• Nenhum resultado encontrado

SUMÁRIO

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1.4 Fortaleza de Santa Cruz

Atualmente o Brasil possui quarenta e quatro fortificações tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Dentre estas fortificações está a Fortaleza de Santa Cruz - objeto de estudo de caso e principal vértice da triangulação defensiva da Ilha de Santa Catarina.

Localiza-se na Ilha de Anhatomirim, no município de Governador Celso Ramos, na Área de Proteção Ambiental (APA) de Anhatomirim, próxima à Reserva Marinha do Arvoredo e à Baía dos Golfinhos.

Na Área de Proteção Ambiental de Anhatomirim24também está a Igreja Nossa Senhora da Piedade, construída no estilo colonial português, cuja obra foi iniciada em 1738 e concluída em 1745 – vide figura 22. (PREFEITURA MUNICIPAL DE GOV. CELSO RAMOS, 2013).

Figura 22 - APA de Anhatomirim, Igreja NS da Piedade e Ilha de Anhatomirim

Igreja de Nossa Senhora da Piedade

Ilha de Anhatomirim

Fonte: adaptado de icmbios, google e acervo pessoal, 2013

Concomitantemente à execução da Igreja, construiu-se a Fortaleza de Santa Cruz no período compreendido entre 1739 e 1744, com objetivo de proteger a entrada da Baía Norte. Credita-se o projeto e execução ao engenheiro militar português Brigadeiro José da Silva Paes, que a idealizou com seu formato poligonal irregular, aproveitando as características do terreno - vide figura 23. Suas muralhas, para contenção dos terraplenos, e seus edifícios foram construídos com maior parte do material extraído da região (FORTALEZAS.ORG, 2012).

Conforme Barretto (2011), a fortaleza, que inicialmente possuía 50 peças de artilharia, recebeu melhorias em 1863 (64 canhões) devido à Questão Christie25, chegando a 1880 com somente 12 canhões

24

Anhatomirim = Cão Pequeno, na linguagem indígena (CALDAS, 1992) 25

Série de incidentes diplomáticos ocorridos entre o Brasil e a Grã-Bretanha, no início do século XIX, gerando uma tensão de guerra que ocasionou a revitalização de fortes e armamentos, principalmente no Rio de Janeiro. O nome da crise faz alusão ao embaixador inglês no Rio de Janeiro, Willian D. Christie, que entrou com um pedido de indenização de roubo de carga, na ocasião em que um navio inglês naufragou na costa brasileira e teve sua carga saqueada. Como seu pedido não foi atendido, o inglês revidou com ameaças ao imperador do Brasil, desencadeando um grande desentendimento entre as partes (CASTRO, 2009)

funcionais. Foi reparada em 1884 e em 1887, transformando-se em prisão no ano de 1893, tendo alguns de seus prisioneiros fuzilados em 1894. Voltou a ser cárcere em 1932, durante a Revolução Federalista. Figura 23 - Planta e vistas da Fortaleza de Santa Cruz [1766?]

Fonte: Arquivo Histórico do Exército, 2012.

O Ministério da Guerra – detentor do conjunto – transferiu sua posse à Marinha em 1907, que o desarmou e desativou em 1937.

Com alguns edifícios descaracterizados e outros arruinados - conforme pode se observar na Figura 35-, foi tombada em 1938, pelo

IPHAN. Continuou sob a vigilância da Marinha até a década de 60, quando esta a abandonou.

O IPHAN começou as intervenções na década de 70 e, desde 1979, a UFSC tem um contrato firmado com a Marinha, que lhe cede a guarda da fortaleza de Santa Cruz.

Suas edificações e muralhas são predominantemente de pedras irregulares, com preenchimento de tijolos e telhas, assentadas e revestidas com argamassa mista de cal, saibro e areia. A Nova Casa do Comandante (1895), a Estação Radiotelegráfica (1914) e a Usina de Eletricidade (1917) foram executadas em alvenaria de tijolos; as duas ultimas foram construídas durante o programa de modernização das fortalezas, realizado na Primeira Guerra Mundial. Nos pisos originais há o predomínio de chão batido e tijolos (áreas internas). (FORTALEZAS.ORG, 2012)

Atualmente existem na ilha as seguintes construções (vide figura 24):

a) Bilheteria: local de venda dos ingressos, abriga um banheiro masculino e feminino anexo;

b) Armazém da Praia: abriga a Lanchonete; c) Portada: acesso principal da fortaleza;

d) Paiol da Pólvora: dispõe de uma exposição de arte em metal; e) Nova Casa do Comandante: adaptada para o funcionamento de

um restaurante, encontra-se fechada;

f) Casa da Farinha: sem uso, mas aberta à visitação;

g) Casa do Comandante: além de possuir cômodos destinados à administração, serve como local de exposição;

h) Quartel da Tropa: abriga a exposição de mamíferos marinhos no andar superior; deveria existir também uma sala de audiovisual, proposta na época da revitalização, a qual não existe;

i) Sanitários: construídos para atender aos visitantes;

j) Farol: ainda em uso, fica ao lado das ruínas da casa do faroleiro;

k) Novo Paiol da Pólvora: foi adaptado para receber um aquário, hoje encontra-se fechado;

l) Usina de Eletricidade: fechada atualmente, funcionou como casa do zelador;

m) Estação Radiotelegráfica: encontra-se fechada aguardando recursos para a adaptação de uma pequena pousada para estudantes;

Figura 24 - Localização das edificações existentes na ilha

Fonte: Acervo pessoal, 2013. Imagem adaptada do guia de visitação.

Dentre as primeiras edificações executadas, não existe mais a Igreja, na qual ocorriam batizados e missas para a comunidade vizinha da parte continental. Podem-se observar as ruínas da igreja na figura 25, a esquerda da portada, local onde existe atualmente a Nova Casa do Comandante.

Figura 25 - Entrada da Fortaleza. Aproximadamente no fim do séc.XIX

Fonte: Reprodução Müller, 1900. Disponível em: Fortalezas.org, 2013 Ruínas da Igreja N M H F G E C D B J L Portada A I K

Na figura 26, aparece à esquerda da escadaria de lioz que leva à portada, na praia, a Casa dos Remeiros. Utilizada pela Marinha para abrigar os remadores que faziam o transporte da ilha ao continente, desta edificação sobraram apenas os registros.

Figura 26 - Casa dos Remeiros e Nova Casa do Comandante (esq. portada)

Fonte: Acervo DAEx/UFSC, [19--]

Caldas (1992) observa que a construção da fortaleza foi realizada em fases distintas e, provavelmente, por equipes de trabalho diferentes. O grande exemplo disso é a discrepância entre o Quartel da Tropa e a Casa do Comandante: o primeiro é majestoso e forte, provavelmente executado por Silva Paes; o segundo tem paredes finas e tortas, executado após sua saída da Ilha de Santa Catarina.

Independente de quem e sob o comando de quem, a fortaleza foi construída; seus elementos construtivos, técnicas e soluções arquitetônicas26configuram um importante monumento para a geração atual, e tanto a construção da Igreja quanto a da fortaleza tiveram um papel preponderante na criação do vilarejo da Armação da Piedade27,configurando um importante patrimônio cultural para a comunidade.