadas concepções filtradas em seu discurso. A descrição das características da mensagem não contribui tanto para a compreensão dos seus significados, quanto as potenciais informações sobre seu autor.

Passeggi e Rocha (2012) sugerem a possibilidade de a criança reinterpretar a interpretação realizada pelo pesquisador e destacam a mobilização no sentido de manter-se vigilante para que a criança imprima suas marcas no conhecimento construído a partir de sua fala. Como indicam a escuta de crianças prevê uma relação de cumplicidade e disponibilidade entre criança e pesquisador, no sentido de ir ao encontro, reconhecer sua alteridade e valorizar sua voz. Essas condições são fundamentais para entender a interpretação realizada pela própria criança.

Para organização e sistematização das informações presentes nas transcrições e diários de campo foram retomados os objetivos da pesquisa e a questão orientadora como indicadores para os recortes de conteúdo em elementos ou unidades de registro (bloco de temas com sentido completo em si) e posterior definição de categorias analíticas (rubricas sob as quais virão a se organizar os elementos de conteúdo agrupados) de acordo com Laville e Dione (1999).

A leitura flutuante sugerida por Bardin (2007) possibilitou o contato com o material de análise e gerou a construção de um registro das falas de cada criança agrupadas pelos temas

geradores e pelas situações-surpresas usados nos jogos. A tabela apresentada como Apêndice F refere-se ao tema aprender e exemplifica essa primeira forma de apresentar as informações expressas pelas crianças participantes da pesquisa. Essa primeira organização possibilitou a identificação da frequência, representatividade, homogeneidade e pertinência das narrativas feitas, contribuindo para os recortes e codificação do material. (BARDIN, 2007)

Os elementos presentes nas narrativas das crianças hospitalizadas sobre a vida escolar foram classificados de acordo com a forma como evidenciaram as experiências significativas para os sujeitos, por terem sido trazidas por elas para os comentários sugeridos nos temas geradores e nas situações-surpresas dos jogos. (FRANCO,2008)

O modo de codificar o material correspondeu a uma transformação que permitiu atingir uma representação do conteúdo, estabelecendo recortes em forma de unidades de significação a partir de regras (frequência e eixos) em torno das quais o discurso se organizou, de acordo com a proposta de Bardin (2007).

Todas as crianças se manifestaram sobre a função da escola e sobre a classe hospitalar de modo que esses temas constituem unidades de registro na categoria “Narrativas de crianças que frequentam a classe hospitalar sobre escolaridade”, que comporta ainda a unidade de registro Avaliação, expressa por três das crianças participantes

A categoria “Narrativas de crianças que frequentam a classe hospitalar sobre atividades escolares” foram estabelecidas unidades de registro correspondentes aos componentes curriculares apresentados nas narrativas das crianças com alto nível de citações. Destaca-se principalmente a Matemática e seus elementos: continhas, problemas, dificuldades e usos no cotidiano. A leitura constitui outra unidade, citada por todas as crianças, assim como escrita. Arte expressa em forma de desenho ou pintura forma outra unidade de registro, citada por tantas crianças quanto as que citam Ciências (ênfase em Astronomia). Geografia, citada por duas crianças foi estabelecida como uma das unidades de registro, assim como Educação Física, presente na fala de uma das crianças.

As narrativas das crianças contemplam abordagem de atitudes como: interação, erro, cuidado com a saúde e consigo mesmo, vida cotidiana. Cada uma dessas unidades de registro aglutina conteúdos expressos por todas as crianças participantes, correspondem à totalidade dos sujeitos. A unidade de registro nomeada resolução de problema contém dados de quatro crianças e a unidade responsabilidade expressa o pensamento de duas delas. O conjunto destas unidades de registro constituem a categoria “Narrativas de crianças que frequentam a classe hospitalar sobre atitudes”.

Brinquedos e brincadeiras com inclusão da bicicleta são temas presentes em uma das unidades estabelecida para registro das falas das crianças sobre a ludicidade. Outras unidades que contemplam essa abordagem são: o prazer, citado por quatro crianças e a amizade, citada por três crianças. Estas unidades de registro compõem a categoria: “Narrativas de crianças que frequentam a classe hospitalar sobre a ludicidade”.

O quadro a seguir apresenta a organização dos resultados com a incidência indicada pelo sombreamento das células nas colunas identificadas pela letra inicial do nome das crianças dispostas em ordem alfabética. As células cinza indicam as crianças, cuja narrativa está representada na unidade de registro assinalada. Em tom claro são células que indicam itens da unidade de registro e as células em branco indicam que não houve expressão da criança sobre aquela unidade.

QUADRO 10 – Apresentação de categorias, unidades de registro e intensidade de respostas

Categoria Unidade de registro D. K. L. M. P.

Narrativas de crianças que Função da escola frequentam classe hospitalar Classe hospitalar sobre escolaridade Avaliação - errar

Categoria Unidade de registro D. K. L. M. P.

Matemática:

contas problemas

Narrativas de dificuldades

crianças que cotidiano

frequentam a classe Leitura hospitalar sobre Escrita atividades escolares Arte

Ciências Geografia Educação Física

Categoria Unidade de registro D. K. L. M. P.

Narrativas das Interação crianças que frequentam a

classe hospitalar sobre

Vida cotidiana/Resolução de problema

atitudes Erro

Responsabilidade

Categoria Unidade de registro D. K. L. M. P.

Narrativas das crianças que Brinquedos e brincadeiras frequentam a classe Amizade

hospitalar sobre a ludicidade Prazer e pintura

Fonte: organização de dados realizada pela autora a partir das transcrições das narrativas.

A partir desta forma de agrupamento das mensagens contidas nas transcrições, é possível processar a análise do conteúdo com aprofundamento e interpretação de acordo com o referencial teórico, sendo que os resultados obtidos e sistematizados poderão propiciar outras análises baseadas em novas técnicas ou dimensões teóricas. (BARDIN, 2007)